Capítulo 47: A Cidade De Erica
Aquele foi um sonho realmente estranho. Me sinto muito curiosa ao pensar qual seria seu significado. Era confuso, estranho e rápido. Não deu tempo para raciocinar ou qualquer coisa do tipo.
Mas, ainda assim, tive uma sensação muito familiar vindo daquela situação. Tudo era tão…
— Novamente perdida em pensamentos? — perguntou Gaia.
Ah, é mesmo.
Havia recebido uma carta de Ester, pedindo para que fôssemos encontrar ela em uma cidade próxima chamada Erica. Pelo visto, ela teria uma surpresa para mim. E, como ela fez muito por mim, decidi ir.
Gaia, por outro lado, não gostou nada da ideia de eu viajar para essa cidade, então acabou me acompanhando de forma forçada. Tentei insistir que era apenas por um dia, mas não deu muito certo, pois ela veio do mesmo jeito.
Sendo bem sincera, não sei exatamente que tipo de surpresa me espera, e isso faz meus sentidos curiosos aguçarem.
Felizmente, Samira não contestou tanto a minha saída, desde que eu voltasse antes para a expedição. Então estou aqui, totalmente autorizada para explorar esse mundo.
— Quase isso — respondi.
— Hmm, cuidado ao pensar demais. Sua cabeça vai doer assim. — Gaia puxou meu nariz, como forma de provocação.
A carroça estava vazia, compatível com o horário matutino. Ainda mais em meio de semana, que é difícil qualquer pessoa triscar os pés nesse meio de transporte. Acredito que ainda seria pior hoje, uma quarta-feira.
— Que tal dormir um pouco? Você está cansada, e eu acredito que será uma longa viagem ainda — disse.
— Nah. Estaria cansada pelo que exatamente?
— Você passou a última noite acordada… — murmurei, a encarando.
— Tsk.
Ela lentamente colocou a cabeça por cima de mim, se apoiando.
— E-ei! Não precisava ser assim também — falei.
— Vou dormir onde eu quiser, apenas aceite. Humpf.
De repente, ela tinha se tornado mais teimosa.
Não sabia o que tinha causado seu comportamento, se foi algo que fiz ou…
Corei instantaneamente ao lembrar o que tinha acontecido na última noite.
E, apenas em um breve momento, Gaia já tinha dormido. Não entendia como ela descansava com seus braços cruzados, mas era uma habilidade em tanto. Seu rosto relaxado me fez sentir bem, afinal, ela estava finalmente descansando após uma longa noite.
— Senhor! — gritei.
O motorista deu uma leve olhada para trás, mas sem perder o foco da direção. Ele era alguém dedicado, visto que ainda idoso, dedicava seus últimos anos à profissão.
— O-oque?! — respondeu no mesmo tom com uma voz rouca.
Pequenos pombos entraram para dentro da carroça em movimento. Um grupo pequeno, composto por duas pombas brancas e um pombo cinza. Eles catavam algumas migalhas de comida no chão para a sua alimentação.
Um comportamento curioso.
— Erica é nosso destino! Lembre-se disso.
— Ugh! Sempre agindo como se os mais velhos se esquecessem de tudo — resmungou. — Pode deixar que eu vou ter certeza de parar naquela cidade.
Aliviada com sua resposta, apoiei minha cabeça para trás. E, em um instante, estava pegando no sono. Talvez eu tenha dormido pouco, então aproveitei para descansar um pouco mais.
Fechei meus olhos e deixei-me levar. Dessa vez, esperava não ter um sono tão estranho…
Em um pequeno instante, fui acordada por Gaia, que estava chamando minha atenção.
— Ei… ei, Seven. Chegamos a Erica… — falou em um tom baixo.
Estava desnorteada ainda.
— Hmmmn! — Espreguicei-me. — Tudo bem… vamos.
Saí da carroça, pagando o velho senhor que estava dirigindo. Dessa vez, ele deu um pequeno desconto, algo que não entendi o motivo.
Mas antes de sairmos, lembro dele ter falado algo que me deixou intrigada…
“Esses jovens! Sempre indo em busca da lua de mel o mais cedo possível, não esperam nunca o casamento.” O que será que ele quis dizer com isso? Vai ver ele estava de mau humor, né.
Peguei a bagagem que havia trazido com a gente. Uma pequena bolsa de mantimentos e um par de roupas, para mim e para Gaia.
Antes que pudesse carregar para a cidade, logo Gaia me tomou a bolsa, a colocando em suas costas. Ela estava mais teimosa hoje, e suas ações estavam realmente me fazendo rir por dentro.
Acredito ter visto em um livro que essa era a única cidade costeira de Tyrael, localizada o mais ao norte possível do estado. E o livro que li estava realmente certo, afinal, podia ver barcos ao longe. Era uma cidade portuária para a localidade, então imaginei que peixes poderiam ser o comércio local.
Animação… Era isso que podia sentir. Iria comer algo diferente das carnes de lobo ou até mesmo as saladas diárias que me eram dadas em Lótus. E apenas isso fazia minhas veias ferverem de ansiedade.
E a primeira coisa que vi foi a menor quantidade de neve. Algo estranho de se pensar, né? Mas pelo menos não ia sentir tanto frio aqui, ou pelo menos esperava.
Poucos prédios, em comparação com Azaleia, mas ainda sim havia alguns mais ao fundo. Meus olhos logo bateram em sua arquitetura mais refinada, que mais lembrava mansões do que casas normais. Podia dizer que, apenas com essas informações, essa cidade era um sinônimo de exportação.
— Ainda perdida em pensamentos? — falou Gaia.
— Não, dessa vez não.
— Ah… porque se tivesse, eu teria que lidar com essa situação de outra forma.
Que? Por que ela teve que falar dessa maneira? Senti um pouco de perigo em sua fala, como se estivesse sendo caçada nesse exato momento.
Mas, para não a deixar sem resposta, olhei para ela e disse: — Tente, se puder. — Mostrei minha língua.
Ao longe, escutei uma voz muito familiar e doce.
— Seeeeeven! — gritou.
Uma silhueta se aproximava e, ao chegar mais perto, pude identificar. Era Ester, correndo em minha direção.
Ela não havia mudado nada nesse tempo, sua feição continuava exatamente a mesma desde a última vez que a vi. Apenas seu estilo de roupa era diferente. Dessa vez, utilizava um longo vestido branco.
Fiquei feliz, pois realmente fazia muito tempo mesmo desde nosso encontro. Tinha algumas coisas que queria conversar com ela, e esse era o momento perfeito.
Quando chegou até mim, não disse nada, apenas me puxou para perto. Após me abaixar, Ester começou a dar vários beijinhos na minha cabeça. Não sabia de onde ela tinha tirado essa ideia, mas era realmente adorável de sua parte.
Ao olhar a expressão de Gaia, pude ver algo parecido com raiva. Ela tentava não transparecer esse sentimento, mas falhou miseravelmente em sua missão.
Estava feliz.
Após uma longa sessão de beijocas, levantei-me e dei um abraço que tanto estava esperando retribuir.
— Você tem muitas coisas para me contar, mocinha — disse Ester, colocando mais força em seu abraço.
— Tenho… tenho realmente muita coisa para lhe contar! — respondi, colocando um sorriso em meu rosto.
Sua expressão parecia ter se aliviado ao ver minha alegria. Talvez tivesse demonstrado bastante melancolia da última vez. Mas agora era diferente!
— Então… por que me chamou para cá? — perguntei.
— Direta ao assunto, nem hesita em perguntar se estou bem — respondeu. — Só não lhe dou uns sacodes por ser mais alta que eu.
— Ah! Desculpe, haha.
Ela soltou-se de meu corpo. E, em uma situação muito constrangedora, colocou sua mão dentro de seu decote, retirando dois ingressos de dentro.
Ester não tinha vergonha de fazer isso em público? Que constrangedor!
Olhei aos arredores, pensando se alguém tinha visto ou não essa sua ação. Por sorte, parecia estar vazio.
Pensei duas vezes antes de aceitar o ingresso que havia retirado de sua… É melhor esquecer o que tinha acabado de ver.
— Venham comigo a uma festa! Uma nobre me convidou ao palácio dela, Jorge não é nada fã de sons altos, então tenho dois ingressos sobrando.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.