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    Justo naquele momento, que droga! 

    Porcaria.

    Que merda.

    É culpa minha… de novo.

    Se não fosse aquele herói aparecendo na minha frente, tudo teria dado certo. 

    Ainda tenho gravado aquele mesmo nome em minha memória.

    Eight da Investigação.

    Suas palavras ainda estão marcadas em minha alma.

    “Fuja com o rabo entre as pernas, Marionetista. Os esforços para manter Seven, a Falsa Estrela, livre são inúteis. Pouparei seu trabalho dessa vez.”

    Dessa forma, meu espírito passou por todos os continentes em instantes. Sequelas desse ataque ainda giram em minha cabeça até hoje. 

    Tonturas constantes e apagões.

    Não estava pronta para uma visão tão…

    Ainda quero saber como ela controlou minha benção daquele jeito, afinal, poder desativar todas as minhas marionetes, enviando para dentro do Portão das Marionetes e ter me jogado para o outro lado do continente em um triz… 

    Corpo número 16 desativado, e a culpa é minha. Perdi Seven de vista, e a culpa é minha.

    Andava sobre um monte, evitando não bater em qualquer uma daquelas árvores que me cercavam. Me sentia tonta, tonta o suficiente para ver seu rosto em todos os amontoados de folhas.

    — Que droga… por que eu não a encontro? — Tirei um desenho que fiz à mão.

    Queria apenas ver seu rosto para nunca cogitar em esquecer, mesmo que desenhado por uma pessoa medíocre que nem eu. Aprendi a desenhar por sua causa, queria realmente ter seu rosto representado da melhor forma.

    Já se passaram… cinco anos, seis meses e nove dias. 

    É, eu contei.

    Contei cada ano, mês, dia e hora. Não sabia o porquê de continuar fazendo isso, era como se fosse uma forma de me culpar mais… Estava em um ciclo infinito, só não queria aceitar isso.

    Com toda a minha força, ataquei a árvore que estava à minha frente. Só queria descontar minha frustração.

    Não a quebrei, pelo contrário, minha mão rachou com o impacto. Porém, não importava tanto assim para mim.

    — Eu… ainda estou presa ao passado — murmurei. Arranquei meu braço de marionete, criando um portal logo em seguida. — Porém, não quero te esquecer.

    De dentro dele, saiu um braço idêntico ao que antes usava. Então, peguei o anel que estava no dedo anelar dele e coloquei no novo. Encaixei nas juntas, testando o novo membro do corpo.

    Parecia estar bem.

    Trouxe minha mão para mais perto, beijando o anel a seguir. Essa era a única forma que eu tinha de me conectar com ela.

    Ou pelo menos tentar.

    Meus olhos finalmente alcançaram a luz dentro da densa floresta. Andei cada metro como nunca. 

    Esse novo corpo estava muito mais… humano. Não gostava disso.

    O odor da floresta, junto à textura horrível da árvore, não me agradava nenhum pouco. Essa combinação não era utilizada por mim fazia… séculos ou até milênios? Não sei, não me lembro mais.

    Já mapeei o oeste, leste e sul. No norte eu sei que você não está, então só sobra o centro. 

    Dei os últimos passos em direção à luz, chegando ao topo do monte. Sentei-me, olhando em direção ao horizonte, onde uma cidade repousava pelas planícies.

    Sabia que cidade era aquela, e tinha medo de entrar naquele lugar de novo. A capital de todo o continente de Hektar, sendo popularmente conhecida por Chamabrava. 

    É… algo foneticamente feio, quebrando o padrão das cidades do norte, que normalmente eram denominadas por flores que cresciam na região.

    Puxei mais um portal, tirando o mapa de cidades do continente. Muitas estavam riscadas, indicando que já haviam passado pelos locais.

    Por favor, esteja aqui.


    — Passaporte, moça. Você precisa do passaporte para entrar aqui — disse uma voz à minha frente.

    Eu havia… apagado novamente. 

    A cidade que antes estava longe, agora estava diante de meus olhos. Um guarda batia o pé na minha frente, visivelmente irritado com algo.

    Talvez eu tenha incomodado ele enquanto não controlava meu corpo. Esse evento é tão estranho, não consigo descobrir suas causas de maneira nenhuma.

    — Erm… Será que pode repetir? — falei, com uma voz quebradiça. Vestia um manto velho, quase desmanchando de tanto uso.

    — Eu disse que quero seu passaporte! — gritou o guarda. — Sua aparência é muito suspeita para ser deixada entrar numa cidade tão livremente. 

    De certa forma, ele tinha razão. Não sei o que deu na minha mente em manter esses trapos por todo esse tempo.

    — Não tenho… — murmurei, enquanto colocava a mão para trás da cabeça.

    — Você não poderá entrar na cidade.

    — O que? Não há nada que eu possa fazer mesmo? — Estava numa enrascada. Precisava entrar naquela cidade, de uma forma ou de… outra. 

    Coloquei a mão no meu bolso, tirando uma pequena moeda de ouro que guardava como última economia.

    Pffft! Não há nada mesmo. — Cruzou as mãos.

    — Tem certeza? — Mostrei a moeda para ele.

    Uma jogada incerta de minha parte, levando em conta tudo que poderia dar errado após isso. Mas, se acontecesse de eu ser presa, era só virar espírito e ir para outro lugar.

    O guarda pegou a moeda rapidamente de minha mão, colocando em seu bolso logo após. Ele olhou com uma cara cínica para mim, como se aprovasse meu ato.

    Fiquei aliviada que ele aprovou mesmo.

    — Pode passar, moça — disse o guarda, fazendo uma reverência.

    — Muito obrigada, guarda. Seus esforços para manter essa cidade limpa de criminosos são excepcionais — respondi, andando para longe logo após.

    Dei alguns passos, comemorando que tudo havia dado certo. Pulava de felicidade.

    — Ei, moça! — chamou o mesmo guarda.

    O que? Será que algo deu errado? Serei presa?

    Fiquei nervosa em um instante.

    — A-aconteceu algo? — disse, gaguejando. 

    É por isso que eu odeio interagir com pessoas.

    — Qual é o seu nome?

    Mais uma vez, o alívio veio de uma vez. Meu coração não estava aguentando esse tanto de mudanças de humor.

    — Ah… é Gaia, só isso — respondi, voltando a andar logo em seguida.

    Passei pelos portões da cidade sem problemas nenhum. Os guardas acenaram em minha direção, permitindo minha passagem para dentro da capital.

    As ruas estavam completamente cheias dentro daquela cidade grande. Ela tinha por volta de três vezes o tamanho de Azaleia e quatro vezes mais pessoas.

    Uma cidade no ponto perfeito, sem quaisquer torres para ameaçar os moradores. Alguns historiadores diriam que essa é a Cidade Santa, descrita em alguns poemas dos antepassados. 

    A cidade era constituída por um sistema simples. Quanto mais ao centro, mais comercial ela fica. Então, grandes empresas se concentram em uma área pequena, ao redor do castelo real.

    Estava de manhã, um momento quase perfeito para estar naquela cidade. Meu primeiro objetivo era encontrar uma igreja que pudesse me abrigar por um tempo, e assim fiz.

    Andei por aquela cidade, vendo toda aquela vida envolta. A cada passo, eu lembrava de minha infância… mesmo que não pudessem me ver para cuidar de mim, eu podia ver tudo, até o que não queria.

    Até que…

    Cabelos vermelhos?

    Era ela.

    De longe eu a vi, andando para o horizonte. Sim, era ela.

    Seus cabelos são inconfundíveis com essas mechas vermelhas. Só estava grande, mas definitivamente era ela.

    Corri em sua direção.

    Esbarrei em pessoas, mas não me importava. A sensação de ter encontrado você em tanto tempo era indescritível. Só… volte, por favor.

    Peguei em sua mão.

    — S-Seven? — disse, tremendo.

    É você, né? É você!

    É claramente você!

    Ela virou em minha direção, e eu pude ver seu rosto mais uma vez.

    — Quem é você, sua esquisita? — disse a mulher. Não era ela.

    Não era o mesmo rosto.

    Agora, a expressão daquela moça só demonstrava desprezo.


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