Capítulo 115: Cerimônia de Maioridade

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Na sequência de perguntas consecutivas de Renee, a primeira coisa que veio à mente de Vera foi: ‘Chegou a hora’.

Isso porque, fosse os sentimentos de Renee ou o significado por trás de suas palavras, ele já sabia de tudo.

Não era muito óbvio? Ele pensou.

Os sinais e emoções de Renee eram óbvios demais para serem escondidos facilmente.

Apesar de saber disso, Vera fez vista grossa.

Não parecia apropriado responder positivamente, e ele não tinha certeza de como isso a afetaria.

Ele fez todo o esforço para desviar o olhar e se distanciar dela, mas essas coisas inevitavelmente estavam sendo expostas diante dele.

Vera sentiu uma pontada de tristeza no coração.

“Santa…”

“Por favor, diga.”

O rosto de Renee ficou ainda mais vermelho, e seu calor foi transferido para Vera através da palma de sua mão.

Olhando para ela, a resposta veio imediatamente a ele.

No entanto, Vera abandonou a frase que surgia em sua cabeça antes mesmo que ele pudesse terminá-la.

‘…Devo rejeitá-la.’

Ele deve fazer isso. Ele pode ter um impacto ruim em Renee. Ela pode não ser capaz de iluminar o mundo ou até mesmo a si próprio.

Vera lambeu os lábios com uma expressão horrivelmente contorcida.

…Mas nenhuma palavra saiu.

Como a lógica e a emoção tinham bases de julgamento diferentes, interpretações diferentes do que é considerado certo, e como Vera sempre foi uma pessoa gananciosa, ele não conseguia reprimir suas emoções com a lógica.

Então, ele começou a cuspir palavras que escondiam o que ele não conseguia dizer.

“…Eu sou um homem maligno.”

“Você está trazendo isso à tona de novo?”

“Por favor, ouça.”

Renee fechou a boca. Olhando para ela, Vera respirou fundo e continuou.

“Eu gostava de cuidar das coisas de forma eficiente, e essa eficiência não considera a moral. Como resultado, cada vez que me deparo com um problema, recorro à violência para resolvê-lo.”

“Vera não fazia coisas assim.”

“Sim, eu não fazia isso. Para ser exato, eu não fiz uma coisa dessas desde que conheci a Santa.”

Era mais como se seu medo interior o tivesse impedido de cometer o crime.

“Agora que sei que é errado, isso frequentemente passa pela minha mente, mas eu nunca ajo dessa maneira. No entanto, isso não implica que meus pensamentos tenham desaparecido completamente. A tendência de considerar fazer coisas malignas primeiro em qualquer situação não irá embora.”

Vera se conhecia bem.

Ele sabia o quão perverso era e quão profundamente sujo era seu coração.

Ele se conhecia o suficiente para ter medo.

“Eu tenho medo. Talvez um dia eu sucumba aos meus pensamentos malignos sem perceber. E se a ação que eu tomei, que julguei boa, fosse na verdade ruim? Por causa desse medo, tenho que suprimir minhas emoções.”

Como ele fazia julgamentos emocionais muito desprezíveis e não conseguia distinguir entre o bem e o mal, ele precisava de um bem universal e sua personificação para fazer julgamentos.

Ele era um homem que teve que confiar seu julgamento àquela personificação.

“Por essa razão, não quero te manchar com minha cor. Eu estava com medo de que meus pensamentos malignos pudessem ser passados para você fazendo com que você confundisse a minha maldade com gentileza, então não queria expressar como me sentia.”

Renee podia sentir a sinceridade em seu tom quando Vera falava.

Isso a deixou triste.

“…Todo mundo tem pensamentos malignos. O que importa é se você age de acordo com eles ou não.”

“Não estou bem com isso.”

Vera imediatamente interrompeu as palavras de Renee.

“Eu realmente quero aprender a pensar positivamente e sempre colocar a decência em primeiro lugar ao lidar com situações. Não estou bem com isso.”

Vera abaixou a cabeça.

“…Por favor, não me coloque à prova.”

A longa rejeição terminou em um apelo desesperado.

Renee sentiu o calor que a envolvia diminuir.

A urgência em suas palavras e a tristeza começaram a subjugar a excitação em seu coração.

Sentindo que estava prestes a chorar, ela tentou argumentar, pois não conseguia aceitar a situação.

“Eu não me mancho tão facilmente.”

Ela abriu seu coração e seus sentimentos profundos, que ela guardou com carinho por muito tempo.

Ela se recusou a recuar.

“Se Vera estiver tendo pensamentos malignos, eu posso simplesmente te beliscar. Isso é possível se nos conhecermos melhor. Mas por que você acha que só vou ser manchada por isso?”

Foi uma observação curiosa, e a resposta veio logo em seguida.

“…Porque a Santa é muito jovem.”

As palavras eram semelhantes a uma faca afiada.

Jovem.

Renee se sentiu incomodada porque a resposta confusa dele desencadeou perguntas que ela não pretendia fazer e perguntas que ela adiou, já que ele não conseguiu responder imediatamente.

O rosto de Renee se contraiu em uma carranca. Uma dor aguda a atravessou enquanto ela mordia o lábio com força suficiente para ouvir um som de algo sendo triturado.

Ela deixou todas as suas emoções saírem enquanto abria a boca.

“…Comparada a quem?”

Vacilar—!

A mão de Vera, que tocava sua bochecha, estremeceu muito. Naquele momento, Renee foi atingida por uma percepção tardia.

‘…Era o passado.’

O que Orgus me mostrou acabou sendo o passado. A pessoa que Vera realmente amava, os gritos de cortar o coração que eu vi, estavam todos no passado.

…A primeira luz de Vera acabou sendo outra pessoa.

“Para quem Vera está olhando?”

Sua voz tremeu.

Ela soltou a mão que estava apoiada em seu rosto.

“Quem você está vendo através de mim?”

A excitação que lhe restava foi destruída e substituída por um desespero insondável.

Embora ela não tivesse certeza do motivo exato, havia algo que ela podia verificar.

A razão pela qual Vera foi tão dedicado a ela desde que se conheceram.

Foi porque havia alguém que Vera tentou projetar através dela e de seu título de Santa.

Vera estava ciente de seus sentimentos e deliberadamente escolheu não reconhecê-los.

“…Tem certeza de que está olhando para mim?”

A tristeza de Renee foi alimentada pela raiva.

Ela odiava Vera, que permanecia em silêncio, tanto que ela cuspia palavras cheias de raiva.

“Vera.”

“…Sim.”

“Responda-me.”

Vera sentiu o coração dele apertar diante daquela explosão repentina.

Renee descobriu alguma coisa? O que ela está insinuando agora?

Era tudo o que ele temia.

Vera, que estava com uma expressão confusa enquanto era pressionado a responder, mal conseguia pronunciar as palavras, de cabeça baixa.

“…Estou olhando.”

Assim como uma criança sendo repreendida pela mãe, ele respondeu como se estivesse tentando fugir do problema.

“Eu estou… olhando para a Santo.”

Sua voz tremia enquanto ele falava.

Claro, sua oponente era ninguém menos que Renee, que conseguiu sentir o tremor em sua voz e perceber seu nervosismo.

“…Vera é uma pessoa muito má.”

Uma lágrima caiu dos olhos de Renee. Vera, que tardiamente levantou a cabeça, arregalou os olhos.

“Santa…”

“Sabe de uma coisa? Posso sentir claramente que Vera está mentindo agora.”

Renee continuou em um tom exasperado.

“Vera não olhou para mim antes. A partir do momento em que perguntei quem você estava vendo através de mim, o olhar de Vera foi em direção a outro lugar.”

Seja um pequeno ruído, movimento ou uma batida de coração. Ela conseguiu capturar tudo isso, e era por isso que ela podia ter certeza.

Depois de terminar de falar, Renee sentiu um gosto amargo nos lábios, que ela havia mastigado sem perceber.

Provavelmente está rasgado. Esse gosto amargo deve ser sangue.

“Já se passaram três anos e meio.”

Era a vez dele falar, mas Renee continuou falando antes que ele pudesse fazê-lo.

“É há quanto tempo eu gosto de Vera. Sempre foi Vera desde a primeira vez que nos conhecemos.”

Havia algo que ela queria dizer.

“Mesmo que Vera só me visse como uma criança e fingisse não saber dos meus sentimentos, mesmo que eu soubesse disso, mas ainda assim…”

Apesar do desgosto, Renee manteve o desejo de ficar com Vera, então ela não parou por aí.

“…Eu sempre gostarei de Vera.”

Ela simplesmente transmitiu seus sentimentos.

Os olhos de Vera podem ter sido atraídos para outra pessoa primeiro, mas isso não manteria seu interesse para sempre.

O batimento cardíaco de Vera, o calor e o tempo que passamos juntos não eram mentiras.

Se for assim, não devo desistir.

Não vou deixar o desespero tomar conta de mim.

Tendo feito tal promessa a si mesma, Renee não podia se deixar desencorajar por uma rejeição tão simples.

Ela estendeu os braços. Felizmente, Renee conseguiu alcançar Vera devido à curta distância entre eles.

Colocando as duas mãos no rosto de Vera, Renee falou.

“Então olhe para mim. Eu sou a luz pela qual você é obcecado. Agora sua luz quer você. Olhe para mim.”

Ela aproximou a cabeça um pouco mais, de modo que somente ela preenchesse a visão de Vera, e assim ele não conseguia ver mais nada além dela.

“Olhe para mim como Renee, não como a Santa ou a Apóstola do Senhor.”

Quando estavam a um fio de cabelo de seus narizes se tocarem, ela perguntou novamente.

“Então me responda novamente.”

Ela sabia que fazia o coração de Vera palpitar.

“Você me ama?”

Era uma pressão disfarçada de pergunta.

O que se seguiu foi silêncio. No entanto, Renee sabia.

Vera não respondeu. Ele estava muito cativado por ela, mas continuou a ignorá-la.

O próprio Vera esclareceu o motivo e deu uma explicação de uma forma muito parecida com a que ele daria.

Renee podia entender isso, mas isso não significava que ela iria recuar.

Depois de três anos e meio de espera, sua sede havia se tornado tão intensa que era insuportável.

Renee inclinou a cabeça ainda mais para frente e para o lado.

E seus lábios se encontraram com um som de ‘chu’.

Por um breve momento, suas respirações se entrelaçaram e suas salivas deslizaram para frente e para trás, com gosto de sangue.

Então, como se realmente tivesse tido um grande impacto sobre ela, ela sentiu uma sensação eletrizante que percorreu sua espinha.

As pontas dos dedos dela sentiram Vera ficar rígido como uma estátua.

“Puha…”

Renee se afastou o suficiente para que seus lábios se separassem e pronunciou as seguintes palavras diretamente na boca de Vera.

“…Você não ia responder, ia? Então eu fiz o que quis.”

Ela falava como se pretendesse impor seus próprios desejos a Vera.

Foi à força.

“Já que Vera me rejeitou como ele quis, eu farei o que eu quiser. Você disse que estava com medo de me manchar porque eu sou muito jovem, não é? Então que tal isso?”

Como se dissesse ‘espere para ver’, ela curvou os cantos dos lábios em um sorriso arrogante e continuou.

“Eu vou colorir Vera com a minha própria cor. Vou fazer Vera ficar bobo. Vou fazer você pensar somente em mim para que você não tenha tempo para pensar em pensamentos maus ou bons.”

As pupilas de Vera tremeram levemente.

“Santa…”

Assim que ele estava prestes a responder, Renee o beijou novamente.

Suas respirações se entrelaçaram novamente pela segunda vez. Vera sentiu como se todo o seu corpo estivesse queimando com isso. Ele sentiu sua mente racional desaparecendo, deixando apenas o instinto em seu lugar.

Ele sentiu o medo que havia se instalado dentro dele crescendo incontrolavelmente.

No momento em que se tornou insuportável, Renee tirou os lábios.

“…Não refute. Nem pense em me rejeitar. Eu esperarei especialmente por você. Não vou tocar nesse assunto novamente até que Vera diga que me ama.”

Renee estava ofegante, seu corpo queimava como se ela estivesse suando apesar do frio, e ela estava tonta por causa da embriaguez.

Ela declarou que nunca recuaria.

“Em vez disso, farei com que seja insuportável para Vera se ele disser não. Vou beijar, abraçar ou dizer coisas embaraçosas como essa. Se você quiser que eu pare, pode simplesmente dizer ‘eu te amo’ para mim.”

Renee pensou consigo mesma.

Talvez eu rasgue o cobertor de vergonha amanhã.

Tenho certeza que sim, porque estou meio bêbada agora.

Mas não vou me arrepender.

“Se você realmente quer que eu me transforme em uma luz brilhante, apenas acene com a cabeça. Porque sua luz precisa de você. Ela precisa de você para estar completa. Essa luz lhe deu uma ordem.”

Vera era o futuro que ela imaginava, sua razão para se tornar uma luz brilhante, sua razão para se aventurar no mundo e a razão pela qual ela amava a si mesma e às outras pessoas.

“E nunca pense em dizer a mesma coisa. Eu não sou uma criança a qual você deve cuidar. Eu posso julgar o bem e o mal por mim mesma.”

Ela não se arrependeria porque Vera foi a razão pela qual ela decidiu seguir em frente.

“Depressa, acene.”

Ela o incitou mais uma vez.

Renee sorriu quando Vera, que estremeceu brevemente, começou a balançar a cabeça muito lentamente.

“Bom trabalho.”

Renee acariciou o rosto de Vera antes de abraçá-lo.

“Nunca mais me chame de jovem.”

Ela sussurrou enquanto o segurava em seus braços.

Mesmo enquanto expressava seus sentimentos, ela continuou tropeçando nas palavras e disse com irritação.

“Vera é muito mais como uma criança aos meus olhos.”

O passado era irrelevante de qualquer forma. Ela era quem tinha estado e continuaria a estar ao lado de Vera. Eventualmente, Vera seria dela.

Em um esforço para impedir que Vera fosse embora, Renee o abraçou com força enquanto falava suavemente para que apenas seu cheiro permanecesse no corpo de Vera.

“A luz de Vera já é brilhante o suficiente para seguir em frente por conta própria. Não se preocupe com isso.”

As palavras serviram de consolo para Vera e de encorajamento para ela mesma.

Ela jurou não desistir e fazer o que fosse preciso para conquistá-lo.

Em um terraço muito pequeno, Renee abraçou Vera no frio persistente e deu-lhe um tapinha na nuca, como se quisesse mostrar sua maturidade.

Era uma espécie de cerimônia.

Para que era a cerimônia? Se alguém perguntasse, Renee responderia isso.

Foi uma cerimônia para fortalecer sua determinação de não esperar mais, mas de agir para conquistá-lo.

Era um voto de dar tudo de si para tê-lo.

O que ela estava fazendo por ele era sua própria cerimônia de maioridade prematura e, ao mesmo tempo, seu próprio despertar como Santa.

Capítulo 115: Cerimônia de Maioridade

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