Capítulo 103: Festival (1/5)

Moonlich

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“É assim que faz?”

Essas palavras foram ditas por Renee, de pé no centro de uma área aberta com uma espada em ambas as mãos.

Enquanto examinava a postura de Renee, Vera se perguntou.

‘Como chegamos a esse ponto?’

Ele só queria ensiná-la a segurar uma espada, mas antes que percebesse, ele já estava ensinando-a a empunhá-la.

Enquanto isso, ele pensou que era hora de voltarem e descansarem.

“Vera?”

“Sim, Santa.”

“Agora só preciso puxar para baixo assim, certo?”

Renee continuou suas perguntas com uma cara muito animada. Suas bochechas estavam levemente coradas e seu sorriso era tão profundamente esculpido que as covinhas explodiam. Até seus movimentos eram enérgicos.

Em resposta aquela aparência, Vera inadvertidamente pensou: ‘É uma coisa boa, de qualquer forma’, e se aproximou de Renee, dissipando as dúvidas que ele tinha.

“Você está aplicando muita força.”

Era para corrigir sua postura.

A mão direita de Vera se sobrepôs à de Renee, e sua mão esquerda tocou a parte inferior das costas dela.

Vacilar.

Enquanto o corpo de Renee tremia, seu tremor foi transmitido para Vera.

Vera sentiu uma sensação de desconforto ao ver Renee franzindo os lábios.

Havia uma sensação rígida na mão esquerda dele que estava apoiada nas costas dela. Na mão direita, a pele macia de uma garota que nunca tinha feito nada violento estava fazendo cócegas na palma dele.

Ele sentiu que estava fazendo algo que não deveria e se sentiu culpado por algum motivo.

No entanto, uma razão pela qual ele não conseguia parar era por causa da sensação da pele dela contra a dele. Isso continuou a seduzir Vera, mesmo que ele achasse que estava fazendo algo errado.

Não está errado. É só uma questão de ajustar a postura dela.

Os instintos de Vera pressionaram seu senso de razão, racionalizando suas ações.

“Você poderia relaxar um pouco?”

“…Sim.”

A resposta de Renee veio um pouco atrasada. Vera sentiu uma sensação penetrante no peito dele com o leve tremor na voz dela, e ele a acalmou.

“…Eu lhe mostrarei o caminho.”

Sem vergonha, ele fingiu estar calmo e guiou o corpo de Renee.

Ele colocou a mão esquerda, que estava apoiada nas costas dela, em cima da outra mão de Renee. Ficou uma postura estranha, como se ele estivesse abraçando Renee por trás.

Uma postura de corte vertical.

Enquanto ele lentamente desembainhava a espada, Vera tinha outro pensamento na cabeça.

Estando nessa posição, Vera não conseguiu deixar de sentir a diferença de altura entre ele e Renee, e percebeu que sua atenção estava sendo atraída para isso.

A altura dela mal alcançava os ombros dele. Quando ele olhou para baixo, ele pôde ver o topo redondo da cabeça dela. O jeito como ela prendeu a respiração e puxou a espada para baixo pareceu fofo por algum motivo.

Vacilar—

Pensando nisso, o corpo de Vera estremeceu.

“Vera?”

“…Não é nada.”

Vera conseguiu responder e ficou de boca fechada.

O que diabos significa ‘fofo’?

Surpreso e abalado por seus próprios pensamentos, Vera franziu a testa ligeiramente e xingou interiormente.

‘…Este maldito Império.’

Vera atribuiu seus sentimentos estranhos ao Império.

Não era esse o caso? Ele estava servindo Renee sem problemas por quase três anos e meio, mas depois de entrar no Império, ele começou a vê-la de forma diferente.

Não era uma história estranha ou desilusória.

Só que ela parecia uma jovem, não a Santa que deveria se tornar a luz do mundo.

Ele se lembrou de Renee, que usava roupas casuais para visitar a biblioteca. Ele se lembrou de quando ela estava sentada em um banco no canto da biblioteca e apoiando a cabeça em seu ombro.

Isso não era tudo. O pequeno sorriso que sempre pairava em seus lábios, suas bochechas lindamente coradas, ou o calor e a pressão que vinham de suas mãos entrelaçadas vinham à sua mente um após o outro, mexendo com o interior de Vera.

Aquele momento daquele dia coincidiu com este momento.

As mãos pequenas e macias presas nas dele e o calor que se espalhava dali permeavam suas palmas.

Houve um som sibilante que parecia penetrar em seus ouvidos a cada respiração de Renee.

Além disso, eles estavam tão próximos que era difícil para ele respirar porque o cheiro do corpo de Renee parecia encher suas narinas. Era porque ele estava preocupado que Renee pudesse entender mal suas ações, e ele estava preocupado que ela pudesse pensar nele como um canalha que estava secretamente cheirando-a.

De uma forma muito rígida e tensa, Vera guiou a espada de Renee. Ele tentou direcionar seus pensamentos que continuavam saltando para outro lugar.

Como Renee estava tão concentrada, ele pensou que deveria fazer o melhor que podia para lhe ensinar a usar a espada.

Claro, se Renee soubesse dos pensamentos dele, ela se sentiria incrivelmente culpada.

Foi porque ela não conseguiu se concentrar na espada nem por um momento sequer depois que eles ficaram naquela posição.

O fato de ela estar ali para aprender a segurar uma espada já havia sido apagado da mente de Renee.

Só havia um pensamento na mente de Renee naquele momento.

‘Quente…’

Era o pensamento de seu rosto queimando.

Seu coração batia forte enquanto todo seu corpo estava preso nos braços de Vera.

A parte de trás da cabeça de Renee estava batendo no peito sólido de Vera. Tump, tump. Um som alto de batida ecoou em seus ouvidos, e ambas as mãos dela estavam presas entre as mãos de Vera e se sentiam sobrecarregadas. Ela não sabia como descrever, mas se tivesse que dizer, diria que seus pulmões estavam sendo preenchidos com o cheiro dele.

Renee, que era muito mais honesta consigo mesma do que Vera, pensou que seria legal se ele simplesmente largasse a espada e a abraçasse forte daquele jeito.

Um langor agradável, como se os pensamentos tivessem se tornado nebulosos, corroía todo o seu corpo.

Ela pensou que conseguiria dormir imediatamente se fechasse os olhos e se recostasse nos braços de Vera.

…Não, era um desperdício dormir. Se ela dormisse agora, não poderia aproveitar totalmente essa sensação.

Ela só queria sentir a sensação de ser abraçada com força e se apoiar nele.

Ela só queria ficar perto dele o dia todo, como se estivessem na biblioteca.

Imediatamente depois que esse pensamento surgiu em sua mente, Renee abriu a boca.

“…Vamos descansar um pouco?”

Era como o dia em que foram à biblioteca. Conforme a sede aumentava, seu constrangimento fugia para longe. Ela só queria isso. Só aquele sentimento permanecia, e não havia espaço para o constrangimento se espremer.

“…Sim.”

Quando Vera, que havia atendido, tentou retirar as mãos dele, Renee continuou rapidamente.

“Aqui.”

“Sim?”

“Vamos descansar aqui.”

Não se mova. Quando um olhar de perplexidade passou pelo rosto de Vera com suas palavras, Renee abaixou a cabeça e acrescentou.

“…Minhas pernas estão tremendo e não consigo me mover. Vamos apenas sentar e descansar um pouco aqui.”

Foi um comentário descarado.

Embora ela estivesse praticando com a espada, tudo o que ela fez foi balançá-la no lugar.

Felizmente, Vera não estava em condições de prosseguir com isso.

Vera se abaixou lentamente e sentou-se no chão de terra com Renee em seus braços.

Renee sentou-se em cima das coxas de Vera e então colocou a espada que estava segurando no chão.

“Mãos.”

Quando ela lhe mostrou as mãos vazias, as mãos de Vera se sobrepuseram a elas e depois se entrelaçaram às dela.

Uma atmosfera estranha enchia o ar.

Foi uma atmosfera que surgiu quando os corações dos dois, que estavam distantes com pensamentos absurdos mesmo no meio dos ensinamentos de espadas, se encontraram no campo de feijão.

Renee levou as mãos firmemente entrelaçadas de Vera para a frente do seu corpo, criando uma posição na qual ela ficou presa entre os braços dele.

Arrepio—

O estremecimento de Vera foi transmitido para Renee.

Renee sentiu uma sensação agradável surgir disso. Ela sentiu que Vera estava consciente dela, e ela se sentiu satisfeita com isso.

Claro, ela não disse isso em voz alta. Se ela perguntasse se ele estava consciente dela, Vera poderia fugir de surpresa.

Em vez de provocar Vera, que estava tremendo, Renee fez uma pergunta para distraí-lo.

“Quanto tempo se passou?”

“…O sol ainda está alto.”

Era mentira. O sol estava se pondo lentamente.

Vera mentiu para Renee pela primeira vez na vida. Ao mesmo tempo, ele nem percebeu que estava mentindo.

Ele estava satisfeito com essa atmosfera por algum motivo. Ter Renee presa em seus braços era tão satisfatório que ele pensou que queria ficar assim por mais um tempo, e então ele respondeu sem nem olhar para o céu.

“É relaxante.”

Quanto ao que era relaxante, nenhum dos dois disse nada.

Era só uma questão de dizer que estava realmente relaxante.

“Como estava Aisha?”

“Ela é uma criança talentosa.”

“Isso é um alívio. Não a pressione muito.”

“Vou manter isso em mente.”

“Como estão Marie e Rohan ultimamente?”

“Eles estão trabalhando duro para purificar as favelas. Afinal, é um lugar com muitos germes.”

“Eu irei com eles a partir de amanhã.”

“Eu os avisarei.”

Conversas sobre acontecimentos diários iam e vinham. Como se a posição sentada não fosse nada, a conversa continuou daquele jeito, como se eles estivessem realmente fazendo a mesma coisa de sempre.

Os dois se enganaram, enganaram um ao outro e se recostaram daquele jeito.

Como se não fosse nada significativo, Renee falou com Vera em um tom indiferente e encostou a nuca no peito dele.

“O festival está chegando.”

“Isso mesmo.”

“Você não disse que o mercado noturno tinha muitas atrações?”

“Sim. O mercado noturno, as performances ao ar livre e as casas de leilão realizadas somente durante o festival são algumas das atrações famosas.”

“Quando é que vamos?”

As perguntas fluíam como água. A opção de não ir não existia… pelo menos não para os dois agora.

“O festival tem tantas coisas para ver que acho que um dia não é suficiente para dar uma olhada em tudo.”

“Então podemos ir por alguns dias.”

“Vamos fazer isso.”

“Tenho certeza de que os outros estão ocupados, certo?”

“Realmente estão.”

“Então teremos que ir só nós dois.”

“Temo que esse seja o caso.”

O olhar de Vera estava voltado para o ar, enquanto a cabeça de Renee estava inclinada em direção ao chão.

Eles estavam se convidando para um encontro sem rodeios, como se não fosse nada.

“Há também a cerimônia de maioridade de Sua Alteza o Segundo Príncipe.”

“Sim, é realizado no Banquete do Dia da Fundação.”

“Eu nunca imaginei que iria a um baile na minha vida.”

“Você vai precisar de um vestido.”

“Mas eu vou dar uma bênção, então tenho que usar o robe de sacerdotisa.”

“O baile será realizado após a cerimônia, então não deve haver nenhum problema.”

“É um incômodo mudar.”

“Então é só usar o ro…”

“Vou usá-lo especialmente porque Vera quer que eu o faça.”

Tocar.

O dedo indicador de Renee bateu na unha de Vera. Quando Vera tremeu com o toque, Renee falou com uma voz cheia de risos.

“Que tal um agradecimento?”

“…Eu sou grato.”

“Ah, você é grato?”

Risada.

Quando Renee soltou uma risada, o coração de Vera bateu mais forte.

No campo vazio onde o sol se pôs, eles conversaram assim por um longo tempo.

***

‘Ai, estou morrendo.’

Rohan sentiu seu corpo inteiro doer enquanto caminhava de volta para a mansão.

‘Que tipo de bairro não é limpo, não importa o quanto você o purifique…?’

Já fazia uma semana que ele tinha sido designado para purificar as favelas e ele as purificava continuamente, usando sua divindade todos os dias, mas parecia que as favelas faziam jus ao seu nome.

O progresso da purificação era muito lento. Graças a isso, seu sofrimento continuou aumentando.

‘Eu deveria entrar rapidamente e descansar.’

Se eu tomar um grande gole de bebida e me deitar, acho que consigo esquecer esse dia difícil.

Enquanto Rohan caminhava pela rua com esses pensamentos em mente, ele parou e franziu a testa diante de uma cena que de repente surgiu no canto do seu olhar.

Ele viu Vera e Renee sentados um sobre o outro no meio do campo.

Rohan sentiu uma dor aguda na nuca ao ver aquilo. Seus olhos começaram a ficar vermelhos e ele rangeu os dentes.

‘Porra.’

Alguém que estava sofrendo o dia todo estava voltando, então ele não conseguiu evitar ficar com raiva quando viu pessoas sentadas em um local isolado bem na sua frente, flertando umas com as outras.

Por que minha visão tem que ser tão boa?

Rohan sentiu seu sangue ferver diante da clareza das expressões das duas pessoas e da cor de seus rostos corados.

‘Ah…’

Rohan estremeceu deixando de lado a pulsação e a explosão de raiva antes de se mover novamente com um olhar perturbado.

‘…O festival é a resposta.’

O festival. Ele tinha que ir ao festival.

Somente o festival poderia acalmar seu coração.

De meia-idade e solteiro, Rohan estava agora na casa dos quarenta.

Enquanto ele caminhava, lágrimas borradas brilhavam no canto de seus olhos.

Capítulo 103: Festival (1/5)

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