Capítulo 9: Complexo 0.3667
Logo tentei voltar atrás com a minha palavra, ficando nervosa com a situação em que me meti.
― Quero dizer… Ester? ― disse abaixando minha cabeça.
― Melhor assim, me chame dessa forma daqui em diante viu mocinha ― respondeu.
Sorri involuntariamente. Parecia que ela não havia escutado o que tinha dito antes então fiquei aliviada, esse deslize podia levar tudo por água abaixo.
Ela parecia realmente não se perguntar mais nada sobre mim, algo que me incomodava. Quem não pergunta mais informações sobre uma estranha que você mesma ajudou? Me senti meio culpada pois queria pelo menos conquistar uma certa relação de confiança naquele ponto.
Tentei falar algo, tentei explicar, mas as palavras corretas apenas fugiam, então apenas disse o que estava em meu coração no momento.
― Muito, muito obrigada mesmo por tudo que você está fazendo por mim. Mas, eu quero te perguntar uma única coisa ― disse, hesitando em terminar a minha frase ― … por que eu?
― Você me lembra alguém, uma pessoa muito querida para mim […] ― Meu cérebro começou a zumbir, não escutando o que ela falou exatamente após isso.
Então era por isso que ela não perguntava nada, ela apenas via alguém em mim. Meu cérebro naquele momento apenas não processou o que acabara de dizer. Tudo estava rodando, a minha mente estava rodando.
[●●●●∘∘∘∘∘∘ 46%]
Eu achei que era eu, achei que era por mim.
[●●●●●●∘∘∘∘ 64%]
Estava aumentando muito rápido, algo que me deixou desesperada no momento. Essas letras, tudo isso, não sei o que esperar. É como se eu estivesse rodando uma roleta cada vez que isso acontece.
Percebendo a situação em que estava me metendo, deveria evitar pelo menos ferir alguém caso algo perigoso aconteça.
[●●●●●●●●∘∘ 89%]
― Por favor, poderia me dar o qua-
Estava prestes a terminar minha frase até uma dor enorme invadir o meu peito.
Perdi o controle do meu corpo, a dor estava cada vez mais aumentando juntamente com a porcentagem. Caí ao chão colocando minha mão sobre meu peito, segurando a dor incessante de algo me queimando por dentro.
― Seven! ― Imediatamente Ester se abaixou na tentativa de me ajudar.
Percebi que estava me virando, deixando-me em uma posição melhor de respirar, mas eu definitivamente não queria que ela ficasse ali, quando isso estava acontecendo.
Tentei falar para ela sair, mas era difícil de respirar e tudo que saiu da minha boca foram gemidos de dor. Ela parecia desesperada com a situação, sem saber o que fazer, podia ver em seu rosto o olhar de desespero.
[●●●●●●●●●∘ 97%]
Segurei em sua manga fortemente, mas parecia que nada adiantava, sua expressão ainda era a mesma.
― Poh fav sai. ― Consegui falar algo, mesmo que não pronunciasse corretamente.
Novamente ela fez seu costume, me abraçou mesmo nessa situação. Essa ação parecia ter um significado diferente agora pois antes eu sentia o carinho em seus braços, agora eu só podia sentir o terror.
[●●●●●●●●●● 100%]
[Erro]
O local havia mudado, não estava mais naquele quarto agora, era um local totalmente branco. Mas estava sem a dor insuportável do meu peito, conseguindo respirar normalmente.
[Devido a condições indesejadas, o Usuário foi forçado ao uso de ███████]
O chão parecia estranho, pois obtinha da mesma cor de todo o local causando um efeito do qual eu não enxergava nada além do brilho. A claridade doía meus olhos, e tudo o que eu podia enxergar era a cor branca no que parecia ser um deserto infinito.
― Estou agradecida por terem me salvado de uma situação em que vocês mesmo criaram.
[Nós pedimos desculpas pelo transtorno. O seu corpo ainda não suporta todo os dados que devemos passar]
Eles pareciam ter respondido perfeitamente a mim. Mas, mesmo depois de toda a situação em que criaram, tudo o que eu ganho é um pequeno pedido de desculpas.
― Eu não pedi por esses dados, eu não pedi por nada.
[Checando rotas alternativas para a chegada dos dados…]
― O que? Não, não! Para com isso agora! ― Tentei mexer naquela janela aparecendo na minha frente, acabando em tentativas falhas da minha parte.
[Criando e utilizando uma réplica para o usuário…]
Frustração era o que sentia por não poder parar aquilo com minhas mãos. Comecei a andar tentando chegar em algo ou alguém, ignorando totalmente o que estava sendo feito debaixo de meus olhos.
― Alô! Aaaalô!! Alguém?! ― gritava, mas não recebi nenhuma resposta de uma única alma viva.
[Erro]
[Recriando rotas…]
[Erro]
[Testando rotas antigas…]
[Complexo está sendo atualizado]
Pude apenas observar essas telas aparecendo na minha frente, pois não conseguia interferir com nada que estava acontecendo.
― Complexo…?
[Sucesso]
[Bem vindo ao Complexo 0.3667]
『 Seven Fortune
A ███████ ██████████
19 Anos | Lvl. ███
Estatísticas:
Força: 12
Velocidade: 7
Vigor: 18
Inteligência: 23
Espírito: 4
Dádivas:
▷ Fantasia – A corda do destino.
██████████████████████████
███████████████████████████
▷ Hefesto – A primeira chama da criação.
O Heroi lhe abençoa com o controle do
██████████████████████████
Bênçãos:
▷ Psyche – █████ █████████████
█████████████████████████
██████████████████████████
██████████████████████████ 』
As informações… eram diferentes de antes e nem havia um altar para isso estar aparecendo.
― Tsk, o que é isso agora?!
Força, velocidade, vigor, inteligência e espírito, então é nisso que o mundo é baseado? Está tudo definido com números na minha frente. Era difícil me passar de que não ligava para isso quando por dentro tudo parecia tão assustador, estava à mercê de algo que eu desconhecia.
Não havia mais nada que pudesse fazer naquele espaço, então andei e andei sem pensar no motivo. Até que finalmente pude ver algo depois de várias horas vagando naquele lugar. Parecia ser um caminho de pedras que continha um padrão que lembrava uma reta que realmente demonstrava levar a alguma coisa.
Novamente estava seguindo o desconhecido, mas dessa vez cheguei ao destino mais cedo do que o esperado. Eu via um celeiro alaranjado mais a frente e, chegando mais perto podia ver que o mofo invadia todo o local e o telhado estava caindo. Havia uma pequena porta na minha frente na qual eu a abri imediatamente, percebendo que o local servia de estábulo, mas estava sem os cavalos.
― Snif… hic! Ungh. ― Consegui escutar alguém chorando.
O choro vinha de uma parte mais funda do celeiro que estava inundada de feno. Continuei andando pelo lugar apenas para escutar o choro ficando cada vez mais alto e agonizante a cada passo.
[Não se aproxime]
Parecia ser apenas uma criança chorando, definitivamente não era assustador.
[Erro detectado, usuário será movido para o mundo cadastrado em momentos]
Parecia uma eternidade naquele local e finalmente estava indo embora, mas, minha curiosidade falava mais alto. Corri para tentar encontrar a origem do choro antes que eu fosse enviada de volta, mas era como se o chão atrás de mim estivesse se desintegrando.
Apenas olhei em uma pequena fração de segundo de onde estava fazendo barulho e foi como se essa imagem tivesse se prendido em minha mente para sempre. Estava de costas para mim, mas claramente era uma criança com cabelos pretos e a parte mais estranha dessa situação era o sangue, espirrado em todos os lugares ao redor dela, mas aquilo não a tocava.
[Sucesso]
Agora eu estava na pousada sentada na cama do quarto e Ester estava em minha frente.
― Melhor assim, me chame dessa forma daqui em diante viu mocinha.
Essa frase… Ester já não disse antes? Então quer dizer que eu voltei pelo menos um pouco de tempo? Se pelo menos minha memória…
Me levantei rapidamente e abracei Ester. Claramente a surpreendeu, mas parecia entender as minhas intenções pois após um tempo ela respondeu meu abraço.
― Estive te procurando, Seven!
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