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    Seven gosta de mim? Ela me ama?

    Não compreendo essa sensação. É algo inalcançável para alguém como eu. 

    Mas, por que me sinto tão mal por isso? 

    Eu não queria que fosse assim.

    Se eu soubesse o quanto a machucava, talvez… talvez eu tivesse sido uma pessoa melhor. 

    — Por favor, espera! — disse.

    Não vá embora…

    Eu não quero que você me odeie.

    Em um movimento quase involuntário, segurei seu braço, impedindo que fosse embora. Meus sentimentos estavam confusos, e eu não sabia o que queria exatamente.

    Mas se havia uma coisa de que tinha certeza, era que não queria te perder. 

    — Eu sumi para conseguir me desligar daquele lugar! Não foi por sua culpa ou nada assim. — Minha respiração falhava, mesmo estando em um corpo sintético. — Quando eu vi aquelas suas cicatrizes… 

    Eu preciso mesmo te falar?

    Seria bom se você não soubesse. Não descubra o que eu já vi enquanto estive em terra.

    — É só isso? Você segurou meu braço para falar isso? — disse Seven, soluçando.

    — Não… eu acabei lembrando de coisas que jamais queria ter lembrado. Aquelas cicatrizes, não são fáceis para ninguém as ter — Eu podia sentir partes do meu corpo rachando, enquanto falava isso.

    — Do que isso importa? Você ainda sim, fugiu. E sem dizer uma única palavra. No momento em que você foi embora, o meu coração se quebrou; mas ainda sim não deixei de acreditar que voltaria. — Ela hesitou, mas após pensar um pouco, continuou. — Foi cruel… e avassalador.

    Virou sua cabeça, olhando para a neve que havia no chão. 

    O erro foi meu.

    A culpa é minha em completamente esquecer que Seven era humana, que ela tinha emoções. Eu queria abraçá-la, mas esse não era o momento certo.

    O que eu poderia fazer?

    Quero consertar as coisas.

    E, sabendo dos sentimentos que Seven tinha criado, apenas dificultava as coisas. Eu nunca amei ninguém, e simplesmente pensar nessa ideia era realmente estranha para mim.

    Nunca descobri o que são sentimentos bons. Mas você… você me fez sentir coisas que jamais senti. 

    — Não queria que ninguém tirasse seu sorriso — disse, mordendo a parte inferior de meu lábio.

    — Que? É só isso que tem pra me falar mesmo?

    — Eu…

    As palavras entalaram, não conseguia continuar a frase e nem ao menos falar nada. Era como se tivesse lâminas na minha garganta, impedindo a passagem de minha voz.

    — … Errei — sussurrei. — Estava errada em fazer isso.

    — Mas fez! — Seven caiu ao chão novamente. — Eu também sou uma idiota por pensar assim… que droga! Não queria ter criado nenhum desses sentimentos…

    Me abaixei, colocando-me na mesma altura que Seven.

    — Não, não. Não é sua culpa! É totalmente minha, por querer fazer tudo sozinha. 

    O vento bateu, levantando a franja que cobria os olhos de Seven, mostrando sua tonalidade de verde que parecia brilhar no escuro. Seus dois olhos de cores diferentes, verde e vermelho, eram comparados a pedras preciosas. 

    Era como se eles me pedissem algo, ou esperavam que eu dissesse alguma coisa. Mas eu não sabia o que era. 

    — Os sentimentos são complexos demais para mim… Não consigo os compreender, nem mesmo se eu forçar eles. Sou assim desde que me entendo por gente, desde que vi pessoas fazendo atrocidades — disse.

    — …

    Ela limpava suas lágrimas, pouco a pouco. A sua roupa, já manchada, apenas mostrava os vestígios da dor que lhe causei.

    — Simplesmente não consegui acreditar no que vocês chamariam de ser humano. É difícil, levando em conta tudo que eles fazem contra a própria espécie.

    — Mas… Hic! O que vuse quer dizer com isso? — Seven soluçava e, por conta disso, errava algumas palavras em sua frase.

    — Foi com você… a primeira vez que senti a vergonha, o conforto e principalmente a felicidade. — Cocei minha cabeça. — Não era igual a todas as outras vezes. Eu não senti repulsa, nojo e nem ódio. Você me mostrou algo bom, e eu simplesmente quis proteger, para que nunca tivesse que ver nada ruim.

    — E por que só falou agora, sua idiosha!? Hic!

    — Sou uma idiota mesmo… fale o que quiser. — Confesso que seus erros de pronúncia eram cômicos, mas não era a hora para dar risadas. 

    Puxei-a para perto, a abraçando lentamente.

    Senti que deveria fazer isso, como se fosse um último movimento. 

    Seven me batia, mesmo que fraco, com seu punho. Ela descontou toda a sua raiva na minha carcaça de madeira. Sua agressividade desajeitada evidenciava ainda mais o seu rancor.

    — Me shouta! — gritava.

    E após alguns minutos de Seven batendo em mim sem parar, ela acabou se cansando. Havia ficado exausta de falar, de chorar e de descontar a sua raiva. Apenas pousou sobre meu peito.

    Lentamente, me movimentei para trás, caindo na neve com ela. Seu braço logo me abraçou, enquanto ainda se deitava em mim.

    O sol naquele momento já havia ido embora, deixando apenas a lua dominar o céu. Os pássaros não estavam mais cantando, fazendo o silêncio controlar as matas naquele horário.

    — Gaia…

    — Hm? — respondi.

    — Me desculpe. Eu fui uma idiosha também. Hic!

    — Claro que não! Os erros foram totalmente meus.

    — Não isho… é que acabei criando expectativas demais.

    Ah… 

    — Não é sua culpa, Seven. Talvez eu tenha lhe dado brecha que te fez pensar assim; eu não te culpo, afinal…

    Parei minha frase, pensando exatamente nas palavras que iria dizer. Todos os momentos bons que tive com ela deveriam significar alguma coisa em meu coração, e em algum momento eles ganharam significado.

    Toda a felicidade que tive não deveria ser passageira. E de onde ela estava vindo era uma resposta óbvia.

    — Talvez eu tenha ficado com medo de ter alguém me amando. Mas, mesmo que pouco, senti uma felicidade vindo de sua confissão indesejada. 

    — E então… o que voshe quer fazer agora? 

    — Não entendo o amor, Seven. É complicado. — Coloquei a mão por cima da minha cabeça.

    — Também não. É um shentimento muito confuso mesmo — respondeu Seven.

    — Mas, se for mesmo isso que eu sinto, eu não quero deixar ele ir embora.

    Não pude ver a expressão de Seven nesse momento, mas apenas falar o que estava entalando a minha garganta, deixou-me mais leve.

    — Compartilho da mesma shensação. Hic! — Ela apertou minha camisa.

    — Que tal irmos com calma? Nós duas não somos familiares com o amor, então é um momento mais de aprendizado.

    Ela me respondeu de uma forma diferente.

    Me abraçou, com toda a sua força. E por conta disso, molhou o resto de minha camisa com suas lágrimas. Levei esse gesto como uma resposta positiva.

    E então, estávamos… namorando? 

    Pensar nisso me deixava feliz e nervosa. Como se meu coração, caso tivesse, fosse explodir a qualquer momento. Parece até coisa de criança ficar tão emocionada apenas de mencionar “relacionamento”. Mas… mesmo assim, sinto como se não fosse esse o termo correto para essa relação.

    Não posso errar mais.

    Então, daqui para frente, aprenderemos uma com a outra. Estou super ansiosa para encontrar novas faces suas, Seven.


    Passamos um tempo naquela posição, apenas conversando como nunca.

    — Você vai contar tudo agora…? Shem me deixar de fora dessa vez… — Seven continuava errando a pronúncia de suas palavras.

    Não pude deixar de soltar uma pequena risada. — Claro, o que você quer saber?

    — O que vai acontesher com você agora? Toda essa questão… Hic! … de ter shaído dessa tal companhia.

    Então, a primeira coisa que ela me pergunta é essa. Eu achei que ela queria tocar nos piores assuntos primeiro. A forma com que fez essa pergunta… era como se estivesse preocupada comigo; e não com ela.

    — Realmente isso importa agora?

    — Hmm… Shim. Você acabou de falar que não irá esconder mais nada — murmurou.

    Seven tinha finalmente parado de soluçar. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, e quando ela notou que estava olhando para eles, se escondeu para dentro de sua roupa. Era definitivamente uma das coisas mais fofas que vi hoje.

    — Sair dela foi uma dor de cabeça. Mas estou finalmente fora para sempre. Acabei… podemos dizer que forjando a minha morte — disse.

    Seven ficou surpresa, se levantando levemente de meu peito.

    — É sério? Mas… e se, por acaso, eles te descobrirem?

    — Aí eu vou ficar ferrada mesmo. Mas pode relaxar, é algo que nunca vai acontecer. — Fiz cafuné em sua cabeça.

    Logo depois de obter sua resposta, caiu novamente sobre meu corpo. Parecia que não queria sair dali, o que me fez rir dentro de minha mente.

    De repente, fogos de artifício voaram para o céu, explodindo em cores vibrantes. Suas lindas faíscas iluminaram a noite estrelada, chegando até onde eu e Seven estávamos.

    Ficamos nessa por um tempo, sem ir para a segunda noite do festival que tanto queria ir. Mas estava tudo bem, eu preciso aprender a não ser tão unilateral. Seven ficou me enchendo de perguntas, das quais respondi com clareza. 

    Não era chato, do contrário, era muito legal conseguir manter uma conversa. Se pudesse, faria esse momento durar para sempre.

    Acabamos não voltando para Lótus naquela noite.


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