Capítulo 50: Aquela Voz Que Um Dia Jurei Esquecer
— Prazer, me chamo Daery — disse a mulher-ave, estendendo sua mão.
Retribui com um aperto.
— Me chamo Seven — falei.
Foi uma sensação estranha fazer esse toque com ela, afinal, suas mãos eram como as de uma ave. E, se antes eu tinha dúvidas sobre ser real ou não, agora que havia tocado com minhas mãos, tinha certeza de que eram reais.
— Mamãe me falou algumas coisas de você. — Soltou minha mão.
Fiquei um tanto quanto curiosa para saber o que Ester falou sobre mim. Talvez… disse o quanto eu sou bebê chorona? Meu Deus!
Comecei levemente a suar frio, pensando em tudo que poderia ter saído da boca de Ester. A vergonha que poderia sentir caso mencionasse qualquer qualidade ou defeito meu naquele momento era imensurável.
— Q-que tipo de coisas?
Em um passe de mágica, Daery tinha sumido de minha visão. E, de repente, senti um tapa em minhas costas que quase me levou ao chão.
Olhei para trás em desespero, tentando entender quem havia feito esse ato bobo. E lá estava Daery, sorrindo de minha cara.
— Mamãe não falou nada de ruim, não! Pode relaxar, viu. — Abriu um sorriso cínico. Sorriso esse que era estranhamente familiar.
Agora eu tinha certeza de que essas duas eram farinha do mesmo saco.
— Haha… — Retribui com uma risada desconfortável, colocando a mão para trás da cabeça.
— Tsk. — Gaia estalou a língua.
Ela parecia não ter gostado nada dessa ação de Daery. Sua cara mostrava uma expressão de raiva, como se fosse bater na primeira pessoa que aparecesse em sua frente.
Gaia me puxou para mais perto, colocando-me aprisionada entre seus braços.
Daery olhou para nós como se entendesse o que estava acontecendo. E, novamente, aquele maldito sorriso apareceu. Essa pirralha menor que eu parecia gostar desses tipos de coisa.
— Ei, ei… Eu não vou fazer mais nada. — Dessa vez, ela voou em direção a Gaia num piscar de olhos. — Não precisa ficar com ciúmes, ok? — sussurrou.
Mesmo sendo quase imperceptível, estava perto o suficiente para escutar o que ela tinha falado. Corei um pouco, confesso.
Só de imaginar Gaia com ciúmes de mim, me deixava… alegre, eu acho?
— Querida, trocando de assunto… — Jorge começou a cochichar no ouvido de Ester.
— Daery, venha cá rapidinho — disse Ester. — Então, sabe aquele… — Voltaram a sussurrar entre si.
A sala se encheu de murmúrios, deixando eu e Gaia muito confusas.
— Que? Como assim? Eu vim pr–
Antes mesmo de terminar sua frase, Daery levou uma pancada na cabeça de Ester, que logo a puxou para perto novamente.
Cansada de ficar em pé, me movimentei para o sofá. Gaia me seguiu como um cachorrinho até lá. Imaginei que ela não queria ficar muito perto daqueles cochichos, até porque ela não conseguia lidar muito bem com outras pessoas, então não reclamei da sua vinda.
Me sentei, colocando toda a exaustão para fora; que não era muita, na verdade. Gaia sentou-se desconfortavelmente ao meu lado.
Talvez quisesse dizer algo.
— O que aconteceu, Gaia?
Ela estava evitando meu olhar, como se estivesse muito envergonhada.
— N-nada.
— Tem certeza mesmo? — perguntei novamente.
Ela hesitou.
Pensou por alguns minutos e…
— Sev–
[Atualização iniciada.]
De repente, uma tela apareceu em minha frente.
Fiquei confusa, sem entender o que estava acontecendo.
Atualização? O que será que isso poderia significar? Novamente, meus instintos curiosos estavam aguçados.
— Posso? — disse Gaia.
— Que?
— Estou perguntando se posso…
Do que ela estava falando? Me perdi em pensamentos por um instante, mas sinto como se tivesse sido por séculos.
Deveria lhe dar uma resposta.
— Claro que pode — disse.
Quem diria que eu deveria prestar mais atenção em conversas.
Sem que eu pudesse impedir, Gaia colocou a cabeça sobre meu colo, esticando suas pernas pelo sofá. Sua ação repentina me deixou paralisada.
Olhei para ela, tentando entender o motivo de ter feito isso. Mas, em resposta, recebi o sorriso mais doce que já vi em minha vida.
Nesse ponto, não me importei mais com seus atos bobos. Afinal, já havia recebido minha recompensa, e muito bem dada.
Quem diria que uma pessoa de quase dois metros não iria caber nesse sofá? Pois saiba que ela estava certa. Gaia estava com parte das pernas para fora do sofá, mas sinto que ela não se importou, mesmo que incomodasse bastante.
Minha mão foi automaticamente para seu cabelo, acariciando-o gentilmente. Me considero inocente nesse caso, pois claramente foi telecinese e não eu querendo fazer cafuné na cabeça de Gaia.
Ester tossiu, tentando avisar que ainda estavam lá.
Tomei um susto, confesso. Retirei a mão do cabelo de Gaia rapidamente, colocando-a para trás da cabeça.
Gaia, por outro lado, caiu em sono profundo. Talvez ela realmente precisasse dormir mais que eu.
[●∘∘∘∘∘∘∘∘∘ 2%]
Deve ser melhor ignorar essas mensagens por enquanto. Vou aproveitar o momento que ganharei mais.
— Aconteceu algo? — perguntei.
— Isso é hora de fazer essas coisas? — respondeu Ester.
— Eu definitivamente não sei do que você está falando.
— V-vocês nem casaram ainda! — gritou Daery, corando levemente.
Só pude rir nessa situação no final.
— Shhhh… Deixe ela dormir por enquanto.
Assim que disse isso, eles ficaram mais quietos, entendendo o meu lado. Ester trouxe um banquinho para cada, e os três sentaram ao redor de mim.
Assim, passamos o resto da tarde colocando as conversas em dia…
Essa foi uma das melhores ideias concretizadas. Conversar e descobrir mais sobre essas pessoas à minha frente foi gratificante.
Foi-me contada a história de Ester e Jorge através de contos. Que, sinceramente, ficaram muito engraçados! Como assim ela e Jorge se conheciam desde criança? É realmente o destino desses dois ficarem juntos.
Foi muito mais curioso saber que esse era o segundo casamento dela! Então, Jorge, como um grande cavalheiro, salvou Ester da mão de seu antigo marido. Realmente, uma linda história romântica.
Sabe? Fiquei muito emocionada mesmo. É uma surpresa em tanto essas histórias, e mesmo assim, sinto que não eram nem o começo delas.
Outra coisa muito maneira que descobri foi que Daery entregava cartas! Então ela era meio que um pombo-correio? Que engraçado.
Mas, infelizmente, o horário não deixou que ficasse tanto tempo aqui, acabou partindo antes mesmo que a lua chegasse a dominar o céu.
Após uma tarde cheia de reviravoltas, Ester conseguiu me convencer a ficar aqui por essa noite.
Eles arrumaram um colchão, que não sei de onde tiraram, e colocaram na sala. Acabei ficando com o sofá, afinal, Gaia não caberia nele.
E falando nela…
Gaia apenas levantou quando forcei ela a acordar. Foi uma luta, mas saí como vencedora. Consegui enviar ela para seu bendito colchão.
Como tudo estava resolvido, coloquei minha cabeça no travesseiro acoplado ao sofá, caindo no sono.
A sensação era como se eu fosse ter o pior dos sonhos essa noite. Mas não quis acreditar em meus sentidos, afinal, esse dia não poderia piorar.
Dormi por bastante tempo, relaxando como nunca naquele móvel fofinho…
— S-Seven…? — Alguém murmurou meu nome.
Abri meus olhos, tentando entender quem deveria ter atrapalhado minha noite de princesa. Jurei que, quando soubesse, iria fazer tantas coisas que…
— Ei… — Ah, era Gaia.
Ela chamava meu nome docemente, abraçando o travesseiro como um ursinho de pelúcia.
Talvez seja porque ainda estava morta de sono, mas suas ações eram tão fofas aos meus olhos.
Sinalizei que havia escutado.
Apenas isso foi o suficiente para Gaia entender que não deveria fazer tanto barulho. Logo, ela apenas bateu duas vezes do seu lado no colchão, como se exigisse a minha presença naquele lugar.
Talvez ela apenas quisesse substituir sua nova pelúcia. Mas, encantada por sua fofura, deitei ao seu lado.
Ela me enrolou com o lençol, me abraçando logo em seguida. Uma situação parecida que passamos recentemente, mas dessa vez, com conforto.
Um calor afetivo dominou todo o meu corpo, enquanto caia no sono mais uma vez
— Sua filha da ████! — Escutei uma voz falando.
Era aterrorizante.
Um grande frio percorreu minha espinha naquele momento.
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