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    Seven?

    Seven.

    Seven!

    — Você não se lembra mesmo de mim…? — disse, olhando em seus olhos quase vazios. 

    Movimentos de mão como se odiasse a minha presença, e eu não podia contestar sua decisão. 

    Não! Não!

    Eu acabei de reencontrá-la!

    Mas tudo naquele momento era inútil.

    Coloquei minha mão no chão sangrento, molhando o papel cheio de anotações que estava segurando. 

    Meu reflexo no sangue era… deplorável. Um rosto cheio de olheiras e cabelos tão bagunçados quanto.

    Depois de todo esse esforço…

    — Claro… que não! Sua maldita! Vocês fizeram experimentos com meu corpo! — gritou Seven, seus olhos arregalados de medo.

    E sua afirmação fez meu mundo desabar.

    A infantaria imperial? Não… eles não fariam isso.

    Não, né?

    Algumas coisas agora faziam sentido na minha mente. Todo aquele desvio de dinheiro, pessoas suspeitas e a ligação com aquele herói.

    — Aqui não é um local seguro pra você… Por favor, venha comigo. Eu conheço um lugar melhor para falar — disse, sem esperanças de uma resposta positiva.

    Ela esqueceu de tudo?

    Tudo.

    Tudo…

    Ela não pode ficar aqui. 

    Não enquanto ele está por perto.

    — Não! Claro que não vou com você! — gritou Seven, se levantando de um jeito feral enquanto se afastava de mim.

    Era irreversível os danos.

    — Ester? — disse uma voz nas sombras. — Por que você está no chão? Essa presa conseguiu te derrotar?

    Eram meus companheiros. 

    Ou quem pensava serem meus colegas…

    Tudo que estava acontecendo era irreal. Como a realeza nos manda acabar com uma cidade? Isso… isso… 

    — Claro que não! Eu estava qua–

    Parei de falar quando lembrei que Seven estava ali.

    O que estava acontecendo na cidade não era nada mais do que um massacre. E, por sorte ou azar, reencontrei quem tanto queria ver de novo.

    Levantei-me do chão.

    Antes mesmo que pudesse fazer qualquer coisa, Seven começou a correr para longe dali. Um ato correto para a situação! Se ela não se lembra de mim, então é melhor que não se lembre.

    Mas… tenho certeza de que iremos nos encontrar de novo.

    — Feitiço Real: Rastreamento Absoluto — murmurei.

    Logo, boa parte das plantas ao meu redor perderam sua vida, e toda ela foi canalizada para a conclusão do feitiço em Seven.

    Algo imperceptível, mas que poderia garantir que pudesse encontrar ela mais uma vez. 

    — Você deixou-a fugir? Está contra a realeza, Ester? — disse a voz, saindo da escuridão. — Sabe, tenho diversas formas de reportar esse seu ato de blasfêmia ao alto clero.

    Cabelos castanhos e olhos amarelos.

    — Eu não quero nada vindo de você, Santo Klaus — disse, virando o rosto para o lado. — Você sabe de quem estamos falando.

    Ele tocou no meu ombro, chegando mais perto do meu ouvido.

    — Não tente proteger ela. Aquela anomalia irá morrer, querendo ou não — sussurrou. — Five já está a caminho… E eu duvido muito que ela vá fugir.

    Five…

    Cerrei os punhos.

    — Eu não sabia que vocês fizeram experimentos com ela. Estão loucos em fazer isso? Sabem muito bem no que estão mexendo.

    — Calada — Klaus passou por mim, estalando os dedos logo após. — Você tem que aprender a não mexer com o alto escalão. Isso só te trará muitos problemas. Quero dizer… você não vai mexer com eles. Eu tenho certeza.

    Era uma ameaça? 

    Isso é uma clara ameaça.

    — Klaus, você não vai querer se intrometer no que faço — respondi. — Você conhecerá a minha raiva se tentar fazer qualquer coisa contra aqueles que protejo.

    Antes mesmo que pudesse ser respondida, Klaus já havia desaparecido em meio à névoa de sua benção. 

    E, como consequência de meus atos, uma faca foi atirada em minha direção. Desviei por um triz, mas não deixou de fazer um leve corte em meu rosto.

    O arder do sangue saindo de meu corpo era inconfundível.

    — Vai me matar, então? — perguntei, olhando para frente. — É isso? Você virou um capacho deles?

    — Perdoe-me, mãe.

    Manobrava a espada em sua mão com precisão. Rodopiando e rodopiando entre seus braços, até que chegasse na bainha de sua cintura.

    Cabelos tão vibrantes quanto fogo, olhos tão ardentes quanto chamas. O brasão da infantaria em seu peito foi a resposta que precisava.

    — Não me chame de mãe. Você deixou de ser meu filho há muito tempo. Agni, eu nem te reconheço mais.

    Se Seven era a pessoa que mais procurava nesse mundo, Agni era a última que queria ver. Ter fugido para longe só por conta…

    Não dá.

    Andei para trás, pegando a faca que havia sido jogada contra mim. Estava sem nenhuma espada naquele momento, já que Seven a levou.

    — Eu mudei, mãe — disse Agni, pegando mais facas de suas costas. — Mas você… continua a mesma.

    Atacou mais uma vez.

    Mas, antes que as facas chegassem a mim, elas tiveram todo o ferro transformado em líquido, sobrando apenas os cabos queimados.

    Ele havia ficado forte.

    Esse é o limite de sua benção?

    — O que você fez…? — perguntei, olhando para ele, confusa sobre toda a situação.

    Bençãos não podem ficar mais fortes. Pelo menos, se você não é um dos heróis.

    Mas Agnis não era um herói.

    Eu tenho certeza.

    Ele é uma criança de rua que ajudei. 

    — Apenas pedi uma ajuda para que pudesse ficar mais forte, é claro — respondeu, jogando sua espada para o lado. E uma simples faísca se acendeu, consumindo a espada em segundos. — Eu precisava ser forte.

    Sem espadas…

    Ele vai querer vir no soco, então?

    Me preparei, levantando a guarda, preparada para lutar contra meu… um conhecido.

    Golpe de esquerda imbuído com fogo.

    Era rápido, penetrante, mas ineficaz.

    Podia até seguir com essa velocidade, mas ainda faltava o que definia tudo isso… 

    Faltava experiência.

    Chutei sua barriga, jogando-o para longe.

    Logo em seguida, iniciei uma série de golpes baixos, tentando desarmar sua defesa.

    — Você sabe que isso é errado, Agnis. Então, por que ainda continua nesse caminho? — disse, dando um chute em sua cabeça.

    Mas… meu ataque foi defendido.

    Ele havia pego com sua mão. 

    Naquele momento, estava indefesa e em uma posição não muito favorável.

    Que droga!

    — Você só não queria me ver crescer.

    Logo, faíscas começaram a subir por minha perna. Um fogo rápido, do qual imaginei ser da mesma intensidade do usado na espada.

    Girei-me no ar, soltando minha perna de suas mãos antes que pudesse ser queimada viva.

    — Preciso tomar mais cuidado — murmurei.

    Mas não sabia se conseguiria tomar esse cuidado. Esse poder era destrutivo.

    Tanto para todos ao redor quanto para seu usuário. Era só questão de tempo até que tudo fosse consumido por suas chamas.


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