Capítulo 9: Travessuras! (2)
Que droga… O que diabos foi aquilo? Nossos lábios… se tocaram mesmo?
Sacudia a cabeça com todas as forças. Não entendia que tipo de pecados havia cometido para chegar nesse tipo de situação.
Argh!
Estávamos agora num banco na frente da loja. Um clima desagradável instaurado e Daiane pedindo desculpas com a maior cara de falsidade que já vi na vida.
— Perdão! Não vi vocês naquela hora. Foi minha culpa que isso aconteceu! — disse Daiane, um sorriso escondido no canto do rosto. — Como posso compensar vocês duas com isso?
Cecília foi quem amorteceu a queda, sua testa vermelha pelo impacto das cabeças. Não parecia ter se machucado muito, mas… por algum motivo, estava muito vermelha.
— Está tudo bem, Daiane! Foi só um pequeno acidente, não é como se isso fosse matar nós duas — respondeu, gestos desesperados na tentativa de acalmar a falsa.
— Ugh… Mas eu quero algo para me ressarcir — resmunguei, colocando um saco de gelo em minha testa. — Quero beber uma gelada agora, é tudo que preciso pra me fazer esquecer desses problemas.
— Cerveja nessas horas? Isso não vai te fazer bem, Scar.
…
Ela acabou de me chamar do quê?
Fazia tempos que não havia escutado esse apelido. Quero dizer, desde que nós terminamos. Ninguém me chamava de “Scar” ou ousava me dar outro apelido.
Vai que… Sei lá, eu disseco o bebê deles. É, né? São o que os rumores dizem.
— Não me chama assim. Vai dar a entender que… — As palavras se prendiam em minha garganta. — Deixa para lá. Que tal continuarmos esse passeio? É melhor para esfriar a cabeça.
Daiane se aproximou de meu ouvido.
— Vou te comprar umas cervejas depois, viu? Mas será sobre as minhas condições.
— Trato feito.
Sem pestanejar. Não havia por que pensar muito, até porque era algo de graça! Quem recusaria algo de graça?
É claro que o motivo era esse e não outro… É claro.
— Oh! Aquele é o parque? — perguntou Cecília, apontando para o final do corredor. — Lembro-me de terem inaugurado um nesse shopping, mas não sabia que estava tão à falência assim. Não vejo ninguém lá.
— Que palavras duras… Vai ver eles tão tentando ao máximo no marketing, mas não está dando tão certo — respondi, enquanto tentava olhar o que tanto observava. — É mesmo… Não tem quase ninguém.
— Tô achando que vocês querem ir… Vamos logo — disse Daiane, agarrando nossos braços.
— Eu não quero — respondi. — Muito chato…
— Scarlett, isso não foi uma pergunta — Olhou-me, o vermelho vibrante penetrando minha alma. — Só vamos à porcaria do parque, garota.
Não consegui nem negar o seu pedido gentil. Fui coagida com toda a sua fofura monstruosa a aceitar isso! Era como se ela tivesse uma faca em meu pescoço, e aquilo iria adentrar minha pele a qualquer momento… Argh!
Já éramos reféns dela, agora só com intervenção policial que sairíamos daquele lugar. Salve-nos, seu polícia!
— Prefiro filmes — interrompeu Cecília. — Hoje tem alguns bons no cinema. Não preferem dar uma olhada lá?
Uma esperança!!
Cecília, eu te amo por interromper essa monstra!
Mas não desse jeito.
Eu acho.
— Isso! Também prefiro filmes! Vamos ver os filmes, Daiane? Por favor? — falava, o suor descendo pelo meu rosto. Não aguentava ser arrasada por essa pirralha de um e sessenta!
— Eu tenho um metro e seten… — murmurou Daiane. — É, vamos ver os filmes.
O que ela havia dito? Acabei não prestando tanta atenção. Estava comemorando uma coisa melhor.
Ela parou de nos arrastar, largando os braços. Agora o destino era outro: o cinema. Como isso havia escalado tanto? Tipo… Até alguns minutos atrás estava só querendo acompanhar essa estúpida, mas agora estou indo ao cinema com minha ex também!
Volto a repetir e repetir…
Que tipos de pecados eu cometi em vida!?
— Inclusive, Cecília — disse Daiane. — Você deve saber quais são os filmes em cartaz, não é? Me diga quais são.
Daiane estampava um sorriso macabro em seu rosto enquanto andávamos. Aquilo era uma quase sentença de morte! Se Cecília não respondesse certo, coisas ruins aconteceriam.
Essas coisas ruins seriam… nós irmos ao parque. Ugh! Sinto muito nojo só de pensar no carrinho bate-bate.
— Claro que eu sei! São… — Cecília suava frio. Ela não sabia os filmes, e isso era óbvio. Foi uma mentira dela para escapar do parque. — “12 Heroes and the Beast”…?
Ela foi longe com essa mentira. Tão longe que disse um filme que ainda nem chegou a ser produzido.
Precisava ajudar ela o mais rápido possível para que não fôssemos ao maldito lugar! Mas… eu ainda não conhecia tanto disso.
— Nunca ouvi falar dessa obra. Qual é a história dela, Cecília? — desconversei, me aproximando dela.
Uma pergunta para sanar uma dúvida que tinha e me livrar de outro incômodo.
— Espera, é sério? Você nunca ouviu falar dos 12 Heróis e a Besta? Me surpreende muito isso — falou Cecília, como se fosse pecado não conhecer essa bobagem. — Ela é tipo… um dos itens que mais intrigam os pesquisadores. “A primeira história fantástica da humanidade”.
Espera…
Como eu nunca havia sido informada disso?
Se é tão importante, então deveria ter sido ensinado nas escolas! Ou será que perdi essas aulas? Ah… Vai ver é isso, né?
— Primeira fábula? Só isso? — disse. — É por conta desse título que vem recebendo até mesmo animações hoje em dia?
— Quem dera fosse só isso… Esse livro foi descoberto numa tumba datada há mais de 10 milhões de anos. Isso é antes dos primeiros registros humanos na Terra.
Enquanto andávamos, inconscientemente olhava para os lábios de Cecília. Queria negar que tudo isso havia acontecido, mas não dava.
Virei-me para o lado contrário dela, vermelha de vergonha.
Só eu estava pensando nisso? É minha culpa por pensar demais?
…
Não me importo o suficiente. Isso não foi… nada.
Seria esse o motivo de tantas teorias da conspiração? Esse bendito livro?
Quero dizer! Apenas por ser um livro que vem datado antes dos hominídeos, isso não significa que existiram humanos nesse período?
Melhor ainda, isso não confirmava a existência de outra espécie que conviveu naquela época? Uma espécie inteligente antes dos humanos?
Ou…
— Isso é intrigante. Me desculpe por ter feito você falar o óbvio, Cecília, mas obrigada por me informar — disse, sorrindo. — Hehe… Agora eu tenho mais um motivo para passar as noites em branco.
— Não adianta. A existência desse livro é um total mistério. Algo feito em papel com capa e uma língua desconhecida é o que monta carreiras para a profissão de arqueologia hoje em dia.
É claro que essas informações iriam martelar minha mente por muito tempo. Não havia como isso não ser interessante.
— Cansei de ouvir a conversa de vocês. Só dizendo bobagens atrás de bobagens — falou Daiane. — Por fim, chegamos ao maldito cinema.
Ufa…
Estávamos a salvo daquela vez. O cinema estava na nossa frente, mostrando-se como um grande potencial para entretenimento naquela tarde pacata.
Agora só restava escolher o filme.
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