Capítulo 63: Mostre-me Sua Verdadeira Face
Quando me disseram que haviam encontrado Scarlett, eu não acreditei. Pensei que esse seria um trabalho que eu deveria fazer, mas, por sorte, alguém encurtou o meu tempo.
Queria entender qual o motivo do segundo príncipe querer essa cidade morta. Quero dizer, nem existem tantas coisas boas nela, até onde eu sei.
Mas estão levando a sério. Isso tenho certeza. Até mesmo estão usando aquela carrasca com uma habilidade perturbadora…
— Não gosto desta chuva — murmurei. — O cheiro de sangue só irrita meu nariz.
— É só pensar que esse é o sangue de todas as garotas que deram em cima de você, amorzinho! Só de imaginar isso eu já fico alegre — respondeu Eight, arrumando sua boina enquanto segurava o guarda-chuva.
Chegamos há pouco tempo no acampamento em que estavam prendendo-a, e tudo que podia pensar era sobre sua instabilidade mental.
Lembro-me de tudo ter acontecido por conta de uma confusão mental imensa. Mas, dessa vez, tudo parece tão diferente.
Sua aparência está bastante diferente, e nem mesmo existe aquela pessoa…
— Ugh… Não gosto desses pensamentos, Eight. É muito violento.
Assim que disse isso, senti meu braço ser apertado com uma força anormal.
— Quer dizer que você salvaria essas raparigas? É uma traição? — Seus olhos se fixaram aos meus, mostrando uma expressão tão assustadora!
Quase pulei para longe, mas lembrei que estávamos dividindo apenas um guarda-chuva pequeno. Então, se eu saísse, iria me sujar de sangue.
O que seria horrível demais!
Não respondi, apenas virei para frente, seguindo em direção ao Bloco A. Tudo estava conforme os planos, e nada havia saído do lugar.
Se Scarlett ainda estivesse na tenda, significava que… eu teria de trazer o seu pior à tona. Ela deveria se tornar a sua pior versão para que tudo ocorra bem.
Nada de erros.
Chegando em frente à barraca, os dois guardas logo me reconheceram, abrindo um pouco do pano para que eu pudesse entrar.
Estava escuro, iluminado apenas com uma pequena vela.
Eight fechou seu guarda-chuva, colocando-o apoiado em um dos guardas.
— S-Senhora? — indagou, como se as ações dela fossem desrespeitosas.
— Se vira, moleque — respondeu Eight.
Ela já estava fazendo seu showzinho…? Que bosta, isso vai ser mais cansativo do que pensei.
— General — cumprimentei o senhor à minha frente. — É verdade que encontraram Scarlett?
Estendi minha mão, e logo ele a pegou.
— Senhor…
— Faalz.
Um nome falso. Não poderia deixar vazar que éramos heróis. Na frente do público, só éramos pessoas de importância no Império.
— Senhor Faalz. Imagino que saiba o motivo de termos chamado você aqui — falou, colocando seu chapéu ao peito.
— Sei, sim. Encontraram-na, não é? Queria agradecer de antemão por isso. Economizou bastante o meu tempo — disse.
Ele seguiu em frente, guiando até a gaiola onde estava prendendo Scarlett. Coberta por um pano e grades de um metal que não conhecia.
— Bem. Foi só por um acaso que a encontramos. Se não fossem os cartazes de procurados que foram espalhados pelo exército, nunca teríamos adivinhado que era uma fugitiva da mais alta classe — argumentou, tirando o pano de cima da jaula.
Era inconfundível. Seus olhos, cabelos e rosto. Tudo aquilo era inconfundível com a mesma que havia encontrado.
— É ela.
Eight se levantou, chegando perto de meu ouvido.
— Podemos matá-la já?
Um arrepio momentâneo passou por meu corpo. Ser acompanhado por Eight era pedir por encrencas, e muitas encrencas mesmo.
Por mais que quisesse, eu não poderia matar ela ali. Nesse seu estado, era impossível.
Tanto para o futuro desse mundo quanto para o meu.
Balancei a cabeça para Eight, negando sua sugestão.
Me agachei, batendo nas grades.
— Está acordada? — perguntei, ajeitando a máscara de gás em meu rosto.
Era uma nova que pedi para Ten construir. Ela continha uma purificação de ar melhor e algumas funcionalidades que não parava de implorar pro velho por.
Estava muito realizado!
Scarlett se encolheu, mostrando medo ao ser confrontada. Todo o seu corpo estava tremendo diante da minha presença.
Ela estava indefesa.
Alguém que nunca havia visto dessa forma tão… humilhante.
— Por que vocês não me deixam em paz…? — murmurou, enquanto se movia para um canto mais obscuro da jaula. — Nunca machuquei ninguém… nunca matei ninguém… e sou comparada aos piores prisioneiros. Isso não faz sentido algum.
Sua lógica fazia até um pouco de sentido.
— Eles tem medo — respondi. — Eles tem medo do que você pode fazer.
— Você nem… me conhece.
Mesmo nessa situação, ainda tinha forças para responder. Admiro bastante a sua força de vontade.
É algo…
— Não preciso te conhecer para saber o que irá fazer. Você é uma anomalia, nada mais — disse, minha voz abafada pela máscara. — Alguém que merece morrer.
Me levantei, encarando o general.
— Sim… você merece morrer, mas não agora.
Em segundos, uma das espadas gêmeas foi invocada em minha mão. Tinha um propósito para tudo aquilo, mas não poderia explicar.
— Solte essa arma, garoto — falou o general, calmo o suficiente para me deixar tranquilo junto. — Se não quiser sen–
Minha espada cortou-o ao meio.
O sangue espirrava sem parar, manchando minhas roupas com aquele líquido nojento.
— Ugh… eu não queria sujar isso — disse, pegando em minha camisa.
— Ele morreu rápido — disse Eight. — Pensei que fosse mais forte por ser um general e tals… Que pena.
Olhei para Scarlett, que se mostrava chocada com toda a situação que ocorreu à sua frente. Tampava sua boca com a mão, enquanto deixava uma expressão assustada em sua cara.
Mas por quê?
Nesse estado, ela pelo menos já deveria ter matado milhares. Como ainda se mostrava indiferente à morte?
São muitas perguntas.
— Eu vou ser a próxima… — escutei seus murmúrios. — Não quero ser a próxima…
Quase no ponto da loucura. E isso me deixava alegre.
Bem, agora teria que libertá-la disso para poder extrair esse seu mal.
Levantei minha espada, preparado para quebrar a grade que a prendia. Porém, antes que pudesse atingir o metal, um pequeno círculo apareceu debaixo dela.
Roxo, me lembrava um buraco de minhoca que havia estudado muito antigamente.
Scarlett caiu com tudo, desaparecendo da minha vista.
Hm… isso é curioso.
— Eita! Fugiu mesmo! Hahahaha! — bradou Eight, como se quisesse dizer para o mundo inteiro que falhamos em nossa missão. — Bem, agora podemos ir pra casa, né?
— Ainda precisamos encontrá-la. Preciso cumprir essa missão, me desculpa.
Esse poder de teleporte…
Não consigo pensar em nada parecido com isso.
Parei por alguns segundos, pensando no que poderia fazer…
Ah!
Eu lembrei!
Havia lembrado de uma pequena conversa que tive com Ten. Era algo sobre uma outra cobaia que havia conseguido suportar o sangue de Scarlett.
Bem, ele me disse que essa anomalia havia pegado uma parte muito curiosa, e sua benção se baseava no…
— Pareciam portais — disse Eight, colocando a mão no queixo.
Isso! Portais.
— Então, ela traiu A Companhia? — indaguei.
Não estava desesperado. Afinal, era só questão de tempo para que a achasse de novo.
E, levando em conta a benção de portais, não poderiam ter ido muito longe.
— Que saco. Vamos, Eight.
Direcionamos nossa trajetória para a porta da tenda, mas, antes que pudéssemos sair, parei. Impedi Eight com a mão, olhando para ela.
— Vocês são muito fracos! Como diabos deixaram eu roubar a princesa? Agora eu tenho ela em minhas mãos! — gritou uma voz feminina. — Eu, Karolina, estou aqui para destruir tudo!
…
Karolina?
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