Capítulo 5: Reviver O Passado
Quando foi que tudo deu errado? Eu queria apenas poder saber o que minhas lembranças tinham. E essa curiosidade é avassaladora.
― █████? █████? Acorda, minha filha! ― Podia ouvir alguém me chamando. A voz era familiar, uma voz feminina doce e aconchegante.
Estava caindo em um abismo, não sabia quanto tempo exatamente, mas não enxergava nada ao meu redor. Até que essa voz começou a ecoar em meus ouvidos. Era como se estivesse me esperando a muito tempo; como um anjo que veio me salvar.
Após um tempo, pude ver uma pequena luz. O meu único pingo de esperança.
[Checando condições…]
― O quê?
[Condições cumpridas!]
― Que droga.
[Fantasia está pronta para ser ativada, o processo deve ser feito?]
― Você só deve estar brincando comigo.
[Concedendo permissões, iniciando programa…]
Após isso, pude sentir o sol entrando pela janela. Era de manhã. Estava acordando de uma grande noite de sono, e ao meu lado estava minha mãe, com raiva de alguma coisa que eu tinha feito.
― O que você pensa que está fazendo dormindo até esse horário, mocinha? Devo regular seus horários de sono eu mesma? ― Ela me disse.
Era a mesma voz que tinha escutado, mandando eu acordar.
Estava ainda atordoada por estar acordando naquele instante; meus ouvidos ainda estavam zumbindo. A maioria das palavras que saía da boca de minha mãe, assim como seu rosto, estavam se embaçando e se embaralhando.
― Estarei lhe esperando lá embaixo. Pelo menos dessa vez almoçamos em família, como nos velhos tempos! ― Parecia empolgada falando sobre isso. Devia ser algum evento familiar importante que devia ter estragado.
Não consegui responder antes dela ir embora, apenas saiu do meu quarto e me deixou ali, muito confusa. No meu quarto, as paredes eram simples e pintadas de branco. Conseguia ver uma grande estante de livros e uma mesa na qual, parecia ser de estudos.
Parecia estar no segundo andar daquela casa, e sem saber o que fazer, fiz o que tinham me dito. Levantei-me e fui em direção à porta. Mas, eu não a abri. Pelo contrário, apenas escutei o que estavam falando no andar de baixo, enquanto me sentava no chão.
― Ela é nossa filha ███████! Como você não entende isso… não pode ao menos almoçar com a gente hoje? ― Parecia ser minha mãe, brigando com mais alguém.
― Ela é a sua FILHA! E vergonha da nossa família! Isso sim. Você sempre quer defender cada erro que ela faz. Assim ela não vai aprender com os erros. ― Eu sabia de quem era essa voz, era de meu pai, uma voz assustadora.
― A garota tem oito anos, seu idiota! De que adianta culpar uma criança, se nem ao menos o pai dela é presente na própria casa?
Após isso, eu apenas escutei um tapa. Não sabia que lado vinha, mas foi alto o suficiente para ser ouvido do segundo andar. Parecia que eu tinha voltado para o corpo de uma criança, fraca, que estava apenas segurando seu choro por tudo que não entendia, prestes a quebrar.
― Saia imediatamente de minha casa, sua ingrata. Aproveite e leve essa criança e todas as suas coisas embora agora. ― Pelo visto, tinha descoberto quem tinha dado o tapa.
Eu desabei, não sabia o que fazer. Comecei a chorar como um bebê que não ganhou um doce no Dia das Crianças. Eu sou tão egoísta e fraca, tudo que eu queria era poder sentir esse calor novamente, um calor afetivo.
Mas eu não consigo nem defender a mim mesma, quem dirá a outro.
― Olá, minha criança. ― Pude escutar uma voz vindo daquele quarto.
Levantei a minha cabeça e era aquela mesma pessoa que me deu um colar, sentado na minha cama.
― O que você quer aqui? Me humilhar? ― dizia, enquanto engolia o choro e enxugava as lágrimas.
Agora dava para ver todo o seu corpo, pois não estava mais atrás de uma mesa. Ele parecia continuar com aquele terno azul-escuro, e dessa vez, de chapéu de mesma cor. Seu monóculo continuava, e consigo carregava uma maleta e um guarda-chuva.
― Eu não esperava te ver tão cedo aqui. O que aconteceu? A Fantasia não era para ativar agora ― Ele me disse, talvez esperando que eu entendesse alguma dessas palavras.
― Foi você quem causou isso? Me responda!
― Essas são suas lembranças, Seven, você causou isso. Mas, me diga logo do porquê você veio. ― Deu uma leve pausa. ― Não me entenda mal, eu só quero conversar antes de o meu tempo se esgotar.
Eu limpei todas as minhas lágrimas, havia conseguido parar de chorar finalmente. Até que olhei para ele.
― Eu estava… indo para uma expedição para caçar monstros, em busca de dinheiro. Gaia estava do meu lado, lembro-me bem dessa parte.
― Continue, minha criança. Eu estou aqui para te ajudar.
― E então, à noite, encurralaram toda a equipe que tinha vindo, e… E… ― Por que eu não consigo lembrar, além disso?
― Você morreu, Seven, deve se acostumar a isso a partir de agora. Provavelmente lembrar de seu passado a cada vez que isso acontecer.
― O… quê? Isso é apenas uma pegadinha, certo? ― Minha voz tremia um pouco.
― Já deve estar na hora. Você deve pensar muito bem no que dar em troca de uma segunda chance, se você quer viver, é claro. Se continuar, saiba que é apenas o começo. Deve descobrir o que eles escondem, chegar até onde eu não cheguei.
Ele parecia emocional com essa última frase, mas suas palavras demonstravam experiência de alguém que já vivenciou muito nessa vida, então não pude deixar de acreditar nele.
[Evento de Fantasia acabado, iniciando processo de sacrifício…]
― Mãe, eu juro que eu não vou mais ser a vergonha da família…
Parecia estar desaparecendo no ar, como uma poeira sendo soprada. Tudo ao meu redor estava da mesma forma, sumindo lentamente. E a pessoa que estava ali me motivando, já havia desaparecido.
Estava acordando, parecia que era realmente uma segunda chance para mim. Não estava no campo de batalha. Me mantive na igreja, como se nós nunca estivéssemos saídos de lá. Algo que estranhei, evidentemente.
― Como assim… ― sussurrei.
― O que você está fazendo aí parada, Seven? Temos que ir para o local de encontro para a expedição ― disse Gaia.
Tudo parecia tão normal naquele ponto, tirando a parte que havia voltado ao passado pelo menos um pouco. Mas havia uma coisa que não entendia, o que será que quiseram dizer com sacrifício? Eu não pude deixar de temer isso, mas… ir de novo para a expedição, sabendo o que estava vindo pela frente, era algo que eu queria evitar. Mesmo que o dinheiro fosse realmente necessário.
Estava sem saber o que fazer, levantei minha mão para segurar meu braço esquerdo, e meu rosto empalideceu. Eu não sentia meu braço esquerdo ali, ele só tinha sumido. O que aconteceu? Voltei um pouco no tempo e perdi meu braço? Acho que eu deveria ficar feliz, por pelo menos estar viva.
No lugar do meu braço, estava só uma bandagem e uma parte do meu casaco rasgado e enrolada no local, então cada vez que eu morrer eu irei perder um membro do meu corpo? Eu não gosto disso, mas eu ao menos não sinto dor, não tanto quanto ter morrido pela primeira vez.
― Vamos, vamos! Nós temos que ir. ― Gaia parecia não ter notado nada de errado comigo, suponho que devia ser a única a lembrar.
Saí pela porta e, sem querer, acabei esbarrando com alguma pessoa que estava passando, fiquei desnorteada devido a isso.
― Então, nós nos encontramos novamente. ― Pude ouvir dizer, apenas pela voz eu sabia quem era. Era alguém que eu já tinha conhecido aqui.
― Klaus, o que você está fazendo aqui?
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