Após o jantar, os adultos se retiraram para uma sala reservada no segundo andar da mansão Ignivor. O ambiente era luxuoso, com uma grande lareira ao centro e poltronas confortáveis dispostas ao redor de uma mesa de chá. O rei Ryoma, o duque Tanaka e outros nobres sentaram-se, enquanto Haruki se preparava para discutir questões importantes.

      O rei, com sua postura serena, dirigiu-se a Haruki

    – Você mencionou uma investigação recente envolvendo grifos nas redondezas. Pode nos informar o que descobriu?

    Haruki balança a cabeça concordando e começa a relatar.

    – Meu pai Hiroshi montou uma equipe de aventureiros experientes para investigar o ninho dos grifos depois que recebemos relatórios de ataques próximos. Antes de sair ele mandou um mensageiro informando que ia até as Montanhas Gallan no interior, por esse motivo ele não está em casa. Depois da missão ao chegar em Alderan a cidade próxima das montanhas ele enviou um corvo com uma mensagem dizendo que quando chegaram encontraram todos os grifos mortos, mas não por monstros. Eles foram atacados por humanos.

      Ele fez uma pausa, observando as expressões preocupadas dos presentes, antes de continuar.
    – No mesmo dia, eles entraram  no ninho dos grifos, e o que encontraram foi ainda mais perturbador. Todos os grifos estavam mortos. Espadas, lanças e armaduras estavam espalhadas e destruídas pelo local, mas não havia nenhum corpo humano. O único indício de que houve combate foi uma mão decepada que encontramos. Pela aparência, era de um homem adulto.

      Haruki parou por um momento, como se ponderasse o peso de suas palavras.
    – A suspeita do meu pai é que estamos sendo invadidos secretamente por outra nação. Eles podem estar há muito tempo se infiltrando em nossas terras, e só vamos perceber a gravidade da situação quando o exército inimigo estiver às portas da capital.

      O silêncio tomou conta da sala, à medida que as palavras de Haruki ecoavam na mente de todos os presentes.

      O silêncio que seguiu as palavras da mensagem de Hiroshi foi denso, quebrado apenas pelo leve crepitar da lareira. Os olhares entre os nobres presentes eram de preocupação, mas o duque Tanaka parecia imperturbável, quase entediado. Ele se recostou na poltrona, cruzando as pernas com um ar arrogante, e finalmente falou:

    – Invasão, Haruki? Está sugerindo que estamos sob ataque e ninguém percebeu?– sua voz era carregada de desdém. – É difícil acreditar que um exército conseguiria se aproximar tanto sem que nosso próprio sistema de defesa notasse nada. Talvez tenha sido apenas um grupo desorganizado de bandidos ou mercenários tentando sobreviver perto do ninho dos grifos.

      O rei Ryoma franziu o cenho, incomodado com o tom do duque, mas antes que pudesse responder, Haruki interveio com um tom de voz um pouco alto.

    – Com todo o respeito, Tanaka, essa não é uma hipótese que podemos descartar de forma tão leviana.  a destruição que encontramos são sinais claros de algo mais sério. Além disso, o fato de não termos encontrado corpos humanos sugere que esses invasores, quem quer que sejam, estão tentando encobrir seus rastros.

    O duque soltou uma risada seca, inclinando-se para frente.
    – Ah, Haruki, você sempre foi muito ingênuo. Acreditar que há algo maior por trás de tudo isso sem provas concretas? Devemos ter mais cuidado antes de alarmar todo o reino com suposições. Estamos aqui para proteger o reino, não para incitar pânico.

    Haruki apertou os punhos, mantendo o controle, mas era visível o desconforto que as palavras de Tanaka provocavam.
    – Não se trata de pânico, trata-se de estarmos preparados. Se estamos realmente enfrentando uma ameaça externa, devemos agir agora, enquanto ainda temos a chance de interceptá-los.

      Tanaka revirou os olhos, claramente desdenhando da preocupação de Haruki.
    – O seu pai Hiroshi, sempre foi ótimo em combate, mas talvez a política seja algo que deveria deixar para os mais… experientes – disse ele, olhando para o rei Ryoma, como se esperasse que o monarca compartilhasse de sua opinião.

    Ryoma, no entanto, permaneceu sério, seus olhos fixos em Haruki.
    – Tanaka, não podemos subestimar essa situação. Hiroshi tem experiência de sobra no campo de batalha e nas questões estratégicas. Se ele acredita que estamos diante de algo maior, eu confio em seu julgamento.

    O duque Tanaka apertou os lábios, claramente insatisfeito com a resposta do rei, mas manteve a compostura.
    – Claro, Vossa Majestade, faço apenas minha parte ao sugerir cautela. Afinal, é meu dever proteger o reino e a família real – disse ele com um leve tom de falsa humildade.

    Haruki se levantou, olhando diretamente para o duque.
    – Não estamos aqui para debater egos. Estamos aqui para garantir a segurança do reino. Se o duque prefere ignorar os sinais, que assim seja. Mas eu vou continuar com minhas investigações, e quando a verdade vier à tona, espero que todos nós estejamos prontos.

      O duque Tanaka sorriu de canto, como se já tivesse vencido uma disputa silenciosa, mas o olhar de Ryoma indicava que ele estava longe de aceitar a complacência do duque.
    – Haruki – o rei disse finalmente 
    – Eu vou investigar pessoalmente.  Se há qualquer indício de ameaça, devemos estar preparados para agir imediatamente.

    – Sim, Vossa Majestade – respondeu ele abaixando a cabeça.

      Enquanto a conversa prosseguia, o duque Tanaka observava com olhos astutos, uma leve sombra de malícia passando por seu semblante. Ele podia estar relutante em acreditar nas palavras de Hiroshi, mas uma coisa era clara: Tanaka estava sempre em busca de manter seu poder e influência, e se algo ameaçasse sua posição ao lado do rei, ele agiria sem hesitar.

      Após a tensa reunião, o rei Ryoma se levantou, sinalizando o fim das discussões. Todos na sala se levantaram em respeito, com exceção do duque Tanaka, que permaneceu sentado por um breve momento, observando os demais antes de se erguer lentamente. Sua expressão ainda carregava um ar de superioridade, como se estivesse um passo à frente de todos.

    – Muito bem, senhores – o rei disse, com uma voz calma, mas firme. – Amanhã teremos mais a discutir. Que todos retornem às suas casas e reflitam sobre o que foi dito aqui.

      Os nobres presentes começaram a se despedir um a um, saindo da sala reservada e descendo em direção ao grande hall da mansão Ignivor. A atmosfera antes animada do jantar agora parecia mais pesada, especialmente entre aqueles que estavam mais atentos às palavras de Haruki.

      Kaito, que estava próximo à porta, observava tudo com curiosidade. Ele sabia que seu avô e seu pai estavam lidando com algo grande, mas ainda era jovem demais para compreender completamente o alcance do que isso significava.

    – Vamos indo, Kaito – disse Akari, sua mãe, pousando a mão suavemente no ombro do filho.

      Enquanto as famílias começavam a deixar a casa, o rei Ryoma se aproximou de Haruki, dando-lhe um aperto de mão firme.

    – Obrigado por me receberem em sua casa. Confio que continuaremos a monitorar a situação. A segurança de Imperion depende de nossa vigilância.

    – Sempre, Majestade – respondeu Haruki com uma reverência.

      O duque Tanaka, acompanhando de perto o rei e o príncipe Ryota, apenas deu um aceno mínimo de despedida, sem a mesma formalidade. Enquanto saíam, Ryota olhou para Kaito com desdém, mas nada disse, ainda ressentido pela humilhação que havia sofrido mais cedo.

      Assim que o último convidado deixou a mansão, a casa parecia respirar mais aliviada. Akari começou a organizar os criados para limpar o salão, enquanto Haruki se aproximou de Kaito e disse:

    – Vá descansar, filho. Amanhã será um dia cheio para todos nós.

      Kaito ainda estava processando os eventos da noite, mas sabia que o jantar havia terminado. Todos haviam ido embora, mas algo lhe dizia que as tensões apenas começaram a se revelar.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota