Índice de Capítulo

    — C-como esse desgraçado fez isso!

    Palavras ásperas, impróprias para um nobre, saíram da boca de Venion por reflexo. Seu capuz foi lentamente retirado, revelando todo o seu rosto. Estava completamente pálido.

    O Dragão Negro bateu as asas lentamente enquanto se aproximava de Venion.

    — Por que você está tão surpreso?

    A voz calma e baixa chegou aos ouvidos de Venion.

    — O que foi, você está tendo dificuldade em me reconhecer porque não estou todo ensanguentado?

    Raon tinha uma expressão completamente indiferente ao dizer isso. Então, aproximou-se lentamente de Venion enquanto sua mana negra flutuava no ar ao seu redor.

    Venion deu um passo para trás.

    — Ai!

    Ele pisou no corpo de um dos seus lacaios enquanto continuava a andar para trás.

    — Venion Stan.

    O Dragão estava falando. Venion nunca ouviu o dragão falar nos quatro anos em que o viu ser torturado.

    Também estava chamando seu nome.

    O dragão à sua frente era diferente da existência que costumava ser espancada e ensanguentada por porretes e chicotes.

    Embora o dragão ainda tivesse o mesmo tamanho minúsculo, aquela existência antes torturada estava diante dele como uma raça de nível superior.

    — Acho que você nunca esperou que eu voltasse?

    Venion jamais imaginou isso. Tudo o que pensava era que precisava encontrar o dragão e trazê-lo de volta para ensiná-lo a aprender. Era uma ideia tola. O pé, dando mais um passo para trás, começou a tremer. Ele não conseguia evitar.

    — O-o quê? Que diabos está acontecendo?

    A névoa vermelho-escura se aproximou dele e começou a subir, partindo dos pés e subindo até a perna. Era como se uma cobra estivesse se enrolando nele. No entanto, ele não conseguia fugir.

    — É bom ver você de novo.

    O dragão que o cumprimentava o havia prendido com sua mana. Essa névoa serpenteante agora alcançava o pescoço de Venion.

    — Ai!

    Um de seus lacaios grunhiu mais uma vez antes de ficar quieto.

    *Ssssssshhhhhhh*

    O vento soava como uma cobra sibilando perto de seu ouvido. Venion parecia muito maltrapilho agora, comparado ao seu estado normal.

    — N-Nããão!

    A neblina agora chegava bem abaixo do seu nariz.

    Ele nunca havia passado por algo assim antes. Não conseguia fazer nada com o corpo paralisado pela magia do dragão.

    A névoa vermelha-escura cobriu lentamente seu nariz e rosto. Venion tentou prender a respiração, mas, por fim, a névoa penetrou em seu nariz.

    Ele não conseguia respirar. Naquele momento, ele conseguiu ver o rosto do dragão através da névoa.

    — Estou muito feliz em ver você, Venion Stan.

    — …Ai!

    Raon conseguia ver o rosto de Venion através da névoa. O corpo de Venion tremia após absorver a névoa levemente venenosa de On e Hong.

    Raon lentamente removeu a mana que prendia Venion.

    *Pá!*

    Venion caiu no chão. Ele já havia perdido a consciência antes de Raon remover sua mana.

    Raon apenas encarou em silêncio o Venion caído. Naquele momento, uma mão começou a acariciá-lo na cabeça.

    Era Cale. Cale usou o Som do Vento para saltar levemente do telhado. Ele acariciou a cabeça de Raon enquanto olhava para Venion.

    Ele podia ouvir a voz de Raon.

    — Fraco. Ele é terrivelmente fraco.

    Cale deu um sorriso amargo. Era porque Raon parecia muito chateado. No entanto, Cale o chamou de volta.

    — Então você quer parar?

    — Não, eu vou tratá-lo do mesmo jeito que ele me tratou.

    Cale afagou a cabeça redonda de Raon depois de vê-lo responder sem hesitar. Ele olhou ao redor antes de falar novamente.

    — Comecem.

    *Tap* *Tap*

    Os gatinhos, On e Hong, que estavam no topo de um prédio próximo, pularam levemente. Assim que fizeram isso, On controlou a névoa para abrir caminho para Choi Han.

    — Eles estão todos esperando na entrada do beco.

    Cale viu Raon lentamente se tornando invisível e deu a ordem.

    — Diga a eles para virem.

    — Sim, senhor.

    Logo, duas pequenas carruagens entraram no beco e o lotaram. Uma pessoa saiu de uma delas.

    — Mm, bom dia, jovem mestre-nim.

    — Aqui estão eles.

    A louca sacerdotisa Cage engoliu em seco enquanto olhava para os lacaios inconscientes no chão, assim como para Venion Stan, que Choi Han havia pegado.

    Ela não tinha visto o que aconteceu naquele beco. A neblina contribuiu, mas foi principalmente porque Choi Han estava na entrada do beco, guardando-o.

    Ela podia ver que os dois lacaios estavam franzindo a testa, mesmo inconscientes, e que Venion parecia muito pálido de medo.

    — Não temos tempo.

    — Hmm? Ah, sim!

    Ela voltou a si ao ouvir o tom sério de Cale e rapidamente ordenou às duas pessoas que a acompanhavam que movessem os lacaios de Venion.

    Enquanto faziam isso, ela se aproximou de Cale, que estava prestes a sair com Venion na outra carruagem.

    — Lembre-se, quatro dias depois.

    — Sim, isso é bastante tempo.

    Cale, que dizia com segurança que quatro dias eram suficientes, assim como Choi Han, que encurralava Venion, ambos pareciam calmos. Isso deu arrepios em Cage.

    Ele se sentia diferente do Cale Henituse que se apresentou para proteger todos no castelo, assim como do mesmo jovem mestre que ajudou ela e Taylor. No entanto, Cale logo começou a sorrir. Ele precisava agir corretamente para cumprir seu plano.

    — Sim, eu confiarei em você. Já que você marcou a data, por favor, lembre-se dela, jovem mestre-nim.

    4 dias. Cale pensou no que aconteceria nos próximos quatro dias enquanto dava uma resposta clara à sacerdotisa cheia de preocupações.

    — Sim. É impossível para mim esquecer, então, por favor, pare de se preocupar.

    Cale olhou para Venion enquanto continuava a falar.

    — Cada dia parecerá um ano, então ele definitivamente não conseguirá esquecê-lo.

    Ele então se virou para Cage e disse adeus.

    — Então iremos agora.

    — Ah, sim.

    Ela jamais esqueceria o jeito como Cale encarou Venion. Era tão assustador. Ela continuou observando a carruagem até ela desaparecer do beco.

    “…Deve estar tudo bem, já que ele prometeu não matá-lo.”

    Cale prometeu entregar Venion sem matá-lo. Cage e Taylor confiavam nele, já que ele não era do tipo que quebra promessas e porque ele foi o motivo pelo qual eles conseguiram bolar tal plano.

    — Deveríamos confiar nele, já que dissemos que confiaríamos.

    Cage confirmou sua decisão. Ela precisava agir rápido a partir daquele dia.

    — Estão todos na carruagem?

    — Sim, senhora.

    — Então vamos lá.

    A carruagem dela também saiu do beco. Ia na direção oposta à carruagem de Cale.

    A carruagem de Cale seguia em direção ao Castelo do Lorde do território Stan, em direção à área bastante luxuosa onde viviam os ricos, os nobres e os cavaleiros.

    As ruas estavam limpas e todos os prédios pareciam elegantes.

    *Click* *Click*

    A carruagem que se movia pela neblina matinal parou em frente a uma única residência. O portão se abriu lentamente.

    *Gruun* *Clunk*

    A carruagem seguiu para os fundos da residência assim que os fortes portões de ferro se abriram.

    Havia uma porta que dava para o subsolo nesta residência de aparência comum.

    — É uma casa bonita.

    Cale fez uma observação ao descer da carruagem e olhou para o cocheiro. O cocheiro estava com a cabeça enfiada sob o capuz.

    O capuz do manto levantou um pouco em resposta a Cale.

    — Você pode ir.

    Odeus, o homem sob o capuz, curvou-se levemente antes de sair silenciosamente e furtivamente pelo portão dos fundos da residência.

    Ele queria se virar e olhar para Cale mais uma vez, mas se conteve.

    — Eu estava errado sobre ele.

    Ele havia se movido pessoalmente porque Cale lhe disse que era algo que ele não podia deixar para um de seus subordinados. Agora ele entendia por que Cale lhe disse para servi-lo. O que eles estavam fazendo não era algo que qualquer outra pessoa pudesse saber.

    — Uma câmara de tortura.

    Ele tinha certeza de que Cale era conhecido por ser uma boa pessoa. Ele também era alguém que se sacrificava pelos outros. No entanto, aquele não era o verdadeiro Cale. Até Choi Han, que era uma boa pessoa, ouvia as ordens de Cale.

    Odeus pensou em seu sobrinho, Billos, que havia dito que seguiria Cale.

    Odeus então começou a se mover rapidamente, pois precisava cobrir os rastros de Cale pelos próximos quatro dias.

    — O problema é que estou seguindo ele como se fosse normal…

    Odeus murmurou em voz baixa antes de desaparecer na neblina.

    Cale abriu a porta e foi para o subsolo quando Odeus desapareceu.

    *Gruum*

    Um barulho assustador foi ouvido quando a porta se abriu lentamente.

    — Ah, você chegou.

    Ele podia ver Beacrox bem perto da porta. Beacrox chegou ali na noite anterior. Filho do assassino, Ron, um espadachim e cozinheiro. Beacrox detinha muitos títulos. No entanto, o único título em uso naquele momento era o de especialista em tortura.

    — Sim. Vamos movê-lo.

    Choi Han levantou Venion e desceu. Beacrox o seguiu enquanto observava o Dragão Negro voando ao lado de Cale.

    Cale fingiu não ver Beacrox espiando Raon. Cale havia revelado a existência de Raon a ele no dia anterior.

    Ele aceitou facilmente.

    “Eu sabia.”

    Beacrox aceitou assim que Cale lhe contou que Raon era quem lhes trazia comida quando viajavam para a capital. No entanto, Beacrox teve alguns problemas com o que estavam fazendo, pois Cale não havia explicado nada sobre Venion.

    “Mas pelo menos ele segue bem as ordens.”

    Beacrox foi muito cuidadoso no acompanhamento.

    Cale sentiu o mesmo por Beacrox ainda mais quando ele foi para a câmara subterrânea.

    O quarto era bem grande.

    — Você configurou corretamente.

    Havia muitos tipos de equipamentos em um lado da sala. Beacrox havia preparado tudo. Cale engasgou ao olhar para aquelas ferramentas cruéis antes de se virar para olhar para Raon.

    — É a mesma coisa.

    Raon avaliou a sala calmamente. Esta câmara de tortura subterrânea foi construída para se parecer o mais próximo possível da caverna em que Raon sofreu durante os primeiros quatro anos de sua vida.

    Choi Han colocou Venion numa cadeira. Beacrox olhou para Cale e começou a falar.

    — Eu só preciso trabalhar nele?

    — Sim.

    — O que devo fazer com ele?

    Raon foi quem respondeu a essa pergunta. Beacrox teve que falar com o dragão que voava à sua frente.

    — Eu retribuirei tudo o que sofri.

    — …sofreu?

    Beacrox não sabia da história de Raon.

    — Sim, sofri abusos durante quatro anos, sendo torturado e espancado dia após dia. Também fiquei preso numa caverna. Quero vingança pelos meus quatro anos de sofrimento durante estes próximos quatro dias.

    A voz calma do menino de quatro anos ecoou pela sala. Choi Han esfregou o rosto enquanto On e Hong não sabiam o que fazer.

    Cale cruzou os braços e olhou para Raon. Raon era realmente grandioso e poderoso. Na opinião de Cale, era difícil falar calmamente sobre as próprias dores como Raon fazia.

    — Vou te dar um resumo básico de como eu sofri. Primeiro, fui chicoteado até que esta minha poderosa pele de dragão ficou em carne viva.

    Raon explicou brevemente e detalhadamente tudo o que havia sofrido durante os quatro anos. Raon estava muito apaixonado ao explicar tudo a Beacrox, que ouvia atentamente. Ele queria retribuir tudo a Venion.

    — E continuar batendo no local que já está ensanguentado e ferido é o conhecimento básico mais importante.

    *Bang!*

    Raon parou de falar e olhou na direção da fonte do barulho.

    Cale chutou a cadeira em que Venion, inconsciente, estava sentado. Venion caiu no chão, mas ainda permaneceu inconsciente. Isso fez Cale se perguntar o quão forte era o sedativo que Hong havia usado para envenenar Venion.

    Cale ajeitou a camisa como se nada tivesse acontecido antes de começar a falar.

    — Continue fazendo o que você tem que fazer.

    — …Eu entendo, humano.

    Raon voltou a falar sobre seu passado. Limitou-se a descrever a essência dele, pois não tinha muito tempo. O silêncio tomou conta da sala quando ele terminou.

    Cale olhou para Beacrox e começou a sorrir.

    Beacrox tirou um par de luvas brancas do bolso. Ele sempre as calçava para não se sujar.

    — Parece que vai haver muito sangue.

    Em seguida, pegou outro par de luvas brancas e calçou-o por cima do primeiro. Cale nunca tinha visto ou lido sobre Beacrox calçando dois pares de luvas.

    — Beacrox.

    — Sim, senhor.

    Beacrox olhou para Cale ao ouvi-lo chamar.

    — Faça alguma comida antes de começarmos.

    — …Comida?

    Beacrox olhou para Cale como se ele fosse louco. No entanto, Cale apontou para Raon. Raon esticou as asas como se concordasse com Cale.

    — Raon precisa comer alguma coisa.

    — Aquele desgraçado me torturava enquanto comia, dizendo que ver meu sangue tornava mais fácil engolir a comida.

    — … Aquele filho da mãe maluco…

    Choi Han começou a xingar. Beacrox pegou outro par de luvas antes de falar com Raon e Cale.

    — Parece que preciso preparar um banquete.

    Isso fez Cale pensar que Beacrox realmente era fraco contra afeição. Ele era um especialista em tortura, mas, seja com as crianças Lobo ou com Raon, Beacrox parecia ser muito fraco contra crianças e afeição.

    Beacrox fez uma pergunta enquanto se dirigia para preparar a comida.

    — Devo aleijá-lo?

    — Não precisa fazer isso.

    Raon respondeu.

    — Certo. Jovem mestre-nim, você também virá aqui?

    O Sr. Cale soltou um gemido e começou a franzir a testa diante da pergunta de Beacrox.

    — Eu realmente não quero ver isso, mas…

    Ele queria viver em paz porque odiava ver sangue ou guerras. No entanto, esta era uma ocasião especial.

    Eles haviam instalado um dispositivo mágico de invisibilidade num canto. Seria complicado se a identidade de Cale fosse revelada, então ele só poderia observar em segredo.

    — Acho que não consigo aproveitar um banquete assistindo a uma tortura. Prefiro ficar só com o vinho.

    Cale sabia que seria brutal. Ele provavelmente ia querer vomitar e ficar bravo com Venion. Numa situação como essa, o álcool era melhor. Cale tentou abrir a boca para pedir vinho, mas Raon começou a falar primeiro.

    — Eu entendo, humano fraco. Não precisa pensar nisso. Você não precisa assistir.

    — É verdade. Acho que pode ser difícil para você, jovem mestre-nim.

    Choi Han continuou a falar depois que Raon e até mesmo On e Hong assentiram. Cale começou a falar com uma expressão de choque no rosto.

    — O que você está falando?

    Cale acariciou a cabeça de Raon antes de passar por ele.

    — Se eu não assistir, você vai assistir sozinho?

    Havia certas coisas que você precisava ver, por mais difícil que fosse. Ele então tirou uma poção da sua bolsa mágica e a entregou a Beacrox.

    — Use a poção se parecer que ele vai morrer. Assim, ele conseguirá sobreviver pelos 4 dias.

    — Claro.

    Beacrox aceitou facilmente como se fosse natural. Na verdade, foram as respostas de Choi Han e do Dragão Negro que Beacrox não entendeu.

    — Então deixe-me ir prepará-lo.

    Beacrox preparou o melhor banquete possível no subsolo. Um banquete só para Raon.

    — Oo…

    Venion gemeu e tentou se mexer. Seu corpo estava pesado. Embora conseguisse sentir cada parte do corpo, parecia que lhe faltava oxigênio.

    Ele logo recobrou a razão e tentou entender o que havia acontecido.

    — Ahhhh.

    Venion abriu os olhos em choque. O que viu diante de seus olhos foi um banquete.

    Um grande banquete que nem mesmo os nobres normalmente veriam estava diante de seus olhos, em uma mesa igualmente luxuosa. O Dragão Negro olhou para Venion da mesa.

    *Clank*

    Venion virou a cabeça ao ouvir o barulho das correntes em seus membros e pescoço.

    — M-mm-

    Ele queria falar, mas não conseguia. As correntes mágicas em seu pescoço o impediam de falar.

    Ele não conseguia dizer nada, assim como Raon havia sofrido.

    *Psssh* *Bang!*

    O chicote se movia pelo chão. Era um chicote grande, com metal e vidro incrustados nele.

    Era muito parecido com o chicote que foi usado em Raon.

    O homem mascarado que empunhava o chicote aproximou-se lentamente de Venion.

    — Começe.

    Raon deu a ordem.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota