Capítulo 310: Traumatizando uma Aldeia

Numa aldeia tranquila…

A nevasca durou tanto que os moradores se esqueceram da visão do sol. Tudo o que restou foi frio, silêncio e desespero eterno.

A cada dia, mais membros do clã caíam no Sono Eterno, um sono eterno do qual não havia como acordar.

Muitas vezes tentaram sair, mas a nevasca era uma prisão. Era fácil entrar, mas extremamente difícil sair.

“Aqui, tudo lindo e aconchegante!” Um membro do clã assentiu satisfeito enquanto olhava para a cova que acabara de cavar, a sua.

Esse cara era um sentinela. Mas, pensando bem, não era como se eles tivessem muito com o que se preocupar. Nenhuma criatura inteligente entraria nesta terra da morte voluntariamente. Simplesmente não havia jeito.

Ou assim ele pensou, enquanto o vento forte carregava um murmúrio…

“♫♩ Você consegue sentir o calor agora! Meu coração batendo forte, meu sangue fervendo e minhas pernas balançando! Hora do solo de lobo!…. Woof! Woof! Woof! Woof! ♫♩“

Calor? Que calor?! Quanto mais o sentinela ouvia, maior se tornava seu sorriso irônico. Ele já estava alucinando: ainda bem que o túmulo estava pronto.

Então, as alucinações auditivas se tornaram visuais. Um jovem pulava alegremente na tempestade furiosa enquanto cantava, enquanto um lobo listrado laranja balançava o traseiro ao som da música.

Atrás dele estava seu irmão, o homem que eles haviam oficialmente enviado em uma missão para salvá-los. Mesmo assim, sabiam que não passava de um sonho.

Sim, ele estava 100% perdido!

Jack irrompeu na aldeia, cantando alegremente.

No caminho, ele observou os habitantes do lugar. Pareciam tão fortes quanto excêntricos. Ao passar, seus olhos se arregalavam e apontavam para ele como se tivessem visto um fantasma.

As reações deles foram muito estranhas:

• Abaixar-se em uma cova

• Acenar com ferramentas de exorcismo

• Cortar a palma da mão

• Rir sem pensar

• Louvado seja o sonho

• …

Ficar tanto tempo sem sol os deixou loucos. Bom, isso não importava muito.

Jack chegou ao centro da vila, com um bando de nórdicos aglomerados ao seu redor.

“Olá a todos e bem-vindos à minha palestra no TED! É, quer dizer, olá! Sou o Jack’O e estou feliz por estar aqui. Vou dar autógrafos mais tarde. Não se preocupem!”

“?!?”

“Ouvi dizer que vocês têm pessoas sofrendo de Sono Eterno. Por que não os trazemos aqui junto com todos os itens mágicos que vocês têm? Para fins medicinais, é claro!”

“…”

“…”

“Vo-vocês estão vendo isso?!”

“Espera aí, vocês também o viram?!”

“Sim. I-isso significa… alucinação em massa!”

Nenhum deles sequer cogitou a ideia de que o alegre Jack pudesse estar fisicamente presente. Afinal, sua voz vibrante soava estranha demais naquele momento.

Não ajudou o fato de seu contato aqui estar nos arredores, ocupado impedindo que seu irmão se enterrasse vivo.

“Woof! Woof!” (Que diabos vocês estão fazendo?! Não fiquem aí parados!)

O pequeno lobo repreendeu os aldeões. Será que eles não queriam mais ajuda?! Por que ainda estavam ali, sem entender nada, quando seu dono lhes dera ordens?

Moon Moon acenou com a pata, enviando uma torrente de fogo em sua direção.

Bam!

Que diabos?! Seus queixos caíram enquanto observavam o espetáculo. Finalmente perceberam que o fogo, o lobo e o jovem estranho eram reais!

“Ótimo, agora tenho a atenção de vocês? Pacientes! Itens mágicos! O mais rápido possível!” Jack bateu palmas, trazendo-os de volta à razão.

“!!!!!”

Foi então que todos os nórdicos enlouqueceram. Eles tinham tantas perguntas! Mas, ao verem a expressão irritada do jovem, inconscientemente obedeceram às suas ordens.

Poucos minutos depois…

Jack sorriu ao olhar para os tesouros reunidos à sua frente. Eram itens míticos… MÍTICOS!!! Eles brilhavam em um azul intenso, todos do elemento Gelo.

E daí se a especialidade dele era fogo/energia demoníaca?! Ele não recusaria! Aproximou-se deles com ganância nos olhos. Quanto à pilha de pacientes… quem se importa!!

“!!!”

“?!?”

Mas, ao tocá-los, suas lágrimas de alegria se transformaram em lágrimas de desespero. Este era um mundo tão cruel! A única mensagem que ele recebia era [Não é possível acessar!]

“Ha-há algum problema? Aliás… quem é você exatamente?” Um aldeão finalmente criou coragem para perguntar. O homem havia mencionado a cura do Sono Eterno, mas nada mais…

Foi então que o nórdico que o guiara até a vila finalmente chegou, explicando a situação. Alguns segundos depois, eles olharam para Jack com estrelas nos olhos.

Ele tinha conseguido sobreviver ao Sono Eterno sozinho?! Não tinha como o colega mentir sobre isso! Que incrível era isso?!

Todos se viraram para ele, curvando-se até que seus rostos estivessem literalmente na neve, enquanto pediam ajuda repetidamente.

Era preciso saber que o comentário de Jack tinha sido 100% um blefe naquela hora. Ele não tinha como curar ninguém do Sono Eterno tão facilmente, sendo “facilmente” a palavra-chave.

Mas, ao olhar para a pilha de tesouros brilhantes reunidos, ele não pôde deixar de acreditar que ainda havia uma chance até para ele.

Isso poderia até ser bem divertido. Além disso, aumentaria sua afinidade com os aldeões, o que era ótimo, sinceramente.

Ainda que eles nunca saíssem dessa área de teste, ainda seriam uma ajuda incrível para ele subir de nível de forma rápida e eficiente, algo que ele estava negligenciando.

Eles fizeram olhares de cachorrinho para ele…

“Tudo bem, eu ajudo, mas!…” todos prenderam a respiração, esperando que a situação não fosse tão grave. “…vou dar uma surra no próximo que me chamar de alucinação! Humpf!” disse Jack.

“SIM!!!!” Aplausos estrondosos ressoaram, transformando a vila antes sem esperança e mortalmente silenciosa em um lugar acolhedor.

“Woof!” (Hehe, eles finalmente perceberam a grandeza do Mestre!)

O pequeno lobo abanava o rabo alegremente enquanto observava o processo. Seguindo as instruções de Jack, eles construíram um iglu gigante para abrigar todos os pacientes que dormiam pacificamente.

Depois, ele os fez moer alguns artefatos míticos até formar um pó brilhante, que ele usou para traçar um vasto círculo mágico enquanto gargalhava.

Jack fez questão de registrar especialmente essa parte do processo. Como os outros reagiriam ao verem um processo tão dispendioso? Se ele não conseguisse trazer os itens para fora, se divertiria muito!!

Ah, curiosidade: ele não tinha o poder de destruir os itens sozinho. Ele confiava nos próprios nórdicos. Eles choravam enquanto desfaziam suas relíquias ancestrais.

“Não se preocupem, pessoal, vai valer a pena!”, Jack continuou a tranquilizá-los. Mesmo assim, isso não impediu que as lágrimas caíssem.

Depois do que pareceu uma centena de ataques cardíacos para os pobres NPCs, eles finalmente terminaram. Jack observou seu trabalho com alegria antes de ficar sério.

“Agora, traga seu bem mais precioso, o Cálice da Maioridade”, ele ordenou.

“AHH! Nããão! Por favor, não!!!” Todos gritaram ao mesmo tempo.

“Tch— Por que toda essa confusão? Não vou destruí-lo nem nada.” Jack zombou das expressões aterrorizadas deles.

Trouxeram uma grande taça de gelo que, alguns segundos depois, cintilava mesmo sem luz. Assim que a tocou, Jack demonstrou uma expressão solene.

“Sim, exatamente como eu pensava.” Ele suspirou ao sentir o mal contido ali.

Como muitas raças em Infinite, os Nórdicos tinham um ritual para que um jovem se tornasse adulto. Isso incluía uma bebida de sangue energizante e este artefato específico.

Este ritual lhes conferiu poderosos físicos à base de gelo, dos quais eles realmente não conseguiam abrir mão. Daí o problema.

O Sono Eterno era uma maldição consciente. Ela se escondia no cálice, infectando facilmente todos os jovens. Afinal, eles aceitariam o poder (e a maldição sorrateira) de bom grado.

“O-o que foi?” Os nórdicos o encararam, tremendo. Será que ele tinha descoberto alguma coisa?

“Ah, todo mundo que bebeu disso tem a maldição do Sono Eterno. Eles vão desenvolver sintomas eventualmente, sem problema.” Jack deu de ombros, rindo da reação deles.

Nada demais?! Como isso não era nada demais?! Se ele estivesse certo, eram todos homens mortos!! Como ele estava tão relaxado?!

Jack não deixou o estresse afetá-lo enquanto movia a mão a uma velocidade incrível, misturando inúmeras substâncias em pó: brancas, marrons, acinzentadas e até roxas.

Ele então pegou uma chaleira, ferveu um pouco de água antes de misturar tudo no Cálice. Em pouco tempo, uma bebida com aparência de chocolate quente nasceu.

Gulp! Parecia e cheirava tão bem! Seus olhos brilhavam de fervor: seria aquela a cura para a maldição?! Quando viram Jack se mexer pela última vez, um deles deu um passo à frente.

“Se-senhor, devo ajudar a distribuir o remédio? Quanto devemos dar a cada um? Quanto tempo demora para fazer efeito?”, perguntou ele, nervoso.

“Remédio? Que remédio?” Jack lançou-lhe um olhar perplexo. “Isto é chocolate quente. Nunca viu antes? Mas não pode experimentar. Este é meu.”

“….”

“…”

“Sim, chocolate quente é o melhor em um dia de neve!” Jack exclamou antes de tomar um gole.

No silêncio, eles o observaram beber sua bebida quente e açucarada, ofegar de felicidade e então se deitar no chão com um sorriso bobo. Será que ele estava… tirando um cochilo?!

Mas foi então que perceberam onde ele havia caído. Ele estava exatamente no meio do círculo mágico que havia desenhado antes. O círculo já estava brilhando, enviando-lhe energia.

Isso foi voluntário ou apenas um erro? No momento em que se perguntavam se deveriam acordá-lo, o companheiro nórdico de Jack balançou a cabeça. “Esperem só o milagre acontecer.”

Moon Moon foi deitar-se ao lado de seu mestre, protegendo-o. Em absoluto silêncio, cerca de 20 nórdicos de aparência poderosa vigiavam um homem adormecido.

Quanto ao estado atual de Jack, eles teriam ficado assustados se soubessem.