Capítulo 72 - Quem ama não pede desconto!
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Quintus novamente tinha sido capturado pelo encanto e nem mais lembrava de Nyck, Eloisa ou os gritos e risos da plateia. Seus sentidos estavam todos focados em Snowbear, a atração tão forte que parecia impossível resistir.
— Qual condição? — o jovem Maximus perguntou, já pressentindo que a felicidade tinha prazo de validade.
A garota canadense sorriu antes de falar, e de repente, o cassino foi iluminado por um sol tropical que ninguém sabia que estava lá.
— Você tem que escolher. Entre mim e todas essas outras pessoas. Aqui, agora, ao vivo, na frente de todo o Brasil.
Dawana se aproximou com um sorriso diabólico.
— Exato! Depois de apresentarmos todos os candidatos, você deverá escolher com quem ficará.
— Eu vou poder escolher? — Quintus repetiu, contudo, seus olhos já entregavam que a decisão estava feita, a mesma escolha que sempre faz.
— Sim! Mas calma. Só depois de apresentarmos todas as candidatas. Ainda falta uma candidata. Será educativo, revelador e, acima de tudo, muito, muito constrangedor.
Quintus olhou para a poltrona vazia e imaginou que, tirando Mirela, provavelmente qualquer nova candidata deveria ser assustadora. Porém agora poderia até ser o Tiririca fantasiado de Scarlett Johansson, pois ele tinha Snowbear. Seu olhar estava mais sonhador que o de adolescente vendo o primeiro pôr do sol romântico.
Olhou ao redor: Vento Leste balançando a garrafa vazia, Dona Jabá piscando sedutoramente, Dr. Zaratustra mexendo no celular, Nimsay calculando algo em uma calculadora científica e Snowbear sorrindo tal qual uma deusa.
O jovem Maximus pensou que também tinha uma condição, e era que sua paixão virtual do Canadá não abrisse mais a boca. Certamente mais palavras desmoronariam seus sonhos. Agora entendia melhor Vento Leste, que se relacionava com objetos inanimados e, principalmente, mudos.
Ele voltou a olhar para a professora Nimsay e pensou que nunca teve tantas alternativas. Não uma, não duas, mas várias. Era feito um mendigo que virou milionário da noite para o dia e não sabia nem por onde começar a gastar.
Olhando para a professora, concluiu que ela provavelmente estava ali numa missão de resgate educacional, tentando salvá-lo da humilhação pública tal qual uma super-heroína da educação, lutando contra a ideologia e o desgoverno que insistia em sucatear o ensino público.
— ELAS PODEM DESISTIR? — perguntou Quintus, inesperadamente tomado por um medo súbito que surgiu feito uma espinha na véspera de um encontro importante.
— Claro que podem… — Dawana sorriu — Mas se desistirem, terão que pagar multa de dois milhões de reais por quebra de contrato.
Quintus olhou para a reação de medo dos participantes nas poltronas e teve uma epifania: o dinheiro é a verdadeira cola de qualquer relacionamento. Era igual a finalmente entender que o amor verdadeiro tinha prestações mensais, IOF, reajuste pelo IPCA e um prazo de validade que expira assim que o saldo bancário diminuísse.
O jovem Maximus se virou para Snowbear, que o observava com expectativa.
— Você realmente veio do Canadá só para me ver?
— Claro que sim! — ela respondeu, tocando delicadamente o rosto dele — Você é especial!. Mais especial do que imagina.
Por um momento, Quintus se sentiu no paraíso. Finalmente, alguém que o valorizava. Alguém que atravessou um continente para estar com ele. Alguém que…
— Só uma pergunta… — ele disse lentamente deduzindo algumas coisas — Você veio morar no Brasil? E seus pais? Como você conseguiu visto brasileiro tão rápido? Normalmente demora meses…”
Antes de responder, a garota canadense sorriu tentando amenizar, e o efeito foi tão instantâneo que o cassino parecia estar sendo banhado por um sol de meio-dia.
— Ah… eu… tenho contatos…
Quintus a observou com descrença, todavia, com uma faísca de esperança que insistia em não desaparecer. Resolveu dar mais uma chance:
— Que tipo de contatos?
Snowbear respondeu rapidamente, tentando mudar de assunto:
— Teremos uma vida inteira para contar… mas o que me interessa agora é outra coisa, não é?
Dawana tossiu delicadamente.
— Na verdade, Quintus, tem uma pequena informação que esqueci de mencionar sobre a Snowbear. Ela não é exatamente… como posso dizer… uma pessoa comum.
O jovem Maximus sentiu o estômago descer até os pés, depois subir até a garganta, numa montanha-russa emocional que nem o Hopi Hari tinha coragem de construir:
— Como assim?
Dawana fez aquela pausa dramática que havia se tornado a marca registrada de todos os programas de TV, uma pausa tão longa que dava tempo de fazer pipoca no microondas:
— Bem… Ela é influenciadora digital especializada em relacionamentos online. Ela tem mais de dois milhões de seguidores no OnlyFans, um canal no YouTube sobre “A forma simples de conquistar homens desesperados”, e um curso online que custa três mil dólares chamado “Monetizando a carência masculina”. Seu último livro, “Ter um Otário-Corno para pagar as contas e fazer todas as suas vontades é a nova tendência de felicidade”, está na lista dos mais vendidos.
O silêncio que se seguiu foi tão profundo que era possível ouvir apenas todo o público procurando mais detalhes, fotos e vídeo da candidata ao coração de Quintus.
Ele também pegou seu celular, porém, lembrando que estava sobre os escrutínio de inúmeras câmeras, guardou desengonçadamente e olhando para Snowbear gaguejou:
— Você… você é… o quê?
A garota canadense sorriu sem jeito e em mais alternativa de adiar sua revelação que tinha sido planejada para quando ganhasse.
— Sou empresária digital. Especializada em relacionamentos… comerciais.
Quintus ficou sem palavras e, em um impulso, só conseguiu repetir o que ela havia dito, sendo isso a única coisa que seu cérebro conseguiu processar no momento:
— Relacionamentos comerciais?
Dawana não se deu ao trabalho de prestar atenção no desespero de Quintus. Ela continuou através da tela, sorrindo como nunca, enquanto se movia até um novo compartimento do seu iate: um closet tão gigante que mais parecia uma boutique flutuante de sapatos caros e roupas de grife.
Com a serenidade de quem tem todo o tempo do mundo, ela prolongou a resposta que o jovem tanto aguardava, esperando pacientemente que os dados da audiência se alinhassem com seus caprichos.
Enquanto isso, ia escolhendo cuidadosamente um terninho, já que o novo momento do programa exigia uma elegância que, no fundo, ela sabia ser uma pura encenação. Ou talvez fosse só dramaticidade mesmo, considerando que estava de biquíni.
Finalmente, depois de um tempo incrivelmente angustiante para o jovem Maximus, ela traduziu, com a precisão de quem entende do que fala, o que a garota queria dizer com “relacionamentos comerciais”.
— Ela vende fantasia romântica para homens solitários — disse Dawana, com a autoridade de uma especialista no assunto — É um negócio extremamente lucrativo.
Quintus, completamente atordoado, só conseguiu falar:
— Mas… mas… as nossas conversas… os nossos sentimentos…
Snowbear com um sorriso ainda hipnotizante, todavia, um pouco menor do que antes, insistiu:
— Foram genuínos! Pelo menos da minha parte! ESTÁ AQUI NO MEU LIVRO! Você é diferente dos outros clientes… digo, amigos.
O jovem Maximus repetiu, sentindo o mundo girar.
— Clientes?
Dawana explicou, mostrando imagens da equipe eficiente no telão:
Dawana explicou, enquanto exibiu no telão imagens da equipe da garota, que, surpreendentemente, parecia mais organizada do que um exército de formigas em época de migração:
— Ela tem uma equipe de doze pessoas que respondem as mensagens dos ‘namorados virtuais’! Você nunca falou com ela pessoalmente. Falou com assistentes especializados em simular interesse romântico.
Quintus se sentou no chão novamente, feito uma boneca de pano que perdeu o recheio:
— Assistentes?
Snowbear tentou o seu melhor sorriso, o tipo que você faz quando sabe que a mentira é grande demais, e protestou:
— Mas eu vim aqui pessoalmente! AGORA SOU EU CONVERSANDO COM VOCÊ! Isso tem que contar alguma coisa!
Dawana corrigiu, trazendo no telão, a imagem do livro e do novo curso da empresária canadense:
— Você veio aqui porque a produção do programa pagou suas despesas. Mais um cachê de quinhentos mil reais e vamos promover seu novo curso online.
Quintus olhou para a ex-garota virtual que ele achava que conhecia com olhos marejados:
— Quinhentos mil reais?
Snowbear gaguejou:
— É… é… um valor simbólico… O importante é que estou aqui! Por você!
O jovem Maximus, depois de tantas pancadas, finalmente olhou para a situação e soltou a pergunta que estava engasgada:
— Por mim ou pelos quinhentos mil?
A garota canadense ficou em silêncio por alguns segundos, claramente fazendo cálculos mentais. Finalmente, suspirou e respondeu com honestidade e baixinho no ouvido de Quintus:
— Olha, foram quinhentos mil reais. Porém se você for legal, posso te dar 10% de desconto no meu curso online.
O jovem Maximus, dando um passo para trás, com o rosto pálido, tendo escutado a proposta mais aterradora de alguém em quem confiava.
— 10% de desconto?
O público, que não tinha escutado a proposta, começou a especular em voz alta:
— Deve ser uma noite juntos!
— Um beijo!
— Ela vai ensinar ele a ser homem! — as teorias ficavam cada vez mais criativas e menos conectadas com a realidade.
Snowbear feliz com a repercussão da plateia, fez sua última oferta:
— Tá, 15%. Última oferta.
Quintus olhou para todos os candidatos ao seu redor, depois para Dawana, depois para as câmeras, depois para o teto do cassino, e finalmente para a poltrona vazia. Agora, mais do que nunca, nem queria mais saber quem seria o último candidato.
— UNIVERSO! — ele gritou, levantando os punhos para o céu — EU DESISTO! VOCÊ VENCEU! PODE PARAR DE ME TORTURAR! EU RECONHEÇO MINHA DERROTA TOTAL E ABSOLUTA!
Mas o universo, aparentemente, não havia terminado e parecia estar sobre o controle de Dawana.
— Ah, Quintus! — Dawana sorriu docemente — Esqueci de mencionar mais uma coisa.
Ele perguntou, já sem forças para se surpreender:
— O quê?
Dawana anunciou com a naturalidade de quem comenta o tempo:
— Sua mãe também se candidatou.
— MINHA MÃE O QUÊ?!
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