Capítulo 128: Pesadelo (4/4)

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Os limites entre os objetos se confundiam conforme as cores se entrelaçavam.

Conforme Renee saía do buraco escuro, sua visão foi ficando gradualmente turva, enchendo-a de uma sensação de arrependimento.

Era inevitável após o fim do sonho, mas ela ainda sentia que era uma pena.

Renee apertou os lábios para acalmar suas emoções intensas e continuou caminhando até o fim do buraco escuro.

Vai ficar tudo bem enquanto Vera estiver lá.

Se ela encontrasse Vera, todos esses assuntos triviais se tornariam insignificantes, e ela ficaria bem.

Um tênue brilho de luz inundou sua visão enquanto ela saía do buraco com tais sentimentos. O brilho de luz era resultado de linhas borradas entre objetos.

Renee parou.

‘…As favelas.’

Ela não conseguia ver, mas sabia. Ela conseguia discernir que aquele lugar era a favela do Império que ela já havia visitado antes, confiando em seus sentidos.

Junto com essa percepção, mais uma coisa ficou clara.

‘É um trauma.’

Esse sonho era o trauma de Vera.

Ao contrário dela, que viu cenas do futuro que ela desejou, foram mostradas a ele cenas do momento mais lamentável de sua vida.

Talvez o arrependimento de Vera seja…

‘…Aquela mulher.’

O momento que Orgus mostrou a ela. Aquele momento indefinido quando Vera derramou lágrimas.

Apertar—

A mão de Renee se fechou com força.

‘Você está se divertindo com outra mulher, hein?’

Um sorriso furioso surgiu nos cantos de sua boca.

‘Ele está morto. Sério.’

Você e eu vamos morrer hoje.

Com isso em mente, Renee imbuiu sua bengala com divindade antes de batê-la no chão.

As ondas se dispersaram. Seu cérebro era capaz de perceber tudo. E foi assim que Renee encontrou Vera.

Ele estava no edifício localizado três degraus à direita.

***

Rangido—

Renee abriu a porta. A porta mofada exalava uma sensação úmida e escorregadia.

Renee, que franziu a testa brevemente, olhou para frente e viu uma silhueta humana entre o brilho turvo da luz.

“Vera.”

Ela gritou.

Baque—

A sombra se contorceu.

As luzes que contornavam a sombra de Vera piscaram.

Então…

“…Você está fazendo todo tipo de coisas inúteis.”

Um grito que parecia o uivo de uma fera pôde ser ouvido.

O corpo de Renee tremeu em alarme. Algo estava errado. A voz de Vera transbordava com extrema instabilidade.

Era um som tão vil que parecia engolir tudo na frente dele.

“Ve…”

“Você não teve o bastante? Você está cruzando a linha, vadia.”

O brilho de luz que parecia pertencer a Vera tinha crescido em tamanho. Talvez ele estivesse se levantando.

No momento em que Renee tentou agir em meio à sua crescente ansiedade.

Baque—!

“Ugh…”

Vera se aproximou e agarrou seu pescoço antes que ela percebesse.

“Eu não te disse? Distinga entre o que você pode imitar e o que não pode.”

“Keugh…!”

“Isso é ótimo. Sim, agora que vocês são duas, sobrará apenas uma depois que eu a matar. Isso será um bom exemplo. Vou jogar seu cadáver na frente dela quando ela voltar para descobrir sobre a próxima fase.”

Renee nunca tinha visto Vera falar ou rir daquela maneira antes.

Renee foi subitamente tomada pelo medo.

Ela percebeu naquele momento.

Talvez fosse parte dos ‘pensamentos malignos inatos’ de Vera que ele sempre mencionava antes. Talvez essa fosse a razão pela qual ele teve que se conter.

Era algo com que ela podia simpatizar, e ainda assim…

“Isso…”

Renee não era bondosa o suficiente para ceder a algo assim.

“…Solte!”

Renee balançou o pé direito para cima. Seu alvo era a virilha de Vera.

‘Isto é apenas um sonho!’

Se quebrar aqui, vai ficar tudo bem lá fora!

Com isso em mente, Renee o chutou com força, enquanto Vera a soltou em choque e cambaleou para trás.

“Sua louca…!”

Uma torrente de maldições fluiu.

Mas Renee ignorou, respirou fundo e gritou com Vera, que estava com dificuldades para se recompor.

“Sou eu! Renee! Eu não sou uma alucinação, eu sou real…”

“Pare com essa besteira! A Santa não usaria um truque sujo como os seu, vadia!”

Ele começou a gritar insultos no momento em que Renee tentou protestar.

“…”

Renee ficou sem palavras.

Ela desviou o olhar nervosamente.

“N-Não, porque… é um sonho…”

A cabeça dela caiu um pouco.

“É-É porque Vera atacou primeiro… então em legítima defesa…”

Ela começou a suar frio.

Refletindo, ele estava certo.

‘Eu fui longe demais?’

Parece que fui longe demais.

Foi o que ela pensou.

Sim, qualquer um pode dizer que você não está são, mas como eu saberia?

Renee, que estava pensando no assunto e chegou à sua própria conclusão, franziu os lábios antes de pedir desculpas.

“Desculpe…”

Ela deixou os ombros caírem, mal-humorada.

“…Mas ainda assim.”

Eu peço desculpas, mas!

Renee, que sentiu necessidade de se defender, exclamou com o peito estufado.

“M-Me acusar de usar truques sujos é ir longe demais!”

‘Ele está indo longe demais, certo?’ ela pensou enquanto falava com um leve tremor na voz.

Vera observou tudo se desenrolar diante dele e ficou atordoado ao observar distraidamente a resposta de Renee.

O longo silêncio foi quebrado por esta palavra.

“…Santa?”

Ele disse isso para confirmar, já que ela era a única pessoa que ele conhecia com uma atitude tão brilhante, e ela parecia real demais para ser uma alucinação.

“Ahem…!”

Renee tossiu, movendo a cabeça para o lado enquanto suas bochechas ficavam vermelhas.

***

Após concluir o processo de confirmação por meio de várias perguntas, Vera, que ouviu sobre tudo o que Renee havia passado, abaixou a cabeça com uma expressão horrível.

“…Estou profundamente envergonhado. Eu deveria ter sido o primeiro a ir até a Santa.”

“N-Não! Uhm, isso é compreensível! Eu consegui acordar imediatamente porque um Vera sem rosto apareceu…”

Claro que o rosto de Renee ficou vermelho de vergonha.

Ela tinha muita vergonha de falar sobre seu sonho e o futuro que desejava.

Como resultado, ela apenas deu uma breve explicação de que “eu estava passando um tempo sozinha com Vera”, mas seu rosto já estava vermelho.

Renee fechou os olhos com força, esperando que essa conversa acabasse logo, e deixou escapar uma voz que quase parecia um grito.

“J-Já chega!”

Foi um grito que quase chegou perto de uma birra.

“Posso ouvir uma explicação desse sonho?”

Vamos direto ao ponto.

Vera pareceu preocupado quando percebeu o significado de suas palavras.

Tudo estava tão agitado que ele se esqueceu da verdade; para sair dali, ele tinha que falar sobre seu sonho, sobre ela em sua primeira vida e sobre sua regressão.

Ele estava hesitante. Ele se esforçou para inventar uma explicação que ela pudesse entender.

Enquanto Vera lutava com esses pensamentos por um longo tempo…

Ranger-

A porta do barraco se abriu.

Vera e Renee olharam para a entrada.

A Renee da primeira vida retornou carregando mingau de porco.

“Nossa, temos uma visita?”

Ela falou com uma voz ressonante.

Um olhar sombrio cruzou o rosto de Renee. Nem passou pela sua cabeça que ela estava ouvindo sua própria voz. Era natural porque as pessoas ouviam suas próprias vozes de forma diferente das outras.

Renee murmurou em voz baixa.

“…Oh.”

O corpo de Vera estremeceu e tremeu.

“I-isso é…”

“Você está flertando com uma mulher? Me deixando sozinha?”

Os olhos de Vera tremeram descontroladamente. Seu coração batia rápido.

Tenho que contar a ela agora.

Se ele não dissesse agora, algo inimaginável aconteceria. Aquele instinto animalesco lhe disse isso.

Quando Vera estava prestes a falar rapidamente, Renee, da primeira vida, continuou falando.

“Uma moça fofinha chegou?”

Uma veia saltou na testa de Renee.

“Quem é você para me chamar de fofinha?”

A resposta voltou de uma maneira totalmente hostil.

Renee estreitou os olhos. Ela estava tentando imaginar a forma da mulher que apareceu no sonho de Vera, mas não conseguiu capturar sua aparência corretamente devido ao pioramento da visão após escapar do sonho.

“Tch-”

Quando Renee estalou a língua em irritação, a Renee da primeira vida cobriu a boca e riu antes de falar.

“Oh, desculpe. Devo ter sido indelicada porque não consigo enxergar.”

Uma voz suave em uma atmosfera hostil.

Por causa disso…

Vacilar—

O corpo de Renee tremeu.

No momento em que a mulher disse que não conseguia enxergar, Renee foi atingida por um pensamento. O pensamento de que Vera poderia estar vendo outra pessoa através dela. Começou a engoli-la.

A expressão de Renee ficou ainda mais sombria.

Era raiva.

Como vivenciar sentimentos como tristeza e humilhação não era diferente de aceitar a derrota, Renee escolheu desabafar sua raiva.

“Se você não consegue ver, então você deveria pensar duas vezes quando se trata do que você não consegue enxergar. Um pedido de desculpas faz tudo ficar bem? Você está querendo simpatia agora?”

Mesmo que isso possa parecer desconsiderado, somente Renee poderia dizer isso.

‘Porque eu também sou cega!’

Posso dizer isso.

Com isso em mente, Renee explodiu, ao que a primeira fase de Renee respondeu.

“Você está certa. Esse é meu erro. Hm, aprendi algo novo graças à irmã. Obrigada…”

“Mas eu não tenho uma irmã como você?”

“Sob a graça que o Senhor nos concedeu, somos todos irmãos caminhando na mesma terra. Como podemos ser estranhas?”

“Você é próxima do Senhor? Você certamente fala muito sobre ele.”

“…Eu considero que nosso relacionamento não é muito distante.”

“Nem perto nem longe um do outro? Isso é praticamente um estranho. Essa pessoa é muito engraçada, não é?”

“Somos todos irmãos e irmãs sob a graça do Senhor…”

“Ah, bem, eu nunca tive uma irmã como você, no entanto? E você não deve falar com o Senhor desse jeito. Eu não ia dizer isso, mas eu sou muito próxima do Senhor, sabia? Ouvi dizer que o Senhor não gosta de você.”

Uma discussão acalorada começou, criando uma atmosfera opressiva.

Com um bufo, Renee se virou para Vera e falou em voz alta.

“Vera, olha a conversa dela. Ela não é uma vigarista completa? Ela é exatamente isso. Uma vigarista que se aproveita das pessoas dizendo coisas como ‘somos irmãos e irmãs’ ou ‘temos a mesma opinião’!”

Mesmo que fosse considerada uma calúnia infundada, Renee não parou de choramingar.

Ela choramingou devido à sua crescente irritação desde que aquela mulher entrou na sala.

Ela queria dizer: ‘Olhe para mim em vez daquela mulher’ ou ‘Eu sou uma mulher muito melhor do que ela’.

…É claro que Vera, ciente de toda a situação, se viu em uma situação difícil.

‘Santa, é você…’

Ele queria falar, mas não sabia como explicar.

A imagem de Renee da primeira vida, parada na entrada com o mingau de porco, e a Renee, que estava sentada ao lado dele e furiosa, estavam causando caos na mente de Vera.

“Diga alguma coisa, Vera.”

Ele pode estar enganado, mas soou como “Anda logo, fique do meu lado quando eu xingar as pessoas”.

Assim, enquanto Vera ficou sem palavras devido à confusão, Renee, da primeira vida, foi a primeira a falar.

“Irmã.”

“O que?”

“…Eu fiz algo que te deixou desconfortável?”

Vacilar—

Renee estremeceu.

‘O que está acontecendo? Por que é tão realista?’

Essa personificação era realista demais. A personificação do Demônio dos Sonhos deveria imitar a consciência interior de Vera, mas por algum motivo parecia que ela estava diante de uma pessoa real.

Não é estranho?

Era mais realista do que seu próprio sonho.

Renee foi pega de surpresa de repente, rangendo os dentes para se livrar dessa situação. Foi quando a Renee da primeira vida abriu a boca.

“Eu realmente sinto muito. Se há algo que eu tenha feito para deixá-la desconfortável, você poderia me dizer? Eu definitivamente tentarei consertar.”

Seu tom estava cheio de tristeza.

Era um pedido desesperado que partia o coração do ouvinte.

Eeek! Renee gritou num acesso de raiva.

Vera fechou os olhos com força e pensou consigo mesmo.

Segredo ou não, preciso contar a ela agora mesmo.

Ele não sabia o que Renee faria mais tarde se ele adiasse por mais tempo.

Se ele fizesse isso, Renee poderia repreendê-lo com raiva e perguntar: “Por que você não me contou antes?”

Capítulo 128: Pesadelo (4/4)

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