Índice de Capítulo

    O amanhecer estava se aproximando.

    O oceano estava calmo agora que a tempestade havia passado. Cale olhou para o céu, que não estava mais coberto pela grande nuvem de chuva que cobria metade das Ilhas Hais, e então abaixou a cabeça.

    Ele tinha um único pensamento na cabeça.

    “…Bastardos assustadores.”

    Cale estava assustado.

    Tudo foi destruído.

    Com exceção dos navios que chegaram às ilhas, todos os outros ficaram flutuando em pedaços depois que os redemoinhos e as baleias chegaram até eles.

    Ele também podia ver cadáveres flutuando como pontos pretos.

    — Humano… você está chocado?

    Cale olhou para o Dragão Negro, Raon.

    — Humano, isso é demais para você? Não tínhamos outra escolha.

    Raon balançou a cabeça enquanto começava a falar em tom sério.

    — Às vezes, um lado precisa morrer ou se ferir gravemente para que o outro sobreviva. Você precisa firmar sua determinação para sobreviver ao caos que se aproxima. Vovô Ourinho disse que não há ninguém tão azarado quanto você.

    — Raon.

    — Sim, eu entendo o quão azarado você é. Então confie em mim, o grande e poderoso Raon.

    — Vamos descer.

    — …Tudo bem.

    Cale deixou os comentários de Raon entrarem por um ouvido e saírem pelo outro enquanto ele se dirigia para as Ilhas Hais.

    A batalha continuou desde o momento em que o sol se pôs até pouco antes d’ele nascer novamente.

    Essa batalha noturna foi, como esperado, vencida pelo lado de Cale.

    Era uma batalha que eles não podiam perder.

    A Tribo da Baleia, a Tribo do Tigre e o grupo de Cale. Quem imaginaria que todas essas forças poderosas se unissem para lutar contra um inimigo comum?

    *Tap*

    Os pés de Cale pousaram na areia.

    Ilha Hais 6.

    Esta era a ilha onde a mestre espadachim Hannah estava lutando ontem à noite.

    — Que bagunça.

    O olhar de Cale se voltou para baixo, na diagonal, e viu Hannah sentada casualmente no chão. Sua lâmina ensanguentada estava cravada na areia.

    Hannah levantou a cabeça e começou a falar como se estivesse respondendo a Cale.

    — Não é lindo de se ver?

    Ela estava coberta de sangue.

    Cale sentiu-se enojado ao ver que o cabelo loiro e as cicatrizes pretas de Hannah não estavam visíveis porque ela estava completamente encharcada de sangue.

    Foi porque ela se cobriu com o sangue de outra pessoa.

    Cale pegou uma poção e jogou em Hannah.

    — Se limpe depois de verificar seu próprio estado. O Santo-nim vai desmaiar se te vir assim.

    Hannah pegou a poção e começou a rir. Cale desviou o olhar de Hannah, que ria mesmo sangrando pelos ferimentos sofridos pelas espadas e flechas dos inimigos.

    “Ela é realmente louca.”

    Ambos os gêmeos tinham algo errado.

    Cale continuou a desviar o olhar enquanto observava o sol nascente e o resto do grupo se aproximando lentamente da Ilha Hais 6.

    — Ei, Cale Henituse.

    — O que?

    Cale respondeu a Hannah sem olhar para trás. Ela continuou a falar com uma voz baixa, mas louca.

    — Não foi sangue suficiente.

    — …Eu sei.

    Até eu sei que você é louca por sangue.

    Era por isso que ele também queria algo dela.

    — Jovem mestre Cale!

    Witira correu rapidamente para a praia. Ele também ouviu uma voz baixa acompanhada do grito de Witira.

    — …Obrigada por manter sua promessa.

    Cale cumpriu todas as suas promessas. Ele a manteve viva e lhe deu uma oportunidade de vingança, como disse que faria. Hannah olhou para Cale, que fingia não ouvir o que ela dizia enquanto caminhava em direção a Witira, e abriu a tampa da poção.

    Cale e Witira logo estavam um na frente do outro.

    — Jovem mestre Cale, não há humanos vivos no oceano.

    Cale apenas assentiu com a cabeça após ouvir Witira dizer que mataram todo mundo, com um sorriso no rosto. Ela achou que aquele olhar sério era mais típico de Cale do que de alegria e continuou a falar.

    — Primeiramente, cuidamos de todos os membros da Primeira Brigada de Batalha. No momento, estamos procurando os poucos subordinados que estão escondidos em fendas de penhascos, cavernas ou outros locais aleatórios. Presumo que conseguiremos cuidar de todos eles até a hora do almoço.

    Ela era alguém que tinha uma força avassaladora, mas essa batalha era difícil devido ao número de inimigos.

    — Nós cuidaremos de todos os corpos e dos navios quebrados.

    Cale, que estava ouvindo em silêncio, começou a falar.

    — E os navios que ainda estão intactos?

    Isso fez Witira olhar para o navio atualmente atracado na Ilha Hais 6.

    Cada ilha também tinha alguns navios em boas condições.

    — Não tenho certeza. Como devemos cuidar deles? Não precisamos deles, então deveríamos entregá-los a outro reino…

    Witira, que intencionalmente não terminou a frase, pôde ouvir a voz de Cale.

    — Posso ficar com eles?

    — Com licença?

    Cale perguntou sem hesitar.

    — Quero levar os navios restantes comigo. Isso não é permitido?

    Witira pensou em como Cale havia se esforçado para criar os redemoinhos. Ela pensou que conseguia ver a exaustão nos olhos de Cale enquanto o observava.

    — Não, tudo bem. Não temos utilidade para os navios e preferimos dá-los a você do que a outro reino.

    — Ótimo.

    Cale se esforçou para não sorrir.

    Os navios que ele precisava usar com o Navio Tartaruga Dourada chegaram até ele como um pacote.

    Seria uma bela visão receber os navios da Aliança do Norte usando os navios da organização secreta.

    Cale conseguia ouvir a voz de Raon em sua mente. Raon falava na mente de Cale, mesmo não sendo invisível.

    {Humano, bom trabalho! Conseguimos alguns navios de graça!}

    Raon definitivamente estava ficando mais inteligente.

    Cale acariciou casualmente a cabeça do Dragão, que o fitava com olhos brilhantes. Então, olhou para Rosalyn, Mary e Ron e começou a falar.

    — Como foi?

    — Eu cuidei de tudo discretamente.

    — Bom trabalho.

    Ron tinha um sorriso benigno no rosto enquanto se afastava silenciosamente.

    Cale viu que até Choi Han havia chegado e levantou a cabeça.

    — Crou! Crou!

    Ele podia ouvir o som de um corvo grasnando.

    — Ooooo-

    Ao mesmo tempo, o rugido dos animais selvagens ecoava pelo oceano tranquilo e pela ilha.

    Era o rugido dos Tigres que haviam perdido suas famílias e membros da tribo. Havia alegria, tristeza e raiva em seus rugidos. Cale olhou para o corvo que Gashan havia enviado como sinal de que haviam terminado e começou a falar.

    — Vamos para a Ilha Hais 9.

    ***

    Ilha Hais 9.

    Foi aqui que todos concordaram em se reunir.

    Cale baixou a guarda.

    Cale percebeu seu erro quando chegaram à Ilha Hais 9.

    Os vinte Tigres com Gashan no centro olhavam para Cale com reverência assim que ele chegou à Ilha Hais 9.

    Masculino, feminino, jovem e velho.

    Esses Tigres, que eram enormes, independentemente de serem jovens ou velhos, estavam todos sorrindo para ele com um sorriso brilhante que só os Tigres poderiam ter.

    Gashan se aproximou dele com os olhos fechados e um sorriso no rosto.

    Infelizmente, todos, exceto os mais jovens e os mais velhos, estavam cobertos de sangue. Estavam todos cobertos pelo sangue de seus inimigos.

    Gashan começou a falar cautelosamente com Cale.

    — Jovem mestre-nim.

    — Não.

    A Floresta das Trevas não era uma opção.

    Cale estava tirando isso da equação imediatamente.

    — Não é isso, eu só queria te agradecer.

    Cale olhou para Gashan com um olhar cheio de suspeita. O xamã continuou a falar gentilmente. Parecia um avô lendo um livro infantil com sua voz velha e gentil.

    O único problema era que ele estava falando com a boca coberta de sangue.

    — Conseguimos nos vingar de verdade graças às suas habilidades. Pudemos caçar direito pela primeira vez em muito tempo.

    Um dos jovens Tigres que ainda não tinha atingido seu tamanho máximo agradeceu com olhos brilhantes.

    — Jovem mestre-nim, muito obrigado!

    Gashan abaixou a cabeça em direção à criança e continuou a falar com um sorriso amargo no rosto.

    — Preciso levá-los para o continente ocidental porque acho que continuaremos a encontrar Arm se ficarmos no continente oriental. Seria ótimo se houvesse ao menos um pequeno pedaço de terra onde pudéssemos ficar até essas crianças crescerem. Ainda não nos vingamos o suficiente.

    Cale começou a franzir a testa. Gashan continuou a falar.

    — Também trouxemos alguns presentes para dar ao senhorio.

    “Presentes?”

    Cale olhou para Gashan.

    Gashan lentamente tirou uma joia do bolso.

    — A tribo Tigre é uma tribo diplomática. Cada família reunia suas ervas medicinais e itens preciosos ao deixar suas montanhas.

    Os cantos dos lábios de Cale se moveram levemente para cima antes de descerem novamente.

    — Aham, hum.

    Cale soltou algumas tosses falsas. O jovem Tigre começou a gritar.

    — Eu trouxe alguns itens também!

    O jovem Tigre tirou uma pequena garrafa de sua manga larga.

    — São escamas de cobra de duzentos anos que estavam na nossa caverna! Ouvi dizer que elas podem virar pontas de flechas muito fortes!

    “…A tribo Tigre parece ser uma tribo bem decente.”

    Cale silenciosamente aprimorou sua percepção da tribo Tigre. Raon começou a falar mentalmente.

    {Humanos, eles parecem legais.}

    “Não é?”

    Cale pensou em como as chances de se envolver ainda mais com a organização secreta aumentariam se levasse a tribo Tigre para a Floresta das Trevas. No entanto, ele teve outro pensamento ao mesmo tempo.

    “Quando foi que evitar certas coisas me manteve longe desses problemas?”

    Cale não podia evitar a organização secreta agora que estava envolvido no encontro entre os quatro reinos e as Baleias.

    Cale olhou para Gashan e se concentrou nos olhos fechados do xamã quando ele começou a falar.

    — Eu tenho uma condição.

    Foi naquele momento.

    — Oooh, ooooooooooh-!

    Cale estremeceu.

    “O que há de errado com esse velho?”

    — Oooh, ooooooooooh-!

    Gashan abriu os olhos de repente.

    Seus olhos brancos estavam arregalados quando ele começou a levantar a mão com o cajado de madeira no ar. Seu corpo enorme tremia.

    “…Isso é assustador.”

    Cale inconscientemente deu um passo para trás. Foi então que…

    — AH! A natureza está falando comigo!

    Gashan gritou enquanto continuava a tremer.

    — Oh.

    Cale não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

    Entretanto, as próximas palavras de Gashan fizeram Cale fixar seus pensamentos.

    — A natureza está me dizendo que nossa Tribo Tigre terá que lutar contra espadas frias na próxima primavera!

    “Uau.”

    Cale ficou surpreso.

    Como pode existir um xamã psíquico assim?

    Ele começou a sentir calafrios.

    “Como ela sabia que eu estava planejando fazer a tribo do Tigre lutar contra os cavaleiros da Aliança do Norte?”

    Cale encarou Gashan, que começava a se acalmar. Os olhos brancos de Gashan se fixaram em Cale quando ele finalmente se acalmou. Cale começou a falar.

    — Esse futuro se tornará realidade se você for comigo. Você concorda com isso?

    Gashan respondeu sem hesitar. Nem precisou perguntar aos outros.

    — Nossa tribo Tigre tem vivido em silêncio demais nos últimos anos. Ficaremos felizes em correr livremente se isso tiver a ver com nossa vingança.

    Cale assentiu com a cabeça.

    — Então eu lhe dou as boas-vindas.

    Cale estendeu a mão e o xamã a apertou.

    A Floresta das Trevas era ampla.

    Havia bastante espaço para vinte Tigres.

    — Isso é maravilhoso.

    Witira tinha um sorriso radiante no rosto quando começou a falar. Ela finalmente havia descoberto por que Cale não estivera disposto a aceitar a tribo Tigre até então.

    “Ele não queria que a tribo Tigre tivesse que lutar contra a Aliança do Norte.”

    Não era como se Cale não tivesse dinheiro. Ele não seria tentado pelas ervas medicinais e oferendas dos Tigres.

    Witira ouviu dizer que Cale era filho de uma família rica. Ele não era do tipo que se deixava levar pelos presentes.

    Se ele fosse uma pessoa gananciosa, então não haveria razão para ele colocar seu bem mais valioso, ele mesmo, em risco para ajudar os outros sem receber nada em troca.

    Witira começou a falar.

    — Nós ajudaremos você a mover a tribo Tigre e os navios.

    Essa era a maneira dela agradecer a Cale pela ajuda, sem esperar receber nada em troca. Cale aceitou a oferta naturalmente.

    — Desde já, obrigado.

    — Claro. Também temos que discutir a questão da rota marítima.

    A rota marítima para o continente oriental.

    Cale tinha os direitos sobre essa rota ao norte, controlada pelas Baleias. Cale abriu a boca para responder a essa pergunta.

    — Humano, humano!

    Raon tirou o dispositivo de comunicação de vídeo de sua dimensão espacial e se aproximou de Cale. O dispositivo de comunicação de vídeo estava vermelho devido a uma chamada.

    Raon continuou falando com Cale, que começou a franzir a testa.

    — É o príncipe herdeiro! Vermelho significa que é o príncipe herdeiro!

    Era Alberu quem estava ligando.

    — Devo conectar a chamada?

    Cale suspirou com a pergunta de Raon e começou a falar.

    — Vamos conectá-lo dentro do prédio de madeira. Witira, Gashan, vamos falar dos outros assuntos depois.

    — Claro. Por favor, responda ao príncipe herdeiro primeiro.

    Witira respondeu e Gashan assentiu. Cale imediatamente entrou no prédio de madeira após receber as respostas dos dois líderes e pediu a Raon para conectar a ligação.

    Ele então se sentou em uma cadeira de madeira em frente ao dispositivo de comunicação de vídeo.

    Embora fosse duro comparado ao seu sofá normalmente macio, Cale não se importou.

    Alberu Crossman, a pessoa que havia lhe dito para descansar, ligou de repente.

    Ele tinha um mau pressentimento sobre isso.

    Cale cumprimentou Alberu assim que seu rosto apareceu no dispositivo. Alberu ignorou a expressão infeliz de Cale e começou a falar.

    Ele lançou um direto sem nenhum jab.

    — Você não conhece o rosto do Príncipe Imperial, não é?

    O Príncipe Imperial era o futuro rei do Império Mogoru.

    Cale ficou sem palavras.

    Ele teve um pressentimento sinistro.

    Cale tentou responder o melhor que pôde.

    — Hum, eu sei as coisas que preciso saber, como a cor dos olhos e do cabelo dele. Hum, aposto que vou reconhecê-lo se o vir?

    — Tanto faz. Basicamente, você está dizendo que nunca o viu antes.

    Alberu continuou a falar com Cale, que evitava contato visual em um tom que parecia dizer que ele sabia o que Cale estava pensando.

    — Ouvi dizer que a vitória é garantida se você conhece seus inimigos e a si mesmo. Vá lá.

    Cale começou a falar.

    — …Alteza, talvez meus ouvidos estejam ruins, mas acho que ouvi algo estranho agora mesmo.

    “Ir para onde? Para o Império? Por que eu iria?”

    Cale não entendia por que Alberu, alguém que conhecia bem sua personalidade, diria algo assim.

    — Ah, eu disse errado. Deixa eu consertar isso.

    Alberu levantou a mão de um jeito que parecia admitir que estava errado.

    — Deixe-me reformular.

    Um golpe ainda maior caiu sobre Cale quando Alberu começou a falar novamente.

    — Vá comigo para o Império.

    “Ir para o Império com ele?”

    — Para fazer algo grande.

    “…Para fazer o quê? Algo grande?”

    Cale finalmente conseguiu ver o sorriso irônico no rosto de Alberu. A carranca de Cale desapareceu rapidamente.

    Cale recostou-se na cadeira de madeira e começou a falar.

    — Deixe-me ouvir o que você tem em mente.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota