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    Assim que a mensagem foi enviada, esperei bastante ansiosa para voltar ao meu corpo e tentar lidar com aquilo da minha maneira.

    Mas, nada saiu como planejado.

    — Ela não viu a mensagem? — perguntei. — Sua visão virou para a tela, então, por que ela ignorou?

    Não funcionou.

    Por algum motivo, Psyche não deixou-me tomar o controle do corpo. Algo muito ousado!? Quem é a dona deste corpo? É claro que sou eu!

    — Isso pode matar a nós… não? — indagou Daiane, com medo do futuro. — Sinto que é melhor fugir dessa situação! Indo embora e se esconder deve ser o certo a se fazer.

    — Não. Ainda tem pessoas com quem me importo aqui — respondi sem hesitar. — Se não conseguirmos fugir juntos, então prefiro morrer para salvá-los.

    Gaia já deve ter vencido aquela sua inimiga, não é? Cadê você agora…

    Sentimentos ruins cobriam meu coração, deixando o véu de esperança cair em um abismo profundo.

    — Ela não quer deixar! — gritou Damien, digitando com mais rapidez em sua tecnologia desconhecida. — Merda, merda!

    Estalo.

    Estalo.

    Estalos.

    A cada som, escutava os ossos quebrando. 

    Eram golpes que não poderia defender, golpes dados através do tempo. Agora eu tinha certeza que ele estava usando a habilidade de Damien.

    Então, por ter duas almas além de mim em meu corpo, significa que ele poderia aprender as delas também?

    Isso não me parece justo!

    — Eu vou vencer! Que droga, deixe-me em paz — murmurou Psyche, como se soubesse do nosso desespero.

    Aquilo foi a gota d’água.

    Talvez uma esperança?

    Não sabia.

    Mas a sensação não saía de meu coração.

    O vento estava sendo controlado com uma de minhas bençãos. Mesmo com ossos quebrados, parecia usar suas forças restantes para dançar junto à brisa.

    Algo… muito estranho.

    — O que ela está fazendo agora?


    [Ferromancia está se modificando!]


    [Uma nova raíz está sendo descoberta!]


    [Cura metálica foi adquirida com sucesso!]


    [Checando status da habilidade…]

    Hm?

    Virei-me para o lado, vendo uma nova habilidade surgir nas telas do sistema. 

    Então, é uma cura? Isso é bom, muito bom. Se Psyche não vencer na força bruta, então, vencerá pela resistência.

    Os sons eram brutais.

    O barulho dos ossos sendo realocados dentro de seu corpo era bem pior do que ter escutado os mesmos quebrando.

    É sempre bom lembrar que esse era meu corpo também! Isso só piora!

    — Como você está, queridinho? — provocou Psyche. — Tendo problemas?

    Todos os golpes desferidos eram curados sem segundos. Após ter terminado o reajuste total do corpo, ela não precisava se preocupar em mais nada além de consertar os últimos ataques.

    Era quase como um checkmate! 

    Isso se… ele ficasse cansado disso.

    — Isso é trapaça! Como você quer lutar de forma divertida assim!? Não, não! Pare de se curar e venha lutar com tudo, deusa covarde! — ele disse. Era uma clara provação, da qual não esperava que Psyche fosse cair.

    Assim que escutou isso, ela saiu da posição de batalha.

    — Espera! Não me diga que ela caiu nessa provocação!? — resmunguei.

    Não era possível voltar ao meu corpo naquele momento, então, apenas pude aceitar o péssimo destino que estava por vir…

    Fechei meus olhos, com a cabeça virada para o grande vazio que se estendia, esperando que fosse morta… mais uma vez.

    Mas o destino tinha outros planos daquela vez.

    Quando abri meus olhos, havia voltado para aquela floresta. Sentia meu corpo dolorido, meus cabelos grandes e um forte odor que incomodava qualquer narina: sangue.

    Sangue que escorria de minha mão, cabeça e de qualquer parte que pudesse imaginar.

    Estava debilitada, e sem visão do inimigo. Jogada a uma parede de terra criada pelo relevo do local, sem saber como iria fugir daquela situação…

    Tossi sangue.

    — Pense com calma, Seven — sussurrei, arfando. — Um… dois… três… 

    Comecei uma contagem infinita.

    A mudança repentina de indolor para a dor era brutal. Segundos atrás estava sem feridas, e agora estava perto da morte.

    O que havia acontecido nesses últimos momentos? 

    Ah… eu podia supor.

    Psyche caiu na provocação, e isso levou ela a tomar um último golpe!

    É isso! Mas meio bobinho de sua parte.

    Estamos muito longe do local de antes… Foi tão forte esse golpe?

    — Que droga…

    Eu não tinha essa cura que ela havia usado!

    Tentei focar na ferromancia, mas parecia que nada adiantava. Estava ferida o suficiente para meu cérebro não pensar em nada além da dor.

    Gemidos de dor ecoavam por uma pequena fração da floresta. Esse foi um sinal pequeno de que estava sozinha…

    — Alguém aí!? — gritei com o pouco de voz que me restava, tentando levantar do chão.

    Minhas roupas rasgadas só mostravam o quanto estava deplorável. Uma lembrança de que não estava segura, mesmo que estivesse longe do perigo.

    Mais uma vez os problemas vieram até mim, sem eu nem ao menos procurar eles. O que havia feito para merecer isso?

    Não… eu não quero sofrer.

    Acabei tossindo mais uma vez.

    Minhas pernas não respondiam, meus braços muito menos. Estava cansada.

    — Cadê Gaia essas horas?

    Mais uma vez me perguntei sobre o paradeiro de minha amada. Queria que ela estivesse aqui… mas ao contrário, só tive o acompanhamento das árvores.

    Então, o inimigo achou mesmo que eu morri? Deve ter sido o motivo de ter ido embora!

    Bem, pelo menos eu tô viva.

    Haha…

    Consigo até imaginar a cara daquele birrento quando descobrir. Ou melhor, espero que não descubra mesmo!

    Tentei sentir meus ossos e identificar minhas feridas após algum tempo parada. O sol, naquele momento, já chegava ao meu rosto, mostrando as horas em que me encontrava.

    — Meio dia, então — disse, mexendo o meu braço em círculos. — Tch! Aí! Isso dói!

    Logo após, com cuidado, mexi em minha perna.

    — Mhm… não me parece estar nada quebrado. — Continuei fazendo alguns exercícios leves.

    Acabei muito cansada de tanto usar minhas bençãos. Por mais que, fosse Psyche a causadora, esse efeito só se acumulou no corpo antes de chegar a mim.


    [“Você está bem, Seven?”]

    Podia supor que era um daqueles dois. Talvez Daiane, já que o Damien sempre me chama de Scarlett.

    — Tô sim, eu acho. Meio confusa pelo o que aconteceu, mas… é melhor do que nada.

    Foi bastante tempo para que eu pudesse me levantar de novo. O sol estava se escondendo, e o cansaço já havia sumido por boa parte do meu corpo.

    Não havia metal por perto. Sem sinais de armas ou pessoas lutando.

    Isso é bom e ruim ao mesmo tempo… dificulta encontrar qualquer civilização por perto.

    Continuei a andar, sem nenhuma ajuda.

    Minha mente se perguntava o que havia acontecido com Gaia, Karina e…

    — Kaori…

    Ah… Por que eu tô pensando nessa burra? Só veio pra machucar minha filha!

    De alguma forma, já havia criado alguns laços com essa “amiguinha”.

    Espero que eu não tenha de chamar de nora no futuro.

    Até que… em minha frente, pude sentir minha salvação. O metal!

    O metal que indicava a civilização!

    Era a cidade que estava procurando, a cidade onde eu poderia encontrar Gaia de novo! 

    Corri como nunca.

    Forcei minhas pernas ao máximo.

    Apenas para dar de cara com a cidade que tanto passei nos últimos dias…

    E o que eu vi me chocou.

    O que eu vi não foi nada além do caos.

    Não aparecia Karina e nem Gaia na minha visão, apenas um tumulto imenso entre os moradores de Aguaforte.

    — O que…?

    Era uma chuva imensa, uma chuva que não tinha hora pra parar.

    Os pingos caíam em mim.

    Quando essa chuva começou, afinal?

    Passei a mão na gota que havia caído, colocando-a perto de meus olhos.

    — … 

    Não saiu nada de minha boca.

    Estava assustada.

    De alguma forma, estava chovendo sangue.


    [Perigo!]


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