Capítulo 55: Gillie (3/3)

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Em sua vida anterior, a luz carmesim — a marca do reinado absoluto do Rei Demônio que veio a ser conhecida por todos os seres vivos do continente.

Uma incandescência sobrenatural que era a manifestação da própria morte, à medida que se aproximava, despertava um medo primitivo. Um prenúncio de desgraça, um lembrete do apocalipse iminente que se aproximava cada vez mais a cada momento que passava; a luz do fim, um presságio de calamidade.

Vera tinha certeza.

Essa era a luz que cobria o Rei Demônio e seus seguidores. Era a luz que emergia quando os monstros que haviam perdido sua humanidade ressurgiam.

No entanto, ele ainda não entendia.

‘Por que?’

Por que alguém emitindo essa luz já apareceu?

Ainda faltavam vários anos para que o Rei Demônio descesse sobre essas terras.

Não é possível que alguém irradie essa luz neste momento…

‘…Não.’

Não era impossível.

Fazia sentido se o Rei Demônio já estivesse se preparando, espalhando secretamente sua influência pelo continente.

Vera endireitou sua espada e examinou o rescaldo da luz explosiva. Felizmente, a luz não se espalhou para além do Santuário e o dano foi contido lá dentro.

A cena diante dele mostrava Gillie de pé, e os Neuter se desintegrando em cinzas.

Vera estreitou os olhos para Gillie, que estava cambaleando, e olhou para a adaga cravada no centro do peito dele.

Talvez essa adaga seja a causa disso.

‘Pensarei nisso mais tarde.’

Primeiro, ele teve que derrubá-lo antes de examinar a adaga.

“Heup…!”

Vera respirou fundo, reunindo divindade por trás de seu Véu de Espada, no qual ele estava trabalhando até dois dias antes, e atacou Gillie.

Sua divindade irrompeu. Engolfou todo o seu corpo, envolveu sua espada e soltou um grito opressivo.

Com ambas as mãos segurando o punho, ele puxou a espada para mais perto do corpo antes de balançá-la em um padrão crescente, liberando a divindade.

Ruuuumble-!

Ela colidiu contra o braço direito de Gillie, gerando um rugido explosivo. O som resultante não foi produzido por uma pele em chamas.

Vera estalou a língua e moveu o corpo para trás, direcionando o olhar para sua espada. A luz do Rei Demônio estava perfurando o véu da divindade envolvendo sua espada, fazendo a lâmina enferrujar.

Quando Vera desviou o olhar mais uma vez, ele testemunhou a terra ao redor de Gillie definhar, reduzida a nada além de cinzas secas.

Vera reconheceu o possuidor dessa habilidade. Era uma dúvida que permanecia em sua mente, uma que ele não conseguia mais adiar.

‘…Marcia.’

A Devoradora da Vida, Marcia. Uma das comandantes do exército do Rei Demônio.

Gillie não poderia ser Marcia. Aqueles que avistaram Marcia em sua vida anterior a descreveram como uma sereia que emergiu em terra firme.

Conforme suas suspeitas aumentavam, uma carranca logo se materializou em seu rosto. Então, um breve suspiro escapou de seus lábios.

Era um poder que não podia ser enfrentado por meios comuns.

Vera lembrou-se desse pensamento e tentou inventar uma maneira alternativa, mas naquele momento…

Pisar-!

Gillie pisou no pé de Vera.

O movimento foi rápido e fluido. Os olhos de Vera se arregalaram. Sua espada se moveu por conta própria, puramente por instinto.

Um punho voando em sua direção. Uma espada bloqueando seu caminho.

Outra explosão logo ressoou.

Claaaaank-!

****

Em meio ao torpor, um sorriso torto se materializou no rosto de Gillie devido à sensação de onipotência que permeava seu corpo.

Ele era incapaz de sentir qualquer sensação em seus corpoo, incluindo seus batimentos cardíacos. No entanto, ele estava tomado pela excitação.

Se isso for possível.

Este Apóstolo, os irmãos atrás dele, e até mesmo Friede no meio. Eles podem ser todos cortados em pedaços. Depois que a Santa for capturada, partirei para Aedrin.

O fim dessa longa espera está finalmente próximo.

Gillie balançou a mão novamente. A espada do Apóstolo estava sendo constantemente corroída pelas unhas carmesim que foram construídas ao extrair a vida que corria por seu corpo.

Ele rapidamente se esquivou, mas no final, tudo por nada. Aquele que sairá vitorioso sou eu.

Ao bater os pés, ele sentiu a vida desta terra fluindo para seu corpo.

Os lamentos de seus irmãos falecidos penetraram em seus ouvidos. Gillie supôs que os gritos enfurecidos de seus irmãos eram devido ao ressentimento que eles tinham por sua Mãe, que os havia abandonado.

‘Ah… Desprezível Aedrin.’

lamentáveis irmãos. Esse Gillie vai quebrar todos os grilhões que nos prendem e reconstruir a terra novamente.

Pisar-!

Gillie se lançou contra Vera mais uma vez.

****

Renee completou a arte divina que vinha tecendo durante sua oração e questionou Norn.

“Como está indo?”

“Bem…”

Norn foi pego de surpresa pela pergunta de Renee, e todo seu corpo ficou tenso.

Como ele explicaria essa situação? Uma explosão repentina de luz carmesim reduziu os Neuter a cinzas, deixando apenas Gillie e Vera de pé. E Vera parecia estar perdendo.

Como ele poderia dizer tudo isso?

Os lábios de Norn se moveram levemente, mas nenhuma palavra saiu.

“Norn?”

“Não está parecendo bom.”

A resposta veio de Friede.

O rosto de Friede ficou tenso enquanto ele narrava a situação sem expressão e com uma voz contida.

“…Gillie usou um truque. Parece que ele fez algo ao sacrificar os irmãos. Nenhum dos irmãos sobreviveu. Sua escolta e Gillie estão lutando, e pelo que vejo, Gillie atualmente tem a vantagem.”

Uma explicação que mencionava apenas os pontos principais da batalha.

Friede falou dessa maneira para implorar que Renee desse a ordem para a fuga.

Eles esperavam que ela declarasse que deveriam abandonar Vera e fugir, que ela escolheria sacrificar aquela escolta e prepararia uma estratégia futura.

No entanto…

“Nós podemos vencer.”

Renee nunca pronunciou tais palavras.

A expressão de Friede se contorceu miseravelmente.

A divindade que Renee havia tecido do amanhecer ao anoitecer repousava na palma de sua mão.

‘Eu consigo.’

Ela não queria se sentir tão impotente quanto no dia em que fugiu de seus perseguidores, aproximadamente três anos atrás. Portanto, ela praticou e aprimorou suas artes divinas para que nunca mais sentisse o mesmo desamparo.

Ela pode ser cega, incapaz de lutar na linha de frente, incapaz de proteger os outros dos inimigos, e ainda assim… ela acreditava firmemente que havia uma maneira de ajudar, e ela refinou suas artes divinas como um meio de fazer isso.

“Senhor Friede.”

“…O que você quer?”

“Por favor, prepare um arco para mim.”

O rosto de Friede estava tomado pela dúvida.

“O que você está tentando fazer?”

“Vou ajudar Vera.”

“Isso é impossível.”

Foi uma resposta misturada com emoções. No entanto, havia uma base forte por trás dela.

Friede podia sentir uma autoridade compulsiva que limitava o distante Santuário. A regulamentação dourada que pairava sobre o espaço acinzentado era absolutamente impenetrável.

“Seria impossível atacar Gillie daqui, os ventos são muito instáveis. E no momento em que você entrar naquele espaço, você deve lutar contra o único sobrevivente dos dois. Só causaria problemas se você entrasse.”

Mas esse não foi o único problema.

“…Além disso, a Santa não é cega?”

O que uma pessoa cega faria com um arco em vez de uma faca?

Friede exibiu um leve sorriso com esse pensamento em mente.

“Está tudo bem, eu não irei.”

“O que…”

“Você vai preparar o arco para mim?”

Friede permaneceu em silêncio. Ele simplesmente cerrou os dentes e transferiu o arco que carregava nas costas para Renee.

Um arco fornecido com a intenção de observar como Renee o utilizaria devido à sua deficiência.

Renee aceitou e se levantou.

“Norn, por favor, me diga a direção.”

“…Santa, você precisa virar aproximadamente 15 graus para a direita de onde você está olhando atualmente.”

Renee girou o corpo, estendeu o arco em seu braço e colocou uma flecha na corda.

A flecha estava imbuída do ápice de todo o entrelaçamento da divindade que ela realizou ao longo de três anos.

“Haa….”

Ela respirou fundo.

Renee desenhou a flecha em linha reta e relembrou suas orações mais uma vez.

‘Uma flecha que atingirá o alvo sem falhar.’

A cega, que não sabia manusear um arco, tinha certeza de que a flecha cairia no alvo sem falhar. Uma flecha voando no vento, mirando na direção geral do alvo, e por coincidência perfurando Gillie.

O que Renee criou foi, literalmente, uma flecha cega.

A flecha não foi feita para derrubar o inimigo. Renee sabia. Uma flecha tão pequena não poderia ameaçar o inimigo que encurralou Vera.

No entanto, ela desejou.

Ela desejou que essa flecha criasse uma pequena abertura e que Vera usasse essa abertura para cortar o fio da vida de Gillie.

Ao entrelaçar coincidências, o resultado inevitavelmente leva a um milagre.

Por isso, ela desejou esse milagre com todo o seu ser.

Ela nem estava preocupada com a possibilidade de Vera ser atingido pela flecha.

Afinal, a oração já gravada em Vera o protegerá dessa flecha.

Renee prendeu a respiração e puxou a corda do arco com toda a força.

Num instante, ela soltou a corda do arco.

****

Vera defendeu o turbilhão de ataques de Gillie e contra-atacou, movendo os pés agilmente, sem parar.

O último pensamento em sua mente foi que sua divindade estava se esgotando e sua resistência estava acabando.

Ainda havia inimigos, então ele teve que permanecer firme.

Ele tinha algo que precisava proteger, ele não podia cair ali.

Pisar-!

Um rugido explosivo irrompeu novamente.

Um golpe de sua espada revestida de divindade desenhou uma crescente no centro do peito de Gillie, mas o ferimento se curou em um instante e desapareceu. Vera avançou.

Mais uma vez, ele revestiu sua lâmina com divindade. Era uma imitação da técnica de um cavaleiro. Conforme a aura penetrava seu corpo, ele começou a circular a aura explosiva dentro de seu núcleo.

Ele não se preocupou com o braço de Gillie que bloqueava a trajetória de sua espada e com a luz explosiva que devorava toda a vida ao seu redor.

Apenas um pensamento surgiu em sua mente.

Vera brandiu sua espada, pensando apenas em forçar a divindade a entrar no corpo de Gillie antes que ele se regenere.

A divindade foi impulsionada em direção a Gillie. A divindade mais afiada e firme perfurou o braço de Gillie que protegia seu peito e penetrou a cicatriz.

Pingar-!

No máximo, apenas algumas gotas de sangue saíram do ferimento.

Pingar-!

Vera atacou novamente, balançando sua espada. Gillie apertou a espada com sua mão revestida de carmesim.

Cliiink-!

A espada quebrou.

Vera rapidamente soltou sua espada fragmentada, cerrou o punho e golpeou o rosto de Gillie.

Swoosh-!

O som emitido era esperado neste ponto. A colisão entre o par de carnes transmitiu um som não natural.

Foi um ataque ineficaz.

Vera rapidamente recuou e reajustou sua postura.

Ele sentiu uma dor no punho semelhante a uma queimadura. Quando ele desviou o olhar para verificar o ferimento, ele notou que a pele do punho onde ele fez contato com Gillie estava descascando.

“Ugh…”

Um gemido pesado escapou da boca de Vera. A dor era excruciante. Além disso, não havia nenhuma chance de sua vitória à vista.

E ainda assim ele não conseguiu cair aqui.

Era seu dever natural. Em outras palavras, seria mais correto afirmar que ele não poderia cair por causa do que ele teve que lutar para proteger.

Foi angustiante lutar por uma justiça tão ignorante e desajeitada, mas era a única maneira de trilhar o caminho que ele escolheu.

Sua espada se foi. Gillie ainda não havia caído.

Mesmo assim, ele teve que perseverar.

Vera mudou sua postura para se assemelhar às artes de combate mais poderosas com as quais ele estava familiarizado.

Era apenas uma imitação.

Em constante mudança.

A técnica que ele havia estabelecido como meta.

Entre as inúmeras batalhas que ele repassou em sua cabeça nos últimos três anos, houve um duelo que ele teve com um mestre inegável das artes de combate.

Valak, Senhor dos Orcs Orientais.

Vera criou uma imitação de suas artes de combate.

Houve quem afirmasse que somente alguém que soubesse manejar técnicas de combate poderia imitá-las.

A existência de Vera negava essa crença.

Vera não treinou nem refinou nenhuma técnica de combate. Em vez disso, ele forjou sua divindade.

A divindade de todo o seu corpo foi forjada com precisão, fazendo com que seu corpo operasse em plena capacidade.

A divindade que percorria seu corpo despertou seus músculos e os fez inchar.

Pisar-!

Vera se impulsionou para frente mais uma vez. Gillie envolveu seu corpo com a luz carmesim e respondeu ao punho cerrado de Vera de forma similar.

Gillie sentiu irritação e sua raiva atingiu o ponto de ebulição.

Sua garganta estava seca de sede.

Se eu pudesse passar por essa pessoa, esse maldito apóstolo, meu desejo há muito acalentado estaria ao meu alcance.

Contudo, o apóstolo não caiu.

Mesmo tendo sido pisoteado inúmeras vezes, mesmo com sua espada quebrada e mesmo com a pele de seus punhos descascada, ele continuou sua ofensiva inútil.

O apóstolo, que parecia uma barata, continuava firme e bloqueando o caminho.

“Suficiente!”

Gillie liberou a força vital acumulada na adaga que estava cravada em seu coração.

A vida se congregou em um único ponto.

O ressentimento condensado se manifestou como uma esfera projetada para erradicar um único alvo.

Vera acumulou toda a divindade de seu corpo em seu punho direito.

A técnica de assinatura de Valak que lhe rendeu sua fama. Deixar-se inteiramente indefeso como um meio de recriar a instância em que a morte realmente pairava em sua mente.

Eles diminuíram a distância entre eles.

O punho de Vera se estendeu, e o ressentimento que envolvia a mão de Gillie foi liberado.

Gillie tinha certeza. Os cantos dos lábios dele se ergueram em um sorriso dolorido.

‘Eu ganhei…!’

Não importa o que o Apóstolo usasse, Gillie se regeneraria instantaneamente. Considerando que, essa pessoa não conseguia se defender de todos os ataques.

No final, ele seria vitorioso.

Gillie sentiu a doce sensação de euforia permeando seu corpo.

Swooooosh-!

Uma expressão vazia surgiu no rosto dele em resposta à flecha voadora que o atingiu.

Uma flecha que viajou na direção do caminho da esfera lançada.

Uma divindade esférica na ponta da flecha.

Shuuush-.

A flecha foi reduzida a cinzas e desintegrou-se. A esfera desapareceu.

Pânico e futilidade surgiram em sua mente.

No meio de tudo isso, o Apóstolo encurtou a distância e chegou na frente deles.

Vera abriu as pernas na largura dos ombros.

Ele canalizou toda a sua divindade restante em um punho cerrado.

Então, ele estendeu o punho em uma trajetória reta e derramou sua divindade para frente.

Punho da Morte.

A técnica suprema que permitiu que Valak alcançasse o ápice de sua espécie de guerreiros, obtendo a coroa de Lorde Orc.

Thuuuud-!

O corpo de Gillie entrou em contato com o punho de Vera e explodiu completamente.

Capítulo 55: Gillie (3/3)

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