Capítulo 104: O Experimento de Alquimia de Yu Sheng

Dormir estava fora de questão. Mesmo sem Aileen fazendo bagunça ao lado, ele não conseguiria dormir.

Talvez a primeira experiência séria de explorar um Domínio Anômalo fosse realmente emocionante, ou talvez a quantidade de informações que ele absorveu recentemente estivesse borbulhando em sua mente. Yu Sheng não conseguia parar de pensar. Então, depois de se revirar na cama e conseguir dormir por apenas duas ou três horas, ele se levantou. Vestiu um casaco por cima do pijama e se preparou para sair do quarto silenciosamente.

Assim que ele abriu a porta do quarto, a pequena boneca na cama sentou-se ereta de repente, com os olhos ainda fechados: “Saindo? Aonde vai?”

Yu Sheng ficou surpreso. Quando estava prestes a responder, viu Aileen cair de volta na cama, resmungando: “Não se esqueça do capacete quando for comprar dinheiro. Você e a raposa boba comeram até não poder mais e não me levaram para jogar…”

Palavras desconexas de um sonho. A propósito, por que uma boneca não apenas precisava dormir, mas também falava dormindo?!

Uma vontade estranha de reclamar surgiu em Yu Sheng. Depois de confirmar que Aileen não tinha acordado, ele abriu a porta silenciosamente e saiu para o corredor.

O sol ainda não tinha nascido, e a casa estava imersa na escuridão da noite. Era o momento mais silencioso antes do amanhecer. Tanto dentro quanto fora de casa, tudo estava quieto, a ponto de o som de seus chinelos no chão parecer excepcionalmente alto e deslocado.

Yu Sheng olhou para os dois lados. Primeiro, viu a porta no final do corredor. Ele se aproximou, abriu uma pequena fresta com cautela para verificar o interior e, vendo que tudo estava como de costume, sentiu-se um pouco aliviado. Então, ele se virou e caminhou em direção à escada na outra extremidade do corredor.

Assim que chegou ao topo da escada, ele viu as roupas penduradas no poste do corrimão – era o casaco que ele usava na noite anterior. Como voltou muito tarde, não o guardou e o deixou ali.

O casaco estava manchado com uma grande quantidade de sangue seco, e um rasgo considerável marcava o local onde o lobo gigante o havia mordido, o que lhe dava uma aparência assustadora.

Yu Sheng pegou o casaco e o examinou. Ele não tinha olhado com atenção quando voltou. Agora, ele achava que a roupa estava perdida. Consertá-la daria muito trabalho, e a enorme mancha de sangue talvez não saísse. Além disso, não era uma peça de roupa cara. Era melhor jogá-la fora. A única questão era se jogar no lixo uma “roupa ensanguentada” que parecia ter sido recolhida de uma cena de crime assustaria alguém. Os vizinhos provavelmente chamariam a polícia.

Vários pensamentos aleatórios passaram pela mente de Yu Sheng. Ora ele se maravilhava com a quantidade de sangue que havia perdido, ora lamentava não ter aproveitado o sangue fresco para espalhá-lo pelo salão de exposições, o que talvez lhe desse mais controle sobre o “Museu” ou desbloqueasse algo novo. Em seguida, ele se perguntou o que era aquele lobo gigante que saiu da sombra de Chapeuzinho Vermelho, preocupado com a garota que era perseguida pela fera.

Seu olhar se fixou inconscientemente na mancha de sangue da roupa. Gradualmente, os pensamentos confusos em sua mente se uniram em uma única curiosidade.

Sangue. O seu sangue. O que diabos era?

Essa dúvida o assombrava há muito tempo, mas ele nunca teve tempo ou uma ideia clara de como verificar ou pesquisar. Naquele momento, no entanto, Yu Sheng teve alguns pensamentos. Como não conseguia dormir de qualquer maneira, após um momento de hesitação, ele se virou e subiu as escadas para o sótão.

A luz da noite entrava pela janela, e o sótão estava silenciosamente imerso em uma penumbra azul-escura. A grande mesa que “Aileen” usava como “bancada de alquimia” estava quieta na escuridão. Sobre ela, ainda estavam as ferramentas usadas para fazer o corpo da boneca da última vez. Alguns livros velhos estavam empilhados no canto, ao lado da velha luminária de mesa.

Yu Sheng não acendeu a luz principal. Em vez disso, foi até a luminária e a ligou. Na luz limitada, mas que ajudava a focar, ele se sentou lentamente à mesa, ponderando sobre algumas coisas.

Ele havia reconstruído os braços de Aileen com duas seções de raiz de lótus, transformando a pequena boneca em uma pequena “boneca de lótus”. Aileen protestou veementemente, mas, deixando de lado sua birra, havia algo que valia a pena notar.

No sistema de conhecimento de Aileen, uma “boneca profissional”, esse tipo de operação improvisada era absolutamente impossível. Argila, farinha e até mesmo terra do jardim podiam ser materiais para fazer bonecas, mas “raiz de lótus” não.

Após uma breve hesitação, Yu Sheng pegou um copo descartável da gaveta, pegou o estilete sobre a mesa e, rangendo os dentes, fez um corte no dorso da mão, deixando seu sangue pingar no copo.

Ele não tinha muito conhecimento sobre o oculto. Além dos “procedimentos” mecânicos para fazer bonecas, Aileen só lhe ensinou alguns conhecimentos superficiais sobre infusão de espírito, orientação e ativação, e tudo de passagem.

Mas para o Yu Sheng de agora, esse conhecimento superficial era suficiente para satisfazer sua curiosidade.

Depois de completar uma exploração de Domínio Anômalo com Chapeuzinho Vermelho, ele agora estava cheio de interesse pelo campo do ocultismo e ansioso para aumentar sua experiência e conhecimento.

Seguindo o método que Aileen lhe ensinou e que ele guardava na memória, Yu Sheng arrumou as velas para o ritual de infusão de espírito na mesa, colocou seu sangue no “foco” de vários círculos concêntricos e linhas de conexão, e começou a tentar ativar sua “espiritualidade”, infundindo esse poder em seu sangue derramado.

Aileen havia dito que “sangue” era uma excelente “maravilha alquímica natural”. O fluxo de sangue fresco simbolizava a “vida”, o maior milagre do universo, e era a substância que reagia mais facilmente em rituais de alquimia. Mesmo o novato mais desajeitado poderia usá-lo para realizar muitos testes.

Mas Yu Sheng encontrou um problema logo no primeiro passo.

Ele não sabia como ativar sua “espiritualidade”. Embora recentemente ele pudesse sentir cada vez mais claramente a existência da “intuição espiritual”, ele ainda não conseguia perceber e controlar essa “espiritualidade”, que supostamente se originava da essência da alma humana, como um “elemento” concreto e controlável. Ele não sentia nenhuma “energia” sobrenatural em si mesmo e, naturalmente, não conseguia infundi-la em seu sangue.

Ele só podia usar sua imaginação ao máximo, e quase adormeceu no processo.

Depois de dez minutos de tentativas, ele viu que o sangue no copo começou a coagular e desistiu desse teste.

Talvez precisasse de alguns “materiais auxiliares”?

Yu Sheng pensou um pouco, abriu a gaveta e tirou um saco de argila.

Ele o havia comprado depois que o último acabou. Considerando que Aileen poderia precisar reparar seus membros em uma emergência no futuro, ele agora mantinha esses “materiais” em casa.

Afinal, ele não podia usar raiz de lótus todas as vezes. Embora ele realmente quisesse tentar, Aileen provavelmente enlouqueceria.

Modelar com argila era o único experimento de alquimia que Yu Sheng conseguira “operar” com sucesso até então.

Ele misturou o sangue do copo diretamente na argila, amassando-a uniformemente. Em seguida, seguindo rigorosamente a proporção ensinada por Aileen, adicionou “ingredientes auxiliares” como pó de chá e óleo de rosas. Após uma preparação cuidadosa, ele começou a modelar seriamente a massa de argila na forma de um braço.

De qualquer forma, já que estava fazendo isso, poderia aproveitar para praticar sua “habilidade” de fazer bonecas, para que Aileen não reclamasse da feiura de suas criações toda vez que se lembrasse do processo de “remodelação”.

Com esse pensamento, Yu Sheng trabalhou com extrema paciência e meticulosidade para modelar o braço. Usou uma espátula e um estilete para criar uma pequena mão na extremidade da massa de argila. Depois de muito esforço, descobriu que… ainda estava feio.

Mas pelo menos estava melhor do que da última vez. Pelo menos os dedos eram cinco.

Ele nunca teve coragem de contar a Aileen que o primeiro corpo que ele fez para ela tinha seis dedos em cada mão. De qualquer forma, a boneca se consertou após a autorremodelação, e ela mesma não percebeu.

Depois de fazer tudo isso, Yu Sheng colocou o braço no centro do arranjo de alquimia. Imaginando a conexão que havia estabelecido com o braço através de seu sangue, ele começou a mover lentamente sua mão direita, tentando fazer o braço na mesa se mover como o seu.

Mas ele não se moveu.

Yu Sheng franziu a testa. Ele cutucou o braço com a espátula e, vendo que não havia reação, resignou-se e o deixou de lado por enquanto.

A fraca luz da manhã começava a entrar pela janela do telhado inclinado, e o sótão estava clareando gradualmente.

No entanto, Yu Sheng estava tão imerso no que estava fazendo que nem percebeu que o dia estava amanhecendo.

Ele derramou mais sangue e preparou mais argila.

Trabalhos manuais são viciantes.

Já que havia feito um braço, por que não fazer um corpo inteiro? Se a alquimia funcionaria ou não, ele deixaria para depois. Se conseguisse aprimorar sua habilidade de modelar, já seria bom. Seria como preparar um corpo reserva para Aileen. Embora ela dissesse que só poderia trocar de corpo em alguns meses, esse tempo seria perfeito para ele praticar.

Ele daria uma pequena surpresa à pequena boneca.

Com esse pensamento, o entusiasmo de Yu Sheng aumentou. A perda contínua de sangue não o fez sentir nenhum desconforto; pelo contrário, ele se sentia cada vez mais energizado. Ele fez um novo tronco, braços e duas pernas. Em seguida, abriu um novo pacote de argila e começou a tentar fazer a cabeça da boneca.

Ele sentiu que havia progredido muito. Pelo menos, em comparação com a última vez, o corpo que ele estava fazendo agora podia ser considerado simétrico, com todos os membros, braços sendo braços e pernas sendo pernas.

Fazer a cabeça da boneca era mais trabalhoso do que o corpo. Não apenas exigia esculpir os traços faciais com a maior delicadeza possível, mas também considerar o processo mais complexo de maquiagem. Yu Sheng não sabia se conseguiria. Na primeira vez que moldou o corpo de Aileen, ele pulou completamente a etapa de “maquiagem facial”; o rosto dela acabou se formando sozinho. Mas desta vez, ele queria tentar algo mais desafiador.

De qualquer forma, quando comprou a argila da última vez, ele também comprou um conjunto de pequenas ferramentas para maquiar bonecas e actions figures. Seria um desperdício não usá-las.

Yu Sheng estava muito concentrado.

Na verdade, ele estava tão concentrado que nem percebeu que os dedos do primeiro braço que ele fizera estavam tremendo levemente.

E o tronco da boneca, deixado na beirada da mesa, estava subindo e descendo sutilmente, de uma forma quase imperceptível a olho nu.