Capítulo 46: Quer Reencontrar Ele? (1)
Quantas vezes seria trazida para cá? Já é a terceira vez!
Não aguentava mais ver essas tecnologias de uma cidade que não consigo entender. É sempre algo muito… estranho? Parece novo demais.
— Cuidado com o que você fala de minha terra natal, criança.
Uma voz surgiu de repente, vindo de trás de mim. Seu tom rouco deixou-a ainda mais assustadora, fazendo-me sentir até mesmo um frio na barriga. Ninguém nunca o avisou para não chegar assim?
Mas… eu meio que queria me reencontrar com ele de novo.
Onde está ela?
Me virei para ele, dando leves passos em sua direção.
— Direta como sempre — respondeu, ajeitando seu chapéu elegante. — Está cedo para isso! — Bateu palmas. — Que tal tomarmos um chá?
Em segundos, o cenário foi mudando. Como se fôssemos fantasmas, atravessamos cada uma daquelas estruturas urbanas.
Meu coração acelerou, pois, por um instante, pensei que ia dar de cara com uma daquelas paredes sólidas. E como acelerou! Quase tive um ataque cardíaco.
Naquele momento, não estávamos mais na rua, e sim num pequeno café. Não era do mesmo jeito de Aguaforte, algo que nunca vi.
Por que ele me trouxe aqui?
— Conversar… Apenas quero conversar com você — falou, pegando uma xícara de café que surgiu das névoas, levando-a à boca. — Tenho estado muito ocupado resolvendo esses pequenos imprevistos. Fico feliz que nenhum deles tenha chegado a te afetar.
Imprevistos…? Não faço ideia do que ele estava falando. Nada vinha na minha cabeça ao pensar nessa palavra, afinal, tudo estava dando certo até então.
— Se eu disse que resolvi eles, é porque eu resolvi. — Bebeu mais um gole do café. — Mas já que está tão curiosa assim, veja isso.
Levantou sua mão esquerda para o ar, fazendo surgir pequenas névoas, que logo se transformaram em algo muito mais… parecido com aquelas câmeras que tive.
Eram fotos que se mexiam! Algo que nunca tinha visto em minha vida! Incrível a sensação de ver essas coisas!
— Gostou? São “vídeos”. Mas não se importe muito com isso agora, pense no conteúdo deles.
Levantei-me, indo em direção às nuvens de fumaça. Prestando atenção no que eles estavam me dizendo… É… Hmm… Talvez… Não… Ah…
Não entendi.
Foquei mais ainda no que ele estava tentando me dizer com isso… E… Ahn…
Não entendi mesmo.
Por que ele estava me mostrando esses “vídeos” de cachorrinhos? São muito fofos, por sinal.
O que estava brincando com uma bolinha era muito engraçadinho. São todos o mesmo cachorro também… Será um enigma? Não… não ser um. Os cachorros estão fazendo movimentos muito adoráveis para ser algum mistério.
Olhei para ele, tentando entender suas intenções.
Por que o senhor estava suando frio? Foi algo de errado?
Me olhava com um sorriso desajeitado em sua cara, seus lábios tremendo como se fosse impedido de falar.
— Esqueça o que você acabou de ver — disse, batendo a ponta do guarda-chuva no chão. — Não é como se esse fosse um cachorro que estava vigiando… Esqueça mesmo o que viu, ok?
Desviou o olhar.
Pfft! Então ele tinha esse lado? Que hilário!
Estalou os dedos.
— Pronto, agora veja o que eu realmente queria te mostrar.
Assim que voltei minha atenção para as telas, acabei me assustando de imediato com o conteúdo. Era brutal, muito terrível para a minha barriga.
Dei dois passos para trás, sentindo uma leve náusea dominar meu corpo. Em segundos, caí ao chão, perdendo as forças em minhas pernas.
O que diabos era aquilo? Por que?
Quem eram essas pessoas?
Tampava minha boca, segurando um vômito que iria sair de mim, querendo ou não. Agoniante.
Por que elas estavam dessa forma? Que droga, que merda!
O vômito saiu, sujando o chão do estabelecimento vazio.
Uma comida que não havia comido. Isso não era para ser um sonho? Então, por que não se comporta como um sonho? É real demais!
— Qual é? Não aguenta ver umas tripas pra fora não? — disse em um tom sarcástico.
Que porcaria é essa? Quem são essas pessoas mortas de forma tão… brutal?!
O vômito não parava, tudo que eu não comi estava saindo naquele mundo imaginário.
— Aquelas malditas divindades já perceberam sua presença nesse mundo, sétima — respondeu. — Então, apenas causei alguns infortúnios para os apóstolos deles. Legal, né?
Tossia bastante, ainda me recuperando do longo período de vômito que acabara de ter. Uma experiência aterrorizante… não gostaria de passar por isso de novo.
Meus olhos, instintivamente, procuraram ver mais da tela, porém meu cérebro impedia. Era quase como uma hipnose brutal, da qual sabia o quão errado era.
Não conseguia contar quantas pessoas mortas estavam sendo mostradas naquela tela, nem mesmo identificá-las. Rostos desfigurados e corpos muito cortados…
— Ah… isso é ruim. — Ele bateu o guarda-chuva no chão, limpando o vômito que estava abaixo de mim. Ao mesmo tempo, as telas cessaram. — Você não tem estômago para isso mesmo…
Claro que não! Tudo isso só me lembra…
Mas se é verdade o que ele disse, então, o que essas divindades querem comigo? Não me parece muito certo essas pessoas terem morrido.
— Se é o que você acha… Mesmo eu nunca tendo feito mal para você, por que começaria a fazer agora?
Colocou a cabeça apoiada no braço que estava na mesa, observando-me.
É… ele estava certo sobre isso. Não lembro muito bem de um momento em que tentou me prejudicar.
Incomodada com seu olhar, apenas me sentei na cadeira. Em outro estalar de dedos, uma xícara surgiu na minha frente, junto a um pedaço de bolo de chocolate.
Bolo de chocolate…
Estava com uma cobertura muito tentadora, junto a um pequeno pedaço de morango. Como resistir?
Minha barriga roncou um segundo depois.
Peguei o garfo que estava ao lado e tirei um pedaço da fatia, levando à boca. Foi a melhor decisão que poderia ter feito.
Não hesitei, até porque era um bolo… de chocolate… muito bom! O sabor era perfeito! Mas não superava o da pousada.
— Confia ainda em mim, né? Nem hesitou em comer — disse o senhor, batendo na mesa com seu dedo. — Mudando de assunto, que tal eu te ensinar algo novo?
Novo…?
Não entendia o que queria dizer com “novo”, sendo que, momentos atrás, já havia me mostrado várias coisas novas…
As memórias dos cadáveres logo vieram à minha mente, fazendo-me sentir um frio na espinha. Comi mais um pedaço do bolo de chocolate.
Tenho que esquecer!
Comi mais outro, tentando apagar da minha mente.
Aaah! Está piorando!
Outro, outro, outro.
— Você quer falar com o Damien?
Parei de comer meu bolo, olhando para ele, incrédula.
Ele acabou de…
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