Capítulo 52: O Décimo Sexto Batalhão De Infantaria
O que ele falou?
Quase gritava ao escutar esse chamado, mas acabei me segurando.
— G-Gaia… como assim vice-comandante? — murmurei.
— Eu também não sei… Só aja normalmente.
Meu corpo dava pequenos tremeliques.
Por que Ester não havia falado isso para a gente?
Nesse momento, eu lembrei de quando ela evitou a pergunta. As peças se encaixaram rapidamente em minha cabeça: o convite, as roupas e a pousada. Talvez eu só tenha sido idiota por não perceber antes.
— Como assim agir normalmente? — perguntei, suando frio. — Estamos sozinhas! — Minha voz falhou, dando uma leve aumentada de tom momentaneamente.
Alguns nobres olharam para mim, evidenciando que tinham escutado a minha vergonha.
Era um salão gigantesco acompanhado por ouro e adornos. Os nobres que ali estavam se vestiam apropriadamente para a festa; de maneira chique e extravagante. Não conhecia nenhum, afinal, não fazia parte da nobreza.
Mas, por algum motivo, apenas o nome de Ester foi o suficiente para eles notarem a nossa presença. Podia sentir como se uma multidão estivesse chegando perto de mim.
Em uma parte mais alta do salão, repousavam três cadeiras. A que mais chamava atenção delas era a do meio. Apenas de olhar para ela, tive certeza do quão fascinado esse povo era com riqueza.
Não precisava de nenhuma confirmação lógica para saber que aquela cadeira era prestigiada com as melhores pedras do reino.
— Shhhhhh! Assim eles vão perceber! — sussurrou Gaia.
— Eu sei… desculpa.
— … pensou em algo?
— Pensar no quê? Não era para agirmos normalmente?
— Mas como um nobre age?
— Me diga você! — gritei.
Novamente, alguns outros nobres olharam para a gente. Essa situação não poderia piorar mais.
— S-são elas, n-né? — ouvi de longe.
Senti a vibração do solo e os passos se aproximando cada vez mais. Olhei ao redor, tentando identificar quem era o culpado disso.
Uma mulher.
Ela vestia um vestido longo e rosa e estava cheia de joias. Tinha cabelos loiros como fios de ouro em um penteado elegante e belo. Ela corria desajeitadamente em minha direção, arrumando seu decote e algumas pedras que tinham caído.
Será que viria bronca por aí? Faz sentido, afinal, não somos realmente convidadas de verdade para essa festa.
Mas, esse jeito engraçado de correr… Não pareça ter moral para fazer qualquer coisa.
Assim que chegou perto, logo estendeu a mão direita para mim.
Parecia que ela não percebeu as minhas circunstâncias, havia suposto que a capa estava fazendo seu propósito bem até demais.
Olhei para ela, tentando entender o que realmente tinha em sua cabeça. Então, levantei levemente a capa que cobria a não existência de meu braço esquerdo.
Ela percebeu que havia cometido um erro.
— Mil perdões! — Abaixou sua cabeça. — Eu não queria lhe ofender! — Dessa vez, entendeu a esquerda.
A última coisa que esperava foi que abaixasse a cabeça para mim. Afinal, pensava que os nobres tinham orgulho de onde estavam, e não iriam desistir dele por nada.
Mas ela cedeu bem rápido.
— Está tudo bem. — Apertei a mão dela. — Só… tome mais cuidado da próxima vez.
— Uhum. Sim, sim, sim, […] — murmurou por um longo período, sem soltar nem por um segundo a minha mão.
— Tsk — resmungou Gaia.
Em um estalo de línguas quase imperceptível, Gaia passou suas intenções. Será que ela poderia aguentar isso? Agora eu fiquei com vontade de provocar.
Abri um leve sorriso.
— Então, o que você quer? — perguntei à garota.
Ela era jovem, talvez até mais do que eu.
— Eu m-me chamo Aisha! — vociferou. — E-e…
Seu nervosismo era claro, mas era entendível.
— Me chamo Seven, prazer — disse com um sorriso no rosto. — Respire e relaxe. Está tudo bem.
Suei frio, sentindo uma pressão avassaladora atrás de mim.
— Eu… eu sou uma grande fã de Ester! — gritou. — Q-queria saber se ela v-vem hoje…
Me engasguei com saliva, tossindo um pouco.
O que eu esperava? Afinal, Ester era a vice-comandante aqui.
Gaia soltou leves risadas atrás de mim, como se tivesse ganho uma batalha imaginária. Olhei para ela, tentando passar a mensagem para não tirar sarro de mim.
— Não sei… acredito que venha. — Dei uma resposta incerta, tentando me afastar rapidamente dessa nobre.
Até que uma variante da música anteriormente tocada começou. Os sons eram mais vibrantes e fortes, como se fossem passos de soldados em um chão duro.
Os tambores se intensificaram cada vez mais.
As cornetas mostravam o quão importante era a música.
Os nobres tremiam de medo.
Menos Aisha, que estava na minha frente. Ela parecia alegre com esse toque musical forte.
— Saúdem! O batalhão dos injustos, aqueles que lutam por seu estado e por todos que um dia se sentiram fracos. — Antes de gritar novamente, o corneteiro deu uma pausa. — O décimo sexto batalhão de infantaria se encontra presente. Comandados por One, uma Estrela em ascensão!
One!?
Eu já escutei esse nome em algum lugar… mas não sei de onde.
Pelo visto, ele era um herói também. Algo que realmente me surpreendeu, levando em conta que não era para ser divulgado quem era uma Estrela.
O décimo sexto batalhão era onde Ester comandava, então o justo era ela estar dentre aquelas pessoas.
Quando as grandes portas do salão abriram, soldados e mais soldados foram à frente para abrir espaço. Eles vestiam roupas pretas com detalhes em vermelho. Luvas e calças de cores combinadas também eram acompanhadas.
Prestavam continência, como se esperassem alguém passar.
Em suas costas, um símbolo de garra era formado. Um padrão comum para todos eles que repousavam ali.
Os tambores, que antes já estavam brutais, pareciam ter ficado ainda mais animados.
Uma pessoa forte, como um brutamonte, entrava no palácio. Vestia uma capa negra que não conseguia cobrir todos seus músculos e uma armadura em partes específicas de seu corpo.
Sua feição era brava, como se não conseguisse manter outra cara. Olhos pretos e cabelos longos da mesma cor acompanhavam seu rosto coberto por cicatrizes feias.
Ele carregava uma espada gigantesca em suas costas como se não fosse nada. E seus passos afundavam o chão a cada pisada.
Tinha certeza de que aquele era One.
Mesmo com tudo que ele tinha, ainda era mais baixo que Gaia. Suponho que poder criar seu corpo lhe traga certas vantagens…
Atrás dele tinha seu batalhão.
Uma tropa que parecia ter a mesma personalidade de seu mestre. Formado por aproximadamente dezesseis pessoas, eles tinham aparências variadas.
E, dentre aqueles que estavam ali, vi Ester.
Acenei para ela, mas não fui respondida.
Talvez não tivesse me visto, afinal, ela era uma figura importante e tinha muita gente à nossa frente.
Ela se vestia de maneira diferente dos soldados, utilizando uma variante mais chique que o uniforme comum. Uma capa preta com aquele mesmo símbolo em vermelho era vista de imediato em suas costas.
Por um segundo, esqueci das pessoas ao meu lado.
Olhei para Gaia e tudo que ela demonstrava era desprezo. Por quem? Pelo herói? Suponho que sim.
Talvez devesse perguntar para ela mais tarde.
E, Aisha, arfava ao meu lado.
Ela segurava um conjunto de papel e lápis. Imaginei que seria utilizado para um autógrafo de Ester.
Gaia me puxou para mais perto.
— Ei! Que isso?
— Eu… não estava aguentando mais ver você perto… — Ela hesitou em terminar sua frase.
Ah, é. Talvez ela tenha chegado ao seu limite.
Seu rosto evitava meu olhar.
Ela estava emburrada.
Ri de sua cara, mas, devido à sua ação, perdi Ester de vista.
Afinal, todo aquele batalhão havia se dissipado na multidão em instantes.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.