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    ‘Che’ tentava engolir a realidade indigesta de que sua vingança, em vez de vir com fuzis e barricadas, agora precisava passar por filtros do Instagram, figurinhas de WhatsApp e talvez ‘um exposed’ bem construído no TikTok. Seus planos não brotavam mais das selvas da cordilheira em Cuba, mas sim das memórias caóticas de Quintus, o último dono do corpo. 

    Tudo no presente tinha que ser sem sangue, sem tortura. Só humilhação digital, mas com engajamento. O mártir latino reencarnado mudara de século, de corpo, de método e até de plano de dados. Mas sua fúria pixelada, agora alimentada por uma última dívida que ele acreditava dever ao último dono de seu corpo, seguia implacável.

    Enquanto refletia sobre o presente, o ônibus inteiro encarava-o como se ele fosse um alienígena tentando se passar por humano, e falhando miseravelmente. Sua boina militar preta com estrela vermelha, combinada à camisa do exército cubano e as botas de combate, faziam dele a coisa mais próxima de uma alucinação coletiva que aquele transporte público já tinha testemunhado numa quinta-feira comum.

    — Ei, companheiro! O carnaval já acabou faz tempo! — gritou um adolescente do fundo do ônibus, provocando uma onda de risadas que percorreu os assentos como um vírus contagioso.

    Uma senhora idosa cutucou a amiga ao lado, sem a menor discrição que a idade deveria trazer:

    — É algum desses artistas da internet? Os netos vivem assistindo esses jovens fantasiados.

    — Deve ser cosplay daquele rapaz da camiseta que todo mundo usa. — respondeu a amiga, num tom alto o suficiente para que metade do ônibus pudesse julgar sua teoria.

    ‘Che’ ignorou solenemente os comentários. Afinal, um verdadeiro revolucionário não se abala com a incompreensão das massas ainda não conscientizadas. Seus dedos, porém, travavam uma batalha particular com o smartphone de Quintus, tentando dominar aquela tecnologia capitalista que parecia desenhada especificamente para frustrar veteranos de guerrilha.

    Depois de três tentativas desastrosas, incluindo tirar uma selfie acidental e quase ligar para a mãe de Quintus, ele finalmente conseguiu abrir o WhatsApp e encontrar o contato de Ana Clara.

    “Companheira, precisamos estabelecer um ponto de encontro estratégico para discutir os detalhes da nossa ofensiva revolucionária. O seu expediente laboral está próximo do fim. Sugiro o restaurante temático no centro, território perfeito para nossa operação. Assinado: Che, o verdadeiro, não o da camiseta.”

    A resposta veio quase imediatamente, como se Ana Clara estivesse esperando por algo assim para quebrar o tédio de sua existência digital:

    “Não podemos conversar por aqui mesmo? Estou cansada e tenho três séries na fila. E dois trabalhos para entregar. E três identidades falsas para manter.”

    “Jovens modernos e sua falta de comprometimento revolucionário!” —  pensou o jovem herói de boina franziu o cenho. 

    Ele respondeu, digitando com um dedo só, como um general furando um mapa com uma bandeirinha:

    “Negativo. A operação que planejamos não pode deixar vestígios digitais. O inimigo tem olhos em todos os lugares, inclusive no algoritmo desse aplicativo burguês.”

    Três pontinhos apareceram e desapareceram várias vezes, como se Ana Clara estivesse digitando e apagando diversas respostas antes de finalmente enviar:

    “Relaxa, dublê de tiozão. O canal tá criptografado até a medula. A CIA que lute, a NSA que chore. E a ABIN… bom, Aqueles malucos não rastreiam nem o próprio e-mail institucional e se algum dia eles decifrarem isso, juro que dou minhas senhas e ainda mandava um nude. Desembucha. Qual é o plano?”

    Convencido de que estava num ambiente seguro, ‘Che’ foi direto ao ponto: 

    “Preciso de uma AK-47.” 

    Do outro lado da linha, Ana Clara engasgou com a água que bebia, cuspindo tudo no celular. Ela enxugou a tela na blusa e releu a mensagem três vezes para ter certeza de que não era uma piada.

    Além dos dois emojis de olhos esbugalhados que pareciam implorar por ajuda divina, ela digitou em letras garrafais, com caps lock e tudo, como se estivesse berrando dentro de um apocalipse doméstico. A pontuação era tão frenética que o teclado quase pediu arrego:

    “UMA O QUÊ?!? NÃO, CALMA. ALGUÉM TRAZ UM DEFIBRILADOR, UM DICIONÁRIO E UM PADRE!”

    “Como explicar a uma adolescente a importância simbólica e prática de uma Kalashnikov na derrubada de estruturas opressoras?” — pensou ‘Che’, suspirando já esperando que logo, logo teria que explicar o marxismo por meio de stories com filtro de cachorrinho e enquete no final.

    “Uma arma, companheira. O símbolo máximo da revolução. A voz do proletariado quando as palavras já não bastam.” — tentou novamente convencer a jovem da importância, como um professor de uma universidade federal tentando debater luta de classes com um estudante que só responde com sticker do Bolsonaro dizendo que é o ex mais amado. 

    Um emoji de palma na testa foi a primeira resposta, seguido por: 

    “Dona Jabá me mandou ajudar um psicopata. Ótimo.” — e depois — “Olha, mudei de ideia. Vamos nos encontrar pessoalmente. Preciso ver que tipo de louco você é antes que a polícia me encontre por associação.”

    O jovem paladino de Cuba sorriu triunfante. Nada como o bom e velho contato humano, olho no olho. A tecnologia jamais substituiria o calor revolucionário de uma conversa face a face.

    “Perfeito. O restaurante temático no centro, aquele com garçonetes elfas. Uma das pessoas que pretendo ajustar contas trabalha lá.”

    “Deixa eu adivinhar… você quer atirar em alguém que te deu um hambúrguer frio?”

    “Não. Uma mulher que não correspondeu ao amor verdadeiro e humilhou sistematicamente o proletariado emocional que habitava este corpo.”

    Desta vez, a resposta demorou quase um minuto inteiro.

    “Espera aí. Você quer uma AK-47 para matar uma garota que não quis ficar com você? Isso não é revolução, é crime passional com tempero de incelismo!”

    “Eu? Um INCEL?” — pensou ‘Che’ sentiu-se ofendido em seus brios revolucionários — “Eu que já conquistei corações em três continentes diferentes?”

    “Os fins justificam os meios, companheira. A burguesia emocional precisa ser derrubada!” — digitou, fingindo elegância revolucionária enquanto digeria o fato de ter sido transformado em piada digna de grupo do Discord de adolescente.

    “Olha só, existem formas muito melhores de vingança do que matar alguém. Formas que vão torturá-la por muito mais tempo. Que tal destruir a reputação dela? Ou fazer ela perder o emprego? Bem mais eficaz e menos… prisão perpétua.”

    ‘Che’ refletiu. Afinal, não era com ele que a tal Mirela tinha sido cruel, mas com o antigo proprietário daquele corpo. Talvez a sugestão da jovem hacker fosse aceitável.

    “Acho que posso considerar métodos alternativos de revolução emocional.”

    “Ótimo! Estarei lá em uma hora. E NÃO FALE COM NINGUÉM SOBRE ARMAS até eu chegar.”

    O ônibus parou próximo ao restaurante, e o jovem revolucionário exilado no tempo desceu com a dignidade de um líder revolucionário entrando em território inimigo. O estabelecimento, chamado ‘Espada & Garfo’, era tudo o que ele desprezava: um templo ao consumismo, onde a fantasia servia apenas para mascarar a exploração dos trabalhadores fantasiados.

    As garçonetes usavam orelhas pontudas e vestidos medievais encurtados para servir drinks com nomes ridículos. ‘Che’ escolheu uma mesa estratégica, com visão panorâmica do salão e rota de fuga acessível, como aprendera nos anos de guerrilha.

    Não demorou para que os olhares curiosos começassem. Um grupo de jovens executivos na mesa ao lado não conseguia parar de encará-lo e dar risadinhas como colegiais.

    — Ei, você não é aquele influencer revolucionário? — perguntou um deles, levantando o celular como se preparasse para uma selfie.

    — Sou um guerrilheiro real, não um produto da mídia capitalista — respondeu ‘Che’ secamente.

    Isso só pareceu empolgá-los mais.

    — Cara, você arrasa! Posso tirar uma foto? Meu feed precisa de conteúdo autêntico.

    Antes que pudesse recusar, já estava cercado por cinco executivos bêbados, todos fazendo caretas e poses de revoluções que nunca viveram ao lado dele.

    Uma garçonete elfa que ‘Che’ não reconheceu, mas que claramente conhecia o corpo que ele habitava, aproximou-se com um sorriso sugestivo.

    — Quintus! Arrasou com o look revolucionário! — ela piscou, inclinando-se mais do que o necessário para entregar o cardápio — Mirela vai pirar quando te ver assim. Você finalmente criou coragem, hein?

    A jovem relíquia da revolução abriu a boca para corrigir o mal-entendido, mas foi interrompido por gritos da mesa dos executivos, agora completamente embriagados:

    — DISCURSO! DISCURSO! O REVOLUCIONÁRIO PRECISA FAZER UM DISCURSO!

    O coro foi rapidamente adotado por outras mesas, e logo todo o restaurante gritava ‘DISCURSO!’, incluindo algumas garçonetes elfas que pareciam desesperadas por qualquer distração em seu turno monótono.

    O espírito revolucionário de ‘Che’ inflamou-se com a atenção. Não era exatamente o público que imaginara converter à causa, mas uma revolução começava onde o povo estivesse. Com um movimento fluido que surpreendeu até a ele mesmo, subiu na mesa, erguendo o celular de Quintus no alto como se fosse uma espada libertadora.

    — Compatriotas alienados pela fantasia capitalista! — começou ele, sua voz ecoando pelo restaurante — Observem ao redor! Este estabelecimento é o exemplo perfeito da exploração disfarçada de entretenimento! Garçonetes transformadas em criaturas míticas para satisfazer o apetite consumista, enquanto seus direitos trabalhistas são negados! E o maior símbolo dessa alienação? — apontou dramaticamente para o fundo do salão, onde Mirela acabava de sair da cozinha com uma bandeja. — Aquela elfa! O arquétipo da alienação de classe disfarçada de cosplay!

    Para sua surpresa, o restaurante inteiro explodiu em aplausos e risos. Alguns clientes até assoviaram, achando que tudo não passava de uma performance artística brilhante.

    — Quintus está hilário hoje! — gritou alguém — Melhor que stand-up comedy!

    As garçonetes elfas riam e aplaudiam, algumas até tirando fotos, todas aparentemente deliciadas com a ‘atuação’ do cliente que costumava ser tão tímido.

    Todos, exceto Mirela. Ela congelou no meio do salão, a bandeja de bebidas coloridas tremendo levemente em suas mãos. Seu rosto, normalmente uma máscara perfeita de controle, agora exibia algo raro: completa perplexidade.

    ‘Che’, concentrado em sua retórica revolucionária, nem notou o impacto que causara. Para ele, aquela era apenas mais uma burguesa emocional que merecia ser exposta. Para Mirela, no entanto, foi como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo. Quintus, o eterno admirador que a tratava como uma deusa, agora a ridicularizava publicamente?

    O momento de confusão foi interrompido pela entrada de uma figura que fez várias cabeças se virarem. Uma loira curvilínea, vestida com um traje que parecia uma combinação improvável de dominatrix medieval e influenciadora fitness, atravessou o restaurante como uma estrela de cinema chegando ao Oscar.

    ‘Che’ continuou seu discurso, até que a loira parou diante de sua mesa-palanque e pigarreou alto.

    — Meu general da revolução, sua companheira de armas chegou. — anunciou ela, numa voz alta o suficiente para ser ouvida nas mesas próximas.

    O jovem herói de boina olhou para baixo, confuso. A mulher era completamente desconhecida para ele. Onde estava a adolescente de cabelo roxo que esperava?

    — Companheira, creio que está na mesa errada. — disse ele, em voz baixa — Estou aguardando outra pessoa.

    A loira revirou os olhos e puxou-o pela manga da camisa, forçando-o a descer da mesa. Quando estavam próximos, ela sussurrou:

    — Sou eu, idiota. Ana Clara. Disfarçada, como combinamos.

    ‘Che’ piscou várias vezes, olhando da cabeça aos pés a figura à sua frente. A peruca loira platinada, o rosto maquiado como se tivesse passado por um filtro de Instagram, roupas que acentuavam cada curva que ele não sabia que existiam, e a completa ausência de piercings tornavam-na irreconhecível.

    — Por todos os proletários do mundo! O capitalismo realmente consegue transformar pessoas! — admirou-se ele.

    — Não, isso se chama maquiagem e uma peruca de 50 reais — respondeu ela, ajeitando os seios falsos que ameaçavam escapar do decote — Agora, sente-se e vamos começar o show. Sua ex-paixão não tira os olhos da gente.

    Era verdade. Mirela, agora posicionada estrategicamente atrás do balcão, observava-os com uma intensidade que poderia derreter o gelo nos drinks que servia.

    — Ela não é… — começou o comandante ‘Che’.

    — Shh! — Ana Clara o interrompeu, assumindo seu papel com um entusiasmo alarmante. — Oh, meu general revolucionário! — exclamou, alto o suficiente para que metade do restaurante ouvisse — Conte-me mais sobre como o proletariado deve se unir… na cama! — A última parte foi quase um gemido.

    O jovem justiceiro socialista engasgou com o próprio ar, enquanto Ana Clara se inclinava para frente, dando a todos, especialmente a Mirela, uma visão privilegiada de seu decote.

    — Companheira, acho que está confundindo revolução com…

    — Eu sei exatamente o que estou fazendo! — cortou Ana Clara, piscando discretamente. Então, ainda mais alto: — Preciso do meu cafezinho revolucionário… você poderia chamar aquela elfa ali para nos atender?

    E apontou diretamente para Mirela, que agora parecia prestes a quebrar o copo que secava com força desnecessária.

    — Não seria melhor…

    — Confia em mim. Entendo de vinganças muito melhor que de revoluções. — sussurrou Ana Clara, antes de erguer a mão e acenar para Mirela como se estivesse chamando um cachorro — Ei, elfinha! Pode vir aqui? Estamos morrendo de fome… por justiça social e aperitivos!

    Mirela aproximou-se lentamente, como quem caminha para o próprio fuzilamento. Seu sorriso profissional estava pregado no rosto com força tão artificial que quase dava para ver os grampos.

    — Boa noite. O que vão querer? — perguntou ela, sem olhar diretamente para ‘Che’.

    Ana Clara se debruçou sobre a mesa, aproximando-se como uma serpente pronta para dar o bote.

    — Hmm, queremos algo… especial. Algo que represente a chama ardente da revolução cubana combinada com a doçura da vitória proletária. Você tem isso no cardápio, querida?

    Mirela manteve o sorriso congelado, mas seus olhos transmitiam claramente um desejo homicida. Ela se virou para o jovem a sua frente, finalmente encarando-o.

    — E você, Quintus? O mesmo de sempre ou… — ela hesitou — algo diferente hoje?

    ‘Che’ olhou-a nos olhos, sentindo uma pequena fagulha de reconhecimento das memórias de Quintus enquanto pensava:

    “Essa era a mulher que tanto atormentara o anterior ocupante daquele corpo? Parecia tão… comum agora, sem o brilho idealizado que via nas memórias.”

    — Você me lembra vagamente uma moça… — disse ele, fingindo tentar se lembrar — mas aquela elfa costumava demonstrar estar sempre feliz. 

    A caneta que Mirela segurava escorregou de seus dedos, caindo no chão com um barulho que pareceu ensurdecedor no silêncio que se instalou entre eles. Ela se abaixou para pegá-la, visivelmente abalada pela resposta inesperada, enquanto Ana Clara reprimia uma risada.

    — Vamos pedir o suco da paixão cubana. — disse Ana Clara, acrescentando adjetivos estranhos aos pedidos que apontava no cardápio enquanto Mirela se recompunha — e a salada da traição élfica, por favor.

    — Mais alguma coisa? — disse Mirela anotando mecanicamente, seu rosto agora uma máscara de profissionalismo ferido.

    — Sim! — respondeu Ana Clara, pegando seu celular — Uma foto sua com meu namorado revolucionário. Para o Instagram dele. Você não se importa, não é?

    Antes que Mirela pudesse protestar, Ana Clara já estava de pé, empurrando ele para o lado dela e posicionando o celular.

    — Digam ‘O capitalismo vai cair’!

    O flash disparou, capturando a expressão desconcertada de Mirela e o sorriso confuso de ‘Che’. Ana Clara examinou a foto com satisfação.

    — Perfeita! Vou postar com a localização… hmm… que tal ‘Restaurante dos Fracassos Élficos: onde o amor morre e o sorvete derrete’?

    Mirela saiu rapidamente, murmurando algo sobre verificar os pedidos, enquanto Ana Clara se sentava novamente, com um sorriso vitorioso.

    — Fase um completa. Ela está completamente desestabilizada.

    ‘Che’ observou Mirela se afastando, uma mistura de confusão e admiração surgindo em seu rosto.

    — Devo admitir, companheira, que seus métodos de guerrilha psicológica são impressionantes.

    — Querido, isso é só o começo. — Ana Clara sorriu, digitando furiosamente em seu celular — Acabei de acessar o sistema de som do restaurante. Quer ouvir o hino oficial da ‘Intentona Comunista de 1935’, nos alto-falantes enquanto jantamos?

    Enquanto o restaurante inteiro começava a se agitar com a súbita mudança na playlist, ‘Che’ inclinou-se para frente, genuinamente impressionado.

    — Você é realmente a arma revolucionária que Jabá prometeu. Quando terminarmos com essa, temos mais três alvos na lista: os falsos camaradas Gustavo e Leon, e a mulher do Job.

    Ana Clara ergueu uma sobrancelha.

    — Mulher do Job? Isso é algum personagem bíblico?

    — Não, companheira. É uma longa história envolvendo dinheiro, promessas não cumpridas e expectativas adolescentes esmagadas pelo mercado negro capitalista.

    — Soa como meu tipo favorito de caos. — sorriu Ana Clara, levantando seu copo de água em um brinde — À revolução dos corações partidos!

    ‘Che’ ergueu seu copo também, enquanto atrás deles, Mirela voltava com os pedidos e uma expressão que prometia que aquela guerra estava apenas começando.

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