O trio congelou. Quintus piscou como se tivesse ouvido errado. Os dois amigos engoliram seco, os olhares fixos na garçonete de orelhas pontudas que segurava a comanda com a precisão de alguém anunciando uma sentença de morte.

    — O quê? “Tábua Premium do Chef”!?! — repetiu Gustavo, a voz saindo num tom agudo de puro pânico — Não, não, não, moça! A gente não pediu isso!

    — Nunca nem vi essa tábua na vida! — garantiu Leon, levantando as mãos como um inocente num interrogatório da polícia.

    — Juro pela minha carteira vazia, isso não foi a gente! — Quintus quase gritou, sentindo o suor brotar na testa.

    A garçonete de olhos azuis arqueou uma sobrancelha, absolutamente impassível diante da histeria coletiva e sustentou:

    — Pois é o que está registrado na conta.

    Com a frieza de um juiz decretando prisão perpétua, ela ergueu a comanda e apontou para o veredito inevitável. O trio se entreolhou, pálido como réus que já conheciam o destino cruel que os aguardava. 

    A única coisa mais vazia do que suas expressões era, sem dúvida, a conta bancária coletiva. Um verdadeiro deserto financeiro, onde nem um mísero cacto de esperança brotava.

    — Então, pessoal… — Quintus suspirou, aceitando sua realidade — Foi um prazer conhecer vocês. Eu escolho lavar pratos. Vocês podem vender órgãos ou o corpo.

    — Meu corpo pode não ser um templo, mas não vou vender ele assim tão fácil! — retrucou Gustavo cruzando os braços, refletindo — Ou será que eu devo?

    — Nem ferrando! — exclamou Leon — Se for pra pagar essa tábua, prefiro me cadastrar num site adulto duvidoso e ver até onde minha moral aguenta!

    — Por esse preço… — afirmou Quintus lançando um olhar duvidoso — acho que vocês teriam que oferecer um combo completo com atendimento VIP.

    A garçonete, que até então mantinha a postura impessoal de quem só queria terminar o turno sem lidar com clientes problemáticos, arqueou as sobrancelhas, surpresa. Nunca, em todos os seus dias servindo naquele restaurante temático, tinha presenciado tamanha descaradez. 

    Outros clientes, diante de inconsistências nos pedidos, brigavam, entravam em choque, resmungavam baixinho ou até tentavam negociar. Mas esses três? Estavam ali, tranquilamente debatendo um plano de pagamento que envolvia vender o próprio corpo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. 

    Ela não sabia se admirava a coragem ou se chamava a gerência. Segurou a bandeja com mais firmeza e, sem querer, soltou uma risada curta e abafada. Não ia pagar a conta deles, não ia resolver o problema, mas… pelo menos o clima parecia menos tenso do que deveria.

    — Moça, falando sério agora. NÓS NÃO PEDIMOS ISSO! — disse Quintus sentindo o coração disparar como se estivesse prestes a receber um boletim escolar ruim — Eu nem sei o que tem nessa tábua! Isso vem com ouro? Porque é a única coisa que justificaria o preço!

    — Não tem ouro, mas tem história. — respondeu sorrindo a elfa.

    — Que tipo de história?

    — Essa é a “Tábua Premium do Chef”. — falou deslizando o prato até a frente dele — Feita com os melhores ingredientes da casa, preparada com carinho, temperada com o suor da equipe da cozinha e, acima de tudo… Servida exclusivamente para clientes que, ao ver a conta, reconsideram todas as decisões financeiras da vida.

    O silêncio que se instalou foi tão pesado que até a trilha sonora medieval do restaurante parecia ter diminuído o volume por respeito. Os três amigos e a Elfa se encararam, imersos no choque absoluto, até que Quintus finalmente respirou fundo e declarou:

    — Eu me recuso a pagar por essa experiência sensorial.

    — Ah, mas já foi servida. — respondeu a garçonete sorrindo e dando de ombros. 

    Gustavo pegou o cardápio, folheando freneticamente como se procurasse uma cláusula secreta que o isentasse de pagar e deixou escapar sem perceber:

    — MEU DEUS! ISSO CUSTA MAIS QUE MINHA RENDA MENSAL!

    Leon começou a digitar freneticamente no celular, e a expressão concentrada em seu rosto deixava claro: ele não estava apenas calculando valores, mas sim as probabilidades de uma fuga bem-sucedida. 

    Pela troca de olhares ao redor da mesa, não era difícil adivinhar: todos estavam mentalmente simulando rotas de fuga, avaliando distâncias até a porta, possíveis distrações e, acima de tudo, quem seria o primeiro a ser pego se corressem

    A garçonete estreitou os olhos, acompanhando o comportamento suspeito dos três. Eles se mexiam com inquietação crescente, olhando para a porta, para os lados, para o teto—como se estivessem prestes a fazer uma grande besteira.

    Ela suspirou, já antecipando mais uma dor de cabeça naquela noite infernal. Pegou a conta, analisando os números, pronta para a batalha… até que algo inesperado aconteceu. Seus olhos percorreram os detalhes do recibo e, instantaneamente, seu corpo relaxou com o peso da responsabilidade escorrendo pelos seus ombros.

    — Ah, que maravilha. — murmurou para si mesma, levantando o olhar, agora muito mais calma, e sorriu com genuína tranquilidade — Senhores, a conta já foi paga.

    Os três amigos pararam de se mexer ao mesmo tempo, congelando no lugar como se alguém tivesse apertado pause em um vídeo.

    — O quê?! — Quintus foi o primeiro a reagir, pegando a conta como se esperasse encontrar uma pegadinha em letras miúdas.

    A garçonete deu de ombros.

    — Não sei. Mas sinceramente? Não é problema meu.

    Ela pegou o bloco de pedidos, feliz por não ter que resolver mais um problema naquela noite miserável e se afastou com a leveza de quem acabara de deixar uma bomba-relógio sobre a mesa.

    O silêncio foi tão absoluto que, se um garfo caísse no chão naquele momento, provavelmente ecoaria como um sino de igreja. O trio se encarou, trocando olhares carregados de desconfiança, como se cada um estivesse esperando que o outro finalmente admitisse que fez um pacto sombrio em troca daquele jantar. 

    Eles já haviam sobrevivido a espinhas, corações partidos e professores sádicos, mas uma verdade era absoluta: nada na vida assusta mais do que um jantar pago por um desconhecido.

    O silêncio na mesa foi tão profundo que até o restaurante parecia aguardar o desfecho daquela história. O trio trocou olhares carregados de desconfiança, como se de repente comida grátis fosse a coisa mais assustadora do mundo.

    — Isso… isso não pode ser bom. — murmurou Leon, apertando os olhos e sentindo o mesmo calafrio que percorreu todos ali. Não era apenas a surpresa, mas o terror de uma única pergunta que se formava: 

    “Quem, diabos, pagou essa conta?”

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