Capítulo 04: Sinto sua falta, irmã
Despertar era sempre o pior. Não era apenas desagradável, era torturante.
Quando Jack recobrou a consciência, seu cérebro instintivamente fez ele respirar fundo. O ar frio invadiu seus pulmões, ralando suas entranhas, isso o fez tossir continuamente. Foi uma tosse tão profunda que quase fez o prédio inteiro tremer!
Seu diafragma continuou tremendo enquanto ele lutava para firmar seu corpo agora trêmulo. Sentiu como se fosse tossir seus pulmões, mas sabia que iria parar depois de alguns minutos. Sempre foi assim.
Essa era a maldição do mergulho profundo, também conhecido como lugar por muito tempo. Isso se tornou possível porque o headset VR 1 era realmente mágico. Poderia desacelerar as funções corporais de um ser humano no mínimo, semelhante a estar em êxtase.
Mas, havia muito que a tecnologia poderia fazer. Usar excessivamente o VR confundiria o cérebro para aceitar esse estado de desaceleração como o novo normal, daí essa enorme reação.
Jack se livrou do aparelho, vasculhando seu quarto com um olhar firme que não combinava com seu corpo fraco. Seu minúsculo apartamento cinza, semelhante a uma prisão, foi separado em duas seções.
Um lado estava totalmente cheio de lixo. Havia pratos sujos, pacotes de ramen vazios, grãos de arroz e outros objetos que não dava para se identificar só olhando. Não parecia nenhum pouco habitável.
O outro lado era um contraste extremo e era tão limpo que era inacreditável pensar que sequer existia. Mas Jack mal olhou para lá. Ele sabia que o que estava procurando não estava lá.
Jack vasculhou o lixo, não se importando nem um pouco com a bagunça, até que finalmente encontrou o que estava procurando. Era um velho celular parecido com um tijolo, apesar de não ser velho. Era um daqueles celulares de graça militar com resistência e bateria quase infinita.
Ele abriu e foi quando veio uma enxurrada de sons de notificação. Havia tantas chamadas perdidas e mensagens de texto. Mas todos eles basicamente disseram a mesma coisa em termos diferentes.
“Não se mate, Jack!”
“Não se mate, por favor!”
“Não se mate, por favor! Não se mate, Jack!”
Engraçado como tudo isso veio de amigos de jogos. Eram pessoas que ele nunca conheceu e provavelmente nunca conheceria.
Quando seu corpo começou a tremer, ele sentiu outro ataque de tosse tomar conta. Não, eles definitivamente não se encontrariam. Não com ele nesse estado.
O jovem sabia o quão terrível seu corpo exausto parecia. Ele provavelmente tinha mais preto sob os olhos do que um maldito panda!
Ele deu um sorriso autodepreciativo ao entender as preocupações de seus amigos. Havia perdido milhões e milhões de créditos para organizar esse ataque, daí esse seu apartamento de merda, e agora tinha falhado.
Estava tão perto, porém era tarde demais. Ele não seria capaz de se juntar ao panteão. Este foi o teste beta exclusivo da próxima atualização, reservado apenas para os melhores jogadores havia uma última vaga restante, uma que ele não conseguiu ocupar.
Jack sabia o quão lixo eram suas habilidades em comparação com os outros jogadores de alto nível. Ele tinha sido melhor que 99% dos jogadores, mas também atingiu seu limite de mestria. Sabia que não poderia melhorar ainda mais, ao contrário deles.
Essa oportunidade tinha sido sua Ave Maria. O teste beta significava mais conhecimento e possibilidade de obter novas habilidades de personagem fortes o suficiente para equilibrar suas deficiências.
Realmente tinha perdido muito com essa traição e essa morte. Ainda assim, ele nunca se mataria, não seguiria o mesmo caminho do velho.
Ele colocou o telefone no modo não perturbe e removeu as notificações. Então pesquisou na sua pequena lista de contatos, pressionando a entrada “Odd Job Willy”.
Por alguns instantes, o toque e suas respiração irregular foram tudo que ele ouviu. Porém uma voz animada atendeu.
“Chefe! Você tá vivo! As pessoas na Internet tão todas dizendo que você se matou depois daquele fracasso monumental.”
“Ferre-se isso, eu tenho um trabalho pra você.” Jack disse baixinho.
“Hehe, eu estava esperando que você ligasse! Eu ouvi tudo disso algum idiota da Abyss Gaze causou toda essa bagunça! Você quer que ele vá embora, certo? E os outros jogadores aleatórios?” Willy perguntou com expectativa.
“Você está errado. O alvo é a sentença de morte. Eles tem um novo executivo ansioso para provar a si mesmo. Eles estão tentando derrubar a Abyss Gaze também, forçando eles a entrar no fogo cruzado.” Explicou Jack.
“C-chefe, como você sabe?! Todas as pistas levam a–” Willy perguntou totalmente confuso.
“Exatamente. Um assassino profissional não deixa pistas. Você sabe o que fazer, eu quero o culpado implorando pela morte.” Jack instruiu.
“Sim, chefe! Quanto ao pagamento…” Willy questionou timidamente.
“Sim.” Isso foi o suficiente. Ambos sabiam o que significava.
Jack encerrou a ligação decisivamente. Malditos idiotas da Sentença de Morte! Eles eram um bando de elitistas com taxas exorbitantes. Se achavam tanto só porque eram a renomada guilda de assassinos n°1.
Mas havia uma diferença entre ser um assassino forte no jogo e ser um forte na vida real. O culpado por trás de sua morte logo muito, dolorosamente viria a entender isso e também o verdadeiro mentir por trás de tudo.
Jack tinha sacrificado muito para ele simplesmente aceitar essa perda. Eles tinham gastado dinheiro na vida real para estragar sua vida. Ele iria encontrar o endereço deles e fazer deles um exemplo pra isso nunca mais acontecer.
INFINITE tinha há muito deixado de ser apenas um jogo. As apostas eram muito altas e o dinheiro envolvia muitos. O valor corrompeu as pessoas e mostrou o pior dos humanos.
Agora ele tinha percebido o erro que tinha cometido. Vender tudo o que possuía para financiar seu ataque o levou à miséria.
Enquanto isso, seus inimigos caluniaram seu nome por terra. Muitos o chamavam de trapaceiro e explorador, por conta dele não ter boas habilidades básicas 2 Jack não poderia ganhar um 1X1 justo contra qualquer um próximo ao seu nível de jogo se tivesse que usar uma conta de torneio fictícia.
Tudo isso não importava para ele. Por que se importaria com reputação? Por que se importaria com dinheiro? Mas isso fez alguns imbecis pensarem nele como um alvo fácil para se intimidar. Os responsáveis se arrependeriam e teriam uma morte agonizante, mas qual era o sentido? Ele não pode deixar de suspirar.
Jack ferveu um pouco de água, pegou 2 tigelas junto com 2 pacotes de ramen e foi para o lado limpo do apartamento. Ali havia um altar, do tipo dedicado aos entes queridos falecidos.
Em uma moldura de madeira simples, mas elegante, havia a foto de uma jovem. Seu longo cabelo preto esvoaçante englobava um rosto bonito com um sorriso radiante. Ela estava fazendo um sinal de paz enquanto olhava diretamente para ele.
O rapaz colocou uma tigela de ramen bem na frente dela: “Aqui está, mana! O seu favorito: sabor de carne na temperatura perfeita!” Ele falou em um tom tão jovial que faria alguém questionar sobre o que havia sofrido a pouco tempo atrás.
Jack não era louco. Bem, ele era da sua própria maneira. Ninguém mais sacrificaria tanto pelos jogos sem ser um pouco louco.
Mas, ele sabia muito bem que ela estava morta e que isso não era nada mais que uma foto emoldurada. Era apenas uma lembrança do passado, um passado em que ele ainda era feliz.
Ainda assim, falar com “ela” o ajudava. Servia como uma espécie de terapia. Ele sabia que, se consultasse um profissional, ele acabaria censurando suas tendências “autodestrutivas”.
“Mana, lembra quando você me disse que queria que eu vivesse até me tornar o número 1 do INFINITE? Hoje cheguei muito perto de me juntar ao panteão!” Jack falava como se fosse uma criança se gabando de suas conquistas.
Sim, ele sabia que ela só disse isso porque parecia um objetivo impossível naquela época. Ele nem estava perto do ranking. Ela queria somente dar a ele um motivo pra viver.
Jack estava jogando INFINITE por causa dela: costumava ser coisa deles. Foi a distração que ambos precisavam para esquecer a morte do velho.
“Mas, não se preocupe. Eu sou forte e não vou desistir ainda. Quando a nova atualização chegar, eu vou fazer minha mágica. Vou encontrar uma maneira de fazer isso como de costume! As pessoas vão até pensar que eu tô trapaceando de novo!”
Um momento de silêncio seguiu, quebrado apenas pelos sons de sucção. O rapaz tinha terminado seu ramen de frango favorito em um instantes antes de virar para a tigela de sua irmã:
“Você já tá cheia? Tá tudo bem, eu vou comer para não desperdiçar comida!” Qualquer um que visse isso o consideraria maluco.
Jack nem gostou do sabor da carne! Mas toda vez que ele comia, seu cérebro associava o sabor a lembranças felizes. Ele sorria sem ter o que falar, um sorriso muito nostálgico, tingido por uma tristeza sombria.
“Obrigado pela refeição, isso foi ótimo!” Ele deu um tapinha na barriga magra com satisfação. Provavelmente ele deveria se lembrar de comer mais.
Então ele olhou para uma parede cinza por alguns minutos. Acabou passando o último mês trabalhando incansavelmente naquele ataque. Passando todas as horas acordado se fixando naquele objetivo e agora se sentia vazio.
Agora que havia perdido essa oportunidade, ele não tinha nada a fazer até que a nova atualização chegasse. Jack tinha o melhor equipamento, todas as suas habilidades relevantes estavam no máximo. Sempre poderia acumular riqueza, mas qual seria o objetivo?
Não, por um momento ele provavelmente estava melhor cuidando do seu quebrado realmente dormiria uma vez, comeria bem e voltaria a forma. Desse jeito, quando a nova atualização saísse, provavelmente em alguns meses, ele estaria pronto para farmar 24 horas por dia, 7 dias na semana.
Suspirou profundamente, encontrando suas chaves, Jack vestiu o primeiro moletom e calça de jogging que encontrou, e pela primeira vez na eternidade deixou seu apartamento.
A cidade estava cinzenta e monótona como sempre. Então, novamente, essa cidade, em particular, era extremamente chata. A maioria dos prédios servia como armazém e só tinha um seguro barato.
Porém seu destino atual era fora da cidade, a poucos minutos de hovercraft ou cerca de 1 hora de caminhada. Agora ele tinha bastante tempo e precisava de exercício.
Jack estava indo para um parque que também servia como reserva natural para espécies estranhas. Ninguém sabia como elas chegaram lá ou como elas existiam, mas ninguém se importava também.
Esse passeio definitivamente faria bem a ele…
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.