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    Utilizou sua magia mais uma vez, transferindo nossos corpos para outra localização. A luz do local logo ofuscou meus olhos, impedindo-me de enxergar algo além da estrutura descomunal à minha frente.

    — Vou aceitar seu silêncio como um sim para a minha pergunta — disse o senhor, andando apoiado em seu guarda-chuva.

    De alguma forma, parecia estar mancando, diferente das outras vezes. Havia acontecido algo? Se… machucado? Não sabia, e talvez nem iria descobrir tão cedo. 

    Mas… por que isso tinha que ser tão grande? Eles guardam o que lá dentro? É maior do que os castelos que vi!

    — Museu, assim que chamam — respondeu, olhando para trás. — Até que é famoso no local de onde eu vim. Mas bem, siga-me agora.

    Virou-se para frente, continuando a dar seus passos lentos. 

    De alguma forma, me sentia familiarizada com o local, mesmo nunca tendo visto ele em minha vida. Era uma sensação estranha… uma sensação que queria agarrar com todas as minhas forças.

    Após enrolar um pouco, comecei a segui-lo. A entrada para o tal museu era através de uma grande escada. Muito maior do que a escadaria de Lótus…

    Como isso era possível?

    Humanos não tinham capacidade para levantar algo tão grande quanto… Se conseguissem, não daria muito tempo para que a mesma fosse derrubada por rupturas de torres próximas. 

    É o que eu li em livros, pelo menos.

    — E está certa nesse quesito. — Subiu alguns degraus, antes de aguardar a mim em um deles. — Vocês não tem capacidade o suficiente para construir algo desse tipo. Sua arquitetura é primitiva até demais.

    Isso seria um… insulto? Espero que sim, pois eu levei dessa forma.

    Comecei a subir os degraus junto a ele.

    Meus pensamentos estavam confusos, muito confusos. Quase como se a realidade estivesse se destoando naquele instante. E tinha certeza de que estava.

    O que eu faria se encontrasse Damien de novo? Falaria com ele? Mas sobre o que? Nossas conversas foram muito curtas, mesmo que ele se diga meu…

    Ah, deixa.

    Não sei o que quero conversar com alguém que sabe meu passado. São tantas perguntas! Porém, conhecendo um pouco de sua personalidade, sei que ele não responderia boa parte delas, isso pensando pelo lado positivo.

    Mas e se ele respondesse a todas? Seria perfeito, né!? As dúvidas pelo meu passado me assombram, mas após um tempo elas apenas se tornaram curiosidades. Não é como se eu precisasse saber dele para viver o meu presente…

    Já construí algo que gosto, então, qual a necessidade de continuar nessa busca? Ah, que droga! Eu quero apenas viver tranquila.

    — Alô…? — perguntou o senhor. — Se perdeu em pensamentos, criança? Já até chegamos ao final da escadaria.

    Começou a rir da minha cara, um sorriso cínico proposital. 

    Bati de leve em minha cabeça, tentando voltar à realidade em que estava. 

    Tinha que resolver esses pequenos problemas meus. Vai saber onde essa ideia de me perder em pensamentos vai me levar.

    Olhei para frente, dando de cara com o maior arco que já tinha visto! A entrada para esse tal de museu era aberta, por algum motivo que não vou saber agora…

    Estava com um pouco de medo de entrar naquele local. Parecia estar muito escuro, exalando uma sensação de observação vinda de dentro!

    Nós iríamos entrar, né…? Espero que não!

    — Que foi? Achou muito assustador? — O senhor bateu seu guarda-chuva no chão duas vezes seguidas, e em um passe de mágica, luzes se acenderam dentro do salão. — Melhor agora. Tava dando um nó na barriga também. Não sou bem acostumado com esses lugares vazios.

    Uau…

    Ele tinha poder para fazer isso, então? Essa coisa do meu lado era muito mais forte do que pensei. No começo, achei que podia apenas interferir no meu mental… mas, ao longo do tempo, também interferiu na realidade. O quão vasta é sua benção? Estou cada vez mais curiosa sobre como a mesma funciona.

    — Me chamar de “essa coisa” é meio falta de respeito, viu? — respondeu. — Mas vou deixar passar dessa vez. Bem, venha comigo.

    Mais uma vez, deixei ele ir na frente. O fato dele parecer estar machucado estava me incomodando bastante… Algo aconteceu de tão sério? A pessoa mais forte que conheço se machucou, mas como?

    Algumas pinturas nos receberam quando passamos para dentro do museu. Era algo que nunca tinha visto, um meio diferente e até mesmo incompreensível para mim.

    O que seriam essas… artes?

    — Ah! Que saudade de apreciar essas telas! Sendo bem sincero, é difícil guardá-las em minha memória. Sinto uma pequena falta de ter visto pessoalmente. — Aproximou-se de uma das pinturas, respeitando uma pequena faixa vermelha que impedia a passagem. — Essa daqui é minha favorita.

    Cheguei mais perto, tentando ler o pequeno nome que havia embaixo.

    “O Grito”…?

    — Foi criada por Edvard Munch, o grito é uma obra expressionista que… 

    Não consegui prestar atenção no resto de suas palavras. Utilizou termos que não entendia e citou pessoas de quem nunca havia ouvido falar…

    Ah, que se dane! Eu admito isso mesmo. Sou um pouco burra nesse quesito!

    Mas, olhando para essa pintura, eu sinto um sentimento diferente no meu peito… Algo mais… Não sei explicar.

    — Você nem deve ter prestado atenção no que eu disse — falou. — Mas tudo bem. Nós temos coisas mais importantes a fazer.

    Ah! Sobre o Damien!

    — Melhor não demorarmos tanto para isso, correto?

    Ele começou a andar novamente, deixando-me para trás. O vislumbre de suas costas de alguma forma parecia familiar para mim… 

    Por que esse sentimento surgiu agora? Não havia tido essa sensação das outras vezes. Então, o que diabos isso significa?

    Ele com certeza sabe sobre meu passado, e talvez estivesse começando a lembrar… mesmo que um pouco.

    Voltei a andar com ele.

    Todas essas pinturas eram tão lindas. Havia tantas que me sentia hipnotizada apenas de passar o olho. Estilos diferentes, jeitos diferentes e, provavelmente, autores diferentes.

    De onde será que ele veio? Sendo bem sincera, estou bastante curiosa sobre esse local. Parece tão cheia de vida… pelo menos, comparada com Hektar. 

    Até que… parou.

    Um grande salão circular tinha sido descoberto, e nele havia um pequeno suporte no meio. Parecia ser o item mais importante do local, tendo em vista toda essa aura construída ao redor dele.

    Estátuas circulavam o objeto, e junto a elas, grandes esqueletos de criaturas desconhecidas estavam pendurados.

    Grandes dentes, caudas maiores ainda e uma estrutura que nunca havia visto! Era incrível ver isso, muito incrível mesmo!

    Olhei para o senhor, mostrando uma feição confusa.

    O que era para eu fazer naquela situação?

    Eu não sabia!

    Em resposta, ele apenas sinalizou com a cabeça. Quase como um “se aproxime daquele objeto”.

    Não havia muito para onde correr… então, segui suas instruções. Em passos lentos, andei em direção ao centro da sala.

    As estátuas ficaram maiores, as pinturas ficaram menores. Tudo estava levando à estranha coisa protegida pelo vidro.

    Quando finalmente cheguei mais perto, pude ver o que estava dentro daquilo. E que surpresa, hein…

    Minhas expectativas haviam sido quebradas.

    Então, o objeto mais importante daqui era uma… presilha? 


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