Jaehwan ficou surpreso.

    “Você conheceu Mulack?”

    “Bem…”

    Chunghuh assentiu. “Na verdade, eu viajei com ele.”

    “Viajou?”

    Chunghuh parecia estar pensando em uma memória muito distante do passado. O nome Mulack era realmente um nome antigo demais para Chunghuh se lembrar.

    “Foi há muito tempo. Vamos dar uma volta.”

    O ar frio envolveu Jaehwan enquanto eles saíam. Chunghuh não falou por um tempo, e Jaehwan esperou. As ruas estavam cheias com os cheiros de várias comidas. Jaehwan olhou para os alimentos sendo vendidos. Parecia que as pessoas dali eram fazendeiros, já que alguns vendedores ofereciam milho e outras colheitas, enquanto a maioria vendia carne. Parecia estranho. Jaehwan ouvira que pessoas no [Caos] não precisavam comer. Na verdade, ele mesmo não havia comido por 30 dias até chegar ali, e nunca sentira fome.

    As pessoas que vendiam comida pareciam todas sombrias. Não era como se a vida que levavam fosse dura — era como se algo dentro delas estivesse vazio.

    “O que você acha quando vê esta rua?”

    “…”

    “Não parece viva, não é? As pessoas não parecem vivas.”

    Era como Chunghuh dizia.

    “Mas isso provavelmente é normal, já que estão todas mortas.”

    Chunghuh franziu a testa com a resposta de Jaehwan.

    “As pessoas não estão mortas até aceitarem a própria morte.”

    Jaehwan sentiu que a ‘morte’ nesse mundo era diferente da ‘morte’ que conhecia. Essas pessoas tinham espíritos dentro do [Caos]. Elas tinham suas vidas. Além disso, também tinham a chance de serem revividas.

    “Este lugar não era assim no começo.”

    A Fortaleza Górgona não era tão sombria centenas de anos atrás, quando Chunghuh chegou.

    “[Caos] era a terra das bênçãos. Era um lugar onde espíritos dilacerados pela guerra se reuniam para descansar e recuperar energia.”

    As pessoas no [Caos] não envelheciam. Não morriam de fome. Todo ser era libertado de sua vida antiga e encontrava uma nova vida aqui.

    “Havia menos corrupções espirituais.”

    Os fracos uniam forças para caçar monstros de chifre e dividiam os chifres. Alianças eram formadas quando isso era impossível nas Grandes Terras, e todas as raças se davam as mãos para sobreviver. Todos estavam satisfeitos com a vida aqui.

    Até ‘Aquele Dia’.

    “…O que aconteceu?”

    Chunghuh parou. Depois caminhou até um bar de rua e sentou-se. Jaehwan hesitou, mas decidiu sentar ao lado dele. Chunghuh pediu uma cerveja e falou:

    “Ha, é uma pena que sua loja esteja em ruínas.”

    A resposta veio da pessoa que acabara de servir a cerveja:

    “Nem me fale.”

    Era Claire, a mulher que estava com Mino. Jaehwan então percebeu que estava na rua onde tinha lutado mais cedo naquele dia. Chunghuh riu.

    “Então vai abrir um bar de rua por enquanto?”

    “Sim, não tenho escolha. Alguém destruiu minha loja.”

    Claire lançou um olhar a Jaehwan e começou a preparar comida. Depois serviu também um espeto de carne de Unihorn.

    “Ha, isso está bom.”

    Chunghuh bebeu a cerveja, deu uma mordida e falou:

    “Então, onde estávamos?”

    “Que o [Caos] era um lugar pacífico.”

    “Ah, sim.”

    Chunghuh sorriu amargamente. “Era realmente pacífico naquela época.”

    Paz. Aquilo era interessante. Se o lugar era tão pacífico e todos aproveitavam suas vidas eternas, o que teria levado esse mundo ao estado atual?

    “A razão está aqui.”

    Chunghuh falou enquanto agitava o copo de cerveja. Em seguida, bebeu de novo.

    “…O que você quer dizer?”

    Jaehwan só podia imaginar que tinha algo a ver com a cerveja.

    “As pessoas começaram a brigar enquanto bebiam?”

    Chunghuh gargalhou, cuspindo cerveja pela boca.

    “Haha! Isso teria sido muito melhor.”

    Claire gritou de nojo pela distância por ele cuspir cerveja, e Chunghuh continuou:

    “Você não sabe de nada, não é?”

    Chunghuh limpou a boca com seu pano.

    “Acho que você não conhece a vida quando passou a vida inteira estocando.”

    “…Vida?”

    “Você não acha estranho? Aqui não é preciso comer.”

    Era verdade. Mesmo quando ninguém precisava comer, todos comiam na hora da refeição.

    “Até a cerveja. Você nunca pode ficar bêbado. Ela só tem cheiro e gosto de álcool.”

    Jaehwan então tomou um gole da cerveja. Tinha mesmo o cheiro distinto do álcool, mas só isso. Significava que a bebida não era realmente uma cerveja. Jaehwan ficou curioso.

    “Então o que são elas?”

    Jaehwan virou-se para dois homens brigando com rostos vermelhos, que pareciam bêbados.

    “O que você acha que eles são?”

    “Homens bêbados.”

    “Bêbados? Com uma cerveja que não embebeda?”

    Jaehwan sentiu que havia algo errado. Observou mais de perto. Os rostos deles estavam vermelhos, e a fala enrolada. Mas faltava algo. Os olhos. Os olhos estavam claros demais para olhos de bêbados. Eles estavam apenas fingindo estar bêbados.

    “Por quê?”

    Jaehwan sentiu que havia encontrado uma resposta ao ver Chunghuh bebendo uma cerveja que não dava barato, ou aqueles homens brigando, fingindo embriaguez.

    Vida eterna. Sem morte, sem guerra. Muito pacífica.

    “Fingindo viver a ‘vida’.”

    Vida, um tempo limitado que terminava quando a morte chegava. Eles apenas haviam recebido liberdade desse limite, mas passaram a ansiar pela vida com ele. Jaehwan finalmente sentiu que compreendia. Essas pessoas queriam reviver a verdadeira “vida” novamente. A vida em que tinham um corpo e um coração. Uma vida em que morreriam se não comessem, ou em que ficariam bêbados ao beber cerveja.

    Chunghuh riu.

    “Sim, vida. Essa foi a razão. As pessoas começaram a ansiar pelo ‘real’.”

    Chunghuh continuou: “Bem, já havia pessoas que ansiavam por isso desde os tempos antigos. Só que eram poucas.”

    “…E o número delas cresceu?”

    “Sim, mas devagar. Ao longo de muito tempo.”

    Os que viviam tempo demais normalmente eram apenas um ou dois até então. Eles saíam da fortaleza para enfrentar a morte em silêncio, ou viajavam até o centro do [Caos] procurando a entrada para as [Profundezas].

    Então, surgiu um novo grupo de pessoas que escolheu a terceira opção.

    Aqueles que se cansaram da vida eterna. Homens que ansiavam pela “vida real”.

    “Esse foi o time da ‘Expedição às Profundezas’. Aqueles que se reuniram para encontrar a vida real novamente.”

    Os olhos de Chunghuh se aprofundaram. Jaehwan então entendeu que Chunghuh havia sido um dos membros da equipe.

    “Por que você foi até as Profundezas?”

    “Para encontrar o [Fruto].”

    “Fruto…”

    “É o [Fruto da Ressurreição]. Normalmente é chamado apenas de [Fruto].”

    Jaehwan percebeu o que o [Fruto] significava, lembrando-se do que ouvira de sua [Suspeita] naquela vez. Esse era o único modo de os mortos do [Caos] serem revividos nas Grandes Terras.

    “Eu tinha apenas 120 anos na época. Não tinha nada a temer.”

    “Foi por isso que entrou?”

    “Sim.”

    “Então, você viajar com Mulack significa…”

    Chunghuh assentiu.

    “O [Pesadelo] Mulack estava naquela equipe. Ele era o capitão.”

    Chunghuh ainda se lembrava daqueles dias. A primeira vez em que encontrou Mulack, quando entrou para o time da expedição.

    -Desperto? Interessante.

    Foi o que Mulack disse da primeira vez que o viu.

    -E com uma emoção… despertar imperfeito? Você caminha por um caminho traiçoeiro. Deve ser difícil para você.

    Chunghuh não gostou. Todos os Despertos enfrentavam a necessidade de abandonar o ego humano para enxergar o mundo real. Mas Chunghuh se recusava a deixá-lo para trás. Isso o tornava mais fraco que seus amigos. Isso foi o que o matou e o mandou para o [Caos].

    -Cale sua boc—

    -Desculpe, não quis ofendê-lo.

    Ofender? Não era apenas o assunto que ofendia. Chunghuh se sentiu ofendido no momento em que viu Mulack. Ele fora um [Produto] nos velhos tempos. Ainda carregava ódio contra qualquer um ligado à Torre dos [Pesadelos]. Na verdade, ele matou todo Demônio que encontrou enquanto viajava pelas Grandes Terras, mas até então nunca havia matado um [Pesadelo].

    -Por que um [Pesadelo] está indo às [Profundezas]? Você não deveria ficar no seu quarto construindo torre?-

    Além disso, Mulack nem sequer estava morto. Esses [Pesadelos] usavam a [Porta Estreita] para entrar no [Caos] ainda vivos.

    -Você não gosta de mim por causa do [Cultivo].

    Mulack pensou por um instante e falou:

    -Não tenho nada a dizer. Seria inútil pedir perdão em nome de todos os [Pesadelos].—

    -…Cale a boca.

    -Acho que é um fardo meu carregar.

    Chunghuh achava que ele mentia. Um [Pesadelo] arrependido de criar uma torre. Nunca ouvira falar de um assim.

    -Acredite ou não, a razão de eu ter entrado na Árvore das Imagens e estar indo às [Profundezas] é por causa daquela torre.

    -O quê?

    Chunghuh não conseguiu esquecer o que ouviu a seguir, até hoje.

    -Para acabar com todo [Cultivo]. É por isso que estou liderando esta expedição.

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