Capítulo 3 – Caçadores e Sonhos

  O sol ainda não havia alcançado seu pico no céu quando Kaito, Dick, Yuuto e Amir adentraram a densa floresta que cercava a Academia dos Guardiões. A névoa matinal ainda pairava baixa entre as árvores, enquanto o som de folhas secas sendo esmagadas sob seus pés ecoava suavemente ao redor. O objetivo da manhã era claro: caçar monstros menores e trazer de volta uma parte de seus corpos como prova, exatamente como o professor os instruíram.

– Essa atividade de hoje vai ser moleza – disse Kaito com um sorriso despreocupado.

  Amir, o mais silencioso do grupo, mantinha os olhos atentos ao redor, já à procura de qualquer sinal de movimento entre as sombras das árvores.

  – Vamos nos manter juntos – Yuuto sugeriu, lembrando-se das palavras do professor. – Não sabemos o que podemos encontrar mais à frente.

  Enquanto avançavam pela floresta, Dick quebrou o silêncio e perguntou aos seus amigos 
– O que vocês pretendem fazer quando nos formarmos? 

– Ainda temos tempo para pensar – respondeu Kaito, pensativo. – Mas há muitas possibilidades. Podemos ingressar no exército como oficiais, podemos virar magos da corte ou tentar entrar para a guarda real que protege o rei. Alguns até se tornam professores na academia.

– Eu quero ser um cavaleiro da guarda real – disse Dick com convicção. – Proteger o rei e a família real, estar no centro de tudo… sempre admirei esse tipo de vida.

– O que mais poderíamos esperar de você, Dick? – Kaito riu. – Você nasceu para usar uma armadura brilhante e salvar o dia.

– E você, Kaito? – perguntou Yuuto, curioso. – O que pretende fazer?

– Quero ser aventureiro, igual ao meu avô – respondeu Kaito com um sorriso. – Sabe, meus pais sabem usar o básico da magia, mas eles não são guerreiros. São diplomatas, cuidam de alianças e tratados. Mas eu sempre admirei as histórias do meu avô. Ele é um grande aventureiro, um herói da nação e eu quero seguir esse caminho.

– Interessante – comentou Yuuto. – Eu, por outro lado, quero liderar exércitos. Não me importo com política ou glória pessoal. Quero estar na linha de frente, comandando tropas e protegendo nossas fronteiras.

– Hm, um grande estrategista – Amir sorriu. 
– Bem, alguém tem que pensar em algo além de espadas. Eu quero estudar magia avançada, descobrir novos encantamentos. Acho que vou seguir pelo caminho de um estudioso arcano.

– Um estudioso? Isso combina com você – disse Kaito, rindo. 

– Pois é. Mas antes de chegarmos lá, ainda temos que sobreviver a esta caça – concluiu Dick, com um sorriso determinado.

  O grupo finalmente encontra seus primeiros monstros na floresta trës lobos com pele escura e olhos brilhantes, movendo-se silenciosamente entre as árvores. O ar fica tenso enquanto eles se preparam para a batalha.

  Kaito segura sua espada, com a chama pulsante na lâmina refletindo em seus olhos âmbar. Ele olha para seus amigos e pergunta: Vamos atacar em conjunto ou dividir as funções?

  Yuuto sorri confiante, girando sua lança de vento. Vou para a linha de frente. Esses monstros não vão me alcançar. Eles não me chamam de “Furacão” por nada.

  Amir, com uma expressão calculista, ajusta sua postura com uma espada longa em mãos. Sua especialidade é a manipulação de terra, capaz de criar armaduras de pedra ou mesmo erguer barreiras para controlar o campo de batalha. Eu vou criar um desvio, podemos controlar o espaço e forçar os lobos a virem em nossa direção.

  Dick, segurando duas lâminas curtas, tem uma habilidade única com magia de gelo, perfeito para congelar seus oponentes em pleno movimento ou criar armadilhas. Vou dar cobertura de suporte com gelo. –  Kaito, você quer ficar na linha de frente ou apoio? – pergunta Dick, sua confiança habitual transparecendo.

  Kaito pensa por um momento antes de responder. – Eu vou para a linha de frente com o Yuuto. Vamos fazer isso rápido.

  Assim que os lobos avançam, Yuuto se lança para a frente, sua velocidade quase sobrenatural faz com que ele cruze a clareira em segundos. Seu apelido, “Furacão”, é merecido quando ele se move com precisão mortal, sua lança de vento perfurando o primeiro lobo antes que ele possa reagir. Um corte preciso no flanco, e o lobo caiu sem resistência.

  Kaito segue logo atrás, sua espada de fogo cortando o ar com um brilho intenso. O segundo lobo tenta desviar, mas Kaito já antecipou o movimento, canalizando fogo através de sua lâmina e executando um corte que incinera as patas do monstro, imobilizando-o. Em seguida, ele desfere um golpe final.

  Enquanto isso, Amir finca sua espada no chão, fazendo a terra tremer e erguer uma barreira que desvia o terceiro lobo, forçando-o a ficar preso. Dick rapidamente aproveita a oportunidade, lançando uma onda de gelo que envolve o lobo, congelando-o no lugar.

– Perfeito comenta Amir, recuperando sua postura. – Já podemos coletar o que precisamos.

– Lutas como essa… Kaito diz, limpando o suor da testa, – São só o começo do que nos espera.

  Depois da luta, o grupo se aproxima dos lobos abatidos, ainda ofegantes da batalha. Kaito se agacha sobre o primeiro lobo, examinando-o com cuidado.

– O professor disse que precisávamos de alguma parte do corpo como prova, certo? – Kaito comentou.

  Yuuto, ainda animado pela luta, gira sua lança e aponta para os dentes afiados do lobo. – Os dentes parecem ser uma boa escolha. Fáceis de carregar e bem emblemáticos.

  Dick se aproxima, estendendo a mão e congelando parte da mandíbula do lobo para facilitar a extração. – Dentes de lobo são ótimos troféus – ele diz com um sorriso, arrancando um dos caninos com um movimento rápido.

  Amir, por sua vez, examina o lobo que ele ajudou a capturar. Ele usa uma pequena faca para remover um pedaço da pele espessa e resistente. 

– Pele de lobo é útil também, talvez o professor valorize.  – ele comenta, guardando o material em sua bolsa.

  Kaito pega um dente do lobo que ele derrotou, observando sua forma afiada e selvagem. – Isso deve servir.

  Com os materiais coletados dentes e peles de lobo, o grupo decide que é hora de voltar para a academia.

– Vamos voltar? – Yuuto pergunta, já caminhando em direção ao caminho de volta.

  Enquanto caminham, Kaito olha para o céu, pensativo. – Como será que as meninas estão se saindo? – ele se pergunta em voz alta, referindo-se ao grupo de Lianna.

Dick balança a cabeça. – Elas sabem se cuidar. Não precisamos nos preocupar com elas.

Kaito concorda, cruzando os braços. – Elas vão dar conta do recado. Melhor focarmos no nosso desempenho por enquanto.

  Kaito sorri, sentindo-se um pouco mais tranquilo. Eles continuam seu caminho de volta para a academia, satisfeitos com o progresso que fizeram naquela caçada.

  No grupo das meninas enquanto caminhavam pela floresta, as meninas aproveitavam para conversar, quebrando o silêncio tenso do ambiente. Mirya, sempre a mais curiosa, decide puxar um assunto que estava rondando entre elas há tempos.

– Ei, Lianna, preciso falar uma coisa – começa ela, com um sorriso malicioso. – Todas as garotas da Academia sentem inveja de você, sabia?

Lianna ergue uma sobrancelha, surpresa.
 – Inveja? De mim? Por quê?

  Sofia ri baixinho e se junta à conversa. – Como assim “por quê”? Porque você encontrou um partidão como o Kaito! Ele é alto, gentil, bonito… – Ela faz uma pausa dramática, suspirando. – E aquele olhar dele, meio sério, é tão… chamativo. Sem falar nos longos cabelos vermelhos.

  Clara, geralmente mais reservada, sorri discretamente. – Não vou mentir, Lianna, até eu sinto um pinguinho de inveja. Ele realmente parece ser incrível.

  Lianna cora um pouco com os comentários, mas logo responde, rindo. – Ah, vocês… Kaito e eu nos conhecemos desde criança. Nossos pais são amigos de infância, então a gente sempre estava na casa um do outro, seja por causa dos trabalhos da nobreza ou só para conversarem.

  Sofia se aproxima mais, empolgada. – Sério? Então vocês cresceram juntos? Deve ser por isso que combinam tanto. Aposto que todos na escola esperam que vocês se casem logo.

Lianna sorri de maneira tímida, desviando o olhar.

– Bom, ainda temos muito pela frente. Mas é verdade, sempre estivemos próximos.

– Uau, parece perfeito! – exclamou Mirya, suspirando.

Lianna riu, mas balançou a cabeça.

– Ele não é perfeito. Ele é muito teimoso e estressado. Nunca para de falar e se empolga com qualquer coisa. Às vezes dá até trabalho! – Ela sorriu de leve. – Mas, ao mesmo tempo, ele é tão charmoso, romântico e gentil. Quando eu estou triste, ele sempre sabe o que dizer para me fazer sentir melhor. É isso o que eu mais amo nele.

  As meninas suspiraram, todas se remoendo de inveja, mas de um jeito amistoso.

– Ah, se os outros garotos da Academia fossem assim! – reclamou Clara. – Eles são todos uns cabeças ocas.

– E sem educação – completou Sofia. – Sinceramente, o pior de todos é o príncipe Ryota. Não sei como ele consegue ser tão insuportável!

  As garotas riram dos comentários, mas logo Lianna fez um gesto para que avançassem.

– Vamos continuar. Não podemos perder muito tempo aqui – disse, se recompondo.

  Elas seguiram pela floresta, suas botas afundando suavemente no solo úmido, com os sons distantes de criaturas ao redor. Não demorou muito para que avistassem a primeira ameaça: um grupo de lobos das sombras, conhecidos por se camuflar nas sombras das árvores, tornando-os adversários perigosos à espreita.

  Lianna foi a primeira a se preparar, seus olhos ágeis avaliando a situação.

– São rápidos, mas a gente é mais – ela murmurou, deslizando a mão até a adaga que carregava nas costas, enquanto murmurava baixinho um feitiço de ilusão. – Vamos encarar isso de forma estratégica.

  Sofia, que era especialista em magia de água, estendeu as mãos e invocou uma esfera de água na frente do grupo.

– Vou distraí-los! – avisou ela. – Se eles avançarem, posso criar uma barreira de gelo.

  Clara, com suas habilidades de arco e flecha imbuídas de energia mágica, se posicionou ao lado, suas flechas prontas para disparar.

– Deixe comigo! Minhas flechas vão mantê-los ocupados à distância.

  Mirya, por sua vez, manipulava as plantas ao redor, criando raízes para prender as patas dos lobos. Ela era uma usuária de magia de planta e também de cura, capaz de controlar a vegetação local e também curar seus aliados.

– Vamos segurá-los aqui por um tempo – disse Mirya, concentrada em sua magia.

  O primeiro lobo das sombras avançou, seus olhos brilhando com uma luz feroz. Sofia foi rápida em erguer a mão, e uma parede de gelo se formou à frente dele. O lobo bateu contra o gelo com força, mas a barreira não cedeu. Nesse momento, Clara aproveitou a abertura e disparou uma flecha que atingiu o flanco da criatura, fazendo-a recuar com um uivo.

– Boa! – gritou Clara, já preparando outra flecha.

  Enquanto isso, Lianna ativou sua magia de ilusão, criando duplicatas suas e das amigas ao redor dos lobos. As criaturas ficaram confusas, incapazes de distinguir entre o real e o ilusório, um dos lobos atacou uma das duplicatas, apenas para atravessá-la sem causar dano algum.

– É agora! – Lianna aproveitou a distração e avançou rapidamente, sua adaga brilhando quando cortou a lateral do primeiro lobo, que caiu no chão.

  Mirya continuava a manipular as raízes, impedindo que os outros lobos se aproximassem do grupo. Ela invocou mais vinhas, que se enrolaram nos corpos das criaturas, deixando-as vulneráveis para os ataques de Sofia e Clara.

– Segurem eles! – gritou Sofia, lançando uma rajada de água que atingiu os lobos com força, derrubando dois deles. Ao mesmo tempo, Clara disparava mais flechas, acertando um terceiro lobo diretamente no peito.

  Com os lobos já enfraquecidos, Lianna deu o golpe final, usando sua adaga para cortar o último que ainda estava de pé, enquanto suas ilusões se dissipavam ao redor.

– Conseguimos! – exclamou Clara, limpando o suor da testa.

– Boa luta – comentou Mirya, relaxando as mãos enquanto as raízes lentamente retornavam ao solo.

– Nada mal para um aquecimento – Lianna sorriu, guardando a adaga em sua bainha nas costas. – Vamos pegar o que precisamos e seguir em frente.

  Após a batalha, Lianna e suas amigas começaram a coletar os materiais dos lobos das sombras. Elas juntaram peles, dentes e garras, itens que poderiam ser valiosos para suas aulas na academia ou para troca no mercado.

– Isso deve valer um bom preço – disse Clara, segurando um dente afiado que brilhava sob a luz filtrada pelas árvores.

– Sim, e essas peles vão nos ajudar em algumas poções e feitiços – acrescentou Sofia, enquanto cuidadosamente enrolava as peles em um pano.

  Com os materiais em mãos, o grupo decidiu voltar para a academia. Ao chegarem, encontraram Kaito, Yuuto, Amir e Dick em um canto do pátio, ainda animados pela caçada que tinham feito.

– E aí, como foi a caça de vocês? – perguntou Kaito, sorrindo ao ver as meninas.

– Conseguimos pegar alguns lobos das sombras – respondeu Sofia, animada. – E vocês, o que caçaram?

– Ah, apenas lobos também  – disse Yuuto, piscando.
 – Mas foi divertido. Agora estamos planejando um jantar. Vocês querem se juntar a nós?

  Todos concordaram, e a ideia de sair para jantar tomou forma. Ninguém queria ir a um restaurante, então Clara sugeriu uma maneira diferente de decidir aonde ir.

– Que tal tirarmos no palitinho para ver na casa de quem será o jantar? – sugeriu ela, animada.

– Ótima ideia! – exclamou Dick, já puxando alguns palitos de madeira de um dos bolsos.

  Assim, todos se reuniram e começaram o sorteio, cada um pegando um palitinho. A tensão aumentou à medida que os palitinhos eram retirados, até que chegou a vez de Kaito.

– Não pode ser! – riu Amir, olhando para o palitinho que Kaito segurava. – Parece que o jantar vai ser na sua casa!

Kaito fez uma expressão de falsa indignação.
 – Ótimo, espero que vocês estejam prontos para um banquete!

  Todos riram e, enquanto o sol ainda estava alto, decidiram que se encontrariam na casa de Kaito ao anoitecer para o jantar. O clima estava leve e divertido, e as expectativas para a noite tornaram-se um assunto animado entre eles.