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    Dentro da pousada, parecia ser dividido em preço os andares, quanto mais alto o andar mais luxuoso seria o quarto. E, dentro dos cinco andares que tinha, Ester nos levou até o último andar.

    Fiquei surpresa e ao mesmo tempo muito confusa. De onde será que ela estava tirando todo esse dinheiro? 

    Ela abriu a porta, revelando um pequeno, mas confortável quarto. Instantaneamente vi Jorge sentado no sofá, lendo o que parecia ser o jornal local. Ele estava com os pés apoiados em um pequeno banco. Essa visão não era nada mais do que cômica para meus olhos.

    Apenas quando Ester estalou a língua, ele percebeu sua chegada. Levantou-se com pressa e nervoso, como se tivesse cometido o pior dos erros. 

    — O-oi querida — disse Jorge.

    Ver aquele homem totalmente musculoso se encolhendo de medo foi realmente muito engraçado. Seu jeito atrapalhado e a forma como tremia ao falar destruíam aquela imagem de “cara forte” que ele passava.

    Humpf! Bom mesmo — respondeu Ester.

    Ela chegou mais perto de Jorge e, quando menos pensei, começou a beijar todo seu rosto. Dessa vez era diferente, ela estava beijando nada mais que seu amado, e isso deixava a situação muito constrangedora.

    Olhei para Gaia, e ela compartilhava do mesmo sentimento que eu. Estava perplexa de vergonha.

    Foram tantos que Ester fez com que Jorge caísse no sofá com ela por cima. E mesmo assim, não parou. Beijos em todo o rosto, nos lábios dele e… Melhor parar por aqui.

    Gaia e eu, que estávamos apenas na porta, entramos no quarto. Passamos longe do que estava acontecendo, indo diretamente a segunda porta que tinha naquele quarto.

    Talvez não devêssemos incomodá-los por enquanto… 

    Dentro do outro cômodo, tinha uma cama de casal e um pequeno balde de madeira, que no momento, pensei ser utilizado para banhos e outros afazeres. Em cima da cama, havia várias sacolas verdes, mas não era possível identificar o que tinha dentro delas.

    Gaia, por outro lado, estava visivelmente alterada. Ela arfava, mas não entendia o motivo e, de repente, me senti sendo puxada para perto dela. Gaia me abraçava pelas costas, cheirando meu cabelo.

    Sentia sua respiração forte.

    — Sev–

    — Oi, meninas! O que estão fazendo? — disse Ester.

    No mesmo instante, Gaia me soltou, deixando-me cair na cama à minha frente. E quando alcancei a superfície macia, quase todas as sacolas foram para o ar, revelando as várias roupas exuberantes escondidas dentro delas.

    — Ah… vocês estragaram a surpresa assim. Não era para vocês terem visto as roupas agora. — Ester limpava seus lábios. 

    Saiu de uma situação como aquelas para falar com a gente normalmente. O que essa mulher era? Humana eu tinha certeza de que não.

    Ester chegou mais perto de mim, puxando-me para fora da cama delicadamente. Suas mãos logo foram direto aos vestidos e ternos, verificando se não havia sujado, amassado ou rasgado.

    Apenas com esse pequeno ato, pude supor o quão caro era aquilo.

    Enquanto arrumava as roupas, ela conversava com a gente.

    — Então? Vão querer dormir aqui? 

    — Tenho algum dinheiro, então consigo alugar algum quarto para eu e Gaia — respondi, passando a mão nos meus bolsos.

    Me arrependi de falar essa frase instantaneamente, pois acabei pagando com minhas palavras. A carteira que deveria estar em meu bolso esquerdo, tinha sumido.

    Onde será que ela deveria ter se perdido?

    Eu paguei o motorista corretamente, o que significava apenas uma coisa: a perdi na vinda para essa pousada.

    A cidade era imensa, e demorou bastante para que chegássemos até aqui, tanto que já era por volta do meio-dia.

    — Erm… Como posso dizer… — falei. 

    Estava nervosa o suficiente para quase deixar meu coração escapulir pela boca. Gaia parecia ter entendido imediatamente o que havia acontecido, então ela agiu.

    — Ester — disse Gaia, colocando a mão na cintura —, parece que tivemos um pequeno probleminha aqui. 

    Ester parou de dobrar as roupas, se colocando de frente para nós.

    — Seven acabou de perder nossa carteira. — Continuou Gaia.

    A expressão confusa de Ester havia mudado para preocupada por breves momentos, antes de visualmente ter uma ideia maléfica. 

    — Então… que tal dormirem aqui? 

    Deveria imaginar que isso ia acontecer.

    A ideia era ótima, mas apenas de pensar em incomodar eles em sua viagem em família. Eles pareciam muito alegres com essas pequenas férias, se assim posso dizer. Estavam Jorge, Ester e…

    — Mudando de assunto, onde está aquela criancinha que tinha visto? — perguntei.

    — Hm… Então você vai só desviar mesmo, né. — Voltou a dobrar as roupas. — Fala do Theo? 

    — Theo? Esse era o nome dele?

    — É sim, meu filho. — Ester estalou a língua, como se tivesse perfurado o dedo em alguma agulha escondida nas roupas. — Ele está na casa da minha irmã. 

    Balançou sua mão, tentando evitar que a dor se espalhasse. E logo após, colocou o dedo na boca para estancar o sangue mais rápido.

    Não tentei intervir, afinal, ela tinha tudo sob seu controle.

    — Por isso não o vi ainda aqui.

    Ela deu uma risada baixa. 

    — Sim, sim. Theodore realmente gostou de você, tanto que até fez um desenho.

    Desenho? Então ele me desenhou? Que fofo.

    Senti leves puxões em minha camisa, e eu soube exatamente quem era a culpada disso. Olhei para trás e vi Gaia com uma expressão meio triste.

    Ela manteve a minha camisa por um longo período.

    — Eu devo desenhar também…? Mas eu nem sou tão boa com desenhos… Será que se eu começar a aprender agora eu posso… — murmurava.

    Puxei ela para mais perto.

    — Não precisa disso. Seu espaço está guardado aqui — sussurrei, enquanto apontava para meu peito.

    Ela ficou ainda mais melosa depois disso. Havia se aproximado mais, e apenas não me abraçou porque Ester continuava no quarto.

    — Ufa! Acabei — exclamou Ester, passando o braço pela testa.

    — Olha, Ester… Desculpa por ter desarrumado tudo.

    — Esquenta com isso não. Foi só um acidente, não é mesmo? — Ela olhou para Gaia, mostrando um sorriso ameaçador.

    Tudo que pude fazer foi rir um pouco dessa situação.

    — São quantas roupas mais ou menos que teremos de provar? — perguntou Gaia, se escondendo parcialmente atrás de mim. — É que tenho um sério problema com roupas.

    — Por volta de…

    — Querida! — gritou Jorge, interrompendo a linha de raciocínio criada por Ester.

    — Oi! — respondeu.

    — Temos uma surpresa em tanto! — Sua risada ecoou por todo o cômodo, chegando ao quarto em que estávamos.

    — Manhê! Tá aí? — Uma voz feminina que nunca escutei na vida.

    Ester correu para a sala com rapidez. E tudo que pude escutar a partir desse momento foram gritos, gritos de felicidade vindo dela.

    — Daery! Quanto tempo! — gritou Ester.

    Uma amiga? Talvez uma irmã? Não. Pelo que ela tinha gritado, era sua filha.

    Olhei para a sala, e nela estava Ester se abraçando com uma pessoa pequena. Uma mulher vestindo roupas curtas de cores claras e cabelos castanhos de mesmo tamanho.

    Sua escolha de vestimentas era deveras constrangedora. 

    E a coisa que mais me chamou atenção: ao invés de braços, obtinha asas. As penas pareciam reais demais para serem só cosméticas. Suas pernas eram quase idênticas às garras de uma ave predatória.

    Se fosse colocar em termos de dádivas e bençãos, podia supor que Daery tinha uma dádiva que a transformava em um pássaro. Estranho… nunca vi nada igual.

    — Seven, venha cá! Tem alguém que quero te apresentar — gritou Ester. 

    Pelo visto, ainda tem muito pela frente.

    Mas por que eu sinto que estou esquecendo de algo importante?


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