Capítulo 57: Aliada
— Você é um dos meus maiores arrependimentos, Agnis — disse, olhando em seus olhos.
Veias saltavam do canto de seu rosto, mostrando o quão estava forçando seu poder. Naquele estado, não restava muito para que entrasse em colapso.
Iria preferir não estar aqui quando esse colapso acontecer.
— Eu sei, mãe. Você sempre deixou a entender isso — respondeu, seus olhos mudando do vermelho para o preto por uma fração de segundos.
O que…?
Não entendia o que havia acontecido, mas não parecia ser algo bom.
— Feitiço Real: Contenção — murmurei, estendendo minha mão para as flores ao meu lado.
E, partindo do vento, pequenas setas vermelhas seguiam em direção ao alvo. Logo, as plantas e a árvore ao meu lado murcharam em segundos.
As flechas os cercaram, prendendo-o em um nó.
Pela minha experiência, isso seria o suficiente para deixar ele parado por muito tempo.
— Essa deve ser minha chance de fugir! — disse, olhando para trás, quase arrancando para dentro da floresta.
Foi como se o tempo tivesse parado naquele instante. Meus olhos não conseguiam compreender o que estava acontecendo, muito menos entender o que estava prestes a acontecer.
Sentia o calor aumentando a cada milissegundo. Era intenso e… infernal.
— Queime, Azazel — murmurou.
O silêncio prevaleceu após sua frase. E quase toda a floresta foi consumida pelo fogo.
Um pilar imenso de chamas que chegou aos céus.
Tudo queimava mesmo diante da chuva de sangue. Um evento inexplicável para qualquer pessoa que visse.
De alguma forma, havia saído viva de sua onda de calor. Talvez não afetasse humanos? Não… isso não fazia sentido.
Apenas senti meu corpo esquentando, nada mais.
As setas que estavam prendendo-o haviam sumido, restando apenas Agnis, com uma aparência diferente.
— Eles me deram poder, mãe. Me entregaram o sangue santo — disse Agnis. Seus olhos ficaram pretos e seus cabelos se tornaram prateados.
Nunca vi nada parecido com isso na vida.
Listras pretas rodavam seu corpo, partindo de seu olho esquerdo. Não era uma forma nova, era quase como se aquela fosse a forma verdadeira dele…
Uma força adormecida, mas…
Não, não é.
Agnis nunca teria esse tipo de coisa.
Talvez tenha algo a ver com esse sangue santo que mencionou.
— Isso não é você — respondi, olhando para seus olhos. — Caiu em decadência e agora usa de meios ilícitos para ficar mais forte? Patético. Falhou como pessoa… e filho.
Minhas palavras pareciam ter tocado ele.
Em segundos, sua mão apareceu perto de minha face, mas minha velocidade de reação foi o suficiente para prever seu golpe.
Desviei, pegando o seu braço e jogando Agnis no chão queimado.
— Isso não é justo… — murmurou ele.
Meu punho logo se acendeu em chamas, e o golpe foi certeiro em sua barriga.
O valor do fogo em minha mão só aumentou cada vez mais. Minha benção, de alguma forma, estava copiando seu poder no máximo.
Mas poderia ser melhor!
Porém, antes que pudesse finalizar o golpe, fui jogada para longe com uma rajada de chamas.
— Patético. Nem cócegas você consegue fazer mais.
Que!? Eu jurei que tinha acertado ele.
Se mantinha de pé, como se nada tivesse acontecido. Estava em uma posição desvantajosa e não sabia se haveria alguém para me salvar.
Caída ao chão, apenas segurei firme na terra e na grama queimada, aceitando qual seria meu destino naquele instante. Não tinha chance nenhuma de eu conseguir fugir daquele que um dia chamei de filho.
— Que droga…
Várias lembranças passaram por minha mente.
O dia em que o encontrei.
Chuvoso como esse, mas confortável após ver seu sorriso.
O dia em que ganhou seu primeiro presente.
Alegre como nunca, sempre acendia a chama da casa com sua presença.
Mas onde foi que tudo deu errado?
Tudo deu errado…
Por minha culpa.
Uma culpa que não queria aceitar que era minha. Era um grande fardo que não queria ter que passar por isso de novo.
Então… eu apenas pensei que fosse o suficiente ajudar outra pessoa. Me livrar dessa culpa ajudando outra… criança.
Mas, de novo, tudo deu errado.
Ela não se lembra mais de mim.
— Mas que bosta, hein — disse uma voz do meu lado. — Você não é a mamãe… Tsk!
Um estalo de língua.
Me virei lentamente para a figura.
Uma mulher de cabelos pretos e mechas brancas. E, em sua aparência, havia setas embaixo de seus olhos.
Aquilo eram piercings…?
— Não se meta! — gritou Agnis, alterado o suficiente para não compreender a gravidade de seus atos. Aquilo era uma clara provocação contra um inimigo desconhecido.
— E quem é você? — perguntou. — E por que parece que eu entrei no meio de um drama familiar?
Sem qualquer apresentação, rajadas de fogo foram jogadas contra a figura ao meu lado.
Por um momento pensei que iriam acertá-la, mas…
— Passou reto?
É um fantasma?
Não, não foi isso.
Algo aconteceu.
Mas foi muito rápido para eu poder acompanhar. Quem é essa garota?
Seus músculos eram treinados ao máximo. Olhos sem emoções me deram mais dicas de quem seria ela.
E, de alguma forma, sua aparência me lembrava a Seven…
Mas não podia ser isso, né?
Claro que não.
— Por favor, saia daqui — disse. — Ele quer me matar, não você. Aproveite e fuja.
Em resposta, ela bufou, como se eu estivesse a excluindo de uma grande festa.
— Tô com preguiça — respondeu, fazendo beicinho. — Não encontro mamãe em nenhum lugar, e isso tá me deixando furiosa.
Mamãe…?
Agnis continuou a atacá-la, mas tudo parecia passar reto de seu corpo. Era quase como se a parte a ser atingida virasse líquido.
Levantei-me com muito esforço, me pondo na posição de ataque… mais uma vez. Estava cansada, mas não poderia recuar naquele momento.
— Só saia… eu consigo.
— Não. Você não manda em mim, boba — respondeu, brincando. — Já matei boa parte daqueles que estavam na cidade, o que custa mais alguns aqui fora? Inclusive… você tá com o uniforme deles…
Em meio a todo esse caos, ela havia matado… quase todos? Não sei se poderia confiar na sua afirmação. Algo muito irreal de acontecer, tendo em vista que todos ali eram muito fortes.
— Eu não sou inimiga — respondi, firme em minha afirmação.
— Sério!? Tudo bem então! — gritou, batendo em minhas costas. — Vou garantir que esse garoto não ande mais por você, minha aliada.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.