Índice de Capítulo

    Hazan não havia gritado por mero acaso. No momento em que subiu a escadaria de pedra, um som familiar irrompeu em seus ouvidos: ding!

    [Sistema Ascend]

    [Missão: As Intrigas da Confraria 1/3]

    [Sobreviva ao cerco e obtenha sucesso ao interrogar membros da Confraria da Sorte]

    [Recompensa principal: Vislumbre do Passado]

    [Recompensas adicionais: Vínculo aprimorado com o Coração de Ehdoton, Fragmento Vermelho de Memória, Slot para Dom desbloqueado]

    [0/60]

    [Penalidade por falha: Morte imediata]

    [Por aceitar a missão pessoal de um Arconte, você obteve acesso parcial ao sistema!]

    Entre ler a missão e perceber a gravidade da situação, não se passaram mais que três segundos, tempo suficiente para o velho cão de Pavlov dentro de Hazan começar a latir.

    Seu corpo já sabia: a vida estava em risco.

    E havia um obstáculo a ser superado.

    — Vem pra cima que aqui é pau pra toda obra!

    O primeiro a subir foi recebido com uma cotovelada direta no rosto. Antes mesmo de cair, um chute frontal acertou seu estômago e o lançou de volta, derrubando os outros pela escadaria abaixo.

    Isso lhe renderia algum tempo.

    [Golpe bem-sucedido! Proficiência com Muay Thai aumentou em 0.1%!]

    Isso é novo. Se eu completar essa missão, aposto que consigo ver minha janela de atributos e saber o quanto evoluí!

    A diferença entre a caça e caçador era só perspectiva. E Hazan, mesmo sendo seguido, escolheu ser o predador que luta por sua vida ao ser encurralado.

    Virou bruscamente à esquerda, entrando em um beco estreito onde as paredes quase tocavam seus ombros largos.

    O cheiro de ferrugem, mofo e urina impregnava aquele beco.

    Havia caixas de madeira empilhadas em um canto.

    Parou no final do corredor e esperou, levantando a guarda. Não demorou muito para a multidão avistá-lo, e vários deles adentrarem aquele espaço fino.

    Pode vir cem de vocês, eu sempre vou enfrentar os três primeiros da fila!

    Uma gota de suor escorria pela bochecha, mas o sorriso ainda estava presente.

    Eu não posso ser cercado. Vou diminuir seus números aos poucos e aproveitar pra cansá-los no processo. 

    O primeiro da fila veio com uma barra de ferro. 

    Usou o pêndulo, deixando o ataque horizontal passar por cima da cabeça, e contra-atacou com um gancho na boca do estômago.

    [Golpe bem-sucedido! Proficiência com Muay Thai aumentou em 0.1%!]

    O impacto o lançou para trás, desequilibrando os dois que vinham logo após.

    Hazan se adiantou com um direto que estalou o nariz do outro homem. No mesmo movimento, agarrou a cabeça do agressor e a impactou contra a parede.

    [Golpe bem-sucedido! Proficiência com Muay Thai aumentou em 0.1%!]

    Não esperou. Escalou os caixotes de madeira e pulou para o outro lado do beco, deixando para trás os inimigos nocauteados.

    O beco seguinte dava para mais uma escadaria estreita, que serpenteava morro acima. A cada degrau vencido, o cenário se tornava mais decrépito.

    As casas, amontoadas umas sobre as outras, eram remendos precários de madeira apodrecida, cujos telhados eram folhas grossas de couro amarradas com cordas.

    Algumas pareciam prestes a desabar com um simples sopro de vento. Outras já tinham cedido, virando escombros invadidos por musgo e ervas-daninhas.

    E nenhuma alma à vista. O lugar era tão grande, não fazia sentido ficar mais vazio conforme subia.

    Atrás dele, vozes xingavam, ameaçavam.

    Mais dois saíram do nada, e uma lâmina quase beijou seu olho.

    Recuou no último instante, não o suficiente para sair ileso, mas o bastante para manter o globo ocular inteiro. A faca riscou sua bochecha, deixando um belo corte superficial. 

    Em resposta, afundou um soco seco no peito do bandido, deixando-o sem fôlego e abrindo caminho.

    O outro agressor tentou acertá-lo com um facão, mas usou o pêndulo de forma rápida. Avançou por entre eles como um raio, o sangue quente escorrendo pelo rosto.

    Era exatamente o que imaginava: bater de frente com uma multidão era suicídio. Aquilo exigia cabeça fria, corpo solto e golpes com propósito. Precisava escolher bem suas armas, e nesse momento, suas armas eram as técnicas.

    Dentre elas, havia algumas que se encaixavam perfeitamente naquela situação.

    O corredor estreito abafava o som dos inúmeros passos.

    Hazan parou de frente para os três primeiros da fila. Estavam armados, famintos por violência. O da frente segurava com duas mãos um enorme martelo sujo com sangue seco. Um sorriso torto se abriu no rosto do homem, como quem já tinha vencido antes de começar.

    — Tá encurralado, garotão! — disse, apertando o punho envolta do cabo. — Encontramos ele! Venham aqui, rápido! — gritou ele, chamando os companheiros próximos.

    O lutador apenas flexionou os joelhos, olhando fixamente para os olhos dele.

    O bandido avançou com um grito rouco, erguendo o martelo, mas algo quebrou o ritmo. Seus passos vacilaram no meio da investida, e uma dor cortante atravessou sua coxa como uma descarga elétrica.

    Ele recuou cambaleante, sem entender de onde tinha vindo o golpe.

    Nada parecia ter acontecido. O garoto estava ali, parado, a postura firme e os olhos exibindo uma serenidade perturbadora.

    — O que foi? — indagou o lutador com um sorriso debochado. — Cadê a coragem de antes?

    O homem rosnou e tentou mais uma vez, mas dessa vez, seu grupo o acompanhava.

    Foi quando Hazan deslizou o peso para a perna esquerda e chicoteou a direita num movimento preciso, direto na panturrilha do sujeito.

    [Chute baixo!]

    O bandido desabou com uma perna só.

    Nesse instante, outro criminoso tentou a sorte, abrindo os braços para agarrar o jovem feroz. O rapaz manteve a distância com um chute frontal, e quando o homem segurou a barriga com dor, encurtou a distância com uma joelhada certeira. 

    Sangue esguichou do nariz quebrado.

    De repente, um pedaço grosso de telha se quebrou nas costas de Hazan, fazendo-o cambalear.

    Crack!

    O sorriso triunfante do agressor desmoronou quando o lutador o encarou por cima dos ombros.

    O rapaz girou o tronco, explodindo a perna em um chute alto. O crimonoso desmaiou na mesma hora.

    Dois bandidos foram atraídos pelo barulho, buscando atacá-lo ao mesmo tempo. Mas Hazan sempre esquivava e atingia chutes baixos nos mesmos lugares.

    Quando ficaram cansados, foram finalizados com um gancho e um direto.

    O low kick (ou chute baixo) no Muay Thai é um chute direcionado geralmente para a coxa do oponente, mais especificamente a parte externa da perna da frente. 

    Ele enfraquece a base do oponente, diminui sua mobilidade e abre espaço para outros golpes. O chute bate com a canela, e não com o pé, pois isso gera mais força e evita lesões.

    Quando bem aplicado, é como tirar o pilar de uma casa: o oponente desaba num piscar de olhos.

    A ideia era simples: se os da frente andassem mancando, os de trás iam tropeçar neles. E com uma multidão tentando pegar seu couro, isso transformava o beco numa fila de dominós prestes a cair.

    Hazan não podia exagerar no giro, o joelho esquerdo ainda reclamava desde a luta contra o Korgar, mas isso não importava.

    Desde que fosse capaz de alongar aquele cerco, estaria na vantagem.

    E num terreno apertado, onde ninguém podia se espalhar, esse tipo de golpe se tornava ainda mais letal.

    A estratégia se repetia. Corria, usava o chute baixo, buscava um nocaute, e tomava distância.

    [Sistema Ascend]

    [Missão: As Intrigas da Confraria 1/3]

    [Sobreviva ao cerco e obtenha sucesso ao interrogar membros da Confraria da Sorte.]

    [Recompensa principal: Vislumbre do Passado]

    [Recompensas adicionais: Vínculo aprimorado com o Coração de Ehdoton, Fragmento Vermelho de Memória, Slot para Dom desbloqueado]

    [20/60]

    Beleza… Se continuar assim, eu vou ser capaz de concluir essa missão em breve!

    Apesar disso, não é como se tivesse saído ileso. Um corte no supercílio, outro na bochecha, um hematoma no antebraço, os punhos começando a ficar doloridos. 

    Estava descansando no terreno de uma casa abandonada. Tinha mato seco, pedras soldas e pedaços de madeira jogados.

    Respirava com dificuldade, as costas apoiadas na madeira da construção. O peito subia e descia, a camiseta rasgada grudava no corpo suado. O sangue seco coçava, a poeira arranhava a garganta.

    — Hehe, acho que consegui despistar eles. Posso descansar um pouco aqui e depois fugir…

    Ele fechou os olhos.

    Bam!

    Não deu tempo para pensar. Uma dor aguda explodiu em suas costas iguais a ferrões de vespa. O rapaz grunhiu, o corpo tombando para frente com o impacto. Pregos enferrujados haviam rasgado a pele entre os ombros.

    — Peguei! — rosnou uma voz às suas costas, triunfante.

    O homem arfava de excitação, segurando bastão de madeira com os pregos gastos e sujos ainda presos. Tinha um sorriso torto no rosto, daqueles que já saboreavam a vitória antes do prato esfriar.

    — Ele tá todo arrebentado… Não sei como derrotou tanta gente, mas… olha pra você. Esse é o fim, garotão!

    Outros surgiram. Se esgueirando pelas frestas do muro derrubado, invadindo o terreno como corvos em busca de carne.

    Dez ao todo. Armados, confiantes. A maioria já suada de ansiedade, olhos famintos, sedentos por terminar o serviço.

    Hazan permaneceu ajoelhado, ofegante, encarando o chão.

    — Aposto que não esperava por essa, hein? — provocou o homem, rindo com os comparsas. — A gente conhece o nosso território, garoto. Vocês nos subestimou!

    Silêncio foi a resposta.

    Então, lentamente… se levantou.

    As pernas estavam firmes demais para alguém derrotado.

    O ombro direito se moveu primeiro. Depois o esquerdo. Um movimento de quem retoma o controle do próprio corpo.

    Quando finalmente se virou, o rosto do lutador ainda estava coberto pelas sombras da tarde, mas o sorriso surgindo no canto da boca era claro como o amanhecer.

    O bandido deu um passo atrás, engolindo em seco.

    Hazan o encarou.

    O homem, confuso, olhou para a própria arma.

    Os pregos estavam amassados.

    Sua respiração travou.

    O quão dura são as costas desse garoto…?

    Essa simples dúvida foi o suficiente para causar medo, mas o que veio depois foi o último prego no caixão:

    — Eu estava esperando vocês — murmurou Hazan, sua voz tranquila.


    Aurora mantinha as pernas cruzadas sobre a cama estreita da pousada, as costas eretas e os dedos entrelaçados repousando em seu colo. A respiração era ritmada, profunda. Na superfície, parecia estar em meditação. Mas dentro, o caos era constante.

    O quarto estava silencioso. As cortinas tampavam as janelas, lançando luzes suaves pelas paredes. Ao lado da única escrivaninha daquele cômodo, a Nevasca repousava junto com o seu par de adagas.

    Puxou o ar pelo nariz, lentamente. Um fluxo leve de mana começou a circular do centro de sua mente em direção ao corpo. A energia deveria ser suave, fluída, como água deslizando por pedras lisas. 

    Mas o que sentia era resistência. Uma corrente trêmula, forçada, tentando atravessar um rio cheio de lama e impurezas.

    Consegui retornar para o terceiro círculo depois de um ano inteiro… Isso sequer chega perto de ser o suficiente para resolver os meus problemas.

    Suas veias de mana estavam danificadas. E isso era mais do que o suficiente para atrasar qualquer progressão que pudesse ter.

    Um zumbido agudo percorreu o crânio. Ela cerrou os dentes, suportando. A sensação vinha direto do núcleo de três círculos alojado bem no centro de sua mente. Tinha sido danificado há cerca de um mês. E desde então, não podia desfrutar dos benefícios de ser uma Cognata, como o raciocínio rápido e as múltiplas conjurações. 

    Inspirou mais uma vez. Forçou a mana pelas veias, espremendo o máximo que conseguia, como se apertasse um músculo ferido só para testá-lo.

    E então veio a resposta.

    Engasgou. A garganta contraiu com um sabor metálico. Inclinou-se para frente e cuspiu no chão: uma gosma preta, densa como óleo queimado.

    — De novo — murmurou, limpando a boca com as costas da mão.

    Não havia surpresa no tom. Apenas cansaço e frustração. Observou o escarro escorrendo lentamente pelas tábuas do assoalho. O veneno ainda estava ali, preso entre as dobras da carne e das veias, como se se recusasse a sair. Como se tivesse se tornado parte dela.

    Dessa vez não consegui remover muito… Primeiro o veneno, e depois uma maldição de escravidão… Isso é azar ou punição? Não importa, vou achar uma forma de resolver os dois.

    Ao menos sabia a origem da maldição. Mas o veneno ainda era incerto.

    Nenhum dos “especialistas” deram uma resposta concreta. Alguns nem percebiam o que realmente corria sob sua pele.

    Ela fechou os olhos, os dentes cerrando involuntariamente, e os dedos crispando levemente sobre o tecido da cama. Bastava lembrar para o sangue começar a ferver.

    Não pôde reagir. Não pôde gritar. Apenas sentiu o gosto terroso e amargo escorrer pela sua garganta quando foi obrigada a beber o frasco desconhecido.

    Mas cometeram um erro. O maior de todos.

    Deixaram-na viver.

    E isso virou uma sentença. Enquanto respirasse, transformaria cada passo numa caçada. Um por um. Todos eles. Iriam sangrar, lenta e cuidadosamente.

    Mas se continuasse assim, levaria anos para alcançar de novo o sexto círculo. E sem isso, não poderia acessar sua Zona, e muito menos despertar sua Gênesis.

    Do jeito que estava, mal conseguia lançar conjurações de segundo círculo sem se cansar.

    Idiota.

    Cerrou o punho com força, apoiando-o sobre o próprio joelho.

    Você usou energia vital para conjurar um feitiço de quarto círculo… o que estava pensando?

    A lembrança veio nítida. Marcus. Os Campos Bestiais. Cercada. O tempo se esgotando. Ela não pensou, apenas forçou a conjuração a sair, como se pudesse vencer as leis naturais na base da teimosia. 

    E o pior: continuou usando magia depois disso. Várias vezes, durante as missões com Hazan. Um acúmulo de riscos que agora cobrava o preço.

    Soltou o ar devagar, com um assobio cansado.

    O corpo ainda doía. A mente, mais ainda.

    Desfez a postura. Descruzou as pernas e escorregou até a beirada da cama, os pés nus tocando o chão. Os cabelos caíram sobre o ombro, cobrindo parte do rosto. Ela os afastou com um gesto automático.

    Do lado da cama, entre a mochila e um par de botas gastas, havia um mapa dobrado.

    O olhar de Aurora pousou sobre ele.

    — Sohen… — sussurrou para si mesma.

    Um nome. Um lugar. Talvez a última chave que ainda restava.

    Sohen, capital do reino de Wurid. O coração dourado do continente de Absolis. Próspera, cheia de recursos, protegida por muralhas e interesses econômicos. E, segundo as pistas que colecionava em silêncio, era ali que eles tinham deixado rastros pela última vez.

    O último fio.

    Ela se curvou para pegar a mochila junto com o mapa, desenrolando com cuidado. As rotas marítimas estavam marcadas a lápis, riscadas de forma precisa. Em breve, quando a Guilda Pena Azul pagasse a última parcela do contrato, poderia finalmente comprar a passagem de navio para o norte.

    Mais uma viagem. Mais perguntas. Mais riscos.

    E talvez, algumas respostas.

    Guardou o mapa de volta. Encarou seu caderno de anotações e até pensou em pegá-lo, mas não o fez. Endireitou-se. Os olhos voltaram ao escarro negro no chão.

    Precisava ser mais rápida. O veneno se espalhava devagar, mas era implacável. Se continuasse assim, poucos meses seriam o bastante para acabar com os requícios de esperança que lhe restavam.

    Estava pronta para morrer, mas não antes de cumprir com um único objetivo.

    Não posso perder mais tempo.

    Abaixou a cabeça, fechando os olhos novamente. E, com um pouco mais de cautela, recomeçou a circulação da mana. Mesmo com a dor. Mesmo com o cansaço. Mesmo sabendo que, naquela noite, também não conseguiria muita coisa.

    Mas antes que pudesse se concentrar de verdade…

    Toc! Toc! Toc!

    Franziu a testa, irritada. O fluxo de mana que começava a estabilizar quebrou, dissolvendo-se dentro dela como névoa dispersa. Apertou os olhos por um segundo, contendo o impulso de xingar quem quer que fosse, e andou em direção à porta.

    Girou a maçaneta com firmeza e escancarou.

    Aspen e Lunna estavam ali. Ofegantes. Roupas desalinhadas. Os olhos arregalados de preocupação.

    — Ele está em perigo! — disse Aspen sem rodeios.

    Aurora arqueou uma sobrancelha. A outra mão repousava contra o batente da porta.

    Quem, exatamente?

    — O Hazan! — completou Lunna, a voz quase trêmula. — Ele… ele ficou pra trás! A gente tentou ajudar, mas ele mandou a gente correr! Tem… tem um monte de bandidos indo atrás dele! Aurora, ajuda a gente!

    Aurora soltou um suspiro audível e virou os olhos.

    — E vocês vieram correndo até aqui por isso?

    — É sério! — insistiu Aspen, dando um passo à frente. — Aquele idiota ficou sozinho pra segurar mais de quarenta homens nos becos dos subúrbios! Eles estão atrás dele agora mesmo!

    A polariana cruzou os braços e se recostou levemente no batente. Os olhos ciano não demonstravam pressa, nem preocupação.

    — Hazan sabe se virar. Vocês viram do que ele é capaz na fortaleza. Não é o tipo de pessoa que morre fácil. — Sua voz era firme. — E mesmo que fosse… que tipo de responsabilidade vocês acham que eu tenho nisso?

    Aspen hesitou. Lunna apertou os punhos. O silêncio deles foi resposta o suficiente.

    — Parece que confundiram as coisas. Não sou parente dele. Não tenho qualquer dívida, laço ou obrigação moral. — O tom agora beirava o cortante. — A única razão pela qual ainda estamos juntos é por causa da maldição. E mesmo essa… está longe de ser uma escolha. 

    As palavras caíram pesadas.

    Os dois jovens a encaravam como se não estivessem escutando aquilo de verdade, ou como se quisessem desesperadamente que fosse mentira.

    Lunna, especialmente, parecia lutar contra o próprio instinto de gritar. Mas não havia espaço para indignação naquele corredor. Apenas a realidade nua.

    — Ele confiou na gente… — disse Aspen, mais baixo agora.

    Mas Aurora sequer respondeu. Apenas os observou em silêncio, como quem pondera por segundos se uma pedra jogada num rio vale a pena ser retirada.

    Internamente, os pensamentos da polariana já estavam concluídos.

    É inútil. Essa luta nos subúrbios não oferece nenhum retorno, e se envolver nisso só trará riscos. Se eu fosse morta ou ferida, qualquer chance de prosseguir com o meu objetivo principal seria perdida.

    Isso é o que realmente importava. Ela havia sido treinada para isso. Racionalizar. Eliminar distrações. Calcular riscos.

    E Hazan era a própria definição de risco.

    Ela observou os irmãos se virarem, derrotados. O som dos passos de ambos começou a ecoar pelo corredor. Mas algo, bem no fundo, talvez um resquício de algo que preferia negar, a impediu de fechar a porta.

    Um lampejo de lembrança. A forma como Hazan, mesmo quebrado e ferido, se recusou a soltar sua mão quando ambos estavam prestes a cair num vazio sem fim naquela maldita masmorra.

    Aurora fechou os olhos. Respirou fundo. E, como se fosse contra sua própria natureza…

    — Esperem — disse ela, firme.

    Os dois pararam de andar.

    Poucos segundos depois, Aurora saiu do corredor, vestindo a Nevasca e as ombreiras pretas, com o seu par de adagas na cintura.

    Eles podem ser dezenas, mas só um importa. O subúrbio pode não ser tão perigoso para Hazan, mas é diferente quando se trata de quem manda nele. Se aquele idiota está causando problemas em seu território, é questão de tempo até ele aparecer. E isso seria péssimo.

    — Mostrem o caminho — falou, com uma expressão entre a raiva e a indignação. —  Antes que eu mude de ideia.

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