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    — Vai aguentar até quando, otária? — perguntei à garota leopardo, que estava muito cansada.  

    Parecia muito cansada, e deveria estar mesmo. Imagino o quão difícil deve ser lutar sem parar contra mais de dez corpos ao mesmo tempo.

    — Até ter seu sangue em minhas mãos! — respondeu com uma frase de efeito, que só a deixou em uma posição mais vergonhosa. — Não aguento jogar esses seus joguinhos. 

    — Então venha — disse.

    Dissipei todas as minhas marionetes em segundos, cada uma voltando ao seu portal de origem.

    — Me dê o seu golpe mais forte. Vou te mostrar a diferença entre nossas forças! — continuei, mantendo uma pose estática.

    A fera apenas abriu um sorriso. 

    Estávamos lutando há muito tempo. Não podia sair daqui e apenas procurar Seven, precisava acabar com essa luta de toda a forma.

    Até que…

    — Pingos?

    Começou a chover.

    Algo… inexplicável, levando em conta o tempo claro que se mostrava segundos atrás. 

    Não era qualquer chuva, e é claro que não seria. Tentei manter-me calma diante daquela situação!

    Viscoso…

    Vermelho.

    — Isso é… sangue? — peguei com o dedo, levando ao meu nariz. — Tem cheiro de sangue.

    Meu novo corpo podia suportar essas funções, então, era bastante útil usar sempre que possível. 

    Escutei o som da felina avançando. Nem ao menos tentava esconder seu barulho, como poderia ser uma pessoa de importância assim?

    Estendi minha mão em sua direção, sem ao menos olhar para minha inimiga e seu ataque “mais forte”. Já sabia que seria fraco, então, por que olhar?

    — Congele.

    Em segundos, uma grande onda de gelo partiu de minha mão. Tudo se esfriou em segundos, e a minha palma ficou marcada com alguns cacos de gelo.

    Um poder que estava embutido nesse corpo de boneca.

    — Droga… Vou ter que consertar isso depois.

    São vários problemas surgindo ao mesmo tempo! Desde meu corpo se deteriorar com a própria benção, essa chuva de sangue e…

    — Cadê você… Seven? 

    Olhei para o céu.

    Crack!

    Ahn?

    O gelo rachou.

    Talvez o calor do sangue estivesse ajudando-a. Que droga! Isso é ruim.

    Precisava ir buscar logo Seven!

    As rachaduras se espalhavam por todo o bloco de gelo em segundos. 

    Vendo essa situação, recuei, preparada para invocar mais marionetes. Estava pronta para acabar com esse gatinho de novo!

    Até que…

    Parou.

    As rachaduras pararam de crescer.

    O bloco de gelo estabilizou-se!

    — Ué… pensei que fosse forte o suficiente para quebrar esse bloco de gelo.

    Estalei o pescoço, pensando mais sobre o que deveria fazer agora…

    — Seven se meteu pra dentro da floresta. — Levantei um dedo da mão. — Chove sangue… — Levantei outro. — Mas Seven consegue se virar. Ela é forte — murmurei, abaixando um dedo.

    É…

    Talvez seja melhor investigar a cidade.

    Olhei para ela de longe. A caricatura de Aguaforte já não era mais a mesma, e tudo parecia ter se perdido em segundos.

    Apenas por causa dessa… chuva de sangue.

    A última vez que vi essa benção foi há muito tempo atrás. 

    Cerrei o punho, decidida a seguir para dentro da cidade. Mesmo que… meu coração não quisesse.

    São lembranças que não quero reviver.

    É bem melhor deixar assim.

    Comecei a andar, passando pelas árvores molhadas de sangue e pelos arbustos tingidos de vermelho. A cada passo, era um aviso do perigo que me esperava.

    — Que droga!

    Chegando em frente aos portões laterais da cidade, pude ver o que parecia ser um pequeno acampamento de guardas.

    Ainda bem!

    Imaginei que não teria mais guardas para proteger essa cidade. Imagina que problema seria?

    Me aproximei com cautela, deixando a entender que havia uma pessoa por perto.

    — Eh… Olá!? — gritei. — Tem alguém aí?

    Ninguém respondeu.

    Mas, ué…?

    As luzes estavam acesas dentro da barraca, e havia silhuetas ali dentro. Como que ninguém respondeu?

    Esses guardas estão só enrolando!

    Andei com passos mais fortes, indo em direção à cabana.

    — Será que tem como vocês me ajudarem aqui? — Puxei o pano. — Estou com alguns proble–

    Ah…

    Todas as três silhuetas que estavam no quarto eram de homens mortos. Sem exceção. 

    Eram cortes indesejados em seus pescoços. Hesitantes…

    A causadora do crime estava dentro da cabana. Exposta como nunca… Uma faca serrilhada que estava na mão de um dos soldados.

    Era cruel.

    Aquilo me deixou com muito nojo. Uma vontade de vomitar imensa, mesmo que não tivesse estômago para isso.

    Cruel.

    Mas era isso que o exército imperial fazia com as pessoas de nosso mundo. Se conseguisse lutar? Você ganha na vida. Caso contrário…

    Não gosto nem de pensar.

    Cheguei mais perto, e fechei os olhos de cada um dos mortos. 

    — Espero que tenham vivido a vida ao máximo.

    Logo, peguei cada cadáver com cuidado, alinhando-os no chão. Era o mínimo que poderia fazer por essas vidas perdidas.

    Após concluir minha ação, peguei o pano da cama que se instaurava na cabana, cobrindo os corpos.

    Não gostava de pensar sobre a morte. Era algo que não conseguia entender, e isso me deixava frustrada…

    Suspirei.

    Talvez eu só não quisesse entender.

    Sai da cabana, ainda pensando mais sobre o que tenho feito desde então. Desde aquele dia… 

    O dia em que prometi cumprir uma promessa muito importante.

    “Por favor, encontre-a!”

    Eu juro que vou.

    Pus meu pé para dentro da cidade. 

    Uma pequena cidade localizada no interior do estado. É claro que, normalmente, não teria tanta gente.

    Mas era avassalador como não tinha nenhuma pessoa por essas ruas. Era diferente dos outros dias. 

    A atmosfera me consumia.

    Todas as casas estavam trancadas, como se os moradores estivessem se escondendo. Mas de quem? Não havia ninguém por essas ruas.

    Tudo que podia escutar era o ensurdecedor barulho da chuva. Que, no final, não era uma chuva tão comum.

    Haviam carruagens destruídas pelas ruas, estabelecimentos desarrumados às pressas e um pingo de desespero a cada rua que virava.

    Afinal, o que estava acontecendo?

    Parecia que só eu não queria ligar os pontos. Mas pelo menos sabia de onde via isso tudo.

    No centro da cidade, de longe, era possível perceber um grande pilar subindo aos céus. Vermelho carmesim, e que existia uma grande probabilidade de estar causado tudo isso.

    Ia seguir até ele, mas escutei o barulho de espadas se encontrando.

    — Por que o Império está atacando a nós? — perguntou uma voz familiar. — Isso não faz sentido! Servimos a mesma família real!

    Era… Kaori.

    O que essa garota estava fazendo aqui?

    E o que queria dizer com o “Império atacar a nós”?

    Corri em direção à voz com pressa, preocupada com a amiga da minha filha. Não podia deixar minha futura genra morrer assim!

    Virei uma esquina, e encontrei a luta.

    Kaori chutou com força a barriga do outro soldado, empurrando-o para longe. 

    — Kaori! — gritei, olhando para ela. 

    Quase no mesmo instante, ela virou para mim.

    — Gaia…? O que você está fazendo aqui?

    Abri um sorriso.

    — Eu vim ajudar.


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