Capítulo 70 - Adestramento emocional para machos confusos
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O telão acendeu novamente, revelando Dr. Zaratustra em seu consultório de gosto egomaníaco: terno branco cintilante, copo de whisky na mão e, ao fundo, colunas gregas falsas que pareciam feitas com ambição.
A parede exibia quadros dele mesmo com expressões pensativas e frases como “Só o caos é confiável” enquanto ele dizia algo inaudível com os olhos fechados, feito se meditasse sobre a insanidade nacional.
Mas antes que alguém perguntasse se aquilo era uma chamada virtual, a porta lateral do palco se abriu. Dr. Zaratustra surgiu ao vivo, a passos que pareciam manifestos filosóficos.
Ele acenou para o público e se acomodou na terceira poltrona, entre Vento Leste e Dona Jabá, assumindo o posto não oficial de oráculo do amor disfuncional.
— Quintus, meu jovem. Vim aqui para te propor algo revolucionário. Literalmente. Uma união que transcende os paradigmas convencionais da psicologia moderna.
O jovem Maximus agarrou-se no ar tal qual se pudesse encontrar alguma corda invisível para se salvar do naufrágio de sua sanidade mental. Seus olhos se arregalaram tanto que pareceram prestes a saltar das órbitas.
— Não, não, não… — começou a balançar a cabeça freneticamente — Doutor, o senhor não pode estar aqui. Isso é antiético! Vai contra todos os manuais de conduta profissional!
Dr. Zaratustra ajustou a gravata e sorriu com a sabedoria de quem acabara de descobrir a cura para todos os males do mundo, exceto a própria sanidade.
— Antiético seria te abandonar no momento mais importante da sua jornada existencial. — o cientista fixado no jovem Maximus sorriu antes de continuar — Além do mais, eu também me candidato. Afinal, quem melhor que seu terapeuta para ser seu companheiro de vida?
Quintus voltou a erguer os braços ao céu, numa súplica por intervenção divina. Sua voz atingiu uma frequência que fez os cães do bairro começarem a uivar.
— O SENHOR SE CANDIDATOU? — berrou com desespero.
O doutor se recostou na poltrona como se estivesse prestes a revelar os segredos do universo numa consulta de R$ 500 reais os 50 minutos. Seus olhos brilhavam com aquela satisfação típica de quem acabou de encontrar uma nova síndrome para catalogar.
— Claro! Pensando bem, depois de anos te estudando, conhecendo suas neuroses, seus medos, suas fantasias mais secretas… Quem melhor para ser seu companheiro de vida? Eu conheço todos os seus traumas, suas fobias, seus complexos. Posso te oferecer terapia de casal em tempo real!
Quintus olhou sem esperança, derrotado, feito brasileiro que acabou de saber que o governo criou o ITFI: Imposto sobre o Tempo que Financiador involuntário da farra estatal fica Infeliz.
— Isso aqui parece roteiro de humor do governo: vergonha alheia em tempo real, orçamento mal feito e ninguém rindo… só pagando.
Dawana riu da referência inteligente. Ela continuava transmitindo de seu iate de luxo, onde seus escravos masculinos trabalhavam em perfeita sincronia.
O jovem apresentadora tomou um gole de champanhe que lhe foi servido em taça de cristal por um modelo que parecia ter saído de uma revista de moda italiana. Ela lambeu os lábios, saboreando antecipadamente o caos que estava prestes a causar.
— Ainda não acabou. — Dawana sorriu maliciosamente, folheando seus documentos com o cuidado de quem consulta um manual prático de desastres — Temos mais candidatos. Por exemplo, a professora Nimsay decidiu participar também.
O jovem Maximus ergueu a cabeça do chão feito um afogado que acabou de avistar uma boia salva-vidas. Seus olhos brilharam com uma esperança patética, igual a alguém que acabou de ganhar um vale-presente de R$ 10 numa loja que só vende produtos de R$ 100.
— Professora Nimsay? — Quintus levantou a cabeça esperançoso — Ela veio me salvar desta insanidade coletiva?
Dawana continuava rindo diante das reações do jovem. Ela ajustou seus óculos Versace e fez um gesto para que um de seus modelos trouxesse mais gelo, claramente saboreando o momento.
— Não exatamente. — respondeu a apresentadora do reality show folheando seus documentos — Ela veio te processar por assédio sexual via WhatsApp. Mas decidiu que, em vez de destruir sua vida academicamente, prefere destruir sua vida sentimentalmente. Mais eficaz, segundo ela.
O telão mostrou Nimsay diante de um quadro-negro lotado, mas em vez de fórmulas matemáticas, havia uma linha do tempo que conectava a Proclamação da República ao surgimento dos consultores de masculinidade com canal no YouTube.
Frases em CAPS LOCK ocupavam o restante do espaço, como: “O AMOR VIROU UM LUXO QUE NEM O SUS COBRE MAIS” e “TODO MATCH APÓS OS 40 É UMA DÍVIDA EMOCIONAL A PRAZO”. Ao fundo, uma bancada exibia uma simulação do colapso econômico sentimental usando bonequinhos Playmobil carecas e de toga, cercados por dados quase confiáveis do IBGE.
Na plateia, a própria Nimsay se levantou e subiu calmamente, com o ar solene de quem se prepara para repreender uma nação inteira. Sentou-se na quarta poltrona com a elegância de uma equação de segundo grau resolvida mentalmente, tirou uma caneta vermelha da bolsa e comentou:
— Já que é pra desgraçar, que seja com método.
— Calculei a probabilidade do meu querido aluno de conseguir um relacionamento normal. — ela continuou — E o resultado foi 0,0003%. Ou seja, estatisticamente impossível. Portanto, decidi assumir a responsabilidade social de educá-lo adequadamente.
Quintus ficou parado por alguns segundos, processando a informação, ele balançou a cabeça tentando sacudir a insanidade que grudou nos ouvidos feito cera.
— Educar? — repetiu, confuso.
A professora escutou a pergunta e cruzou as pernas com a elegância de uma pesquisadora que acabou de receber financiamento ilimitado para seu projeto mais insano. Seus olhos brilharam com aquela luz típica de professora que vê potencial onde todos veem caso perdido.
— Sim! Vou te ensinar a ser um namorado funcional através de método científico. — Nimsay gesticulou entusiasmada — Vamos aplicar psicologia comportamental, análise de dados relacionais e técnicas de condicionamento pavloviano. Você será meu mais ambicioso projeto de reabilitação romântica!
O rapaz engoliu em seco, produzindo um som que ecoou pelo estúdio tal qual uma torneira com problema de encanamento.
— Ela quer me transformar em um cachorro adestrado? — Quintus perguntou, horrorizado, visualizando a si mesmo sentando e dando a pata para ganhar um biscoito.
Com um olhar de quem já sabia que teria que explicar tudo com desenhos, Nimsay puxou um caderno da bolsa e começou a rabiscar um plano estratégico, com a concentração de quem redige um dossiê secreto para provar que ainda existe amor verdadeiro depois dos 40.
— Exatamente! — confirmou a velha professora — Quando eu terminar com você, até seus amigos vão acreditar que você namora alguém real. Alguém que responde mensagens!
A apresentadora virtual bateu palmas enquanto um de seus escravos masculinos preparava uma bandeja com canapés comemorativos. Ela ergueu sua taça de champagne, brindando com a solenidade de quem celebra o surgimento glorioso de uma nova era de entretenimento educacional.
— Adorei a abordagem pedagógica. Educação é sempre bem-vinda, especialmente quando aplicada a casos perdidos.
— Mas isso ainda não é tudo. — ela continuou, com os olhos brilhando de malícia pura — Temos uma candidata muito especial, que representa o futuro dos relacionamentos modernos. Uma revolução no conceito de amor à distância.
Quintus recuou sem pensar, como se o corpo já soubesse o que a mente ainda hesitava em entender. A boca se abriu, mas a voz se perdeu no atraso do susto.
— Quem? — ele perguntou, com a voz de alguém que já sabia que a resposta seria pior que a pergunta.
Dawana sorriu. Gesticulou languidamente e um de seus modelos imediatamente apareceu com um espelho para ela verificar se seu sorriso estava adequadamente diabólico.
— Alguém que você conhece há muito tempo…
Instantaneamente, Mirela ocupou o centro da mente do jovem Maximus. Nenhuma dúvida, nenhum outro rosto.
Mas as câmeras não podiam ler pensamento nem adivinhar o que passava na mente de Quintus e assim, a imagem de Dawana continuava projetada diante de todos, conduzindo o espetáculo com maestria:
— Alguém que você nunca viu pessoalmente. Alguém que entende seus desejos mais profundos, que conhece seus segredos mais íntimos, que já viu você em situações… comprometedoras. — ela fez uma pausa — Alguém que já compartilhou momentos muito… íntimos com você
Uma voz anônima da plateia gritou:
— TEREMOS SEXO VIRTUAL! — com tanta convicção que fez toda a plateia se virar para olhar para ele, claramente revelando que sua experiência com o tema não era apenas teórica.
Quintus diante de tanta expectativa ainda sendo enganado por seus desejos por Mirela nem escutou o grito da plateia e estava com um olhar sonhador e a apresentadora virtual do reality show continuou implacavelmente.
— Uma jovem que já foi até sua casa uma vez, mas vocês não conseguiram se encontrar devido a um mal-entendido envolvendo uma janela, um pulo desesperado e uma fuga cinematográfica. — Dawana fez uma pausa dramática — Um encontro que, segundo nossos especialistas em relacionamentos, criou um vínculo emocional irreversível.
O jovem Maximus, sem forças para reagir, mas ainda agarrado à esperança e ao nome de Mirela que não saía de sua mente, apenas murmurou um pedido desconexo, sem lógica com o que vivia, mas carregado de desejo:
— Por favor, não…
Dawana permaneceu em silêncio por tanto tempo que algumas pessoas da plateia começaram a verificar se suas conexões de internet não haviam caído. Ela sorriu lentamente, como se estivesse carregando a munição final para destruir completamente o que restava da sanidade de Quintus
— Apresento a vocês… — ela fez uma pausa dramática que durou uma eternidade — Nossa candidata internacional: Snowbear!
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