Índice de Capítulo

    “Esse bastardo!”

    Um grito violento.

    Então, um pé preencheu seu campo de visão, seguido por uma dor surda em sua mandíbula.

    “Ugh…!”

    Vera gemeu, com os olhos arregalados cheios de lágrimas, exalando um hálito pegajoso.

    “Ouch…”

    “Esse babaca está fazendo um grande escândalo por nada. Você deveria ter preenchido sua cota então se não queria que isso acontecesse!”

    O som de gritos encheu seus ouvidos, causando uma sensação nauseante.

    Vera, que sentiu isso, acordou de sua mente atordoada e levantou a cabeça para olhar a origem da voz.

    ‘…Doran?’

    Doran, o líder dos mendigos da favela.

    E o homem que Vera matou com as próprias mãos no passado, torcendo seu pescoço.

    Vera soltou um suspiro áspero, olhou para Doran com a pele desgrenhada e riu amargamente.

    ‘Ah…’

    Estou no inferno.

    Minha alma, despedaçada, caiu no inferno e está sendo punida.

    Enquanto Vera ria desses pensamentos, Doran, que estava olhando para ele, fez uma expressão distorcida e o chutou mais uma vez.

    “Ainda assim, esse bastardo!”

    Ugh! Desta vez, depois de ser atingido no queixo, Vera caiu para trás em choque.

    Vera olhou para o céu enquanto estava deitado na água lamacenta com um sorriso no rosto.

    O ar sombrio e sufocante.

    Eram as favelas.

    Mesmo depois de lutar para sair, no final, ele voltou para as favelas.

    Ironicamente, seu inferno tomou a forma das favelas.

    Ao perceber isso, uma risada mais alta irrompeu da boca de Vera.

    “Pfft… Hahaha!”

    “Você está rindo?! Rindo!!!”

    Ao ver Vera cair na gargalhada, Doran ficou bravo e começou a chutá-lo novamente.

    Vera, enquanto pensava sem entender nada, foi espancado por todo o corpo com chutes furiosos.

    ‘A Santa…’

    Qual seria o sentido de dizer isso? Aquela mulher deve ter estado nos braços dos Deuses.

    Em primeiro lugar, ela era uma pessoa com quem ele não tinha motivos para se preocupar. Ela era uma mulher que fazia até um ser maligno como ele sentir arrependimento no final, então ela devia estar lá.

    Vera riu e relembrou os últimos momentos de sua vida.

    O que ele estava pensando? Ele riu tanto de si mesmo por ser tão descarado, ousando fazer uma promessa para sua próxima vida.

    Deus não é idiota, e não havia como eles mostrarem tanta misericórdia a um ser maligno que usou seu estigma como quis ao longo de sua vida.

    ‘…Estou envergonhado.’

    Fiquei envergonhado por confiar naquele momento fugaz de calor no final, que enfraqueceu minha determinação.

    Foi um final realmente adequado para um ser maligno como eu.

    É o resultado natural porque ele usou a bênção de Deus como ferramenta e sentou-se em um trono construído sobre o desespero de pessoas comuns, desfrutando de uma vida inteira de prazeres.

    Seu corpo inteiro estava sendo espancado por chutes. No entanto, ele estava explodindo de rir.

    Vera, que sentia duas sensações opostas em seu corpo, pensou novamente na Santa e sentiu seu estômago sendo dilacerado.

    ‘…Teria sido melhor se não tivéssemos nos conhecido.’

    Se não tivéssemos, eu teria ficado emocionado com essa situação. Eu teria aceitado humildemente, e não teria me arrependido da minha vida passada.

    Enquanto refletia sobre esse pensamento, Vera teve uma percepção repentina: “Será que tudo isso foi arranjado pelo Senhor?”

    Talvez Deus a tenha colocado no fim da minha vida para que eu me arrependesse dos pecados que cometi, para que o pecador que ousou manchar o estigma de Deus sofresse ainda mais.

    Isso não seria muito razoável?

    Se isso fosse verdade, o Senhor era verdadeiramente onisciente.

    Ele suportaria o resto de seus pecados com profundo arrependimento e desespero. Se o Senhor, que preparou tudo isso para ele com antecedência, não era onisciente, então quem poderia ser chamado de onisciente?

    Novamente, houve risadas.

    “Haha…”

    Não havia motivo para rir, era uma situação em que ele deveria estar derramando lágrimas, mas por algum motivo, só sairam risos.

    Depois de rir por tanto tempo, Doran, que havia parado de chutá-lo antes de perceber, estava olhando para ele com uma cara cansada.

    “Ha, hah…”

    “Por quê? Continue, chute mais um pouco.”

    “Ei, seu louco bastardo…!”

    Hesitante, Doran deu um passo para trás.

    Com uma expressão um tanto assustada no rosto, Doran deu mais um passo para trás e saiu correndo.

    Vera olhou para suas costas distantes e pensou: ‘Esse cara não tem coragem nem no Inferno.’ Pensando em algo semelhante, ele sentiu uma sensação tardia de desarmonia.

    ‘…Espere um pouco.’

    Isso faz sentido?

    Não é o inferno? Não é um lugar para punir espíritos malignos? Mas, se é onde estou. Por que o carcereiro que me pune está fugindo?

    “Ouch…”

    Vera levantou seu corpo latejante e respirou fundo.

    Algo estava estranho. No meio desse pensamento, enquanto varria seu corpo para verificar se havia ferimentos, Vera descobriu algo que não deveria existir sob suas mangas rasgadas.

    Vera arregaçou as mangas às pressas.

    O formato de um círculo com 8 curvas foi exposto sob as mangas.

    ‘Estigma?’

    Era o Estigma do Juramento.

    Por que isso está embutido aqui? Por que isso permanece?

    Depois de pensar nisso, Vera fechou os olhos e examinou sua alma.

    Era o poder dado àqueles que recebiam o Estigma do Juramento.

    Acima das pálpebras fechadas de Vera, uma alma escura apareceu.

    A alma escura e sombria brilhava como uma brasa.

    ‘…Está intacta.’

    Não está quebrada.

    ‘…Não.’

    Foi completamente restaurada.

    Todas as partes que foram destruídas após a quebra do juramento foram restauradas.

    Enquanto Vera fazia cara de quem não sabia o que fazer diante daquele estranho fenômeno, ele de repente se lembrou do juramento que havia gravado antes de morrer e examinou sua alma novamente.

    Uma alma escura. Havia letras douradas gravadas no topo.

    ‘…Ele existe.’

    O último juramento de sua vida.

    O juramento de “Eu viverei pela Santa”.

    Estava gravado.

    Vera abriu os olhos e olhou ao redor.

    O beco dos fundos da favela, que era sombrio e sufocante por estar obscurecido pela sombra da torre.

    Sua alma não foi dilacerada, nem um pouco.

    Foi uma situação bizarra, como se tudo até o momento de sua morte fosse um sonho, mas o juramento gravado mostrava que não era um sonho.

    Vera olhou para seus pulsos magros.

    “O corpo de um mendigo.”

    A única vez na vida de Vera em que ele ficou tão magro foi quando ele era mendigo.

    Tinha que ser assim. Depois que ele resolveu o problema da fome, ele sempre manteve um corpo forte.

    Vera finalmente percebeu o que tudo isso significava agora.

    ‘…Regressão.’

    Voltei.

    O tempo voltou.

    Ele retornou como um menino miserável nas favelas que ainda não tinha feito nada.

    Ele se perdeu em pensamentos. A dor diminuiu lentamente.

    Vera olhou fixamente para o céu diante daquele fenômeno incompreensível.

    Era correto perguntar “por quê?”, mas, curiosamente, um pensamento começou a preencher sua cabeça antes de todos os outros.

    “A Santa está viva.”

    Só esse fato já enchia sua cabeça.

    Uma sensação irracional de alívio que ele não conseguia explicar.

    Ela está viva. Ela não está apenas viva.

    As queimaduras ainda não haviam deixado cicatrizes em sua pele.

    Ela não passou fome enquanto comia mingau de mel, que era pior do que ração para gado.

    … Ela não estava se escondendo nas favelas.

    Vera, que cerrou os punhos ao pensar nela, aproveitou o alívio que surgiu por um longo tempo, então teve outro pensamento.

    Por qual motivo voltei?

    Tentei dar um palpite plausível, mas nenhuma resposta me veio à mente.

    Entretanto, uma existência capaz de fazer tal coisa me veio à mente.

    ‘… o Senhor.’

    Aquele que se senta no trono mais supremo.

    Aquele que molda o mundo e tece o destino.

    Não havia mais ninguém que pudesse fazer isso.

    ****

    Vera andava pelas favelas sem expressão, coberto de água lamacenta.

    Era porque sua mente estava desorganizada.

    Se o Senhor fez isso comigo, o que eles queriam de mim?

    Em meio a uma série de perguntas, Vera finalmente se lembrou do juramento que ele havia feito.

    ‘…Eu viverei pela Santa.’

    Se há algo que o Senhor quer alcançar através de mim, será o cumprimento desse juramento.

    Não é? Por que mais você daria tanta atenção a alguém que não é bom?

    Sou um apóstolo que abusou do poder de Deus.

    Um ser maligno que lançou o mundo no caos.

    Esta segunda vida que o Senhor me deu não poderia ter sido para mim.

    De repente, na cabeça de Vera, veio à mente a conversa que ele teve com a Santa.

    -Se o Senhor fosse uma pessoa tão amorosa, eles teriam tido pena da Santa e não a teriam abandonado num lugar como este.

    Essas foram as palavras que foram ditas a Santa, que vivia uma vida miserável nas favelas.

    A resposta que recebi foi que ela mesma havia escolhido.

    Pensando nela, Vera caiu na gargalhada.

    Mais uma vez, o olhar de Vera se voltou para o céu.

    ‘Nem o Senhor conseguiu quebrar a teimosia daquela mulher.’

    Então, você está tentando salvá-la usando a mão de outra pessoa?

    Os pensamentos continuaram por um longo tempo.

    Se é isso que o Senhor quer.

    “Ficarei feliz em cooperar com você.”

    Ele soltou um longo suspiro.

    Enquanto ele suspirava, o ar turvo que enchia seus pulmões saiu.

    ‘Antes disso…’

    A cabeça de Vera virou-se para o canto da favela.

    Um dos becos mais profundos da favela, Lar dos Catadores. Ele foi para lá.

    Vera se lembrou do corpo de Renee deitado na água lamacenta.

    Os punhos de Vera estavam cerrados ao lembrar do momento em que um desespero indescritivelmente estranho veio à mente.

    ‘…O lixo deve ser limpo.’

    Mesmo que esses eventos não tivessem acontecido nesta vida, para Vera, eles eram pecadores que precisavam ser despedaçados.

    ****

    Uma taverna decadente com cheiro de mofo.

    No meio da taverna, onde todo o equipamento interno estava quebrado, Vera olhou para os cadáveres cobertos de sangue com um olhar vago.

    Eles eram os catadores que tiveram seus pescoços quebrados por ele.

    Foi engraçado que, depois que ele teve uma segunda chance, a primeira coisa que ele fez foi cometer um assassinato, mas ele não se arrependeu.

    Pelo contrário, se ele não tivesse feito isso, ele teria se arrependido.

    Logicamente falando, esse era o caso.

    A escuridão profunda das favelas. Se deixado sozinho, o mofo cresceria sem limites.

    Se ele não limpasse assim, eles sairiam das favelas, então era a coisa certa a fazer.

    …Sim, eu poderia ter dito isso.

    ‘…É uma desculpa.’

    Vera sorriu.

    Vera não se preocupou em esconder tanto suas ações.

    Encontrá-los e matá-los foi por pura raiva.

    O fim da vida dela ainda estava gravado em sua mente, e ele os matou por raiva quando se lembrou daquela memórias.

    O cheiro de sangue encheu o interior da taverna. Ele entrava nas narinas e causava uma sensação desagradável.

    Vera soltou um suspiro profundo e afastou a atmosfera repugnante.

    “Ugh…”

    Ele venceu com o poder do estigma, mas seu corpo estava exausto.

    Era natural.

    Era porque seu corpo estava muito fraco agora.

    O olhar de Vera se voltou para o fragmento de espelho no chão.

    Naquele fragmento do espelho, refletia-se a impressão sombria de um menino com rosto magro e cabelos pretos cobrindo os olhos.

    Sim, um menino.

    Seu corpo agora era o de um garoto de apenas quatorze anos.

    Além disso, ele não conseguia comer direito, então seu corpo magro foi pisoteado e ferido.

    Ele enfrentou os catadores naquele estado, então estava muito cansado.

    ‘Assim que a limpeza estiver concluída…’

    Vera encontrou uma cadeira em boas condições, sentou-se e continuou pensando.

    Ele tinha que planejar o futuro.

    Um juramento gravado na alma.

    O que devo fazer para protegê-la? Ele pensou.

    A vida não pode ser a mesma de antes.

    …Não, eu não queria viver assim, pois já me arrependia daquela vida.

    Jurei viver pela Santa, por aquela mulher excêntrica, então tive que me tornar um ser humano que pudesse protegê-la.

    …Felizmente, ele conhecia uma posição adequada para conseguir isso.

    O olhar de Vera se voltou para o estigma gravado em seu antebraço direito.

    ‘…Paladino.’

    Paladino do Reino Sagrado.

    Uma opção que ele nem sequer havia considerado em sua vida anterior.

    No entanto, se ele quisesse, essa seria a opção mais fácil para ele escolher.

    Além disso, era o lugar perfeito para manter a Santa ao seu lado.

    Na cabeça de Vera, os eventos que aconteceriam no continente no futuro estavam alinhados.

    ‘A quatro anos antes que o estigma apareça na Santa.’

    O ano em que ela faria 14 anos, o ano em que ele faria 18.

    Ele se lembrava claramente porque era a época em que ele estava coletando rumores sobre os nobres imperiais para fazer um acordo com eles.

    ‘Já se passaram 4 anos…’

    A vida passada, aquele tempo agora se foi.

    Vera sentiu como se o passado tivesse durado pouco mais de duas semanas.

    Ele lembrou que ela se viu caída na entrada das favelas.

    ‘Na vida passada, você me encontrou…’

    Então,

    ‘Nesta vida, eu irei te encontrar.’

    Um sorriso apareceu no rosto de Vera.

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