Capítulo 23 - Fidel, me empresta o Wi-Fi!
‘Che’ fechou a porta e sentou-se, observando o ambiente com olhar analítico. A sala era uma bizarra mistura de luxo e simplicidade forçada: móveis caros estrategicamente posicionados ao lado de símbolos proletários.
Uma foto emoldurada mostrava Jabá apertando a mão de diversas figuras políticas, enquanto uma bandeira vermelha desbotada pendia desanimada num canto, como se tivesse perdido a fé na revolução há pelo menos duas décadas.
Em destaque, como relíquias sagradas de uma religião extinta, jaziam sobre um aparador de madeira escura, uma boina militar puída, uma camisa do exército de Cuba que parecia ter sido comprada em liquidação online, e um par de botas que provavelmente haviam marchado até o bar da esquina e desistido ali mesmo. Dona Jabá, com olhar melancólico, acompanhou o olhar de ‘Che’ e suspirou:
— É tudo cenográfico, sabe? O pessoal só respeita quem tem fetiche por ditaduras antigas.
— Acho que realmente tudo tem seu lugar, seu sentido e sua hora. — continuou ela, levantando-se para pegar os itens — Já estava para me livrar dessa relíquia de um tempo que não volta mais.
Ela refletiu em voz alta que aqueles ‘utensílios’ de vestuário já não combinavam com sua sala nem com a realidade presente. Vinha há um bom tempo adiando o ato de arremessar aquilo em algum armário ou lugar de armazenamento esquecido e encaixotado. De repente, com o aparecimento do jovem mártir latino reencarnado, teve uma epifania e atirou aquela roupa para ele.
— Acho que isso estava esperando por você todo esse tempo. — declarou com um sorriso sugestivo.
‘Che’ ficou tão animado que quase fez a saudação revolucionária com os dois punhos ao mesmo tempo e já começou a arrancar a camisa pela cabeça, mas acabou se enroscando nos próprios braços como uma estátua revolucionária mal embalada.
— Onde… cof, cof… posso… — tentou perguntar, lembrando da etiqueta em situações públicas e lutando contra a camisa capitalista que se recusava a libertá-lo.
— Aqui mesmo! — respondeu a sindicalista sem hesitar, acomodando-se melhor em sua poltrona, claramente querendo se aproveitar da situação para ver o peitoral e barriga, trincada ou não, do jovem.
‘Che’ não hesitou. Tentou tirar a camisa com movimentos tão frenéticos que parecia lutar contra uma jiboia burguesa invisível.
— O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor… — murmurava enquanto um botão voava e acertava uma caneca sindical no balcão — …e por roupas que não custem o PIB de uma vila cubana!
Tentou dobrar a camisa, mas só conseguiu empacotá-la como quem embrulha peixe de feira, antes de resmungar:
— Estas roupas burguesas… são uniformes da falsa perfeição: apagam a fome, a raiva e até a vergonha na cara.
Jabá observava tudo com o olhar faminto de uma hiena diante de um antílope ferido, inclinando-se na cadeira para não perder nenhum detalhe do espetáculo ideológico-corporal que se desenrolava à sua frente.
“Que sorte a minha nunca ter jogado fora essas tralhas revolucionárias.” — pensou ela, congratulando-se mentalmente pela oportunidade de avaliar melhor a ‘mercadoria’ jovem e firme que o destino colocara em sua sala.
— A revolução às vezes vem em embalagens realmente atraentes! — concluiu audivelmente seus pensamentos, umedecendo os lábios com a língua.
— A juventude se afastou dos ideais revolucionários? — perguntou ‘Che’, genuinamente interessado na evolução ou involução da consciência de classe durante sua ausência cósmica.
— Afastou? — ela riu novamente, pegando um chocolate importado de uma gaveta semi-aberta — Eles nem sabem mais o que é lutar! Acham que revolução é postar textão no Twitter e esperar like de anônimo. A revolução agora é digital, querido. Hashtags em vez de greves, cancelamentos em vez de ocupações.
A sindicalista olhou para o jovem revolucionário à sua frente com um brilho nos olhos que não tinha nada a ver com ideologia e tudo a ver com oportunismo. Aquele rosto determinado, o olhar penetrante, a postura de quem está pronto para enfrentar um pelotão de fuzilamento… era perfeito. Perfeito demais para desperdiçar.
— Você tem Instagram? — perguntou abruptamente Jabá.
— Insta… o quê? — ‘Che’ franziu o cenho, a confusão momentaneamente substituindo a indignação revolucionária — É algum tipo de organização imperialista disfarçada?
Jabá quase engasgou com a própria risada. Em seus trinta anos de sindicalismo predatório, nunca tinha encontrado um espécime tão perfeitamente preservado de anacronia militante.
— Meu Deus… — Jabá quase engasgou com a própria risada. Em seus trinta anos de sindicalismo predatório, nunca tinha encontrado um espécime tão perfeitamente preservado de anacronia militante.
— Você é autêntico mesmo? — ela disse, circulando o jovem como uma onça avalia uma presa distraída — Esse olhar duro, esse queixo erguido… Você tem aquela rebeldia crua que se perdeu nessa geração de selfie.
— Sabe o que vejo quando olho para a juventude atual? — emendou, ignorando qualquer tentativa de interrupção — Um bando de meninos tomando leite de soja e meninas com cabelo colorido cujo único perigo real na vida é cair do sofá enquanto digitam manifestos online.
A sindicalista pegou o celular de última geração da bolsa de marca italiana,presente de um deputado particularmente generoso, e começou a mexer freneticamente na tela.
— Vou te explicar como funciona a revolução moderna. Hoje não precisamos de guerrilha nas montanhas como seu xará gostava. Precisamos de guerrilha digital. Hashtags são as novas ‘balas’, curtidas são as novas vitórias territoriais.
‘Che’ observava com a expressão de quem acabara de testemunhar uma blasfêmia contra tudo o que considerava sagrado. Metade dos termos dito pela mulher não passavam de palavras que uma vaga lembrança que ele nunca prestou muita atenção enquanto acompanhava a vivência de ‘Quintus’ antes de tomar seu corpo. O mundo realmente tinha enlouquecido nos anos em que esteve ‘fora do ar’.
— A verdadeira revolução não se faz com… — começou ele, mas foi interrompido pelo flash do celular de Jabá tirando uma selfie não autorizada com ele.
— Perfeito! Essa vai direto para o Insta do sindicato. Hashtag RevoluçãoDaCutis, hashtag MarxSeVivesseHoje, hashtag QueRemédioEleUsa!
Antes que o jovem revolucionário pudesse processar o surreal ataque fotográfico, Jabá já estava digitando uma legenda pomposa sobre ‘a força jovem que retorna ao movimento sindical’ e marcando quinze políticos e três influenciadores de ioga anticapitalista.
— Temos que aproveitar esse seu potencial, querido. Você tem exatamente o que precisamos: autenticidade! — exclamou ela, os olhos brilhando com a possibilidade de aumentar seu capital político — E o timing não poderia ser melhor. Estamos com as eleições sindicais chegando, e meu oponente tem um TikTok com meio milhão de seguidores. Meio milhão! Sabe quantas aposentadorias antecipadas isso vale?
‘Che’ ficou paralisado momentaneamente, tentando compreender a bizarra realidade em que havia se materializado.
“Revolução por aplicativos? Guerrilha digital?” — era como se tivesse sido jogado em uma distopia onde até mesmo as ideologias tinham virado produtos com prazo de validade.
— Companheira, vim aqui para discutir outras coisas, não para… fotos.
— Vamos fazer uma coisa. — Jabá ignorou completamente a objeção, já abrindo outro aplicativo no celular — Preciso de você para um conteúdo rápido para o TikTok. É um aplicativo onde as pessoas… bem, não importa. Só fique ali na frente da bandeira vermelha e faça alguma coisa revolucionária.
— Como assim, ‘alguma coisa revolucionária’? — questionou o jovem revolucionário exilado no tempo, cada vez mais desconcertado.
— Sei lá! Grite ‘abaixo o capitalismo’ enquanto faz uma dancinha! Os jovens adoram! — Jabá posicionou o celular, pronta para gravar — É assim que a revolução funciona hoje: menos manifestos, mais reels. Menos piquetes, mais trends.
A expressão de ‘Che’ transitou da incredulidade para o horror absoluto. Ele, que havia conduzido guerrilhas em montanhas inóspitas, enfrentado o imperialismo americano e sacrificado sua vida pelos ideais revolucionários, estava sendo convidado a… dançar? Para um aplicativo?
— Esto es una aberración contra todo lo que representa la revolución! — ele protestou em espanhol, sua indignação tão grande que a língua materna emergiu espontaneamente.
— Isso! Isso mesmo! — Jabá bateu palmas entusiasmada — Essa energia, essa autenticidade! Perfeito para nosso público internacional! Continua falando em espanhol e faz alguma pose de lutador.
Impossibilitado de fugir enquanto Jabá gravava, ‘Che’ decidiu resistir à sua maneira. Ergueu o punho no ar em um gesto solene e proclamou com a dignidade de quem prefere um pelotão de fuzilamento a uma dancinha:
— Hasta la victoria siempre!
— Maravilhoso! Falta só um charme a mais! Uma piscadinha bem sacana pra fechar! — comemorou Jabá extasiada, já imaginando os milhares de visualizações.
— El deber de todo revolucionario es hacer la revolución! — respondeu, categórico, ainda com o punho erguido e recusando-se a piscar.
— Está bom, está bom. A gente edita depois. Agora, quem sabe um slogan mais atualizado? Algo como: ‘Trabalhadores do mundo, sigam nas redes’?
‘Che’ respirou fundo, ponderando seriamente se não seria mais digno enfiar a cabeça num buraco cósmico e pedir transferência de existência, mas precisava da sindicalista — e, com isso, precisava engolir cada migalha de humilhação servida no menu do dia.
O jovem paladino de Cuba respirou fundo, ponderando seriamente se não seria mais digno enfiar a cabeça num buraco cósmico e pedir transferência de existência. Mas, com a resignação de quem vê sua dignidade evaporar como água em asfalto quente, engoliu o orgulho num tranco seco, como quem engole remédio sem água.
Endireitou o corpo, estufou o peito e, imaginando-se diante de milhares de cubanos devotados, em vez da sindicalista oportunista exibindo um iPhone 30 Pro Max na mão, proclamou com fervor
— Patria o muerte!
— Que intensidade! Adoro! — Jabá filmou mais alguns segundos e depois baixou o celular, digitando rapidamente — Pronto! Acabei de postar. Agora vamos ver como reage o público.
Ela sentou-se novamente, contemplando o jovem revolucionário com um olhar calculista enquanto verificava obsessivamente o celular, contando as curtidas que já começavam a chegar no vídeo recém-postado.
— Olha só! Já temos três curtidas e um comentário! — ela exclamou triunfante — ‘Quem é esse gostoso fantasiado de Comandante Che? Arrasa, revolução!’ Viu? O povo está conosco!
O jovem herói de boina sentiu que seu espírito revolucionário estava sendo esmagado não por tanques imperialistas, mas por algo muito pior: a trivialização de tudo pelo que havia lutado. O martelo e a foice transformados em figurinhas de WhatsApp, a revolução reduzida a conteúdo viral de quinze segundos.
— Tenho uma proposta para você — continuou Jabá, já organizando mentalmente sua nova estratégia de mídia — Precisamos de um rosto jovem para nossa próxima campanha. ‘Sindicalismo para a Geração Z: menos trabalho, mais TikTok’. Você seria o garoto-propaganda perfeito!
— Nunca fui e jamais serei garoto-propaganda de nada. — respondeu com dignidade ofendida com uma expressão semelhante se lhe oferecessem um cargo no governo americano — A imagem de um revolucionário não deve ser comercializada como um produto!
Jabá revirou os olhos. Jovens idealistas… sempre tão difíceis de manipular sem algumas bebidas antes.
— Não é comercializar, querido. É estratégia de comunicação revolucionária! — ela tentou um novo ângulo refletindo que aquele jovem a sua frente parecia estar muito desconectado da realidade e precisava entender melhor a modernidade — Pense nisso como propaganda ideológica adaptada aos novos tempos. Che Guevara também apareceu em milhões de camisetas, não é? E o que eram aqueles cartazes senão os memes da época?
O argumento atingiu ‘Che’ em um ponto sensível. Era verdade que sua imagem original havia sido reproduzida infinitamente, um ícone que transcendeu o próprio homem. Talvez… talvez houvesse alguma lógica nessa loucura moderna.
Antes que pudesse formular uma resposta, o celular de Jabá vibrou intensamente.
— Meu Deus! — ela exclamou, olhando para a tela — Seu vídeo está bombando! Já temos duzentas visualizações e o pessoal da Juventude Sindical está pedindo mais conteúdo!
A sindicalista levantou-se de um salto, uma ideia brilhando em seus olhos oportunistas.
— Tenho uma ideia genial! Vamos fazer uma série: ‘Dicas Revolucionárias com Che’! Episódio um: ‘Derrubando o sistema sem largar o Uber nem o iFood’. Episódio dois: ‘Militando contra as grandes corporações… com fone da Apple no ouvido’!
Foi nesse momento que o jovem mártir latino reencarnado percebeu a verdadeira luta que teria pela frente. Não era apenas contra a garota de programa que havia enganado o corpo que agora habitava, nem contra o bilionário excêntrico que o monitorava.
Sua maior batalha seria contra este bizarro mundo moderno, onde até mesmo a revolução havia sido cooptada pelo sistema, transformada em conteúdo digestível para consumo rápido entre um scroll e outro.
Enquanto Jabá tagarelava sem parar sobre ‘monetização revolucionária’, Quintus teve uma revelação cristalina: a vingança precisava ser rápida e brutal. Cada segundo naquele manicômio ideológico era um atentado à sua sanidade.
— E então, o que me diz? — perguntou Jabá, estendendo a mão em um gesto que parecia selar não um pacto revolucionário, mas um contrato com cláusulas suspeitamente benéficas para apenas um dos lados — Parceiros na revolução digital?
‘Che’ observou aquela mão estendida como quem observa uma cobra prestes a dar o bote. Com a dignidade de quem prefere morrer de pé a viver de joelhos. Ou neste caso, de quem prefere ser fuzilado a virar influencer, respondeu:
— É complicado… deixa eu pensar um pouco… — disse, enquanto, por dentro, já aceitava que era mais honroso evaporar na estratosfera do que virar o bobo da corte oficial.
A sindicalista soltou um suspiro resignado, como quem já conhecia de cor o roteiro de todas as desculpas esfarrapadas. Para ela, os idealistas eram sempre os casos mais teimosos… mas também os prêmios mais cobiçados, aqueles que, quando finalmente cediam, rendiam ouro puro. Com um sorriso paciente, disse em tom persuasivo:
— Pense com carinho… nem comecei a falar dos pagamentos e das vantagens.
Sem esperar resposta, ela se inclinou sobre a mesa, estreitando ainda mais a distância entre eles, como se tentasse decifrar cada detalhe do jovem rebelde à sua frente.
Aproximou-se tanto do jovem que o mesmo pôde sentir, entre uma baforada silenciosa e outra, uma estranha mistura de perfume caro, cheiro de cigarro e um sutil aroma adocicado de chocolate belga, tudo pairando no ar como uma ameaça sedutora e inevitável.
— Mas me diga… o que um jovem chamado Che Guevara quer com um sindicato em pleno século XXI? Acredito que não veio aqui para pedir reajuste salarial ou reclamar do vale-refeição. — Seus olhos pequenos e perspicazes brilhavam com uma curiosidade quase felina.
— Busco entender como evoluiu a luta de classes neste mundo moderno. Precisamos de alguns recursos para… certas operações táticas — respondeu, escolhendo cuidadosamente as palavras.
Jabá recostou-se na cadeira, que gemeu em protesto sob seu peso considerável, e cruzou os braços sobre o peito.
— Você sabe qual é a verdadeira revolução hoje em dia, ‘bebê Che’? — ela perguntou retoricamente — É o funcionalismo público. Ninguém mais quer saber de proletariado sujo de graxa. A classe operária virou Uber. Os verdadeiros revolucionários hoje são os funcionários públicos que querem trabalhar menos, ganhar mais e se aposentar aos 50 abençoados pela Constituição!
O jovem revolucionário exilado no tempo sentiu uma pontada de decepção revolucionária, agravada pelo apelido infantilizador que lhe fora atribuído. ‘Bebê Che?’, pensou indignado, enquanto ajustava a boina militar na cabeça com dignidade ofendida.
“Eu, que enfrentei a CIA, a contra-revolução e o próprio imperialismo americano, reduzido a um apelido de desenho animado!” — Engoliu o desaforo com o mesmo estoicismo com que suportara as adversidades na Sierra Maestra, consolando-se que ao menos não o haviam chamado de ‘Che-chezinho’ ou pior ainda, ‘Che-rido’.
Era mais um sacrifício pela causa, concluiu, somando ao crescente inventário de indignidades que tinha de suportar nessa nova e estranha encarnação. Seu sonho de encontrar células comunistas organizadas, prontas para a insurreição popular, estava se desfazendo rapidamente, substituído pela bizarra realidade de um sindicalismo que parecia mais um clube de benefícios do que um movimento revolucionário.
Ajeitando-se na cadeira, ‘Che’ respirou fundo. Haveria de encontrar uma forma de adaptar seu plano de vingança a este mundo onde até mesmo os sindicatos pareciam ter sido cooptados pela lógica capitalista.
De repente, uma ideia ousada começou a se formar em sua mente revolucionária. Se este era o nível da resistência proletária no século XXI, talvez tivesse encontrado o parceiro perfeito para seus planos – alguém tão corrompido pelo sistema que conhecia todas as suas vulnerabilidades. Com um sorriso enigmático, ‘Che’ preparou-se para fazer a pergunta que poderia determinar o curso de sua vingança.
— E vocês… lideram essa revolução? — questionou, relegando a ofensa ao fundo de sua mente e tentando entender como aquela mulher corpulenta em uma sala com ar-condicionado representava qualquer tipo de ameaça ao sistema capitalista.
Seus olhos percorreram a sala luxuosa com ceticismo, notando a contradição gritante entre os símbolos revolucionários nas paredes e o evidente conforto burguês em que a sindicalista vivia. A revolução, ao que parecia, havia encontrado um caminho confortável de coexistência com o capitalismo que tanto professava combater.
Jabá inclinou-se para frente, um sorriso astuto brincando em seus lábios pintados de vermelho. Uma revolucionária prática para tempos práticos, pensou, uma espécie de camarada que nunca havia encontrado nas montanhas de Cuba – o tipo que entendia que, para derrotar o sistema, era preciso primeiro aprender a explorá-lo por dentro.
— Lideramos a única revolução possível, querido: a revolução do status quo! — ela declarou, levantando-se com uma agilidade surpreendente para seu porte físico — Veja bem, o verdadeiro poder não está nas ruas com cartazes, mas nos bastidores com carimbos. Não precisamos tomar o poder…
A voz de Jabá vibrava com uma convicção quase hipnótica enquanto se aproximava dele, seus olhos revelando uma mistura perigosa de astúcia e ambição. ‘Che’ jamais imaginara encontrar uma revolução tão distorcida, tão afastada dos ideais pelos quais morrera uma vez.
O sindicalismo não era mais a vanguarda da classe trabalhadora, mas sua prisão dourada. Uma armadilha burocrática travestida de resistência. E mesmo assim, ali estava ele, diante de uma mulher que parecia entender melhor o poder do que qualquer guerrilheiro que conhecera.
Quando ela parou a centímetros de seu rosto, o cheiro de perfume caro e poder incontestável, ‘Che’ compreendeu que sua revolução precisaria tomar um rumo completamente diferente neste novo mundo. A pergunta era: estaria disposto a corromper seus próprios ideais para alcançar sua vingança?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.