Capítulo 45: Noite Fria
Ainda bem que não aceitei dormir com ela na mesma cama.
Estava deitada ao chão, com um pequeno travesseiro sobre o pescoço. Um modo mais selvagem de pegar no sono… Se bem que… eu já estava acostumada com isso.
Virei-me de um lado para o outro.
Durma, Karina!
De alguma forma, não conseguia fechar meus olhos e sonhar. Estava energética. Ou melhor, muito ansiosa.
Saber que Kaori estava comigo naquele quarto me deixava bastante… envergonhada. Meu coração acelerava e até errava muitas batidas. O que eu podia fazer para resolver isso? Nada!
Não podia fazer nada!
Tinha certeza de que aquela noite seria insuportável. Fazia tempos que não negligenciava meu sono, e estava confortável demais para voltar a fazer isso.
Escutava o som de coruja para fora da janela, enquanto meu outro ouvido era agraciado com um ronco nada bonito do quarto ao lado. Insuportável.
Coloquei a mão sob os olhos, tentando forçar-me a dormir. Porém… nada surtiu efeito.
Nada surtia efeito! Que droga.
Kaori estar aqui era o problema, o óbvio problema. Apenas de estar perto dela, me sinto muito frágil…
Até que, do mais absoluto nada, senti leves toques no braço que estava tampando meu rosto.
— Karina… você tá acordada? — perguntou, um tom sutil e leve. Identifiquei na mesma hora que era Kaori me chamando.
Continuei fingindo estar dormindo por alguns segundos, da qual, Kaori continuou insistindo em suas cutucadas em meu braço.
O que ela quer?
Isso tá me parecendo muito estranho!
Após um tempo de insistência, desisti de continuar com aquele teatro. Levantei de modo lento o meu braço, revelando Kaori em minha visão.
Uma mão para me cutucar e a outra para abraçar um travesseiro quase maior que ela. Olhos brilhantes e cheios de esperança me informaram sobre tudo antes que sua boca abrisse.
E esperava que essas informações estivessem erradas.
— Oi… — sussurrei de volta, alertando-a de meu estado. — Aconteceu algo? Não está confortável?
Kaori abraçou o travesseiro ainda mais, retraindo o braço que estava estendido.
— Não é isso. — Seus olhos se moviam de um jeito engraçado, evitando a mim. — É que…
Escondeu ainda mais sua cara no travesseiro.
— Ah… Tudo bem, então. — Sem nem me importar com o resto da frase, virei-me, preparada para tentar dormir.
Só que…
De novo e de novo. Kaori continuou cutucando meu corpo.
Estava me irritando!
Logo agora, que pensava estar perto de pegar no sono! Ahhh!
Virei-me para ela mais uma vez, demonstrando uma expressão cansada. Já estava de madrugada e em não pouco tempo o sol iria raiar.
— Não vira… — murmurou. — O que eu queria dizer era… — Dessa vez, não havia como afundar mais sua cara no travesseiro, por mais que tentasse. — Dorme… aqui…
Bateu duas vezes na cama.
Demorei alguns segundos para processar…
Quero dizer, talvez até minutos.
Não entendia o motivo de sua pergunta repentina, muito menos dessa sua posição mais tímida. O que havia acontecido com ela?
— Tem certeza? — respondi após muito pensar. Dormir com ela na mesma cama podia ser… perigoso para o meu coração.
— Não tô conseguindo dormir sabendo que você cedeu sua cama para mim. Além de que vocês foram muito gentis comigo — disse Kaori, abrindo mais um espaço na cama. Aquilo era um pequeno indício de que recusar não era resposta.
Sem dizer nada, levantei-me lentamente do chão, segurando o travesseiro. Após estar de pé, pude ver Kaori me esperando naquela minúscula cama de solteiro.
Engoli a saliva de minha boca, como se me preparasse para uma guerra muito difícil. Kaori se espremia no pouco de cama que faltava, mostrando-se visualmente ansiosa para que eu deitasse.
Suas intenções ainda não eram claras… e meu coração não iria aguentar mais daquela brincadeira.
Deitei-me, sentindo o algodão da cama se moldar ao meu peso. Por algum motivo, meus sentidos estavam muito mais aguçados que o normal.
Escutava um pequeno grilo, o ranger da madeira e até mesmo enxergava as pequenas gotas de suor no corpo dela.
…
Por que ela estava suando?
Kaori me olhava fixamente, ainda segurando seu travesseiro. Meu coração estava batendo rápido, muito rápido.
Estávamos mais próximas do que pensava que estaríamos.
— Desculpa — falou Kaori, aumentando seu tom de voz a cada segundo. — Eu causei muitos problemas por um motivo tão bob–
— Está tudo bem — interrompi sua fala, colocando a mão em sua boca. — Apenas o fato de você estar melhor agora me deixa mais aliviada. Quando te vi naquela chuva… foi um sentimento muito ruim. Ver uma amiga naquela situação é ruim.
Ela tirou a minha mão de sua boca.
— Eu… preciso te pedir desculpas por isso também… Meio que eu segui você em um desses dias para descobrir onde você morava…
Que…?
— Sério? — Dei uma leve suspirada. — Por que só não me perguntou? Iria responder em um instante.
Mais uma vez, virou sua cara, evitando-me.
— É que eu fiquei com vergonha… muita vergonha de perguntar.
Meu rosto corou junto à sua fala.
— Entendi… eu entendi.
Um silêncio constrangedor se formou naquele minúsculo espaço de tempo.
Por alguns segundos, não falamos nada. Pelo menos, até eu perceber que seu corpo estava tremendo.
— Você tá com frio? — disse, olhando para seu rosto. — Parece estar tremendo.
Em resposta, ela balançou a cabeça de uma maneira muito fofa. Argh! Como ela pode ser tão fofa!?
Abri meus braços após seu ato.
— Então… que tal… — Minha voz falhava, e com muitos motivos.
Dessa vez, Kaori agiu antes que eu terminasse de falar, se esgueirando até meus braços. Seus próximos movimentos foram claros, abraçando-me.
Levei um pequeno susto com tudo aquilo. Eu… não pensava que ela fosse aceitar, sabe!?
Com hesitação, a envolvi em meus braços. O cheiro de seu cabelo era muito forte naquele momento.
E, em pouco tempo, o sono veio. Naquele momento, estava mais tranquila, meu coração parando de bater rápido.
— Sabe aquela pessoa de quem comentei? — disse Kaori, gaguejando.
— Depende — respondi, fazendo cafuné em sua cabeça. — Fala sobre aquele encontro que você foi ter outro dia?
Kaori balançou a cabeça em resposta.
— Ele mesmo. Meio que eu fui rejeitada… — Começou a gaguejar ainda mais, quase como se fosse começar a chorar.
— Não precisa falar sobre isso agora. Apenas… tente esquecer o que aconteceu — falei. — Que tal amanhã darmos uma saída pela cidade?
Kaori riu, segurando seu choro.
— Pode ser. É uma boa ideia.
Sinto que…
Ah… deixa.
O frio já havia ido embora, e o calor de nossos corpos foi o suficiente para esquentar aquela noite. Uma noite que não vou esquecer tão cedo.
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