Capítulo 197: A História do Esquilo

“Você é qual número de Chapeuzinho Vermelho?”

Yu Sheng encarou os olhos do esquilo, seu tom mais sério do que nunca.

O esquilo começou a se balançar inquieto, apoiando seu peso ora em uma pata traseira, ora na outra, e depois coçou rapidamente o pelo do rosto:

“Eu… sou um esquilo…”

Yu Sheng não se comoveu:

“Certo. Então, o esquilo é qual número de Chapeuzinho Vermelho?”

Esquilo: “…”

“Responda à minha pergunta”, Yu Sheng continuou, calmo e firme. “Você já deve ter notado que estou trazendo ‘mudanças’ para esta Floresta Negra. Se você realmente quer ajudar a Chapeuzinho Vermelho, esta pode ser a sua chance de maior sucesso.”

O pequeno animal do tamanho da palma da mão finalmente parou de se balançar. Ele encarou Yu Sheng e, depois de um bom tempo, pareceu ter tomado uma decisão, ou talvez ter chegado a um ponto sem retorno. Ele baixou a cabeça, resignado:

“O número zero.”

Yu Sheng franziu a testa imediatamente:

“…O que isso significa?”

“Você já viu. A primeira Chapeuzinho Vermelho trouxe o primeiro fogo da lareira e a primeira luz de vela para a Floresta Negra. Esta Floresta Negra evoluiu e se enriqueceu gradualmente até se tornar o que é hoje”, o esquilo torcia as patas com força, sempre de cabeça baixa. “Você já parou para pensar em como era antes? Antes mesmo de a ‘Floresta Negra’ existir? Talvez… tudo isso teve um ponto de partida.”

Yu Sheng não falou, apenas olhou para o esquilo, incentivando-o a continuar.

“Eu… fui o erro inicial, tudo… começou comigo”, o esquilo disse lentamente. Sua atitude ainda era de resistência, como se cada palavra lhe trouxesse uma grande angústia e dor. “Eu sou o esquilo da Floresta Negra, a primeira criatura viva no palco, a… criança má que entregou o livro de contos de fadas… Eu, eu não sabia que as coisas terminariam assim…”

Os olhos de Yu Sheng se arregalaram, como se um raio tivesse atravessado seu coração. Ao perceber a informação que o esquilo havia revelado, ele perguntou imediatamente:

“Entregou o livro de contos de fadas? Para quem?”

“Eu não sei o que ela¹ era, nem de onde veio. Eu… não me lembro bem da situação”, o esquilo se assustou com o tom de voz elevado de Yu Sheng, mas desta vez, finalmente não fugiu, como se tivesse tomado uma decisão. “Só me lembro de ver algo caindo do céu. Foi depois que as luzes do orfanato se apagaram, todos estavam dormindo. Eu também deveria estar dormindo, mas não consegui. Ela… ela caiu no pátio, sem fazer barulho, como se tivesse se fundido com o chão…

“Eu estava com muito medo, não ousei fazer barulho, apenas me escondi na cama. Então, algo brilhante flutuou pela janela e balançou na minha frente. Ela disse que veio pedir ajuda, que seu filho estava em uma situação muito ruim e precisava de consolo. Ela veio a este lugar com muitas crianças, procurando por ajuda… Eu estava apavorado na hora, não sabia o que fazer, então dei a ela o livro de contos de fadas que estava na minha cabeceira…

“Eu disse a ela, leia uma história. Quando as crianças do orfanato não conseguem dormir, a professora lê histórias para nós…

“Eu deveria ter dormido, não deveria ter olhado pela janela, eu…

“Se eu tivesse dormido, tudo ficaria bem. Eu deveria ter dormido obedientemente…”

O esquilo murmurava, sua voz ficando cada vez mais indistinta, até que finalmente pareceu perder a clareza novamente, seu murmúrio se tornando uma repetição constante, dizendo que deveria ter ido dormir obedientemente — como uma criança presa em um trauma de infância, que, mesmo depois de décadas, ainda não cresceu, e ainda acredita firmemente que, se tivesse comido na hora certa, dormido obedientemente e aprendido a se vestir sozinho, teria tido a vida feliz que “deveria” ter tido.

Yu Sheng finalmente teve certeza.

Este esquilo à sua frente também era uma criança daquele “orfanato” — de muito, muito tempo atrás, antes mesmo da operação de mergulho profundo de 70 anos atrás, e até mesmo antes do primeiro surto dos “Contos de Fadas”. Era uma criança que morava naquele orfanato.

E nas palavras do esquilo, havia muitas outras informações que poderiam ser deduzidas.

Yu Sheng se recompôs, deixou de lado as conjecturas que não podiam ser verificadas por enquanto, e estendeu a mão para tocar levemente o corpo do esquilo, fazendo com que o “pequeno animal”, que havia entrado em transe novamente, despertasse.

“Eu ainda tenho perguntas”, ele disse com uma expressão séria. “Como era a coisa que ‘caiu do céu’?”

O corpo do esquilo estremeceu, finalmente se libertando do “ciclo vicioso” anterior. Ao ouvir a pergunta de Yu Sheng, ele mergulhou em uma lembrança difícil. Depois de um bom tempo, ele falou novamente:

“…Era difícil de ver. A coisa brilhava. Eu… só me lembro de um contorno oval dentro da bola de luz, como um ‘ovo’ com padrões estranhos. No começo, era muito, muito grande. Quando caiu, parecia que ia esmagar metade do orfanato, mas logo em seguida diminuiu. Quando pousou no pátio, tinha apenas o tamanho do pequeno galpão de ferramentas.

“Ele mergulhou na terra de uma vez, sem levantar nem um pouco de poeira e sem fazer barulho. No começo, pensei que estava vendo coisas.”

Yu Sheng ouviu atentamente, com uma expressão pensativa.

Brilhante, com padrões estranhos, parecendo um “ovo”…

A causa do fenômeno de “aumentar e diminuir” mencionado pelo esquilo era desconhecida por enquanto, mas ele se lembrava da forma descrita.

“A voz que falou com você, ela te disse como se chamava?”

O esquilo coçou o pelo das bochechas com força.

“Eu, eu não me lembro, mas acho que ela disse. Faz muito tempo, muito tempo mesmo. A memória de um esquilo não é muito boa, não consigo nem me lembrar do que a professora ensinou… Mas, mas tinha uma sílaba, começava com An… acho que era An-alguma coisa…”

“Ankaela”, Yu Sheng disse lentamente. Assim que terminou de falar, ficou tenso por um momento, mas depois de um tempo, percebeu que não havia movimento na floresta e que a pequena caixa em sua mão permanecia em silêncio. Só então ele relaxou e continuou: “Era esse o nome?”

O esquilo ficou perplexo e, de repente, saltou:

“…Sim! Sim! Era essa a pronúncia! Mas você, como você sabe?”

“Minhas investigações me levaram até aqui”, Yu Sheng estendeu a mão e pressionou levemente o corpo do esquilo, sentindo que ele estava tremendo. Ele sentiu que, se não o acalmasse, o “pequeno animal” poderia entrar em pânico. “Relaxe, relaxe primeiro. Eu ainda tenho perguntas.”

O esquilo instintivamente encolheu o corpo, mas parecia não ousar recuar de verdade:

“Mas, o esquilo não quer mais responder, o esquilo está cansado.”

“Última pergunta.”

“…Então, então tudo bem.”

“O ‘filho’ da voz que falou com você, como ele era? Você o viu? Ou ela o descreveu para você?”

“Não”, desta vez, o esquilo respondeu muito rapidamente. “O esquilo tem certeza, não viu e não ouviu ela descrever.”

Yu Sheng encarou os olhos do esquilo por alguns segundos e, depois, assentiu levemente.

“Certo, entendi.”

O esquilo finalmente pareceu relaxar.

Ele soltou um longo suspiro, andou lentamente pelo parapeito da janela, sentou-se novamente e, de algum lugar, tirou um pequeno graveto fino, acendeu-o com uma chama da ponta de sua cauda e o colocou na boca, puxando com força.

Esta não era a primeira vez que ele “fumava” na frente de Yu Sheng, e este último já estava acostumado.

Ele não era mais a criança que morava no orfanato há muitos anos. Agora ele era o esquilo da Floresta Negra, o esquilo fofo pra caralho.

Então, Yu Sheng apenas suspirou e não lhe deu mais atenção. Em vez disso, abriu a caixa de madeira que continha o “cordão umbilical angelical” e verificou seu estado novamente.

A coisa ainda estava silenciosamente deitada no forro de veludo vermelho, sem nenhum sinal de “reviver” mais.

Yu Sheng suspirou aliviado. Quando estava prestes a fechar a tampa, de repente sentiu um olhar de espanto vindo de lado.

Ao erguer a cabeça, ele viu o esquilo com os olhos arregalados, olhando chocado para a caixa de madeira em sua mão.

A ponta de cigarro em sua pata caiu no chão sem que ele percebesse.

“Você… como você tem isso?!”, o esquilo gritou, sem voz.

“Você conhece isso?”, Yu Sheng também ficou chocado. “Você sabe o que é?”

“Cordão umbilical!”, o esquilo gritou, mas logo em seguida, como se com medo de perturbar algo, baixou a voz instantaneamente. “Eu já vi isso, mas, mas não me lembro exatamente quando. Deve ter sido há muito tempo, quando a Floresta Negra acabou de aparecer. Depois… depois Ankaela o perdeu, ela ficou procurando por ele, mas não conseguiu encontrar… Mais tarde, ela não apareceu mais, ela se escondeu em um lugar muito profundo…”

Yu Sheng franziu a testa ao ouvir isso. Ele não duvidou das palavras do esquilo, apenas uma pergunta surgiu em sua mente: Ankaela perdeu o cordão umbilical? Então por que o Velho Zheng o obteve durante um ritual para Ankaela?

Nesse momento, o esquilo se aproximou corajosamente e olhou atentamente para o cordão umbilical na caixa de madeira.

Após um momento de hesitação, ele fez um som de dúvida:

“Hmm? Não, não está certo… este parece um pouco diferente do que eu vi.”

“Diferente?”

“Sim, é muito parecido, mas parece mais uma imitação”, disse o esquilo, hesitante. “O verdadeiro cordão umbilical é mais longo, não é seco e, embora seja macio, tem uma textura metálica. Este que você tem… é uma falsificação.”

“Falsificação?”, Yu Sheng ficou um pouco surpreso. “Você tem certeza?”

“Sinto, sinto que é assim”, o esquilo mudou rapidamente para uma formulação mais cautelosa. “Eu sou apenas um esquilo… não me lembro de muitas coisas…”

Yu Sheng franziu a testa, sem dizer nada, apenas olhou para Aileen e Hu Li ao seu lado.

As duas não tinham falado desde o início — com medo de que uma interrupção pudesse estressar o esquilo já um pouco neurótico.

“O Velho Zheng orou ao ‘Anjo Sombrio’, e lhe deu um cordão umbilical ‘falso’…”, Aileen franziu a testa, com uma expressão um tanto sutil. “Por que isso parece tão estranho? Qual é o objetivo?”

Hu Li também franziu a testa e pensou seriamente por um tempo, antes de dizer, incerta:

“Fazer uma amostra falsa para que o Velho Zheng a ajudasse a procurar?”

Aileen ficou pasma:

“…Você está falando sério com essa resposta?”

“Sim”, Hu Li assentiu, confiante. “Se eu perdesse alguma coisa, com certeza pediria ajuda assim também.”

Então ela se virou para Yu Sheng:

“Não é, Benfeitor?”

Yu Sheng pensou um pouco e também assentiu:

“Acho que faz sentido.”

Aileen: “…?”

“De qualquer forma, uma falsificação obviamente também tem o poder de uma falsificação”, Yu Sheng não se deteve no assunto. Ele apenas olhou pensativamente para o “falso” cordão umbilical angelical na caixa de madeira e depois para a pequena cabana iluminada pelo primeiro fogo da lareira e pela primeira luz de vela. “Talvez seja por carregá-lo que pudemos ver a ilusão deixada pela primeira Chapeuzinho Vermelho na Floresta Negra.”

1. Só um extra, no original o autor usa o pronome 它 (tā). Este pronome é usado para animais, objetos inanimados ou, crucialmente, para divindades e entidades cujo gênero é desconhecido, irrelevante ou não-humano. Basicamente é o pronome mais neutro e ambíguo que ele poderia usar, no português isso não funciona tão bem, então vou tentar sempre deixar no feminino quando for claro que se refere a Ankaela.[↩]