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    Ainda bem que não aceitei dormir com ela na mesma cama. 

    Estava deitada ao chão, com um pequeno travesseiro sobre o pescoço. Um modo mais selvagem de pegar no sono… Se bem que… eu já estava acostumada com isso.

    Virei-me de um lado para o outro.

    Durma, Karina!

    De alguma forma, não conseguia fechar meus olhos e sonhar. Estava energética. Ou melhor, muito ansiosa.

    Saber que Kaori estava comigo naquele quarto me deixava bastante… envergonhada. Meu coração acelerava e até errava muitas batidas. O que eu podia fazer para resolver isso? Nada!

    Não podia fazer nada! 

    Tinha certeza de que aquela noite seria insuportável. Fazia tempos que não negligenciava meu sono, e estava confortável demais para voltar a fazer isso. 

    Escutava o som de coruja para fora da janela, enquanto meu outro ouvido era agraciado com um ronco nada bonito do quarto ao lado. Insuportável.

    Coloquei a mão sob os olhos, tentando forçar-me a dormir. Porém… nada surtiu efeito.

    Nada surtia efeito! Que droga.

    Kaori estar aqui era o problema, o óbvio problema. Apenas de estar perto dela, me sinto muito frágil… 

    Até que, do mais absoluto nada, senti leves toques no braço que estava tampando meu rosto. 

    — Karina… você tá acordada? — perguntou, um tom sutil e leve. Identifiquei na mesma hora que era Kaori me chamando.

    Continuei fingindo estar dormindo por alguns segundos, da qual, Kaori continuou insistindo em suas cutucadas em meu braço. 

    O que ela quer? 

    Isso tá me parecendo muito estranho!

    Após um tempo de insistência, desisti de continuar com aquele teatro. Levantei de modo lento o meu braço, revelando Kaori em minha visão.

    Uma mão para me cutucar e a outra para abraçar um travesseiro quase maior que ela. Olhos brilhantes e cheios de esperança me informaram sobre tudo antes que sua boca abrisse.

    E esperava que essas informações estivessem erradas.

    — Oi… — sussurrei de volta, alertando-a de meu estado. — Aconteceu algo? Não está confortável?

    Kaori abraçou o travesseiro ainda mais, retraindo o braço que estava estendido. 

    — Não é isso. — Seus olhos se moviam de um jeito engraçado, evitando a mim. — É que…

    Escondeu ainda mais sua cara no travesseiro. 

    — Ah… Tudo bem, então. — Sem nem me importar com o resto da frase, virei-me, preparada para tentar dormir.

    Só que…

    De novo e de novo. Kaori continuou cutucando meu corpo.

    Estava me irritando!

    Logo agora, que pensava estar perto de pegar no sono! Ahhh!

    Virei-me para ela mais uma vez, demonstrando uma expressão cansada. Já estava de madrugada e em não pouco tempo o sol iria raiar.

    — Não vira… — murmurou. — O que eu queria dizer era… — Dessa vez, não havia como afundar mais sua cara no travesseiro, por mais que tentasse. — Dorme… aqui…

    Bateu duas vezes na cama.

    Demorei alguns segundos para processar…

    Quero dizer, talvez até minutos.

    Não entendia o motivo de sua pergunta repentina, muito menos dessa sua posição mais tímida. O que havia acontecido com ela?

    — Tem certeza? — respondi após muito pensar. Dormir com ela na mesma cama podia ser… perigoso para o meu coração.

    — Não tô conseguindo dormir sabendo que você cedeu sua cama para mim. Além de que vocês foram muito gentis comigo — disse Kaori, abrindo mais um espaço na cama. Aquilo era um pequeno indício de que recusar não era resposta.

    Sem dizer nada, levantei-me lentamente do chão, segurando o travesseiro. Após estar de pé, pude ver Kaori me esperando naquela minúscula cama de solteiro.

    Engoli a saliva de minha boca, como se me preparasse para uma guerra muito difícil. Kaori se espremia no pouco de cama que faltava, mostrando-se visualmente ansiosa para que eu deitasse.

    Suas intenções ainda não eram claras… e meu coração não iria aguentar mais daquela brincadeira.

    Deitei-me, sentindo o algodão da cama se moldar ao meu peso. Por algum motivo, meus sentidos estavam muito mais aguçados que o normal.

    Escutava um pequeno grilo, o ranger da madeira e até mesmo enxergava as pequenas gotas de suor no corpo dela.

    Por que ela estava suando?

    Kaori me olhava fixamente, ainda segurando seu travesseiro. Meu coração estava batendo rápido, muito rápido.

    Estávamos mais próximas do que pensava que estaríamos.

    — Desculpa — falou Kaori, aumentando seu tom de voz a cada segundo. — Eu causei muitos problemas por um motivo tão bob–

    — Está tudo bem — interrompi sua fala, colocando a mão em sua boca. — Apenas o fato de você estar melhor agora me deixa mais aliviada. Quando te vi naquela chuva… foi um sentimento muito ruim. Ver uma amiga naquela situação é ruim.

    Ela tirou a minha mão de sua boca.

    — Eu… preciso te pedir desculpas por isso também… Meio que eu segui você em um desses dias para descobrir onde você morava…

    Que…?

    — Sério? — Dei uma leve suspirada. — Por que só não me perguntou? Iria responder em um instante.

    Mais uma vez, virou sua cara, evitando-me. 

    — É que eu fiquei com vergonha… muita vergonha de perguntar.

    Meu rosto corou junto à sua fala.

    — Entendi… eu entendi.

    Um silêncio constrangedor se formou naquele minúsculo espaço de tempo. 

    Por alguns segundos, não falamos nada. Pelo menos, até eu perceber que seu corpo estava tremendo.

    — Você tá com frio? — disse, olhando para seu rosto. — Parece estar tremendo.

    Em resposta, ela balançou a cabeça de uma maneira muito fofa. Argh! Como ela pode ser tão fofa!?

    Abri meus braços após seu ato.

    — Então… que tal… — Minha voz falhava, e com muitos motivos.

    Dessa vez, Kaori agiu antes que eu terminasse de falar, se esgueirando até meus braços. Seus próximos movimentos foram claros, abraçando-me.

    Levei um pequeno susto com tudo aquilo. Eu… não pensava que ela fosse aceitar, sabe!?

    Com hesitação, a envolvi em meus braços. O cheiro de seu cabelo era muito forte naquele momento.

    E, em pouco tempo, o sono veio. Naquele momento, estava mais tranquila, meu coração parando de bater rápido.

    — Sabe aquela pessoa de quem comentei? — disse Kaori, gaguejando.

    — Depende — respondi, fazendo cafuné em sua cabeça. — Fala sobre aquele encontro que você foi ter outro dia?

    Kaori balançou a cabeça em resposta.

    — Ele mesmo. Meio que eu fui rejeitada… — Começou a gaguejar ainda mais, quase como se fosse começar a chorar.

    — Não precisa falar sobre isso agora. Apenas… tente esquecer o que aconteceu — falei. — Que tal amanhã darmos uma saída pela cidade? 

    Kaori riu, segurando seu choro.

    — Pode ser. É uma boa ideia.

    Sinto que…

    Ah… deixa.

    O frio já havia ido embora, e o calor de nossos corpos foi o suficiente para esquentar aquela noite. Uma noite que não vou esquecer tão cedo.


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