Saito Tanaka era um homem de muitas máscaras. Para o povo de Imperion, ele era o respeitável Duque Tanaka, sogro do rei e um dos homens mais poderosos do reino. Para os nobres, ele era um astuto estrategista, capaz de manobras políticas com precisão cirúrgica. Mas poucos conheciam o verdadeiro Tanaka — aquele que via o trono de Imperion não como algo que servisse ao povo, mas como um trono de marionetes, onde apenas ele seguraria os fios.

      Naquela manhã, Ryota entrou em seus aposentos sem cerimônia, como sempre fazia. O príncipe herdeiro, neto de Saito, carregava a arrogância no semblante, fruto da educação mimada e das promessas que o avô lhe fazia. Encontrou o Duque ainda na cama, os lençóis de seda bagunçados e uma jovem empregada vestindo-se apressadamente no canto do quarto. Ela saiu sem sequer olhar para trás, acostumada com aquela rotina.

    – Está na hora de acordar, avô – disse Ryota, quase com um sorriso de superioridade, como se tivesse algum controle sobre o Duque.

      Saito abriu os olhos lentamente e, sem qualquer traço de surpresa, olhou para o neto com aquele olhar calculista que apenas ele sabia fazer.

    – Sempre tão impetuoso, Ryota – disse Tanaka, sua voz ainda rouca pelo sono, mas firme. – Se vai se sentar no trono, precisa aprender a ter paciência.

    – Quero ser rei agora – resmungou o príncipe, cruzando os braços, mas Saito ignorou o comentário.

      Levantou-se com calma, caminhando até uma mesa próxima onde estavam espalhados papéis, relatórios e um mapa detalhado da capital, Pyronia. Ele não era o tipo de homem que acordava despreparado. Havia planejado aquele dia com cuidado, assim como fazia com todos os outros.

      O Duque Tanaka sempre soube que seu lugar era ao lado do poder, mas nunca debaixo dele. Ryoma, o rei atual, era um bom governante aos olhos do povo, justo e carismático. Mas, para Tanaka, ele era um empecilho. Ryoma, apesar de ser seu genro, nunca confiara plenamente no sogro, e os anos haviam solidificado essa distância entre eles. Tanaka sabia que, enquanto Ryoma vivesse, ele jamais seria o verdadeiro governante de Imperion. Por isso, Ryoma precisava morrer.

      E Ryota? Ele seria rei, claro. Mas o jovem era fácil de manipular, ingênuo e tolo o suficiente para acreditar que suas vontades importavam. Saito moldaria o príncipe como um artesão molda a argila, transformando-o em um fantoche real, enquanto ele próprio governaria das sombras.

      Naquela tarde, Tanaka se encontrou com o homem que tornaria tudo possível: o médico-chefe do palácio, Mestre Kureta. Um homem habilidoso, que há anos tratava da família real e ganhara a confiança de todos. Mas, assim como Tanaka, ele via a oportunidade onde outros viam apenas lealdade.

    – Duque – Kureta fez uma reverência sutil ao entrar nos aposentos de Saito, fechando a porta atrás de si. – As preparações estão avançando.

    – E o veneno? Você conseguiu – perguntou Tanaka, sem rodeios, enquanto indicava uma cadeira ao lado da lareira.

    – O veneno está a caminho, um composto raro, extraído de uma flor que cresce nas montanhas do sul. Mortal, mas sutil. Os primeiros sintomas serão fraqueza, e isso vai progredir até a morte. Se administrado em pequenas doses, será quase impossível de detectar.

      Tanaka sorriu. Ele estudará venenos por anos, não por capricho, mas por necessidade. Em sua posição, a morte era uma aliada, e conhecer suas formas mais sutis fazia parte de seu arsenal.

    – Como será administrado? – perguntou ele, enquanto servia-se de um copo de vinho.

    – Durante os tratamentos diários do rei 
    – Kureta respondeu. – Ryoma acredita que os remédios o mantêm forte, mas aos poucos, eles vão destruí-lo por dentro. Ele sentirá os efeitos, mas atribuirá à idade.

      O Duque sorriu levemente, um sorriso frio, sem humor. Era o plano perfeito. O rei estaria vulnerável, e sua morte seria lenta e dolorosa, mas imperceptível aos olhos dos que o cercavam.

    – E quanto aos outros? – Kureta perguntou, com um tom de curiosidade cautelosa.

      Tanaka sabia que o médico se referia aos aliados dentro da corte. O plano não era obra de apenas dois homens. Tanaka recrutara outros, discretamente, ao longo dos anos. Alguns nobres já estavam insatisfeitos com a liderança de Ryoma, outros viam em Ryota a oportunidade de promover seus próprios interesses. O Conselho de Nobres seria o próximo alvo de suas manobras, e, no momento certo, todos se curvariam a ele.

    – Deixe-os comigo. Quando Ryoma cair, eles já estarão alinhados com o novo governo – Tanaka respondeu, cruzando as pernas e observando a dança das chamas na lareira.

      Kureta acenou, compreendendo seu papel no esquema.

    – E Ryota? – o médico perguntou, com cautela.

    – Não se preocupe com Ryota – disse o Duque, balançando a cabeça com um sorriso condescendente. – Ele fará exatamente o que eu mandar. Sempre fez.

      Mais tarde naquela noite, após o encontro com Kureta, Tanaka voltou para seus aposentos e observou a cidade de Pyronia pela janela. A capital era grande, movimentada, uma metrópole de comércio e política. Mas ele via apenas o trono, o poder que esperava por ele, e o que precisaria ser feito para reivindicá-lo.

      Ele sabia que Ryoma morreria em questão de meses. O veneno faria o seu trabalho, lento e doloroso, e o povo lamentaria a perda de seu amado rei. Mas o reino seguiria em frente, com Ryota no trono e ele, Saito Tanaka, como o verdadeiro governante, o manipulador nas sombras.

      No fundo, ele acreditava que estava fazendo o que era certo. Para ele, o poder não era apenas um desejo, era um dever. Ele acreditava que somente ele poderia liderar Imperion para uma era de glória, livre da fraqueza e das incertezas de Ryoma. E se, para isso, o rei precisasse morrer, que assim fosse.

      Saito se sentou em sua cadeira, os olhos frios, fixos no horizonte. Ele sabia que sua hora estava chegando, e quando o trono de Imperion finalmente estivesse ao seu alcance, ninguém seria capaz de desafiá-lo.

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