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    Aquele clarão foi o suficiente para me fazer acordar de um grande choque. Não queria acreditar no que tinha acontecido… Outra vez, não pude a impedir. Ver seus olhos mudando para cores diferentes dessa vez partiu meu coração, como se eu não pudesse impedir isso de acontecer.

    Não… não era ela naquele corpo. Sei disso, tenho que lembrar disso para que não ocorra como da última vez. Psyche é perversa. Agir com cautela nessas situações é necessário.

    Mas… eu fiz a coisa certa? Eu fiz certo em não impedir ela? Isso dói. Dói muito.

    Eu tenho que encontrar outras formas de impedir imediatamente.

    O que era aquela luz no céu? Algo com certeza deu errado. 

    — Meu Deus! — gritou Ester.

    Ela tampava sua expressão de temor com as mãos, mas de nada adiantou. Ela ainda sentia medo.

    De certa forma, eu ganhei forças, forças para correr. Eu não posso perder mais ninguém. Principalmente você, que ganhou meu coração.

    Juro… eu juro que se você voltar para mim, farei a proposta adequada dessa vez.

    Desci a colina com pressa, jogando meus saltos altos para longe e rasgando meu vestido. Precisava de espaço livre para correr.

    Eu tinha que encontrar ela, e vou.

    Alguns soldados tentaram me impedir, mas ultrapassei rapidamente eles com minha velocidade implacável. Alguns começaram a me seguir, afinal, uma doida como essas entrar em uma cidade em chamas não é algo normal.

    Assim que adentrei a cidade, comecei a me movimentar lentamente, com medo de algum Viajante aparecer. 

    — Que droga! — resmunguei.

    Puxei mais uma parte do vestido, criando algo perto de uma minissaia. Daquela forma, seria melhor de me movimentar caso houvesse alguma batalha.

    Uma trilha tinha começado a se formar, e assim que percebi a falta de monstros, comecei a correr por ela. 

    Meus passos aceleram junto com minha ansiedade. Queria encontrá-la o mais rápido possível.

    Passava entre corredores e corredores pegando fogo, evitando todas as chamas que poderiam chegar perto de mim. Tinha colocado um único objetivo em meu coração agora, e eu iria cumprir.

    — Cadê você… cadê… — murmurava.

    Locais vazios.

    Estabelecimentos queimados.

    Mas não me importava com eles.

    Checava vagarosamente tudo que estava por perto, entretanto, quando não tinha indícios de você, eu perdia todo o interesse.

    Os soldados que antes me seguiam, agora tinham me perdido de vista.

    Até que escutei um barulho.

    Era baixo, mas o suficiente para me fazer ficar alerta de sinal humano próximo.

    Meus olhos se arregalaram quando havia uma possibilidade. Mas… meu cérebro temia que ainda estivesse naquela forma.

    Era uma luta interna entre minha mente e o coração inexistente. A ironia do destino é realmente uma comédia, sabia? 

    Para uma pessoa que nunca se deixou levar por emoções, ter seu coração como vitorioso nessa batalha é realmente uma mudança.

    Aumentei meu ritmo, em direção aos pequenos sons e gemidos de dor.

    Até que finalmente pude ver sua silhueta.

    Uma silhueta vermelha e inconfundível.

    Seu corpo estava machucado e com algumas partes de sua roupa rasgadas. Mas você estava lá… sã e salva.

    Não era um monstro.

    Corri para cima de Seven e a abracei com força.

    Foi tanto impulso, que me joguei ao chão com ela, amortecendo sua queda. Não conseguia descrever os sentimentos que estava pondo naquele longo aperto. 

    Seven ficou confusa com tudo e, principalmente, esse abraço repentino. Mas depois eu explico para ela.

    — Está tudo bem com você… Que alívio — disse.

    — Gaia…? 

    — Sim! Sou eu.

    — Você está realmente bem. — Encostei minha testa na dela, segurando um choro que não poderia sair.

    Ela sorriu como resposta.

    Sorriso tão lindo e marcante.

    Um sorriso que me dava vontade…

    — Não sei, Gaia… O que aconteceu para você estar ass–

    Antes que terminasse, puxei Seven para mais perto e lhe dei um selinho. Estava feliz, muito feliz. Você estava alí mesmo.

    Um, dois, três.

    Na boca, bochecha, todos os locais que podia alcançar.

    Seven se avermelhava cada vez mais com meus atos. Ela não me impedia ou parecia incomodada, apenas ficou sem palavras diante daquela situação.

    Seu rosto fofo e envergonhado apenas me incentivou a continuar com minha onda de beijinhos. 

    Fazer aquilo me distanciava do real problema. Mas… existia problema quando ela estava na minha frente?

    Continuei até ela colocar a mão sobre minha boca. Seven evitou meus olhos, vermelha como um tomate.

    — S-será que dá para parar um po-pouquinho…? — murmurou.

    Não resisti a toda a sua fofura.

    — Você quer mesmo que eu pare?

    — … — sussurrou. 

    Foi tão baixo que não pude nem escutar o que ela disse. Talvez tenha sido uma aprovação aos meus atos? Ou talvez uma rejeição?

    — Pararei de fazer isso, então. — Sorri.

    Seven ficou meio triste com minha resposta. Mas… não era isso que ela tinha pedido?

    — Eu não disse para parar totalmente… só para me deixar respirar um pouco — disse Seven.

    Minha corda da razão tinha sido quebrada naquele momento.

    Continuei por longos minutos, até que eu cansasse. Que diga de passagem, é difícil me fazer cansar.

    O batom roxo que Ester havia me dado para passar estava servindo para seu propósito. Marquei todo seu rosto da mesma tonalidade. 

    Finalizei com um último selinho em seus lábios.

    — Então… o que você estava falando? — disse, como se não tivesse feito nada demais anteriormente.

    — Sua tática é só fugir impune do que fez…?

    — Oh… você vai me punir… — disse em um tom calmo.

    Seu rosto se avermelhou mais uma vez.

    — N-não diga assim! Vai soar errado — Bateu leve em mim.

    — Está preocupada com o que? Vamos… continue o que estava falando. — Parei um pouco com minhas provocações. — Mudando de assunto. Viu One? Ele disse que viria te buscar.

    — One? Mas ele…

    — Pelo visto, nem você o viu.

    Ela levantou sua cabeça, procurando alguma coisa. Estreitou seus olhos e…

    — Achou?

    Seven ficou de pé e lentamente movimentou-se até os restos de estruturas que ali estavam.

    Suas ações repentinas me fizeram questionar o que realmente tinha acontecido naquele local. E se realmente minha teoria mais profunda estava certa? Não…

    Acompanhei Seven até seu destino.

    Dentre aqueles destroços, havia uma espécie de mensagem deixada.

    “Sei que você pode ler isso. Então […]”

    Logo após, uma língua que eu não ousaria decifrar. Era tudo tão diferente do que vi em minha vida. 

    Mas Seven, reagiu de maneira inesperada. Ela murmurou consigo mesma palavras de mesma origem: desconhecida.

    — Você consegue ler, Seven? — perguntei, colocando a mão em seu ombro.

    — Não.

    Era uma mentira.

    Uma óbvia mentira.

    Seven com certeza entendia essas palavras, mas como?

    Estava tudo bem ela fazer isso, não me importava. Afinal, era sua hora de começar a esconder algumas coisas.

    Pelo menos coisas que a machucassem.

    Seven cerrou seu punho e começou a lacrimejar. Limpei suas lágrimas com minha mão, pouco a pouco.

    A abracei pelas costas, colocando minhas mãos por cima de seus ombros. Cheirei seus cabelos e o beijei logo após.

    Eu sinto que algo aconteceu. Psyche não agiria assim por nada…

    Mas, eu serei sua cúmplice, Seven. Serei sua cúmplice até o resto de sua vida.

    Tivemos nosso momento juntas até que um guarda nos chamou a atenção.

    — Senhorita!! Você não pode… vir aqui? — O guarda arfava, enquanto colocava a mão sobre os joelhos. 


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