Capítulo 78: Um Vestido
Ainda na sala, virei na direção de Kazuki após ele me chamar.
— Hm?
— Você… — Ele hesitou por um segundo, o vento da janela aberta bagunçando o cabelo dele enquanto um sorriso torto surgia no rosto. — …gosta da Yuki, não é?
Eu congelei no mesmo segundo.
Era como se o chão tivesse sumido debaixo de mim.
Meu rosto esquentou tão rápido que parecia que o sol tinha decidido focar apenas em mim… mesmo dentro da sala.
Por quê aquela pergunta do nada!? Como ele sabia disso!?
— Hã!? E-eu… o que você tá falando? — gaguejei, desviando o olhar no mesmo instante.
Kazuki riu, uma risada leve que ecoou pelo corredor.
— Calma, cara, não é nada demais, que reação é essa? — disse ele, balançando a cabeça. — Só notei que você fica… meio atrapalhado com ela.
Ele deu de ombros e continuou, ainda sorrindo.
— Não vou contar pra ninguém, juro — continuou ele, levantando as mãos como quem se rende. — Minha namorada já me dá trabalho suficiente, não tenho tempo pra fofoca. Mas, sabe, achei que valia perguntar.
Eu murmurei algo que nem eu entendi, o coração batendo tão alto que parecia que ia pular do peito. Como ele tinha percebido isso?
Espera… era tão óbvio assim? Não, sem chance…
Eu não sabia o que dizer naquele momento.
— É que… Yuki, eu… — murmurei, coçando a nuca, mas nada de jeito saía.
— Ah, essa reação já me diz tudo que preciso saber — ele sorriu, dando um tapinha no meu ombro antes de se virar para abrir as caixas. — Valeu pela ajuda, e boa sorte.
— Hã? Ah, sim… sem problema, eu acho…
Saí da sala quase tropeçando, o corredor parecendo mais longo que o normal. Minha cabeça girava tanto que mal notei os outros alunos indo e vindo com sacolas de compra.
Comprei a tinta azul na loja, a mulher do caixa rindo do meu uniforme manchado e da minha cara perdida. Voltei pra escola com as latas balançando nas mãos, ainda pensando na pergunta de Kazuki.
Era assim tão óbvio que eu gostava dela ao ponto dos outros perceberem?
Impossível…
”Espera. Será que Yuki já notou isso!?”
Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles tipos de pensamentos. Quando cheguei ao pátio, o ritmo tinha mudado. O barulho de martelos estava mais baixo, e um grupo de garotas saía correndo pro prédio, rindo e cochichando animadas.
Entreguei as latas pro Seiji, que mal olhou pra mim antes de gritar pra alguém não derrubar uma tábua. Puxei Akira pelo braço, que tava limpando as mãos numa calça já toda suja.
— Ei, o que tá acontecendo? — perguntei, franzindo a testa.
Akira deu um sorriso esquisito, apontando pro prédio com o queixo.
— Parece que o Clube de Costura terminou de fazer os figurinos. Parece que todos estão indo ver como a Branca de Neve ficou.
Meu estômago deu um salto, e uma imagem passou rápido pela minha cabeça — Yuki de vestido, como uma princesa de verdade.
Tentei fingir que não era grande coisa, coçando a nuca.
— Ah, entendi…
— Ei, onde você tá indo!? — Akira começou a reclamar, mas já era tarde. — Volta aqui e me ajuda!
— …Já volto.
— Ei!
Eu apenas queria ver como ficou o trabalho da Aiko. Só isso. Não era por causa… dela. Claro que não.
Mas minhas pernas já me levavam para a sala antes que eu pudesse inventar outra desculpa.
Perto do Clube de Costura, uma pequeno grupo se criava na porta com alguns alunos espiando e falando baixo, outros com celulares na mão. Tentei passar por entre eles, esticando o pescoço pra ver o que tava causando tanto confusão.
E então a vi.
Yuki estava no meio da sala, o vestido de Branca de Neve caindo perfeito nos ombros dela. A saia longa balançava levemente, as mangas do vestido brilhavam sob a luz da janela, e uma fita vermelha segurava o cabelo solto, destacando seu rosto.
Ela mexia na saia, tímida, as bochechas coradas enquanto Aiko ajustava um detalhe na roupa.
— Perfeita! — gritou uma garota na multidão, batendo palmas tão alto que ecoou pelo corredor. — Yuki, você tá linda!
Sasaki estava ao lado dela, vestindo o uniforme de príncipe. Uma calça preta justa, casaco azul com detalhes dourados, o cabelo curto arrumado de um jeito que realmente enganava qualquer um.
Ela puxava a gola do casaco, meio sem graça.
— Até que não tá tão ruim assim… — Sasaki murmurou, desviando o olhar, enquanto uma garota tirava fotos.
Aiko bateu no peito, o riso dela enchendo a sala.
— Eu não disse que ia ficar incrível!? — exclamou ela, apontando para as duas — O Clube de Costura arrasou, e ninguém pode dizer o contrário! Né?
Meus olhos voltaram pra Yuki, e, justo naquele momento, ela levantou a cabeça. Nossos olhares se cruzaram por um segundo, e o mundo pareceu parar. Só ela, o vestido, e meu coração acelerado.
Desviei o olhar rápido, fingindo pegar algo do bolso da calça enquanto meu rosto queimava. Pelo canto do olho, vi ela abaixar a cabeça, mexendo na fita vermelha com os dedos… nervosos.
— A Yuki tá parecendo uma princesa de verdade — cochichou uma aluna ao meu lado, a voz cheia de admiração.
— E a Sasaki? — respondeu outra, rindo baixo. — Ninguém vai dizer que é garota com esse penteado! Ela tá incrível!
— Não é!?
Saí dali antes que alguém notasse minha cara estupidamente vermelha pelo corredor que parecia mais apertado que o normal. Voltei pro pátio, onde o cheiro de tinta fresca ainda estava no ar e alguns alunos continuavam o trabalho. O castelo estava de pé, as torres tortas tinham um charme que eu não esperava.
O roteiro estava quase pronto, os ensaios estavam começando, e os figurinos…
Eles… eram melhores do que podia imaginar.
Olhei pro céu, que já estava alaranjado. O barulho do pátio tinha virado um tipo de sussurro baixo, e a escola parecia vibrar com aquela energia de Festival.
Restavam apenas alguns ensaios, alguns ajustes no cenário, e estaríamos na reta final.
A imagem da Yuki no vestido ainda estava presa na minha cabeça, junto com a pergunta de Kazuki, mas sacudi tudo pra longe — ou pelo menos tentei.
Ainda tinha trabalho para fazer, papéis para revisar, e talvez, só talvez, algo maior pra descobrir no meio de tudo isso.
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