Capítulo 73: Início da Tempestade
O som baixo de conversas e cadeiras sendo arrastadas preenchia o ambiente enquanto os alunos se acomodavam, alguns ainda esfregando os olhos sonolentos, outros já cheios de energia.
Na frente da classe, Yuki segurava um marcador, os dedos delicados, mas firmes. Do lado dela, Kazuki tava com os braços cruzados e um sorriso fácil no rosto, como se já estivesse pronto para se divertir com o que estava por vir.
— Bom, agora que terminamos de explicar como o Festival Escolar funciona, alguém já tem sugestões para a nossa turma? — Yuki perguntou, o tom suave, mas cheio de expectativa.
Ela varreu a sala com o olhar, encorajando a participação. Os alunos trocaram olhares incertos, alguns rabiscando ideias nos cadernos, outros apenas observando, hesitantes.
Kazuki sorriu de lado, cruzando os braços com um ar confiante.
— Vamo lá, galera, é a nossa chance de brilhar! Nada de ideias que não vão nos levar direto para o primeiro lugar, hein? — Ele piscou.
Um burburinho tomou conta da sala. Sussurros, risinhos, alguns rabiscos apressados em cadernos. Então, de repente, uma voz atravessou aquele barulho.
— Eu! Eu! Eu tenho uma ideia! Me escolhe, por favor!
Akira praticamente explodiu da cadeira, os olhos brilhando de empolgação.
— Sim? Conte-nos, por favor — disse Yuki, mantendo o tom calmo, mas curioso.
Akira fez uma pausa dramática, fechou os olhos por um instante e limpou a garganta. Com um sorriso idiota, anunciou:
— …Um Maid Café!
O barulho rápido da cadeira contra o chão ecoou pela sala quando ele se levantou de um pulo, os braços erguidos e um sorriso de quem tinha dito a melhor ideia pra turma. Seu rosto irradiava… pura confiança.
Pisquei, meio atordoado.
— Tá falando sério? — murmurei, ainda tentando processar aquilo. Ele realmente não ia desistir daquela ideia absurda? Fala sério…
O silêncio durou meio segundo antes da sala explodir em vozes. Alguns alunos se viraram nas cadeiras, outros riram alto, cochichos animados começaram a surgir por todos os lados.
— Maid Café?! — A voz afiada de Yumi cortou o caos. Ela girou na cadeira num movimento rápido, lançando um olhar bizarro para Akira. — Você tá maluco?! De jeito nenhum as garotas vão fazer isso!
— Isso aí! — Uma garota no fundo se manifestou. — Ele só quer ver a gente de uniforme de empregada! Pervertido!
Risadas se espalharam pela sala, dividindo a turma entre os que achavam graça e os que estavam completamente indignados com a ideia dele.
— Nem pensar! Prefiro limpar a escola inteira sozinha! — Outra garota resmungou, cruzando os braços.
Yuki ergueu as mãos num gesto leve, tentando aquietar a situação.
— Pessoal, vamos tentar manter a calma…
Mas ninguém a ouviu. As conversas só aumentavam, vozes por cima da outra, discussões acaloradas tomando conta do ambiente.
Foi então que Seiji se levantou de um pulo, como se estivesse apenas esperando o momento certo para entrar na discussão.
Talvez ele realmente estivesse…
— Espera aí, espera aí! — Ele ergueu uma mão, os olhos brilhando com uma confiança estranhamente natural. — Um Maid Café vai chamar atenção pra cacete! Se a gente quer ficar em primeiro lugar, essa é a melhor ideia!
Um murmúrio animado percorreu a sala. Alguns garotos assentiram, já convencidos.
— É isso aí, Seiji! — Um deles bateu na mesa, empolgado. — Maid Café é imbatível, mano!
— Imagina as filas! Vamos esmagar as outras turmas!
Akira abriu um sorriso vitorioso. Parecia até que ele conseguia ver o sucesso daquela ideia.
— Viu?! Eu disse que era genial! Yumi, vocês vão arrasar de uniforme!
Yumi bufou, cruzando os braços com força.
— Sonha, Akira! Isso não vai acontecer nem em um milhão de anos!
E foi aí que o verdadeiro caos começou. A sala virou um campo de batalha verbal — risadas, protestos, vozes se sobrepondo enquanto ideias eram jogadas de um lado para o outro sem controle.
Então, em meio ao caos, uma voz suave e hesitante rompeu a confusão:
— E se… a gente fizesse só um café normal?
A sala se aquietou por um instante. Todos se viraram para Sora, que permanecia sentada, as mãos delicadamente cruzadas sobre a mesa.
— Tipo, com menus legais, bebidas diferentes… — Ela fez uma breve pausa, antes de completar: — Sem uniformes de empregada…
O silêncio durou apenas um momento antes de ser substituído por uma nova explosão de vozes.
— Ei, e se os meninos fossem os empregados de uniforme? — Uma garota brincou no fundo, rindo. — Imagina o Akira e o Seiji de saia!
A reação foi instantânea. Akira e Seiji congelaram no mesmo instante, os olhos arregalados de puro horror. O barulho se transformou em risadas, e mesmo eu não consegui segurar um sorriso ao imaginar a cena.
— O-o quê!? — Akira engasgou, tropeçando nas palavras. — Eu? De saia?! Não, não, não! Isso não tava no plano!
— Sem chance! — Seiji cruzou os braços com firmeza. — Eu não vou usar isso nem morto!
As risadas aumentaram, algumas meninas batendo nas carteiras enquanto Yuki soltava um longo suspiro, massageando a testa.
— Pessoal, calma… vamos discutir uma ideia de cada vez, por favor…
Mas era inútil. O barulho só crescia, vozes por cima das outras sem controle. Foi quando outra voz inesperada emergiu do caos, firme, mas um pouco desanimada:
— Então, que tal uma peça de teatro?
O murmúrio foi diminuindo conforme as cabeças se viravam para Takeshi, que coçava a cabeça, parecendo já arrependido de ter falado.
— Uma peça? — Uma garota franziu a testa, duvidando. — Não, Takeshi, isso dá muito trabalho…
— Mas pode ser incrível! — Um garoto rebateu com entusiasmo. — Algo épico, tipo uma batalha ou um mistério!
— Ou um romance! — Uma menina sugeriu, os olhos brilhando de empolgação.
Eu me peguei olhando pela janela, perdido em pensamentos. Uma peça de teatro parecia uma ideia promissora, mas não podia negar que exigiria um esforço enorme. Ensaios, figurinos, cenários… Talvez o clube de costura ajudasse, mas ainda assim…
Ah, muito trabalho…
E então, o caos recomeçou.
— Teatro é muito complicado! — Uma aluna murmurou, revirando os olhos. — E um café normal é entediante!
— Maid Café é a única opção sensata, vocês que não percebem… — Akira sussurrou, ainda insistente na ideia.
Yumi lançou um olhar afiado para ele antes de se virar, cruzando os braços e fechando os olhos com exagero.
— Por favor… qualquer coisa menos o Maid Café…
Do outro lado da sala, Kazuki observava tudo encostado no quadro com um sorriso divertido, enquanto Yuki parecia estar prestes a explodir com aquele caos gigante. Foi só quando Kazuki bateu palmas duas vezes, com firmeza, que a confusão começou a diminuir.
— Tá, tá, chega de gritaria, pessoal! — Ele ergueu a voz, atraindo a atenção de todos. — Vamos votar e acabar com isso de uma vez, entendido?
Kazuki ergueu a mão.
— Certo, quem vota no Maid Café, levanta a mão!
Akira e Seiji ergueram os braços com entusiasmo, seguidos por alguns garotos. Mas… só isso. Akira franziu a testa, visivelmente decepcionado ao perceber que sua ideia não tinha tanto apoio quanto esperava.
— E o café normal, como a Sora sugeriu?
Dessa vez, mais algumas mãos subiram, mas ainda não era o suficiente para virar maioria.
— E a peça de teatro?
Para minha surpresa, um número considerável de alunos levantou a mão. Takeshi, Rintarou, algumas garotas… e, depois de um breve momento de hesitação, eu mesmo também me juntei a eles.
Era um projeto grande, trabalhoso. Mas, entre todas as opções, parecia ser a que mais combinava com a nossa turma para o Festival.
Kazuki contou rapidamente, então sorriu.
— Teatro ganha. Decidido!
A sala explodiu em reações variadas — aplausos, murmúrios de frustração e algumas reclamações resignadas com a vitória do teatro.
Seiji apenas deu de ombros, um sorriso de canto no rosto, enquanto Akira se afundava na cadeira, resmungando algo sobre “perder uma chance histórica” ou assim.
Eu observei os nomes das sugestões escritos no quadro, as letras levemente borradas pelo marcador, enquanto o som da comemoração se misturava ao zumbido de conversas animadas ao redor.
Uma peça de teatro… Cenários, muitos ensaios, figurinos…
Seria intenso, sem dúvida. Um projeto que exigiria esforço de todos nós. Mas, ao mesmo tempo, a empolgação na sala era contagiante. Já dava para ouvir ideias sendo trocadas — quem ficaria responsável pelos roteiros, os possíveis papéis, como montaríamos os cenários, que tipo de peça faríamos.
Suspirei, sentindo uma pontada de animação crescer em meu peito. Ainda assim, no fundo da minha mente, outro pensamento se firmava.
Quando o Festival Escolar acabasse… eu finalmente teria tempo para me aprofundar na minha nova história.
Era apenas uma ideia, um rascunho solto entre tantas outras. Mas Shihei e Ichiro viram potencial nela.
“Se você conseguir expandir essa ideia e desenvolvê-la bem… pode se tornar um fenômeno!”
Disse que poderia ser algo bom. Algo grande. Ainda que eu não acreditasse muito nisso, ele acreditava… então eu faria o possível para atender suas expectativas.
Eu iria me esforçar, como sempre fiz.
Porque, no fim, essa era a minha chance de dar o próximo passo em direção a algo ainda maior.
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