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    Aisha olhava para todos os lados, tentando encontrar Ester. Tinha olhos brilhantes e cheios de expectativas. Fiquei curiosa sobre a relação de Ester e ela, afinal, o que poderia ter causado todo esse fanatismo? 

    — Ei… Aisha, né? — falei.

    Não me respondeu a princípio, parecia realmente focada em encontrar sua ídola. Mas, depois de um tempo, entendeu que estava falando com ela.

    — Hum, o que foi?

    — Você não deveria estar indo procurar ela…? 

    — Deixa eu pensar…

    Ela parou por alguns instantes, antes de me responder novamente.

    — Não! Haha. Se vocês são convidadas dela, então Ester vai aparecer aqui — respondeu.

    Colocou as mãos que estavam segurando o lápis e o papel sobre o rosto, escondendo sua risada maléfica. Ela agia como se tivesse pensado no maior dos planos, o que, no caso, não era verdade.

    Gaia ainda me abraçava por trás, tentando ao máximo evitar o meu contato com Aisha. Era impressão minha ou… Deixa para lá.

    — Será que você pode… — apontei para suas mãos.

    — Você quer realmente que eu solte…? — Fez uma cara triste e irresistível.

    — Melhor não, então.

    Logo após falar isso, Gaia abriu um leve sorriso de canto. Naquele momento, eu soube que tinha sido enganada e perdido outra batalha.

    Meus sentidos para metais estavam apitando a toda volta. De uns tempos para cá, vim treinando justamente esse ponto: reconhecer quando um metal era diferente do ferro.

    Minha habilidade permitia apenas moldar o elemento ferro, excluindo outros metais. Mas, de alguma forma, conseguia senti-los. 

    Isso era muito útil.

    Detectar pessoas quando estavam chegando, se tinha algum perigo e coisas parecidas adiantaram em muito a minha vida. 

    Talvez…


    [Ferromancia está sendo ativada…]


    [Hefesto não via a hora de utilizar seus poderes!]

    Concentre-se, Seven. Concentre-se.

    — Encontrei.

    — Encontrou o que? — perguntou Gaia.

    — Acabei de saber a localização de uma pessoa que nos deve bastante explicações.


    [Hefesto ficou triste porque seus poderes foram utilizados apenas para isso.]

    Ester caminhava em nossa direção. Mesmo sem demonstrar tanto metal em sua aparência, podia sentir ele em alguns de seus botões e fios. 

    Ela acenava para alguns nobres e até cumprimentava pelo caminho. Uma mulher realmente amada por todos que a rodeavam.

    Mas, ao olhar meu rosto, pareceu perceber o quanto precisava explicar as coisas. 

    Aisha pulava de alegria ao ver Ester.

    Me perguntava como ela conseguiu chegar a esse ponto tão alto. Ou pelo menos supus que era um cargo de respeito. Afinal, uma vice-comandante deveria ser bastante coisa.

    Então, como ela conseguiu chegar até lá? A sua benção não era de…

    Uma leve dor de cabeça começou a me incomodar. Era como se eu tivesse esquecido de algo… algo que não era para lembrar.

    — Oi, meninas! — Em instantes, Ester apareceu em nossa frente.

    Tomei um susto, quase empurrando Gaia para trás.

    — E-Ester! — gritei.

    — Como cês tão? Aproveitando bem a festa?

    — Você tem realmente muitas coisas para contar — disse Gaia de forma bruta. 

    Nunca esperaria esse tom vindo dela, mas, talvez, a forma com que essas informações foram escondidas não ajudaram muito ela.

    — É você mesmo! — gritou Aisha. 

    Tinha até esquecido de que ela estava ao nosso lado por um momento. Fiquei curiosa para saber o que ela ia fazer agora que encontrou a estrela de sua vida.

    Ester olhou para ela como se olhasse para uma desconhecida. Pelo visto, ela não se lembrava nem um pouco quem era Aisha. Fiquei um pouco mal por ela.

    — Você é…? — Ester olhou de baixo para cima, a fim de analisar a nobre que estava em sua frente.

    — Me chamo Aisha, Senhora! — Ela estendeu o papel e a caneta. — Sou realmente muito sua fã! Poder escutar todos aqueles relatos sobre como você salvou aqueles garotos da pobreza foi realmente inspirador para mim!

    Relatos…

    Garotos? 

    Tinha mais coisa ainda que deveria ser explicada.

    Heh, é a primeira vez que me falam algo assim. — Tossiu, querendo esconder sua vergonha. — Fico extremamente grata por sua ação… Aisha? — disse, pegando o lápis de sua mão.

    Ela parecia desajeitada, como se nunca tivesse feito isso na vida. O décimo sexto era realmente desconhecido assim?

    Ester terminou finalmente de assinar o papel, entregando de volta o lápis. Acabou desenhando um coração de lembrancinha naquela folha, o que deve ter deixado Aisha muito feliz.

    Ela pulou de alegria enquanto apertava a mão de Ester forçadamente. Aisha não percebia que estava fazendo isso, afinal, estava em êxtase total.

    Parecia que Ester percebia esse seu momento, ou talvez ela só estava muito feliz mesmo. 

    Aisha logo desapareceu em meio à multidão.

    — Bom… é que… — Ester suava de nervosismo. — Quero primeiro pedir desculpas por não falar antes… 

    — É um segredo? — perguntou Gaia. — Talvez Jorge nem saiba.

    — Não, não! Eu não escondo nada assim; principalmente do meu marido. Jorge é outro… — Hesitou. — … Comandante de um batalhão.

    Outra revelação chocante.

    Quem são eles? Normais não são. Viver como donos de pousada definitivamente não era o suficiente para ganhar a vida, pelo visto.

    — Realmente um casal em tanto — resmungou Gaia.

    Acabei dando uma cotovelada nela, até porque suas palavras estavam passando do limite. 

    — Ele trabalha no sétimo, muito mais adiante do que meu cargo neste momento. A forma que vocês viram meu marido foi em meio a suas grandes férias, onde ele trabalha como um mercador. — Continuou Ester, orgulhosa de Jorge.

    — Mas… por que eu e Gaia? 

    — Fiquei com vontade. — Mostrou a língua. — Acabei convidando apenas você, mas quando vi sua amiga, tirei instantaneamente o convite que havia dado para Jorge. 

    — Agora algumas peças realmente se encaixam… Espera, Jorge não pode vir com seu batalhão?

    — Não mais. O sétimo batalhão não é um convidado para as Celebrações dos Mortos, afinal…

    Tambores começaram a tocar.

    Uma bela música começou a soar pelo ar como cânticos de pássaros. Eram como se uma bela voz estivesse abençoando meus ouvidos.

    Gaia fechou a cara.

    — Eles não… — sussurrou Gaia.

    — Eles quem?

    Os tambores não se intensificaram, dessa vez, foram totalmente pelo lado oposto da música tocada para a tropa militar. Diminuíram seu ritmo e batida, deixando uma linda voz feminina ecoar pelo salão.

    Não conseguia identificar de onde ela vinha, mas o seu cântico anunciava a chegada de alguém importante. 

    — Saúdem os patriarcas desta terra! A família que um dia trouxe a luz para Hektar. Tudo que vemos hoje é fruto de seu duro esforço. Hoje iremos nos agraciar com a presença dos Equirrion, a família real de Hektar!

    Guardas foram à frente, totalmente trajados de armaduras metálicas, seguravam bandeiras com um brasão que supus ser dessa família real. Consegui contar seis.

    Logo, três silhuetas adentraram o palácio. Os três possuíam cabelos marrons e olhos amarelos, aparências que me deixavam com uma sensação incomum de familiaridade.

    Mas, acabei não me importando tanto assim.

    Ignorei essa chegada, afinal, já havia concluído meu objetivo de encontrar Ester. Andei mais para o lado, vendo uma mesa infestada de comidas.

    Pensei que esse fosse o momento perfeito para comer alguns petiscos.

    Frutas, sanduíches, carnes e até mesmo o tão prestigiado peixe de Erica.

    Andei de fininho, sem que Gaia me percebesse. E realmente funcionou. Cheguei à mesa de comidas sem que fosse notada por ela.

    E, quando estava prestes a pegar a comida, uma sombra cobriu assustadoramente a mesa.

    Olhei para trás, observando quem eu menos queria encontrar na festa.

    — E-Eu saúdo o herói, One. — Abaixei minha cabeça.

    Ele olhou de cara feia para mim. 

    Imaginei todos os meus sonhos sendo destroçados naquele momento. Senti que meu futuro não existia mais.


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