Capítulo 18: Os Investigadores

Ele estava de volta, de volta a esta estranha e peculiar “Cidade-Limite”.

Não muito tempo atrás, este lugar era, para ele, uma cidade enorme, bizarra e inquietante. No entanto, naquele momento, ao ver os postes de luz e os edifícios familiares, as ruas e o céu na luz fraca do amanhecer, uma sensação de “nostalgia” que até ele mesmo achava difícil de acreditar surgiu em seu coração.

A experiência de ficar preso naquele vale noturno o fez sentir uma emoção de “volta para casa” até mesmo ao retornar para a “Cidade-Limite”.

Mas, no segundo seguinte, o torpor causado pela perda de vida interrompeu seus sentimentos. Ele abaixou a cabeça, um pouco lento, e viu sangue vermelho se espalhando lentamente sob seu corpo.

Seu corpo havia sido perfurado. O ferimento terrível era suficiente para matá-lo em pouco tempo. Mesmo que a capacidade de recuperação e a vitalidade deste corpo fossem agora muito fortes, ele sabia que estava prestes a morrer de novo — ele já estava bem acostumado a usar a palavra “de novo” para isso.

E o culpado por esse ferimento terrível estava ao seu lado. A “cauda” com escamas, cortada do monstro, havia caído pela porta junto com Yu Sheng. Surpreendentemente, ela parecia ainda ter alguma vitalidade e até mesmo “pensamentos” remanescentes, contorcendo-se lentamente em uma poça de sangue e tentando se arrastar para longe dali.

Yu Sheng até sentia que a coisa estava se afastando dele… aquele pedaço de carne estava com medo dele.

Yu Sheng franziu a testa e se levantou do chão com dificuldade. Ele olhou para a porta de sua casa, não muito longe, pegou a cauda decepada que se contorcia lentamente ao seu lado e cambaleou para frente.

Enquanto caminhava, ele murmurava: “Não dizem que quando o protagonista escapa de uma situação desesperadora, tudo fica bem? Que tipo de configuração de jogo de baixa qualidade é essa, que mantém os ferimentos mesmo depois de mudar de mapa… Puta merda, que dor do caralho…”

A perda contínua de sangue o deixava cada vez mais grogue. O esgotamento físico fazia cada passo seu ser vacilante e extremamente difícil, como se ele fosse desabar a qualquer segundo. Nos últimos metros, Yu Sheng se movia quase por instinto, sem saber por que insistia em ir para casa. Talvez para dizer um olá para Aileen? Ou talvez para evitar que seu “cadáver” fosse descoberto por alguém que saísse de manhã cedo?

Tudo à sua frente gradualmente escureceu, a luz da manhã tingiu-se de um vermelho escuro. A imagem dos olhos dourado-avermelhados de Hu Li surgiu em sua mente. No final, aqueles olhos estavam cheios da luz sanguinária da fome, mas ainda continham um último resquício de humanidade, lutando para se manter nas profundezas da cor de sangue.

‘Aquela raposa… não sei como ela está. Ela disse que não morreria, não sei se é verdade…’

Muitos pensamentos passaram pela mente de Yu Sheng enquanto ele finalmente se arrastava até a porta de casa. A porta não estava trancada. Ele mexeu na maçaneta, empurrou a porta e entrou.

Ele viu a sala de jantar, que ficava na diagonal da porta de entrada, e a pintura a óleo ainda encostada na parede. Aileen ergueu a cabeça da pintura, olhou surpresa para a porta e, em seguida, seus olhos se arregalaram.

Yu Sheng deu-lhe um sorriso de último suspiro: “Aileen, eu voltei.”

Ele sabia que estava gravemente ferido. Se não fosse pela incrível capacidade de recuperação e resistência de seu corpo agora, ele provavelmente já estaria morto do lado de fora.

Assim que esse pensamento surgiu em sua mente, Yu Sheng sentiu sua visão inclinar-se, e ele deslizou pela moldura da porta. A escuridão familiar e opressiva veio de todas as direções — junto com o grito aterrorizado de Aileen.

Agora ele estava morto dentro de casa.

Com um leve som de freios, duas motos elétricas pararam nas profundezas da Rua Wutong. Duas figuras desceram dos veículos, observando a rua antiga e silenciosa à sua frente.

Um deles era um homem de meia-idade, de aparência calma e confiável, vestindo um longo casaco cáqui. Era alto e robusto, com a pele ligeiramente bronzeada e cabelo preto curto. Uma cicatriz irregular perto do pescoço adicionava um toque de temor à sua aura, mas a expressão cansada e as olheiras em seu rosto contrastavam com seu físico forte e a cicatriz assustadora — seu rosto parecia o de alguém que trabalhou horas extras por três meses seguidos sem um único dia de folga.

O outro era um jovem que não parecia ter mais de vinte e poucos anos. Tinha o mesmo cabelo preto curto, mas era muito mais magro do que o homem ao seu lado. Sua aparência era comum, do tipo que se perderia facilmente em qualquer multidão. Ele vestia um casaco e calças pretas e azuis, e sua expressão parecia um pouco tensa, carregando o nervosismo de um novato que foi arrastado para o trabalho de campo pelo chefe poucos dias depois de começar.

Os dois chegaram a esta tranquila área antiga da cidade em suas motos, observando os edifícios aparentemente comuns ao redor. Ocasionalmente, moradores passavam ao longe em um cruzamento, mas poucos olhavam em sua direção.

“Este lugar não parece ter nada de estranho…”, murmurou o jovem de cabelo preto. “Capitão Song, tem certeza de que é aqui?”

“Houve um alerta de limite agora há pouco, as coordenadas apontam para este lugar”, o homem chamado Capitão Song assentiu. “Embora o sinal tenha desaparecido em um instante, podemos confirmar que foi uma reação de Domínio Anômalo.”

“Nós dois corremos para cá e mesmo assim não chegamos a tempo”, o jovem olhou para a moto elétrica ao lado, hesitando antes de falar. “Será que deveríamos ter vindo de carro…”

O Capitão Song olhou para ele: “Todos os carros da agência estão em campo. Só sobrou aquele carro velho e caindo aos pedaços da Xu Jiali. Você dirigiria aquilo? Mesmo pisando fundo no acelerador, talvez não seja mais rápido que a sua moto elétrica.”

O jovem deu uma risada forçada e mudou de assunto de forma um pouco desajeitada: “Então, uhm, aquela pessoa… o codinome dela era ‘Chapeuzinho Vermelho’, certo? Da organização dos Contos de Fadas. Parece que ela também não encontrou nada por aqui?”

“Sim, não encontrou nada, o que torna ainda mais certo que há algo de errado com este lugar”, o Capitão Song assentiu lentamente. “‘Chapeuzinho Vermelho’ já fez muitos trabalhos para a Agência de Operações Especiais, e eu conheço suas habilidades. O lobo dela consegue farejar até o mais fraco e sutil cheiro de ‘anormalidade’ no ambiente. Mas ela procurou por aqui a noite toda e não encontrou nada.”

O jovem piscou, parecendo não entender de imediato.

“Não encontrou nada, entendeu?”, o Capitão Song repetiu. “Está ‘limpo’ demais, ‘normal’ demais. Não existe um pedaço de terra na Cidade-Limite que seja tão limpo! O lobo da Chapeuzinho Vermelho consegue farejar anormalidades em todos os cantos desta cidade, mesmo que o cheiro seja muito, muito fraco. Mas aqui… do ponto de vista místico, esta rua inteira está ‘limpa’ como o vácuo!”

Ao ouvir isso, o jovem finalmente entendeu — o que ele havia aprendido no treinamento finalmente se encaixou com a situação real.

“Ou este lugar é realmente tão limpo, e na Cidade-Limite realmente apareceu um ‘terreno puro’ com uma profundidade paralela ao ‘mundo exterior’ — o que não é impossível, afinal, estamos na Cidade-Limite, e qualquer lugar do mundo pode ter uma conexão com aqui”, o Capitão Song acenou com a mão, falando com um tom cansado. “Ou, este lugar esconde uma… ‘coisa grande’, algo que está constantemente alterando o ambiente de toda a área. A matilha da Chapeuzinho Vermelho encontrou um vácuo de limite aqui.”

A expressão já tensa no rosto do jovem ficou visivelmente ainda mais tensa.

“Eu não vou aprovar sua transferência para o departamento de logística.” O Capitão Song ergueu as pálpebras para olhá-lo. “Nem para outra equipe.”

“Eu não disse que queria fugir!” O jovem acenou apressadamente. “Eu estava preparado quando entrei para a equipe, com certeza serei leal, dedicado e cumprirei minhas funções com seriedade…”

O toque repentino de um celular interrompeu a conversa. Era uma melodia agradável — o tema clássico de um novo anime de sucesso.

O jovem ficou momentaneamente atordoado e olhou para seu chefe com uma expressão estranha: “…O senhor também assiste a isso?”

O rosto do homem chamado Capitão Song se contraiu visivelmente. Enquanto tirava o celular do bolso com relutância, ele resmungou: “Com certeza foi minha filha que trocou de novo, ela anda assistindo a isso ultimamente…”

A expressão do jovem mudou sutilmente. Ele se segurou por um bom tempo, mas não conseguiu dizer: ‘Não é um pouco inadequado uma aluna do fundamental assistir a um bando de lésbicas montando uma banda?’.

O Capitão Song atendeu o telefone e, depois de ouvir por alguns segundos, disse: “Sim, eu e o Li Lin já chegamos ao local. É como na investigação anterior da Chapeuzinho Vermelho, este lugar está ‘limpo’ de um jeito sinistro. Organize as coisas, talvez precisemos montar um ponto de monitoramento fixo aqui. Decidirei sobre o pessoal quando voltar. Além disso, entre em contato com o pessoal dos ‘Contos de Fadas’, veja se eles podem enviar mais alguém. Isso pode ser uma missão de longo prazo…”

Desligando o telefone, o Capitão Song soltou um longo suspiro e se virou, vendo o jovem chamado Li Lin ainda olhando para ele.

Ele hesitou por um momento e não pôde deixar de dizer: “Foi minha filha que trocou, eu não costumo assistir a desenhos.”

Li Lin tossiu apressadamente: “Aham, aham, eu acredito, eu acredito.”

Os dois ficaram em um silêncio constrangedor por um momento e, tacitamente, decidiram pular o assunto.

Nesse momento, Li Lin pareceu ter descoberto algo.

Ele franziu a testa e caminhou rapidamente em direção a um canto de parede não muito longe.

“Capitão Song, venha ver isso!”, ele disse, examinando o chão e chamando-o imediatamente.

O Capitão Song se aproximou e olhou para onde Li Lin apontava.

Uma mancha vermelho-escura estava no canto da parede, parecendo sangue seco. Era pequena e fácil de ignorar de longe. Além disso, estava encolhendo a uma velocidade visível a olho nu.

Não estava sendo absorvida pelo cimento, mas desaparecendo rapidamente no ar.

“Sangue?”, o Capitão Song franziu a testa imediatamente e, reagindo rapidamente, tirou um tubo de plástico e uma espátula portátil do bolso do casaco. “Não, não é sangue. Colete uma amostra!”

“Certo”, respondeu Li Lin. Ele pegou as ferramentas de coleta e se preparou para raspar a “mancha de sangue” vermelho-escura na parede. No entanto, antes que a espátula em sua mão tocasse a parede, o último pequeno pedaço de vermelho sibilou de repente e desapareceu completamente.