Capítulo 50: Um Velho Conhecido
— Desculpa, Karina! — disse Kaori, colocando uma palma na outra. — Desculpa mesmo! Eu esqueci que hoje eu tinha muitos trabalhos, então, acabarei tendo que cancelar aquela nossa saída para o centro!
Ela havia me feito arrumar meu cabelo, procurar roupas e até mesmo me maquiar um pouco pra… nada?
Kaori estava vestida com sua armadura, o uniforme padrão de seu trabalho. E, naquela manhã, não desejava nada mais do que ir para casa e afundar minha cabeça no travesseiro para acordar no dia seguinte.
E, provavelmente, era o melhor a ser feito naquela situação.
A sensação de ter levado um bolo no horário do encontro era horrível. Uma mistura amarga e salgada, como se tomasse uma xícara de café com sal.
— Alô? Está aí? — falou Kaori, balançando sua mão perto de meus olhos.
Ah!
— Desculpa. Só acabei pensando demais — respondi, fazendo gestos aleatórios diante daquela situação complicada.
Cocei meus olhos, suspirando logo após. Parecia irreal que algo assim tivesse acontecido…
A ficha ainda não tinha caído, e esse foi meu primeiro erro. Não era como se fosse a pior coisa do mundo, né? Eu só estava um pouco emocionada para isso dar certo.
— Então… tudo bem? — Colocou as mãos para trás, aguardando minha resposta.
— É, é. Tá tudo bem — respondi, apoiando minha mão na nuca. — Não é algo que posso controlar. Então, bom serviço pra você.
Kaori sorriu.
Um sorriso que ela sempre expõe a todo momento… mas, a sensação era como se tivesse visto pela primeira vez. Meu coração aqueceu.
Ela saiu logo após, saltitando pelas ruas.
Pelo menos essa saída vai acontecer alguma hora…?
— Que droga! — resmunguei, agachando-me na calçada. — Ah…
Estava magoada…
Olhei de um lado para outro, tentando encontrar algo que pudesse afundar essa dor que estava sentindo.
…
Tinha encontrado o local perfeito para isso.
— Veio sozinha hoje? — perguntou o garçom, segurando um papel e caneta. — Bem… mesmo de sempre?
Apoiei a cabeça em minha mão, sem prestar tanta atenção no que estava acontecendo ao meu redor.
— É. Me traga o bolo de chocolate — respondi, sem ao menos olhar para ele.
Só escutei os passos do funcionário saíndo de perto. Aquele dia, um dia em que pensei ser especial, estava se tornando chato.
Mamãe e papai saíram para treinar mais uma vez… Até me chamaram para ir com eles, mas acabei recusando por conta desse “encontro”.
Que droga!
Se eu soubesse que seria cancelado, eu teria ido com eles! Seria muito legal ir caçar!
Como será que está lá?
Queria saber.
— Aqui está seu bolo de chocolate, senhora — sussurrou. Uma voz diferente, uma pessoa diferente.
Trocaram os garçons?
Ele colocou o prato na mesa, sentando-se na minha frente logo após.
Um ato ousado para um funcionário no estabelecimento, principalmente quando nem o conheço.
— Não é meio mal-educado para você fazer isso? — disse, evitando o olhar. — Seja educado e saia antes que eu chame o gerente.
— Chamar o gerente? Mas eu nem trabalho aqui — respondeu em um tom normal.
Aquela voz…
Eu a reconhecia.
Virei-me para ele.
— É você mesmo!? — gritei. — Por que diabos você tá aqu–
— Shhhh! Faça silêncio, Vulto!
Ugh!
Esse codinome é um lixo.
Ainda bem que mamãe escolheu um nome muito melhor pra mim. Não iria querer nem um pouco ficar com essa bosta que chama de nome!
Tentei acalmar meu ânimo.
Encontrar um velho conhecido é legal… muito legal. O Informante é uma pessoa que já ajudei muito, então, qual seria o motivo dele querer me encontrar aqui?
Não… vamos por partes.
— Como sabia que eu estava aqui? — perguntei, meus olhos fixos nele.
Seu rosto estava um pouco diferente também, mas a voz era idêntica! Talvez tivesse ficado melhor no uso de sua benção.
Suponha que ser um metamorfo tenha suas vantagens.
— Não sabia. Tô aqui a trabalho, para falar a verdade. Acabei te vendo na cidade e agora estou nesse café — respondeu sem hesitar. — Suficiente?
Comi um pedaço do bolo.
— Trabalho, é…? Não lembro de ter ninguém importante nessa cidade para você estar aqui. Você não mata, apenas coleta.
— Assim fica fácil para as outras pessoas descobrirem que sou um informante! Você fica falando isso em voz alta… Daqui a pouco vai enviar minha cabeça pelos correios para você.
— Vou aguardar ansiosamente por sua cabeça, viu? Aproveite e diga para maquiarem ela antes de morrer. — Apoiei minha cabeça no banco, cruzando os braços.
Naquele momento, meu bolo de chocolate já deveria estar com um gosto ruim.
— Não sei como te dizer isso, Vulto. Mas…
— Não me chame de Vulto. Eu tenho nome agora.
— Tem? Ah… Karina, né?
Que?
Ele sabia disso…?
Então, a coleta de informações, era minha? Estão atrás de mim? Não… não seriam burros o suficiente para isso.
— Estão atrás da minha mãe?
— Pfft! Não tem como esconder nada de você mesmo. A Companhia me contratou para achar o paradeiro de Scarlett, então, acabei por finalizar esse mesmo trabalho.
Sentia uma raiva crescendo.
— Por que você está me contando isso? É um pedido de morte?
Apoiei minha mão na mesa, mão essa que logo virou garras. Garras que logo se afundaram na madeira nova daquela cafeteria.
Escutei rachaduras se abrirem por debaixo daqueles panos fofos para a mesa do estabelecimento.
— Não, não! Óbvio que não! Eu prezo por minha vida mais do que a sua — respondeu, balançando as mãos em negação. — Só estou te falando isso por conta…
Ele evitou o olhar, como se tivesse uma boa lembrança do passado. Um sorriso bobo logo apareceu em sua cara.
— Assustador… — murmurei.
— É apenas um pagamento, sabe? Você me ajudou naquele tempo, então, estou aqui retribuindo o favor.
Suponho que seja uma boa troca. Porém, são informações muito vagas da parte dele.
— Agradeço por isso. Mais alguma informação?
— Ah! Bem lembrado! Acabei por escutar um pouco do plano de ação deles. — Se levantou, sentando-se ao meu lado. — Pelo que disseram, os ataques que planejaram para capturar sua mãe são…
Espera…
Isso é sério?
É sério mesmo?
Por que diabos eles fariam tanto esforço? Ela é tão importante assim?
Três carrascos e um herói… Como eu iria lidar com isso!?
— Por que eles enviaram tudo isso…? — murmurei. — É quase como se quisessem matar para valer, e não capturar uma prisioneira.
— É… eu sei. Um plano muito brutal. — Coçou a cabeça. — Só que… é melhor você ir agora… talvez elas estejam em perigo nesse exato momento.
— Perigo? Haha! Se for só uns carrascos mais fracos, tudo acabará bem. Elas conseguem lidar.
— Esse não é o problema. Pode até pensar nisso, mas… aquela anormalidade está aqui. O Gigante está por essas bandas, Vulto.
O Gigante?

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