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    Once era uma loja muito chique. Daiane não tinha noção de classes, isso era óbvio, afinal, ela estava levando-nos a um dos estabelecimentos mais caros de todo o shopping. Isso não aconteceria se fosse uma pobre andando com pobre… 

    Ela era herdeira. Uma pequena dedução que poderia levar como verdadeira após tantas demonstrações de dinheiro. Queria eu ter nascido com a vida dela, tudo seria muito mais fácil.

    — Já pensou no que vai comprar? — perguntou Cecília, minha ex, que de alguma forma se intrometeu nessa confusão. — Lembro que você gostava de colares, ainda continua com esse pensamento?

    Ah…

    Ela ainda estava aqui.

    Não esperava encontrar Cecília, muito menos ir ao shopping com sua presença. Era, de certa forma, desconfortável

    O desconforto de ter falado coisas cruéis e encontrar a pessoa para quem falei. Era uma sensação ruim olhar para ela e não ver nenhum abalo.

    Talvez esperava mais…? Era egoísmo essa parte, eu sabia disso. Queria que tivéssemos mais… 

    Ah…

    Mais tempo.

    — Ainda não. Mas a resposta é simples: tô quebrada. O dinheiro foi todo pra contas da casa e fui demitida hoje de manhã — disse, colocando as mãos no bolso. — Ainda terei de encontrar um emprego o quanto antes se eu quiser não virar uma moradora da rua.

    Cecília tirou o chapéu de sua cabeça, colocando-o na minha. Esse gesto me fez sentir remorso…

    O peito doeu, doeu para nunca mais parar.

    — Posso tentar te ajudar a encontrar um emprego — respondeu. — Lembro que minha tia está precisando de ajuda em seu restaurante. Quer que eu faça uma forcinha pra ti? 

    Uma ajuda. Era pequena, mas era uma ajuda.

    Queria ter falado sim sem pestanejar, mas… ainda havia algo não resolvido. Não era algo que poderia receber ajuda.

    — Cecília… — murmurei, as sensações ruins dominando minhas expressões.

    — Pensa um pouco. Não precisa ser agora, agora — respondeu.

    — Alô!? O que vocês estão falando aí sem mim? — perguntou Daiane, suas bochechas infladas pela frustração. — Vamos acordar, né, galera?  Temos coisas fofas a se comprar… — Sua voz foi diminuindo até ser inalcançável. — Por que você está com o boné dela, Scarlett!? 

    Ela começou a dar risadas baixas, e eu já sabia o que estava pensando. 

    — Não é isso, Daiane. — Virei ela pra frente — Veja, já chegamos à loja!

    Uma coincidência que salvou minha pele! Nem eu tinha percebido que havíamos chegado em Once. Mas, se já chegamos aqui…

    Daiane foi direto para a área de acessórios fofos, e ficou apenas eu e Cecília paradas na frente da loja. 

    Era como se o tempo tivesse parado. Muito tempo de namoro condensado em apenas um olhar, um olhar doloroso.

    Parecia ter superado, seguido em frente. Será que já teria uma namorada…?

    Ah… Não deveria pensar nessas coisas.

    — Desculpa. — As palavras saíam da minha boca como facas. — Antes de tudo, quero pedir desculpa por tudo que fiz. 

    — Oh? Tá falando de verdade agora. É por que ela foi-se embora? — disse Cecília, um tom de brincadeira, mas, quando percebeu que estava falando sério, mudou seu tom. — Está tudo bem. De verdade! Aceito suas desculpas de coração, mesmo.

    — Você… — murmurei, mas não continuei a pergunta. — Sinto um pouco sua falta. Queria conversar com você mais uma vez.

    Olhar surpreso.

    É óbvio que esse seria o resultado. Como diabos ela poderia continuar conversando com sua ex-namorada como se nada tivesse acontecido? Impossível, ainda mais se ela já tivesse uma atual.

    — Sério? — Uma palavra. Uma única palavra saiu de sua boca, e tudo ao nosso redor se calou. — Eu… meio que também — respondeu, coçando seu braço.

    — T-tudo bem se eu te mandar mensagem… então?

    — Ah! — Seu rosto ficou vermelho. — Mas isso não seria estranho? Tipo…

    — Tudo bem se não quiser.

    Até que…

    Escutei passos vindo em nossa direção.

    — Ei, o que vocês estão fazendo aí!? Entrem logo dentro da loja, suas bobinhas!

     Olhei para a Cecília, logo após, Daiane. Não consegui controlar minha risada! Acabei gargalhando um pouco.

    A situação havia sido interrompida, mas não era hora de pensar nisso. Deveríamos focar nas compras mesmo, era mais fácil do que só… 

    Ah…

    Ela não respondeu.

    Ajeitei seu boné na minha cabeça, entrando na loja. O aroma chique e a sensação térmica diferente do shopping me motivaram mais a trabalhar e comprar algo nessa loja.

    Vai ver vem até outro nos pingentes…

    Daiane apontava pra lá e pra cá sem parar. Seus olhos brilhavam diante de tanta coisa reluzente, e devia admitir que também estava admirando. 

    — Isso é lindo — disse. — Não consigo pensar em coisas mais caras que essas coisinhas. 

    Uma atendente olhava de longe. Roupas preto e branco, cabelo arrumado e óculos. Seu olhar era penetrante, quase como se fosse um aviso para sairmos de sua loja.

    Não queria confusões! Longe disso, apenas queria a paz. 

    Algo havia me chamado a atenção, logo, virei até o pequeno pingente.

    Era um colar simples, um pingente de estrela era o que chamava a atenção. De alguma forma, me sentia ligada a esse símbolo. Hipnotizante.

    — Gostou desse? — perguntou Cecília, se aproximando. — É… Devo admitir que é bonito. Você é boa pra escolher as coisas.

    — Não é como se eu fosse comprar, mas está aí um colar que gostaria de ter. Não é tão chamativo e… 

    Ah…

    O que estava falando? Eu nunca havia pensado nesse símbolo de estrela antes. Parecia ser só um déjà vu bizarro.

    Seria que nem aquele filme, não é? Onde todo mundo tá numa simulação e os déjà vus são falhas no sistema.

    É uma ótima explicação, não é? Vai ver que todos nós estamos em uma simulação e não conseguimos sair.

    — Quer ele? — disse Cecília. — Se quiser, posso te dar.

    — É o quê? Por que diabos você gastaria dinheiro comigo?

    — Uh… Tô com umas sobras. 

    — Não… Passo dessa vez. Eu quero vir aqui com meu dinheiro e comprar. Vai ter mais significado pra mim do que só receber.

    Continuamos olhando naquela fileira de colares. Haviam tantos, mas tantos, interessantes. Eram dos mais diversos!

    Desde coelhos, meu animal favorito, até aviões…? Vai ver tem gente que gosta disso. 

    Cecília parou em um, olhando-o como se fosse comprar quase de imediato. Cheguei mais perto, apenas para descobrir um pingente de lua. 

    Era simples, bonito e…

    Combinava com o colar que queria comprar.

    Meu rosto se avermelhou assim que percebi esse fato, fazendo-me desviar o olhar. 

    — Ah! Ops! — gritou Daiane, e logo senti um pequeno empurrão em minhas costas.

    Desequilibrei, indo em direção a Cecília. Não conseguia parar, que merda! Estava caindo em cima dela! 


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