Índice de Capítulo

    Outros homens emergiram da floresta, trajados como o ruivo diante dela. — Espera, onde está o Rubens? — indagou um deles, encarando a garota.

    Aurora sorriu, uma face cínica, negando com a cabeça.

    — Sua meretriz! — O homem desembainhou a espada.

    — Espera! — o ruivo estendeu o braço, detendo seu companheiro. — Não podemos machucá-la, esqueceu o quão importante ela é? É melhor capturá-la logo, Sr. Edgard disse que poderíamos nos divertir com ela quando chegássemos à fortaleza.

    A caravana atrás dela carregava três carruagens, e delas, mais homens armados.

    — O que vai decidir, Aurora? Não está cansada? — O rosto e a voz de Marcus estavam convencidos. — Estamos te perseguindo há dias. Deve estar com fome, sede, e imagino que a luz do sol deva irritar sua pele. Aposto que um reino quente como Wurid é muito diferente da sua terra natal.

    Em silêncio, a cabeça de Aurora trabalhava, processando as possibilidades em meio a urgência.

    Contornar a caravana é impossível, seus cavalos me alcançariam antes que eu pudesse fazer algo.

    Marcus balançou a cabeça. — Você está pensando demais, parece que precisa de um incentivo! — Olhou para outros mercenários. — Ei! Tragam os pivetes!

    Poucos momentos depois, dois jovens foram arrastados para fora de uma gaiola até alcançarem o ruivo. A primeira era uma garota vestida em farrapos, cabelos de tonalidade azul escuro, quase preto, que passavam dos ombros, olhos tão verdes quanto esmeraldas e chifres da mesma cor que os olhos.

    O segundo era um garoto com olhos azuis e madeixas loiras, orelhas quase pontiagudas e algumas cicatrizes pelas orelhas e rosto.

    — Solta a minha irmã! — bradou o garoto, se debatendo.

    Um soldado desferiu um chute em seu rosto e pisoteou o estômago, mantendo-o no chão. — Fique quieto, mestiço!

    — Hehe, esses dois pivetes também estavam te seguindo, sabia? — Marcus puxou o cabelo da garota para cima, que franziu os lábios e crispou os olhos na mesma hora. — Tenho certeza de que vocês têm algum tipo de envolvimento. Um meio-elfo e uma dragoniana! Nosso senhor ficará muito satisfeito com eles!

    Aurora contorceu a boca em desprezo, observando os dois jovens, que a encararam de volta com feições de medo.

    — Muito bem, Marcus, você venceu. — A polariana abanou as mãos, sua voz tornando-se suave e sedutora. — Esqueça essas crianças, e vamos nos divertir um pouco. Você e seus amigos.

    Todos os mercenários começaram a rir, surpresos e, ao mesmo tempo, felizes com a proposta repentina. Marcus era o único que estava pensativo.

    — Você é boa em tomar decisões. Largue suas armas e seja paciente. Logo farei de você uma mulher! — anunciou, jogando a dragoniana no chão e apontando para os homens ao lado dele. — Depois será a vez dos meus companheiros.

    Sendo discreta, encarou um símbolo de floco de neve nas costas de sua luva.

    Nevasca está quase sem mana, talvez o suficiente para uma invocação. Precisa ser algo bem chamativo.

    — Jogue suas armas no chão, agora! — exigiu o mercenário.

    Deslizou as mãos para as bainhas, jogando o par de adagas na grama.

    — Hehe, ótimo! — O ruivo parecia satisfeito. — Agora, venha até aqui. Vou prendê-la para aguardarmos a chegada de meu senhor.

    São três deles. Marcus está com uma cota de metal e espada longa, o encapuzado do meio usando uma armadura de couro e espada curta, e o terceiro está desprotegido e com uma adaga. Estamos a uns vinte passos de distância… Preciso diminuir essa diferença.

    Continuou caminhando em direção ao homem, não sendo influenciada pela pressão do perigo iminente.

    Não vale a pena confrontar Marcus, ele é um pujante intermediário. Vou focar meus esforços na retaguarda e deixá-lo por último. Se eu conseguir eliminá-lo rápido o suficiente, poderei instigar um medo eficaz e usar esse tempo para fugir…

    Seus olhos se arregalaram ao encontro dos próprios pensamentos, fazendo-a interromper seus passos e permanecer imóvel, tomada pelo choque.

    O que estou prestes a fazer? Fugir? Eu? Desses lixos que sequer merecem ser chamados de humanos? 

    Uma risada emergiu de suas entranhas, quebrando o silêncio que pairava sobre os campos. Os homens, confusos, trocaram olhares enquanto Aurora, segurando o estômago de tanto rir, desafiava o momento.

    — O que é tão engraçado, sua lunática? Quer que eu acabe com esses pivetes de uma vez!?

    — Mate-os, torture-os, pouco me importa! — Os olhos ciano se arregalaram e um sorriso de orelha a orelha estava estampado em seu rosto. — Conseguiram, realmente me fizeram mergulhar em um estado patético… Mas isso termina aqui!

    Num impulso de ousadia, Aurora cravou as unhas em seu antebraço, dilacerando a pele até o pulso. Em sua mão direita, um círculo mágico azul,  ornado com padrões e letras indecifráveis, surgiu, revelando camadas de quatro anéis luminosos.

    Deixou o sangue escorrer no círculo mágico, transformando sua tonalidade de azul para vermelho, e colidiu a palma contra o solo.

    [Conjuração de quarto círculo: Alvorada do Véu Congelado]

    CABOOM!

    De enorme proporção, uma explosão surgiu, liberando uma névoa densa e gélida que envolveu a caravana e muito mais. O solo, outrora seguro, estava coberto de gelo, aprisionando os pés dos mercenários.

    Do chão, ergueram-se espinhos de mais de um metro, espalhados por todo lugar. Os homens mal conseguiam enxergar três metros à frente.

    — O quê!? — exclamou o ruivo, sacando a espada e golpeando freneticamente seus tornozelos presos.

    Como ela ainda tem mana para conjurar algo assim!? Preciso me libertar, ela já deve ter escapado!

    — Rápido, libertem-se! E não soltem essas crianças, são nossa garantia de sobrevivência! — ordenou o ruivo.

    Não houve resposta. Confuso, o ruivo observou ao redor, arregalando os olhos. Seus companheiros estavam transformados em estatuetas de gelo, e as crianças haviam desaparecido.

    As estátuas começaram a trincar e, rachadura por rachadura, despedaçaram-se, transformando aliados em destroços congelados. Uma sensação fria e latejante percorreu seu estômago.

    Gritos angustiantes e o som de carne sendo rasgada ressoaram pelo campo de batalha recém-formado. Marcus quebrou o gelo, empunhou a espada e caminhou com cautela pela névoa.

    — Droga, droga, droga! Precisamos enfrentar essa maldita junt… — começou a dizer, mas tropeçou.

    Levantou, apressado, averiguando o que o fez tropeçar e arregalando os olhos: a cabeça decepada de um de seus homens caída no chão.

    Balançou a cabeça em desespero, cerrou os dentes e correu.

    Incapaz de perder tempo parado, Marcus avistou a sombra de um colega lutando contra algo indefinido. O mercenário desferiu um soco, mas foi inútil. A figura, talvez Aurora, agarrou-lhe o punho e, com a outra mão, perfurou seu crânio de baixo para cima com uma adaga.

    Bam! [Perfura!]

    Se continuar assim ela vai matar todos nós, preciso atraí-la para perto!

    Ignorou o companheiro morto e seguiu o vulto. — Pare de se esconder de forma patética e apareça, sua vadia desgraçada! — Sua única era esperança provocar Aurora.

    Prestou atenção ao redor, e notou outro vulto de um aliado. — Ei, tome cuidado! Ela está a espreita! — avisou Marcus, correndo na direção dele.

    O homem tentou chutar alguma coisa, que agarrou sua perna em resposta e avançou, segurando sua cabeça com uma mão e o derrubando, sua testa atravessando um espinho de gelo.

    Marcus avançou sorrateiro na direção da sombra e, com um movimento ágil, perfurou o coração pelas costas.

    [Perfura!]

    — Peguei você! — declarou, confiante, a voz ecoando como um troféu conquistado. O suor frio que escorreu pela sua bochecha denunciou que algo estava errado. — Mas o quê…?

    Quem o encarou não era Aurora, mas sim um aliado, confuso por ser atacado pelo seu próprio companheiro. Engasgando no próprio sangue, o homem desabou, inerte no chão.

    A perplexidade tomou conta, uma teia de pensamentos confusos, quando, de repente:

    CRACK!

    O solo congelado, os espinhos pontiagudos e a neblina densa desapareceram em um estrondo ensurdecedor, revelando a verdade nua e crua da situação.

    Mercenários jaziam mortos, espalhados pelo chão. Cabeças decapitadas e estômagos dilacerados.

    A maioria estava tão próxima uns dos outros que as armas ensanguentadas se misturavam.

    Entre dezenas de corpos inanimados, três figuras permaneciam de pé, cercando Aurora, o meio-elfo e a dragoniana ao longe.

    Os três avançaram em uníssono, e Aurora respondeu com a mesma determinação.

    Apesar da perplexidade que ainda assombrava Marcus, um sorriso esperançoso aflorou em seu rosto ao observar a vantagem numérica.

    Aurora embainhou suas adagas e avançou ao mesmo tempo que os malfeitores. Agachada, girou com destreza. Da palma de suas mãos, uma espada larga e intimidadora emergiu, e em um arco preciso, cortou através de suas cinturas.

    Slash!

    O sorriso de Marcus se desfez com a metade dos corpos de seus companheiros, que caíram no chão em um espetáculo macabro.

    Aurora apenas se manteve de pé, recusando-se a ficar de joelhos e mantendo um sorriso sádico em seu rosto.

    Apenas Marcus havia sobrado com vida.

    A conjuração anterior provavelmente foi um tipo de ilusão, nos forçando a lutar uns contra os outros…! Ela aproveitou essa brecha para atacar os homens que estavam distraídos! Essa maldita… O que é essa intenção assassina tão intensa? Quantas pessoas essa vadia já matou?

    Marcus continuou ao observar Aurora de longe, o suor escorrendo pela bochecha. Aurora fraquejou, caindo de joelhos. Essa foi a confirmação que Marcus precisava.

    O ruivo ignorou o meio-elfo e a dragoniana, avançando na direção da garota de cabelos brancos. O garoto, trêmulo, se levantou entre Marcus e Aurora, estendendo os braços para protegê-la.

    Um punhado de cabelo foi agarrado, e um soco cruel desferido. O garoto cambaleou. A garota de chifres se aproximou para intervir, mas recebeu um chute no estômago que a fez recuar.

    Em um golpe impiedoso, a sola da bota atingiu o abdômen de Aurora, derrubando-a na grama. Marcus pisoteou maliciosamente a ferida em seu estômago, forçando o sangue a jorrar.

    — Foram mais de quinze dias tentando capturar você, mais de uma maldita quinzena! — vociferou, pressionando a sola da bota com mais força. — Tem ideia do prejuízo causado ao nosso senhor por aniquilar todos esses homens!?

    Diante da angustiante situação, Aurora sorriu.

    Esse simples gesto fez Marcus parar por um instante, confuso e irritado. Sua expressão se contorceu de ódio.

    — Você se acha bastante, não é mesmo, sua meretriz? Vamos ver por quanto tempo pretende manter esse seu maldito sorriso! — rosnou, suas mãos deslizando por entre as coxas da mulher.

    Antes que pudesse ir além, os irmãos agarraram os braços de Marcus, usando suas forças restantes para arrasta-lo longe de Aurora.

    — Crianças insolentes! — rugiu Marcus, largando Aurora por um momento para encarar os dois.

    Seu cotovelo atingiu o nariz do garoto loiro, cujo rolou várias vezes pela grama. A dragoniana tentou lutar, mas foi empurrada contra o chão, gemendo de dor ao bater as costas.

    — Vocês acham que podem me parar? — zombou Marcus, chutando o meio elfo no estômago e forçando-o a se encolher de dor. — Vocês não são nada! Nada!

    Os dois só podiam proteger a cabeça enquanto Marcus continuava com seus chutes e socos impiedosos, rindo ao ver as expressões de medo e impotência.

    Depois de alguns minutos, cansado da “brincadeira”, ele os deixou no chão, ensanguentados e imóveis. Sua atenção voltou para Aurora, que ainda estava caída na grama.

    — Agora, onde estávamos? Ah, é claro, eu estava prestes a explorar essa pele pálida queimada pelo sol! — falou, agarrando a blusa dela e começando a puxá-la para cima, revelando o estômago enfaixado e parte dos seios.

    Bam!

    Um chute atingiu o rosto de Marcus, que cambaleou pela grama. Virou o rosto, irritado, limpando o sangue da boca, se deparando com um jovem vestido de maneira peculiar.

    O rapaz trajava uma camisa justa, preta, calças jeans azul-escuro presas por um cinto e um par de tênis negros. Um cordão pendia em seu pescoço.

    — Seu maldito, de qual buraco você saiu!?

    Isso não é português, tailandês, e muito menos inglês. E ainda assim, entendo tudo o que ele diz...

    Hazan coçou a cabeça, relembrando os eventos recentes. — Eu? Eu estava naquela floresta, vagando sem rumo, até que do nada me vi sendo perseguido por uma espécie de urso maluco.— Fez um gesto afirmativo com o polegar. — Como sou muito rápido, consegui escapar dele! Maneiro, né?

    A veia pulsou na testa, Marcus ergueu um sorriso ao se pôr de pé, desembainhando a espada com entusiasmo. — Hehe, você deve ser um enviado dos céus para aliviar minha raiva!

    ROARRRR!

    Um rugido monstruoso ecoou pelos campos selvagens, desviando a atenção para a floresta. Das árvores, emergiu uma criatura semelhante a um urso, cuja pelagem negra contrastava com escamas vermelhas pelo corpo. Chifres retorcidos, parecidos com galhos antigos, balançavam enquanto a besta avançava, o solo tremendo sob suas patas.

    Hazan fez uma careta. — Acho que não sou tão rápido quanto pensava.

    Perdidos diante da feroz investida do urso, ambos viram alguém se interpor entre eles e a criatura.

    Cabelos negros desgrenhados, olhos cintilantes em um azul profundo. Vestia uma armadura de couro e panos, com ombreiras e um capuz de malha. Barba cerrada e olhos penetrantes definiam o guerreiro que caminhava sereno em direção ao urso, desembainhando a espada das costas com calma.

    SLASH! WOOSH!

    Num piscar de olhos, o corpo do urso jazia inerte no chão, sua cabeça separada por um corte limpo.

    Os farrapos que ocultavam uma das gaiolas das carruagens esvoaçaram pela força do ataque, revelando diversas crianças e adultos em seu interior.

    Aquele homem encarou a criatura com indiferença, exalando uma aura distinta dos outros mercenários. Sua mão envolvia uma espada longa, coberta por uma fina camada de aura azul, sem vestígios de sangue na lâmina.

    Atrás das caravanas, uma carruagem luxuosa, pintada de vermelho e dourado, era conduzida por uma criatura reptiliana alada.

    A porta de madeira se abriu, e um homem robusto, de cabelos castanhos escuros alisados para trás e enorme bigode, surgiu. — Vocês realmente têm azar, hmm! — comentou, alisando o bigode enquanto escaneava o local. — Hehe, então a polariana conseguiu dar cabo de todos esses homens? Como esperado da realeza de Glaciem.

    — Se-Senhor William e Senhor Edgard…? — Marcus gaguejou.

    Edgard se aproximou dele, entregando uma poção. — Dê isso a polariana. — Encarou a blusa de Aurora erguida acima do umbigo e encarou Marcus com desprezo. — Não consegue seguir uma simples ordem? Você é patético.

    Observando o que estava acontecendo, Hazan fitou uma gaiola cheia de pessoas, algumas magras, outras feridas, mas todos contendo rostos tristes e desolados.

    Apesar da ofensa, Marcus fez que sim e obedeceu, agarrando no rosto da garota e forçando-a a tomar a poção. No entanto, Aurora cuspiu o líquido em seu rosto, frustrando o mercenário.

    — Você…!

    Surpreendido pela ousadia, William apoiou a mão na barriga e começou a rir. — Há! Há! Há! Polarianos não são fáceis de lidar, garoto. — Encarou os dois jovens caídos no chão ao lado de Aurora, julgando-os com um olhar perspicaz. — Parece que você conseguiu bons produtos, Marcus. Coloque-os em uma das gaiolas, vou fingir que nunca tentou manchar minha preciosa Aurora.

    Edgard, aquele desgraçado, ele mentiu pra mim!?

    O ruivo encarou Edgard, mas desviou o olhar por medo. Acenou após o comentário de William e se moveu na direção das crianças, mas antes que pudesse agir, Hazan se colocou entre eles.

    William esboçou um sorriso falso, alisando o bigode e dirigindo sua atenção a Hazan. — Bem, bem, vejo que temos um herói aqui. Muito admirável. No entanto, você deveria reconsiderar suas ações. Esta não é uma situação para intervenções impulsivas.

    Hazan encarou William, os olhos firmes, avançando um passo. — Se acham que vou assistir de camarote essa covardia, estão muito enganados.

    William suspirou, deixando transparecer uma pitada de desânimo em seu rosto. — Vejo que sua convicção é firme, e por respeito, irei lhe oferecer um conselho. Talvez você não esteja ciente das consequências de interferir em um assunto que não é problema seu.

    Hazan não cedeu. — Eu sei o suficiente para reconhecer quando algo está errado.

    A atitude solene do homem sumiu. Os olhos se tornaram afiados e arrogantes, comparada com a calma que ele demonstrava antes.

    — Céus! Maldito bárbaro, você não percebe a sua situação? Edgard! Se livre dele e guarde suas roupas. Elas parecem ser de ótima qualidade.

    — Como quiser, meu senhor.

    Os olhos de Hazan se encontraram com os de Edgard, que revelavam desinteresse.

    Num piscar de olhos, Edgard desapareceu, aparecendo diante do jovem. Uma joelhada poderosa encontrou o estômago de Hazan, fazendo-o deslizar pelo solo.

    Não vi ele se aproximar!

    O jovem se ergueu, mas o guerreiro já tinha desaparecido de novo. Um chute firme atingiu suas costas, e dessa vez tombou para frente, colecionado várias escoriações pelo corpo.

    — Agindo com tanta arrogância quando você é tão fraco? Isso é decepcionante, garoto.

    Hazan se levantou pela segunda vez. Respirou fundo e concentrou seu olhar em Edgard.

    Se minha força fosse a mesma de quando enfrentei as estátuas, eu não teria muitos problemas… Beleza! É a oportunidade perfeita pra testar minhas habilidades.

    Ele uniu os punhos junto ao rosto, flexionou levemente os joelhos, abaixou a cabeça para proteger o queixo e aproximou os cotovelos para resguardar as costelas.

    O guerreiro levantou uma sobrancelha.

    — Aí, se tu não quiser se machucar, é melhor sacar essa espada — aconselhou o lutador com um sorriso no rosto.

    — Essa é uma excelente piada — retrucou o guerreiro.

    Certo, esse cara derrotou uma criatura colossal com um único movimento. Não posso cometer erros! Vou usar jabs curtos para medir a distância e finalizar com um direto bem no queixo!

    Hazan avançou contra Edgard, lançando uma sequência de jabs velozes, todos habilmente esquivados pelo guerreiro. Em resposta, Edgard desferiu um soco certeiro no estômago de Hazan, deixando-o sem ar.

    Aproveitando a abertura, Edgard agarrou Hazan pela nuca e desferiu uma joelhada, desta vez atingindo o nariz do jovem, o sangue jorrando na mesma hora.

    Bam!

    Uma rasteira veloz desequilibrou Hazan, projetando-o ao solo. Edgard colocou seu pé sobre o peito do jovem.

    — Este cordão é muito encantador.

    Agarrou o cordão e o rompeu, examinando-o de perto. Retirou o pé de cima de Hazan e desferiu um chute certeiro em seu estômago, fazendo-o rolar pelo chão.

    Seus olhos foram atraídos pelo cristal alaranjado e a folha de carvalho no centro do cordão.

    — Ei… Devolva.

    Hazan já estava de pé, e sua expressão não era nada contente.

    — Hmm, essas devem servir. — Ignorando o rapaz, Edgard pegou duas espadas que estavam no chão, lançando uma na direção de Hazan. — Pensa rápido!

    Surpreendido, o rapaz empunhou a espada, e num piscar de olhos, Edgard avançou, suas lâminas encontrando-se em um estrondo metálico.

    Clang!

    — Já que queria tanto uma espada, por que não demonstra do que é capaz?

    Edgard forçou o encontro das lâminas para o alto, faíscas voaram pelo ar, e Hazan cambaleou sob a força do impacto. Em seguida, avançou numa sequência veloz de cortes.

    Não posso perder a calma. Analise os hábitos, a distância dos golpes, o movimento dos músculos!

    Alguns golpes eram defendidos de forma hesitante, mas a maioria encontrava seu alvo, mirando nos braços e antebraços de Hazan, deixando cortes superficiais, um exemplo claro da disparidade entre eles.

    Clang! Swin! Clang!

    Hazan tentou uma estocada, mas a espada de Edgard foi ágil, deslizando a lâmina até o cabo da espada do rapaz e forçando-a para baixo.

    Em um giro repentino, Edgard acertou um chute no centro do peitoral de Hazan.

    Bam!

    Cedendo, o lutador cambaleou para trás, apoiando-se de joelhos e colocando a mão na barriga.

    Sinto como se minhas costelas estivessem prestes a quebrar após aquele último ataque… Esse cara só está brincando comigo, não que isso importe agora. Eu já entendi.

    O rapaz largou a espada, se ergueu e sorriu, chamando Edgard com o indicador. Seus olhos brilhavam em um tom de laranja incandescente.

    — Você é bem atrevido. Muito bem, farei o que deseja!

    A atmosfera mudou.

    O solo tremeu com a avanço do guerreiro. Hazan afastou as pernas e investiu contra seu oponente. Edgard deslizou a lâmina pela grama, rasgando o solo, levando-a em direção ao rapaz.

    Acostumado à distância da arma, Hazan agachou segundos antes da lâmina atingir seu rosto. A espada deslizou pelo pescoço, subindo até a bochecha, causando um corte.

    Edgard arregalou os olhos.

    Ele viu através da minha técnica!?

    Ao errar o ataque anterior, o braço de Edgard estava elevado, deixando o flanco vulnerável.

    Hazan emanava uma sede de sangue enorme. Seu punho avançou contra o flanco do guerreiro.

    Edgard girou a lâmina da espada, suas feições tornando-se focadas, e seu corpo envolto por uma fina camada de aura azul. Desceu o cabo da espada contra a nuca de Hazan.

    Bam!

    O jovem tombou na grama, e seu corpo cedeu. Toda a sua energia foi arrancada num único instante.

    Edgard observou o garoto caído com desdém.

    — Tsc… acabei usando aura contra esse sujeito… — O comentário saiu em um tom baixo, uma advertência para si mesmo.

    Deu um passo à frente, relaxando o aperto na lâmina. Não havia pressa; Hazan estava desacordado. Mas algo chamou sua atenção: o punho esquerdo do rapaz. Cerrado com força, tremia levemente, resistindo mesmo na inconsciência.

    Edgard franziu a testa. Passou os dedos pela armadura, depois pelos bolsos, procurando o cordão que havia tomado de Hazan durante o combate. Nada. Vasculhou mais uma vez, agora com uma urgência crescente.

    — Não pode ser… — murmurou.

    Seus olhos caíram sobre o punho de Hazan. Sem acreditar, abaixou e tentou abrir a mão do jovem. Os dedos estavam rígidos.

    Mesmo inconsciente… Que força absurda.

    Após um momento de esforço, conseguiu desfazer o aperto. Lá estava: o cordão, brilhando suavemente sob a luz. Segurou o objeto entre os dedos, estreitando os olhos enquanto estudava o rosto sereno de Hazan.

    — Quando pegou isso de volta? — A voz estava surpresa, e um sorriso involuntário surgiu. 

    Esfregou a própria barba cerrada, mas não teve muito tempo para ponderar. Uma pontada de dor o fez vacilar. Recuou um passo, pressionando o lado do corpo com a mão livre. A memória do golpe de Hazan voltou, um flash momentâneo.

    Aquele ataque… mal me atingiu em cheio, e ainda assim causou isso? Acabei de ascender para um pujante avançado, algo assim não deveria me ferir.

    Edgard lançou outro olhar para Hazan. A expressão, antes superior, agora estava carregada de algo mais inusitado: sadismo. 

    Ah… Quero lutar contra ele outra vez, mas com esse potencial, William definitivamente vai me pedir para eliminá-lo. É realmente uma pena.

    — Tsc… Porcaria.

    O suspiro revelou a decisão tomada. Edgard firmou os pés no chão, ergueu a espada e a apontou para o pescoço do jovem. O corte seria rápido, eficiente.

    — Espere, Edgard — ordenou William. — Este rapaz possui um talento notável para o combate. Levá-lo para a fortaleza não seria má ideia.

    Se esforçou para conter a satisfação interior. Guardou a espada e acenou. — E quanto aos corpos dos guardas contratados?

    — Queime todos. O cheiro deve atrair bestas famintas para limpar essa sujeira. Contratar esses miseráveis foi desperdício de dinheiro, é por isso que não se deve confiar em gente sem origem.

    O guerreiro assentiu, fazendo um gesto cordial, um sorriso de canto brincando em seus lábios.

    — Se é o desejo do meu cliente, farei com prazer.

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