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    O grito de Quintus ecoou pelo cassino feito sirene de ambulância anunciando emergência psiquiátrica. Ele ficou parado, boquiaberto, olhando para a tela onde Dawana exibia um sorriso. 

    O jovem Maximus teve a certeza que tinha escutado errado. Ele até olhou para o lado, na esperança de encontrar alguém que realmente entendesse o que estava acontecendo, mas não achou ninguém. 

    Finalmente, seu olhar se fixou em Vento Leste, o ser humano um pouco menos problemático naquele circo de horrores e que levantou-se espantado e falou:

    — SUA MÃE? — gritou Vento Leste, quase derrubando a garrafa vazia — Cara, isso aí é um nível de zoação que nem o TikTok conseguiria bater!

    Dona Jabá se levantou indignada da poltrona e declarou:

    — Como assim a MÃE vai concorrer? Isso é exploração afetiva! Isso é monopolização do amor! — ela pausou, refletiu e sorriu — Mas, em nome da justiça social dos sentimentos, a gente pode criar um sistema de cotas afetivas!

    Quintus se afastou de Dona Jabá com passos lentos. Ele evitou olhar para sua mãe, temendo que o simples contato visual fosse quebrar ainda mais a realidade. 

    Tudo que Maximus conseguia fazer era olhar para Dona Jabá, o olhar perdido, imerso em um vazio que só ele parecia perceber. Sua mente tentava, sem sucesso, se ajustar à surrealidade do momento, mas o mundo ao seu redor parecia cada vez mais distante e irreconhecível.

    O jovem Maximus ainda estava perdido em seus próprios pensamentos quando, sem mais nem menos, Dr. Zaratustra parou de mexer no celular. 

    Com aquele sorriso de psicólogo que acabara de descobrir o caso clínico do século, ele percebeu que as câmeras estavam focadas em sua expressão e, com ares de grande revelador, olhou para a câmera, pronto para compartilhar com o mundo um vislumbre de sua genialidade: 

    — Do ponto de vista psicanalítico, temos aqui um complexo de Édipo invertido com tendências televisivas. Fascinante! Vou poder escrever três artigos acadêmicos só sobre essa situação!

    Nimsay balançou a cabeça, claramente tentando ser ética e não julgar a situação alheia. 

    Mas, no final das contas, os cálculos mentais vieram sozinhos, enquanto ela tentava calcular quantos litros de esperança ou chantagens seriam necessários para lidar com aquele caos todo. E ela murmurou algo tão misterioso que até a plateia tentou ler os lábios, mas nem isso deu certo:

    — Bem, parece que a competição está mais difícil do que eu pensava. E quem diria, mas acho que vou ter que começar a usar o nudes que Quintus mandou por engano, acompanhados de umas boas chantagens. Nada melhor do que uma ameaça de prisão ou uma boa perda de dinheiro para fazer um homem finalmente encarar a realidade.

    O jovem Maximus, vendo apenas a boca de Nimsay mexendo, mas sem ouvir absolutamente nada, ficou paralisado no seu próprio universo. Ele estava tão perdido que nem notou os olhares ou comentários ao seu redor. 

    Quando finalmente a informação sobre as ações de sua progenitora conseguiu atravessar o nevoeiro da sua mente, ele articulou com dificuldade:

    — Minha mãe… se candidatou… para namorar… comigo?

    Quando Quintus finalmente tentou digerir o absurdo de sua própria frase, a voz de Dawana entrou, com aquele tom de quem adora um caos:

    — TECNICAMENTE — disse Dawana, quase se divertindo com a situação — Ela se candidatou para ser sua COMPANHEIRA DE VIDA. As palavras dela, não minhas.

    Foi nesse momento que emergiu da plateia, caminhando em câmera lenta, a figura majestosa de Glorizelda Menezes Costa.

    Quintus se encolheu atrás da poltrona de Nimsay, que parecia mais um predador observando sua presa com olhos ardentes. Ele, por sua vez, se forçou a falar, a voz saindo sufocada pela vergonha.

    — MÃE! — conseguiu articular com a voz estrangulada — O QUE É QUE A SENHORA ESTÁ FAZENDO?!

    Glorizelda franziu a testa com uma expressão de desagrado, olhando atentamente para seu filho, que se escondia atrás da cadeira. Ela inclinou a cabeça para um lado, depois para o outro, tentando ver algum pedaço de seu filho que ainda estava escondido. 

    Com a expressão de quem não conseguia acreditar que alguém tão grande agisse de maneira tão infantil. Com a voz cheia de impaciência, ela disse:

    — Sério, Quintus Maximus? É assim que você vai resolver suas crises agora? Se esconder como se tivesse 5 anos?

    Maximus saiu de trás da poltrona e, com passos pesados, se posicionou à frente de todos os participantes. Seus ombros estavam caídos, e ele parecia carregar um fardo invisível, somado a toneladas de frustração acumulada. 

    Ele olhava para o chão, evitando encarar sua mãe e o abismo de realidade que se abria diante dele. Mas, no fundo, algo dentro dele estourou, como uma garrafa de refrigerante agitada prestes a abrir, e ele não conseguiu segurar a explosão:

    — ISSO É INCESTO, MÃE! — Quintus gritou, horrorizado, a boca aberta tal qual se tivesse engolido um mosquito.

    Glorizelda, finalmente sentando na última poltrona vazia ao lado de Dr. Zaratustra, olhou para seu filho com uma careta de quem está sendo injustiçada.

    — INCESTO?! — ela perguntou, escandalizada, e por um segundo pensou em sair dali e brigar com as câmeras — Isso não é incesto, querido, isso é AMOR MATERNAL PROFISSIONAL. Eu te conheço melhor que todo o Instagram de qualquer um desses participantes…

    A progenitora do jovem Maximus fez uma careta, seu rosto revelando o prazer de um pensamento particularmente saboroso. Ela cruzou os braços, balançando a cabeça de um lado para o outro, com um sorriso irônico no rosto, demonstrando um orgulho evidente por sua própria genialidade, e continuou:

    — E vou garantir que você faça as melhores escolhas! Já que, claramente, você não tem competência para escolher nada sozinho! E se tudo der errado, não se preocupe! Eu sou a opção de consolação! Uma mãe está disposta a tudo para garantir que o filho não termine com o coração partido, ou pior, sozinho aos 40 anos jogando videogame em uma sexta-feira à noite.

    Quintus se calou, o olhar derrotado agora fixo em sua mãe. A raiva já não estava mais presente, apenas vergonha e um vazio imenso. Ele balbuciou, com a voz mais baixa, já sabendo a resposta, mas precisando confirmar de qualquer jeito:

    — Mãe, o que a senhora está fazendo aqui?

    Glorizelda ignorou solenemente a pergunta e se dirigiu diretamente para a câmera principal, puxando do decote um papel dobrado várias vezes:

    — PRIMEIRO! — anunciou, desdobrando o documento — Eu trouxe CERTIDÃO DE NASCIMENTO, CERTIDÃO DE BATISMO, CARTEIRA DE VACINAÇÃO ATUALIZADA, CERTIFICAÇÃO EM PRIMEIROS SOCORROS…

    Ela fez uma pausa, olhou para o público e continuou, com a mesma intensidade:

    — …CURSO DE CULINÁRIA CERTIFICADO, EXAME COMPLETO DE SAÚDE E DECLARAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS! E, por favor, EXIJO que as outras candidatas tragam pelo menos uma cópia autenticada de tudo isso. Não quero ser pega de surpresa, já que o coração de meu filho é um assunto sério!

    Os candidatos trocaram olhares desconcertados, todos parecendo ter recebido um choque coletivo. Snowbear arregalou os olhos, Dona Jabá tentou conter um riso nervoso, enquanto a professora Nimsay simplesmente balançou a cabeça, sem acreditar no que estavam ouvindo. 

    Ninguém parecia saber se deveria reagir com indignação ou com um misto de perplexidade e fascínio, mas uma coisa era clara: a competição estava ficando mais bizarra do que qualquer um havia imaginado.

    Sem nem olhar para as participantes, com a certeza de que aquilo tudo não passava de formalidade, Glorizelda deu sequência ao seu discurso, com a tranquilidade de quem já tem o jogo ganho:

    — E, claro, o LAUDO DENTÁRIO! Porque escolher mulher sem olhar os dentes é o mesmo que comprar cavalo sem ver a boca, não é? Ah, e para garantir, também trouxe o RELATÓRIO COMPLETO DO MEU PSICÓLOGO, confirmando que ainda não matei ninguém e que, por enquanto, não causei danos psicológicos irreparáveis em meus entes queridos.

    — SEGUNDO! — ela continuou — Nenhuma dessas CANDIDATAS passou pelo meu PROCESSO SELETIVO! Vocês acham que qualquer uma pode namorar meu filho SEM FAZER ENTREVISTA? SEM REFERÊNCIAS? SEM VERIFICAÇÃO DE ANTECEDENTES CRIMINAIS? Ah, e para ser clara: somente EU passei pela minha análise!

    A plateia ficou em silêncio, não sabendo se ria ou se chamava uma ambulância. Glorizelda permaneceu de pé, radiante, exibindo a autoridade de uma rainha que acabara de decretar uma nova lei fundamental do reino. 

    Seus olhos brilhavam com a satisfação de quem havia, finalmente, estabelecido as regras do jogo de uma vez por todas.

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