Índice de Capítulo

    Quando a luz do sol bateu nos olhos de Aspen, eles tremularam. Os raios atravessavam as cortinas encardidas e desenhava padrões dourados no chão de madeira desgastado. 

    Aspen bocejou com preguiça antes de se erguer. Passou os dedos pelos fios desalinhados e alisou a blusa branca amarrotada.

    Nossa, que cheiro bom… Isso é sopa?

    Desceu os degraus devagar, alongando os braços e soltando mais um bocejo. O chão gelado contra a pele descalça varreu qualquer traço de sonolência.

    Zara e Rashid já estavam correndo no quintal, suas risadas infantis quebrando o silêncio tranquilo da tarde.

    Ao entrar na cozinha, encontrou Lunna sentada à mesa, distraída. Com a ponta da colher, mexia na sopa de arroz em sua tigela sem real interesse, enquanto apoiava o rosto no punho cerrado. Havia algo diferente em seu olhar — uma inquietação que apagava o brilho sagaz de sempre.

    Ele puxou uma cadeira e sentou ao lado dela, pegando um pedaço de pão, mergulhando em sua tigela de sopa e mastigando.

    — Boa tarde, dorminhoco… — Lunna o cumprimentou com um tom desanimado.

    — Nem é tão tarde, e por que você tá com essa cara feia?

    — Já faz dois dias, Aspen…

    Ele franziu a testa, confuso. — Dois dias desde o quê?

    Lunna apertou a colher entre os dedos, hesitando antes de encará-lo.

    — Desde que Hazan foi embora sem nem avisar… — Sua voz saiu num sussurro triste. — Eu… eu só queria saber se fizemos algo errado. E se ele não tiver gostado daqui? E se esse foi o motivo dele ter ido embora?

    Aspen arqueou as sobrancelhas, a indignação saltando instintivamente em sua voz.

    — Lunna, sério? Continua pensando nisso?

    Por dentro, um incômodo crescia, uma fagulha prestes a se tornar incêndio. Não queria admitir, mas também se pegava olhando para a porta, esperando ouvir passos familiares. Não queria admitir que, de alguma forma, havia criado laços com Hazan.

    Lunna o observou, percebendo a rigidez em seu tom. Então abaixou os olhos, brincando com o resto da sopa no prato.

    — Você acha que ele volta?

    Aspen desviou o olhar para o sol que avançava lentamente pelo chão. Pensou na presença marcante do lutador. Havia nele um ar de despedida constante, como se nunca pertencesse verdadeiramente a lugar nenhum.

    — Não sei. — Deu de ombros, a voz menos firme do que gostaria. — Mas se voltar, acho que vai estar com fome. Então, é melhor não deixarmos nossa cozinha vazia.

    Lunna esboçou um sorriso fraco, e Aspen agarrou-se a esse pequeno triunfo para seguir o dia sem o peso daquele assunto no peito.

    Logo após o café, afundou sofá da sala e abriu um livro. Mal teve tempo de virar a primeira página quando ouviu a voz de Cassandra chamando da cozinha. Suspirou, fingindo não escutar, mas o chamado veio outra vez.

    Se ela chamava, era porque tinha algo a ser feito. Desde cedo, se acostumou às tarefas que Cassandra lhe designava — e quase todas exigiam energia, paciência e tempo.

    Talvez seja só um pedido normal, como comprar pão ou algo do tipo…

    Quando chegou na cozinha, avistou Liara, de pé ao lado da mãe, que ajudava a organizar alguns mantimentos nos armários da cozinha. Seus longos cabelos castanhos caiam sobre os ombros, e os olhos âmbar, estavam tímidos e gentis como sempre. Quando avistou seu irmão, a garota exibiu um sorriso tímido, no qual Aspen retribuiu.

    — Meu bem, estava ocupado? — Cassandra se aproximou, conduzindo sua cadeira de rodas com calma. — Sei que costuma ler depois do café, não queria te atrapalhar.

    Aspen agitou as mãos, apressado. — A senhora nunca me incomodaria, mãe! P-pode dizer…

    Ela sorriu. — Zara e Rashid ouviram um barulho estranho no porão hoje cedo. Você pode ver o que foi?

    Aspen sorriu e acenou. — Deixa comigo!

    Deve ser um rato… Me livro do maldito e pronto.

    O porão do orfanato ficava nos fundos do quintal, escondido atrás da casa. Aspen caminhou pelo jardim até alcançar as portas duplas de madeira, com alças de ferro presas à superfície. Puxou-as, enfrentando resistência antes que cedessem com um rangido seco.

    Os degraus velhos reclamaram a cada passo, e o ar tornou-se mais úmido conforme descia. Pequenas poças se espalhavam pelo chão, reflexo da infiltração que escorria lentamente de um cano velho, pingando em um ritmo monótono.

    Mas nada disso foi o que chamou sua atenção. No canto do porão, próximo às vigas de sustentação, a madeira parecia mais escura e deteriorada. O elfo se aproximou, tocando-a de leve. O material rangeu sob seu toque e cedeu um pouco.

    Aquilo não era bom.

    Precisaria reforçar a estrutura antes que piorasse. Pegou algumas das vigas de madeira que mantinha encostadas na parede, analisando qual se encaixaria melhor. 

    Quando encontrou uma adequada, tentou levantá-la, mas a madeira era mais pesada do que imaginava. Seus braços tremeram com o esforço, e precisou soltá-la antes que seus músculos protestassem ainda mais.

    Por um instante, considerou chamar Cassandra. Ela poderia sugerir outra forma de consertar isso, talvez até encontrasse alguém para ajudar. 

    Balançou a cabeça.

    Não posso depender dela para sempre. Já basta tudo o que ela faz pela nossa casa… e por nós. 

    Engolindo a frustração, se preparou para tentar de novo. Ajustou os pés no chão, respirou fundo e, com um esforço renovado, puxou a viga novamente. Conseguiu erguê-la um pouco mais dessa vez. Passou quase uma hora nisso, pausando para recuperar o fôlego, ajustando a madeira pouco a pouco no lugar certo.

    O tempo foi passando. O suor escorria por suas têmporas, e sua camisa já não era mais branca. Seus pequenos músculos gritavam em exaustão. Mas ele continuou.

    Quando finalmente soltou a viga e verificou o trabalho, percebeu algo que lhe apertou o estômago. A madeira estava bem posicionada, mas ainda precisava ser fixada. Iria precisar de pregos, e um martelo para fixar nas extremidades corretas. Mais trabalho que exigiria tempo.

    Droga, parece que ler hoje vai ser impossível. E logo quando eu tinha chegado na melhor parte…

    O gosto amargo da frustração subiu em sua garganta, mas não disse nada. Apenas soltou um longo suspiro, passando a mão pela testa suada.

    Havia momentos em que o mundo o lembrava de sua fragilidade.

    Tarefas físicas eram as piores para ele, porque sabia do sofrimento e o tempo que levaria para completá-las. Com o tempo, elas se tornaram um lembrete de sua fraqueza.

    Melhor eu subir e trazer minha caixa de ferramentas, se tiver outro problema, eu resolvo antes que piore…


    — E se eu não quiser? — Aurora indagou para Hadrian, desafiando sua autoridade.

    O guerreiro se ergueu lentamente. — Você não vai querer ver o resultado disso, garota.

    Hazan deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de Aurora com firmeza, mas sem agressividade. Seu olhar encontrou o dela, e sua voz soou baixa, mas convicta.

    — Isso não vai nos levar a lugar nenhum. Vamos resolver isso fora daqui.

    Aurora apertou os lábios, claramente contrariada, mas após alguns segundos, soltou um suspiro frustrado e soltou a manga de Calista.

    — Certo. Mas ela tem muito o que explicar.

    Hadrian cruzou o olhar com Hazan, e assentiu, voltando a se sentar.

    Calista desviou o olhar, cruzando os braços. Ainda que sua postura permanecesse firme, algo na forma como respirou fundo indicava que estava aliviada pelo jovem ter conseguido acalmar a situação.

    — Bom, vamos para o meu escritório. 

    O trio deixou a ala médica, caminhando pelos corredores silenciosos da guilda. Ninguém disse uma única palavra.

    Subiram uma longa escadaria de madeira, até finalmente chegarem diante de uma porta robusta. Calista empurrou-a, revelando seu aposento pessoal.

    O chão era de madeira polida, e as paredes de pedra davam ao ambiente um tom frio e sério. Um tapete grosso feito da pele de uma criatura reptiliana se espalhava pelo centro da sala. Atrás da grande mesa de madeira escura, estantes com livros, mapas e documentos reforçavam a ideia de um escritório militar.

    Não era exatamente a cara de Calista, considerando o que tinham visto dela até aquele momento.

    Calista caminhou até sua cadeira e se sentou, apoiando os cotovelos na mesa. Seu olhar passou por Hazan e Aurora antes de ela soltar um pequeno sorriso, tentando dissipar o peso do momento.

    — Pronto. Podemos conversar agora.

    No entanto, sua expressão logo mudou para estranhamento quando percebeu as vestimentas da dupla. Hazan trajava roupas simples de um camponês, e Aurora não usava sua regata habitual de uma ladina.

    — Nossa… O que aconteceu com vocês?

    Aurora tirou um papel dobrado do bolso de trás da calça e bateu com força na mesa.

    — Isso aconteceu!

    Ela desdobrou o documento e apontou com o indicador para um ponto específico do texto.

    — A dificuldade aqui está registada como “Véu”, mas quando usamos a Pupila dos Deuses para medir nos níveis de corrupção… “Névoa”. Além disso, seu artefato quebrou quando chegamos na sala do chefe. — Ela contorceu os lábios. — Quase morremos lá dentro.

    Calista não respondeu de imediato. Soltou um longo suspiro e se recostou na cadeira.

    — Não sei por que isso aconteceu. Mas foi um erro ter passado uma missão tão perigosa para dois novatos. Eu entendo por que estão chateados. E também compreendo que tenham falhado.

    Hazan arqueou uma sobrancelha.

    — Nós não falhamos.

    Calista ficou momentaneamente confusa, então um sorriso ardiloso se formou em seus lábios.

    — Eu sabia! Como esperado da dupla mais promissora da nossa guilda! — disse ela, estendendo as mãos para demonstrar sua satisfação.

    — Não falhamos porque não tínhamos essa opção. — Aurora explicou, com uma das mãos na cintura. — A câmara do corruptor não tinha uma saída. Sua estrutura mudou assim que passamos pela entrada.

    Calista arregalou os olhos com as informações.

    Estranho, masmorras que mudam sua estrutura interior são raras, mesmo entre aquelas de classificação névoa. 

    — Se puderem escrever um relatório detalhado do que aconteceu naquela masmorra, eu seria muito grata. Vocês devem ter passado por poucas e boas, eu imagino…

    Hazan e Aurora se entreolharam, cruzaram os braços e exigiram ao mesmo tempo:

    — Queremos uma compensação!

    Calista inclinou a cabeça para o lado, avaliando a situação com um olhar calculista. Um suspiro escapou antes que cruzasse os braços.

    — Tudo bem, tudo bem, já entendi. Vou dar uma moeda de ouro para cada um.

    Aurora soltou uma risada curta, mas não havia humor nela.

     — Ah, que generosidade. Mas a masmorra que quase nos matou está cheia de manalitas. A Pena Azul vai lucrar muito com isso.

    Calista passou a mão pelo rosto.

     — Você devia ser comerciante, não desbravadora… Tudo bem, duas moedas de ouro! — Ofereceu ela, estendendo as mãos com um sorriso de quem tinha feito uma excelente proposta.

    Aurora sorriu, mas o brilho nos olhos não era de satisfação.

    — Essa miséria não nos interessa. Queremos uma participação nos lucros da venda das manalitas.

    O sorriso de Calista se desfez no mesmo instante. Seus olhos azul-turquesa pairavam sobre Aurora e Hazan, como se tentasse medir o quão sérios estavam.

    — Por Unitas, vocês realmente não facilitam minha vida…

    Ajeitou a postura, juntando as mãos e arqueando uma sobrancelha. — E quanto vocês querem?

    Hazan não hesitou.

     — Trinta por cento.

    O silêncio que se seguiu foi quase cômico. Aurora estava surpresa, mas escondeu sua reação. Calista piscou, como se tivesse escutado um absurdo, e então soltou uma risada breve, incrédula.

     — Trinta por cento? Vocês acham mesmo que eu vou entregar quase um terço do lucro para dois novatos?

    — Que eu saiba, fizemos um favor para vocês — Aurora retrucou, cruzando os braços. — O que acha que teria acontecido se tivessem enviado outro grupo em nosso lugar? Pense bem!

    — Olha, vocês são bons, mas não entendem como as coisas funcionam. Esse processo leva tempo. Eu nem vi as manalitas ainda, não posso simplesmente jogar um número assim sem avaliar o que temos em mãos.

    Aurora inclinou-se sobre a mesa, apoiando as mãos nela.

     — Diferente de você, eu mantenho minha palavra.

    Calista a encarou, olhos estreitos, analisando cada nuance de sua expressão. Aurora se afastou, seus olhos frios tornando-se mais compreensíveis.

    — Então, vamos facilitar. Vinte por cento. Mas vocês podem pagar cinco por cento por semana.

    O dedo de Calista tamborilou na mesa por alguns segundos. Estava pensativa. Media os riscos de tal proposta. Aqueles dois haviam limpado uma masmorra, e ela estava curiosa para saber como exatamente isso tinha acontecido. Por fim, soltou um suspiro resignado.

    — Hah… Eu tenho uma condição. Vocês precisam completar pelo menos três missões por semana para a guilda durante o período de pagamento.

     — Isso é ridículo. Esse deveria ser um pagamento, não um contrato de trabalho disfarçado — Aurora retrucou, enfatizando sua indignação.

    Antes que a conversa escalasse, Hazan ergueu a mão em um gesto tranquilo.

    — E a gente vai receber por essas missões também?

    — É claro! O pagamento será conforme o valor da missão, como qualquer outro desbravador, queridos.

    Aurora ainda parecia contrariada, mas antes que pudesse argumentar, Hazan deu de ombros.

     — Sem problema. Se for assim, eu faço as missões. Preciso me exercitar mesmo.

    Aurora o encarou com a testa franzida.

    — Você tá falando sério?

    — Quase morri naquela masmorra. — Um meio sorriso surgiu em seus lábios. — Melhor não enferrujar.

    Ela suspirou, levando a mão à testa.

    — Você é ingênuo demais… Caiu direitinho na lábia dela.

    — Que ótimo! — Calista bateu ambas as mãos em um gesto de comemoração. — Fico feliz que tenhamos chegado a um acordo. Vou tratar dos detalhes do contrato com Agnis quanto antes!

    — Voltaremos aqui na próxima semana para receber nosso pagamento — advertiu Aurora.

    — Claro, querida… Só gostaria de avisar que haverá o Festival do Despertar na semana que vem. Vocês devem participar, vai resolver o problema das identificações.

    Hazan enrugou as sobrancelhas, mas não disse nada.

    Aurora, no entanto, entendeu imediatamente.

    — Entendi. Isso vai evitar problemas futuros.

    Calista assentiu.

    — Exato. Agora, se terminamos aqui, vou convidá-los a se retirarem. Tenho que… — A voz vacilou por um instante, lembrando-se de um fato tristonho. — …analisar o maldito relatório de gastos que Agnis me enviou.

    Sem mais nada a dizer, Hazan e Aurora se afastaram. O trio trocou um último olhar antes que os dois deixassem a sala.

    Enquanto atravessavam os corredores da guilda, Aurora soltou uma risada curta, lembrando-se da negociação.

    — Sabe, você mandou bem quando jogou aqueles trinta por cento. Um valor absurdo, mas nos deu margem para negociar algo mais razoável.

    Hazan deu de ombros, despreocupado.

    — Desde quando trinta por cento é tão absurdo? Eu queria mais.

    Aurora arqueou uma sobrancelha, analisando-o por um instante antes de rir de novo, desta vez com um toque de incredulidade.

    — Você realmente não tem noção, né?

    Ele apenas sorriu de canto, sem responder.

    Ela parou de andar de repente, obrigando-o a fazer o mesmo. O olhar sério que lançou sobre ele afastou qualquer leveza da conversa.

    — Temos que estar preparados para investigar o templo. Além disso, preciso resolver algumas pendências.

    Hazan estreitou os olhos.

    — “Resolver algumas pendências”? Isso é código pra algum tipo de crime?

    Aurora apenas sorriu, o tipo de sorriso que aumentaria sua pena em um julgamento.

    — Me encontre na Praça Central da cidade em cinco dias, pela tarde. Não se atrase.

    Sem esperar resposta, a polariana caminhou na frente e virou no final do corredor, desaparecendo de sua vista.

    — Beleza, isso foi um “sim” bem disfarçado — suspirou Hazan.


    Horas se passaram. Aspen martelava com força, mas cada golpe só reforçava o que já sabia: aquilo estava levando tempo demais.

    A madeira parecia zombar dele, recusando-se a ceder como queria. Os pregos não entravam no ângulo certo. Seu corpo já não respondia como antes.

    Aspen cerrou os dentes.

    — Por que eu sou tão fraco…? — murmurou para si mesmo.

    — Precisa de ajuda?

    O som da voz o fez girar nos calcanhares, o coração pulando no peito.

    Encostado na entrada do porão, com um sorriso relaxado e os braços cruzados, estava Hazan.

    Aspen piscou algumas vezes, confuso.

    — Como você chegou aqui?!

    — Pela porta — Hazan respondeu, dando de ombros.

    Aspen não se convenceu.

    — E por que sumiu esse tempo todo?

    O sorriso de Hazan diminuiu um pouco.

    — Tive que resolver umas coisas. Mas já falei com todo mundo.

    Aspen observou o homem por um instante. O olhar dele era sincero, sem pressa, mas algo ali dizia que o que quer que tinha acontecido… não era algo simples.

    Apenas balançou a cabeça, ainda indignado. Não disse nada.

    Hazan caminhou até ele e observou o trabalho.

    — Então era isso que estava te dando dor de cabeça?

    Ele se abaixou para olhar mais de perto e soltou um breve riso.

    — Isso aqui é moleza.

    Aspen travou a mandíbula, sentindo a irritação crescer.

    — Moleza? — retrucou, sarcástico. — Eu tô aqui há horas tentando consertar isso!

    Hazan lançou um olhar divertido para ele, como se estivesse lidando com um gato bufando por ter perdido uma luta contra um novelo de lã.

    — Relaxa, pirralho. Deixa comigo.

    Aspen bufou, cruzando os braços, mas manteve os olhos fixos enquanto Hazan assumia o trabalho.

    Diferente dele, que mais brigava com a madeira do que a consertava, Hazan parecia movê-la como se fosse uma extensão de suas próprias mãos.

    Com um toque firme, porém calculado, posicionou a tábua solta e deslizou os dedos ao longo da superfície, sentindo cada imperfeição. Ajustou o encaixe sem pressa, testando a estabilidade antes de pegar um prego. Segurou-o com precisão, inclinando levemente para garantir que não rachasse a madeira, e deu a primeira martelada certeira. O prego afundou sem resistência.

    Hazan inclinou-se para verificar a estrutura, pressionando as tábuas para testar a firmeza. Encontrou um pequeno desalinhamento e, em vez de forçar, usou o cabo do martelo como alavanca, ajustando com um leve movimento do pulso.

    Deu os últimos toques, conferindo cada detalhe antes de se afastar e passar a mão sobre o conserto, como se estivesse selando o trabalho. A madeira já não rangia, e os pregos estavam perfeitamente alinhados.

    Poucos minutos haviam se passado, e o problema estava resolvido.

    Aspen sentiu o olho tremer.

    — Você… — murmurou, sentindo uma revolta genuína.

    Hazan apenas riu, como se estivesse esperando essa reação.

    — Alguma coisa errada?

    — Eu passei horas nisso. HORAS. E você faz em minutos?!

    Hazan deu de ombros.

    — Força é importante, mas jeito também conta.

    Antes que Aspen pudesse retrucar, a voz de Cassandra ecoou pelo orfanato:

    — O jantar está pronto!

    Hazan se levantou, bagunçando os cabelos de Aspen em um cafuné irritante.

    — Não fica parado aí, bora comer. Comer é importante depois de um dia de trabalho duro, sabia?

    Hazan sequer esperou a resposta do elfo. Subiu as escadas com a fome de quem não se alimentava há dias.

    Aspen permaneceu ali por alguns segundos, encarando o trabalho pronto. Um resmungo irritado escapou de seus lábios antes que ele soltasse um suspiro longo e o seguisse para o jantar.

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