Capítulo 60: Pode Vir, Patinho!
— Chaato! — disse Koralina, enquanto apoiava sua cabeça em seu braço. — Queria que eles fossem mais fortes, não que sumissem na primeira tentativa de ataque.
Essa idiota mandou todos eles para o outro lado do continente! Como diabos eles lutariam dessa forma?
Inclusive…
Eu nem sei quando ela se sentou nessa cadeira. Só, de repente, apareceu nela.
— Se vocês tivessem deixado eles lutarem ao invés de sumir com todas as barracas… Acho que seria mais divertido — retruquei, olhando para ela. — Vamos torcer para o resto do acampamento ser forte. Já varremos uma boa área aqui, e não vão demorar para mobilizar mais tropas até nós.
— É, né? Talvez eu devesse me segurar um pouco para ter mais diversão.
Começou a rir baixo, uma risada maliciosa e estranha. Aquilo me deixou com muito desgosto!
Ela só não podia ser normal?
Antes mesmo que pudesse falar algo, senti um leve tremor vindo do chão. Algo rápido, mas que não poderia ter surgido de forma natural.
Meus sentidos estavam me avisando de um perigo iminente, e estava pronta para escutá-los.
— Você sentiu isso? — perguntei, esperando uma resposta positiva.
— Sentiu… o que? — disse Koralina com uma expressão confusa. — Você está ficando cada vez mais louca.
Mais uma vez.
De novo.
Três ondas consecutivas foram sentidas pela minha pele. Algo avassalador, indicando um inimigo forte se aproximando, mesmo que não estivesse.
Porém, não existe inimigo forte pra mim! Eu sou a mais forte, é claro.
— Foi só uma impressão minha. Vai ver meus sentidos estão me enganando — respondi, um pouco preocupada com o futuro. Algo que nunca aconteceu em minha vida.
Pelo menos desde que adotei essa identidade de assassina.
— Tch! Pare de enigmas! Você sabe que eu não sou boa com essas coisas. — Se levantou da cadeira, jogando-a em um portal que havia criado. — Eu só gosto de criar aquelas bugigangas muito maneiras, radicais e legais!
Seu jeito desleixado não deixava o quão gênia ela era. E isso também era um dos motivos de eu ter tanta raiva!
Imagina saber fazer um montão de coisas e não parecer inteligente? Cacete, esse é o pior tipo de gente!
Olhei para a placa que não havia sido sugada pelos buracos negros, e nela estava escrito o bloco em que estávamos.
— Bloco C… — murmurei. — Quantos mais existem? Pelo menos o A e o B são garantidos.
— E o que tem isso? É só mais um indício de que eles são fracos. Se esse foi tão fácil, imagine os outros — retrucou Koralina, que, de alguma forma, havia escutado meus sussurros.
Logo, chegamos a uma cerca de madeira que havia sido criada às pressas. Era possível discernir isso pelo estado em que se encontrava. Parecia que ia desabar a qualquer momento!
Mas não era isso o importante, e sim o que estava além dela.
Um exército de homens.
Meus olhos não conseguiam calcular a quantidade exata, mas sabia que eram muitos mesmo. Todos estavam fazendo continência, enquanto olhavam para nós.
Algo estranho, mas não me importei tanto.
Pensei que o primeiro ato dos inimigos seria partir para a luta, mas, pelo visto, estava enganada. De dentro do batalhão, logo alguém com uma roupa mais imponente saiu.
Tinha ombreiras douradas e uma roupa com adornos, algo incomum para meros soldados.
Seu rosto cheio de cicatrizes e um corpo muito maior que o nosso. Cabelos brancos e um grande martelo.
— Vocês foram aquelas que destruíram o Bloco C? — perguntou, e um sorriso foi estampado em sua cara segundos depois. — Hahaha! As crianças de hoje em dia são muito interessantes!
Um passo.
Um tremor.
— Você é só mais um obstáculo para a conclusão de nosso objetivo — provocou Koralina, apoiando-se pelo braço em mim.
— O que vocês querem aqui? Por que estão destruindo essa cidade? — perguntei, tentando ser a cabeça da questão. — Não consigo imaginar um mundo em que isso seja certo. Vocês não deveriam proteger seus cidadãos?
O velhote logo parou de sorrir.
— O destino de vocês já está selado. Então, que mal faz contar? — Uma clara ameaça. Como se dissesse que iríamos morrer ali mesmo. — A facção do segundo príncipe precisa que essa cidade seja morta. É simples, não é? Mas acho que o Clero acabou encontrando um presentinho escondido.
Mamãe.
Era a mamãe de que estava falando.
Com certeza era ela. Quem mais seria?
— Onde ela tá? — disse, fechando a cara.
— Se vencer a mim e ao meu exército, talvez eu conte.
Olhei para a placa ao lado.
Bloco B.
Estávamos em um outro bloco, comandado por uma pessoa muito forte. Então, a divisão deles é por força?
Koralina percebeu a gravidade da situação, afastando-se um pouco do local. Não ia fugir, eu sabia disso.
Na verdade, aquilo era mais uma preparação pra um ataque muito mais forte.
Abri um sorriso na cara, provocando-o.
E o patinho caiu direitinho!
O seu grande martelo foi manejado, vindo em minha direção com toda a sua força. As rajadas de vento eram intensas, e alguns soldados não aguentaram, sendo jogados para longe.
Nem mesmo o próprio exército conseguia aguentar a força dele. Mas eu não sou seu exército.
Antes que sua arma me atingisse, criei garras resistentes em meus dedos, e o martelo foi segurado em instantes.
Todo o impacto foi transferido ao chão, criando uma leve cratera onde estava. O velho ficou surpreso por seu ataque ter sido segurado, e eu me sentia surpresa por meu braço estar tremendo.
Pela primeira vez, sentia que ia ter dificuldades.
Olhei para Koralina, da qual estava murmurando algum feitiço estranho. Entre suas mãos, um portal era criado, algo rápido e intenso.
Entendi meu papel naquela batalha em instantes.
— Só preciso ganhar tempo, então? — sussurrei, abrindo um sorriso de lado, preocupada com o resultado da luta.
Olhei para ele, mas não foi cedo o suficiente para ter alguma reação de seu próximo golpe. Um chute na barriga me jogou para um pouco para longe, desprendendo as minhas garras de seu martelo.
Sua visão se virou para Koralina, mas o impedi da forma mais irritante possível. De meus dedos, enviei um projeto feito de ferro, acertando sua barriga.
Atravessou em alta velocidade, e o sangue logo escorreu do ferimento.
— Sua pirralha! Cuidarei de você primeiro, então.
Começou a correr, e a cada passo eu sentia o chão tremer. Ele era o motivo de minha preocupação anterior.
Ele era aquele que deveria caçar.
Preparou-se para um soco.
E, percebendo sua ação, revesti o meu punho com ferro para um contra-ataque.
— Venha! — gritei, com a alegria correndo em minhas veias.
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