Índice de Capítulo


    — Eu não sabia que você tinha uma ex-namorada, Scarlett! — gritei, como se quisesse que todo mundo soubesse. — Você é muito safadinha pro meu gosto. Vem andando com quem pra ser assim?

    Seus olhos arregalados, o corpo tremendo e os dentes rangendo me deram indícios do que havia acontecido. Talvez não fosse uma boa ter entrado nesse assunto, mas já era tarde.

    — É claro que n-não… Conheci você hoje, lembra? — murmurou, dando passos para trás, como se fosse se afundar numa grande lata de lixo ao fundo. — Só não quero encontrar com ela agora. 

    Qual é a graça disso? Elas duas deveriam resolver essa briga! Tenho certeza de que foi uma coisa bobinha de adolescente.

    “Mas Daiane, você não é adolescente?”

    Sou sim, voz da minha cabeça que acabei de criar. Tenho 21 anos e sou adolescente, né? Parece que a burra aqui não sou eu.

    — Quero falar com ela — pensei alto. — Ah…

    Só depois percebi o que havia dito. Como poderia ser tão boca aberta assim? Nossa, até meus pais reclamavam disso. Deveria mudar urgentemente!

    — Não! — bradou Scarlett. — Não deveríamos falar com ela de forma alguma. Você entende? Não existe possibilidade de falarmos com ela! 

    O que estava acontecendo aqui, afinal? 

    — Ué, que medo é esse? Tá com saudades da ex e não quer admitir, só pode. Vai ver sua carência está maior que o normal.

    — … Isso é o contrário de carência, Daiane. Eu só quero fugir dessa pessoa e ir para o mais longe possível.

    — Fugir de quem, Scarlett? — falou.

    — Ah… Da Cecí–

    Ela estava virando sua cabeça e, lentamente, a expressão de surpresa se estampava em sua cara.

    — …lia? 

    O rosto empalideceu em instantes, mostrando uma expressão que nunca havia visto em nenhum rosto em minha vida.

    — Prazer! Me chamo Daiane. Você deve ser a Cecília, não é? — disse, estendendo a mão cheia de sacolas. 

    — Já arrumou outra namorada, então? Superou nosso término rápido, até — respondeu Cecília, apertando minha mão. — Muito prazer, viu? Você é bem fofinha até. 

    Seus olhos me chamaram bastante atenção. Diferente do que imaginava, eles eram roxos. Um roxo puro, quase hipnotizante.

    — Outra namorada? Não, não. Devo deixar bem claro que nunca namoraria esse tipo de pessoa.

    Assim que disse isso, Scarlett parecia ter tomado um tiro no coração. Já Cecília começou a rir sem parar de minha afirmação.

    Era uma risada doce, quebrando um ar de desconforto que se formava.

    — Você… Você é engraçada à beça! — disse. — Talvez não tenha sido tão mal ter superado rápido.

    — Ei… Você está entenden–

    — Não estamos namorando — interrompeu Scarlett. — Eu não ousaria namorar outra pessoa em tão pouco tempo. Tenho respeito pela relação que tivemos. 

    “Tivemos.”

    Essa era a palavra mágica da vez. O ato de não ser mais poderia ser doloroso para ambas, e seus rostos estampavam isso.

    Mesmo que bem escondido, no fundo, mas no fundo, era possível perceber. Afinal, conseguia ver de forma breve como essas sensações se desenrolam.

    Dessa vez foi Cecília que ficou em choque, como se as palavras que Scarlett acabara de proferir fossem impossíveis há algum tempo.

    — Você… Você não mudou nada. — Abriu um sorriso, mostrando seus dentes tão afiados quanto os de um tubarão. — É bom saber disso.

    Ergueu seu braço até a cabeça de Scarlett, mas parou antes de concluir o ato, voltando-o para a posição inicial. Talvez fosse um gesto que ambas faziam…

    Não gosto dessas histórias mal contadas! Sinto que é meu dever fazer dessa história de amor uma realidade. Dessa forma, os nossos sucessores poderão olhar para mim como a “Deusa do Amor e Fertilidade”. 

    Vou substituir a porcaria de Afrodite. Ela vai se ver comigo na porrada!

    — Por favor, não tente fazer o que tentou agora — murmurou Scarlett, aquilo era um claro aviso. — Não seja uma pervertida que nem das outras vezes.

    P…

    Pervertida!?

    Pfft!

    — Vocês são engraçadas — disse sem pensar.

    Mais uma vez eu e minha boca grande! Era uma situação em que deveria ter ficado quieta, muito quieta.

    Ambas olharam para mim, sem dizer um único piu, e essa visão me aterrorizou sem qualquer receio.

    — Cês tão fazendo o quê? — perguntou Cecília, arrumando os óculos em seu rosto.

    Só iria ignorar…?

    — Compras. Estava acompanhando ela nas compras — respondeu Scarlett, apontando para mim com o dedão. 

    — Hmmmmmm… Se importariam de eu acompanhar vocês? Não quero ir pra casa dos meus pais hoje, então, qualquer desculpa vale.

    Scarlett ia abrir a boca, mas tapei ela com mais um pão recheado.

    — Eu amaria! — disse, apertando a mão de Cecília com força. — Seria muito bom ter a sua presença enquanto compro algumas roupas. Quanto mais opiniões, melhor!

    — É sério? Tudo bem… Espero não incomodar vocês nas suas compras. — O sorriso se estampou em seu rosto mais uma vez. — Pensando bem… Acho que vou aproveitar e comprar umas coisinhas.

    Scarlett ficou em silêncio naquela situação. O desconforto era grande…?

    Olhei para ela e…

    Suas bochechas estavam cheias do pãozinho recheado.

    — Ugh… Que idiota — disse.

    — É… — Cecília concordou.


    Eram tantas lojas! Acessórios, livros, roupas… rasteirinhas? É, as lojas estão cada vez mais diversificadas. Isso é incrível, amigos!

    — Já estamos no shopping, então, qual vai ser a nossa primeira parada? — perguntou Cecília, com seu tom maduro. Muito mais maduro que Scarlett.

    Não respondi a princípio. Na verdade, ainda estava procurando o que tinha vindo comprar. Toda essa ideia foi só uma desculpa boba para não dar as cervejas pra Scarlett…

    Mas isso ela não precisa saber, né?

    — Bem ali — apontei. Era uma loja de acessórios simples, mas muito famosa. — “Once”. Essa é das boas!

    — Essa não é aquela loja super cara? — perguntou Scarlett. — Tipo… De entregar rins para pagar um único brinco.

    Uh?

    É…?

    — Não sei, eu só entro lá e pago. Mas não deve ser tão cara assim. Larga de ser exagerada, Scarlett — disse, andando como um soldadinho para a loja.

    Talvez…

    Hehehe…

    Talvez mesmo eu consiga fazer dar certo isso! Levar as duas numa loja e… fazer elas ficarem bem pertinhas uma da outra e dar um empurrãozinho… Kabum! Beijinhos acontecerão!

    Heh…

    Sou uma gênia por pensar nisso. Desse jeito, vou desistir de ser femme fatale e vou virar uma orientadora para casais.

    Espera, isso é uma péssima ideia.

    — Ok… Vamos lá, então — assentiu Cecília.


    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota